AUTOBIOGRAFIA
Sem me desviá
do rumo
Sem saí
fora da tria,
Conto um pequeno
risumo
Da minha biografia.
Certo dia
da semana
Nesta Serra
de Santana
Do município
Assaré,
Por orde do
Criadô
A partêra
me banhou
Da cabeça
até nos pé.
Foi em mil
e novicento
E nove que
vim ao mundo,
Meus pai naquele
momento
Tivero prazê
profundo,
Foi na Serra
de Santana
Em uma rude
chopana,
Humilde e
mudesto lá,
Foi aqui onde
nasci
E a cinco
de março vi
Os raio da
luz solá.
Pedro Gonçarve
meu pai,
Mamãe,
Maria Pereira,
Da minha mente
não sai
Estas arma
mensageira
Da paz, da
fé e do afago,
Ainda comigo
trago
O doce daquele
amô.
Mas por infelicidade,
Nos meu nove
ano de idade
Morreu o meu
genitô.
Eu nasci uvindo
os canto
Das ave da
minha Serra
E vendo o
mais lindo incanto
Que a mata
bonita incerra.
Foi aqui que
eu fui crescendo,
Fui lendo
e fui aprendendo
No livro da
Natureza,
Onde Deus
é mais visive,
O coração
mais sensive
E a vida tem
mais pureza.
Nasci dentro
da pobreza
E sinto prazê
com isto,
Por vê
que fui com certeza
Colega de
Jesus Cristo,
Perdi meu
ôio dereito,
Ficando mesmo
imperfeito
Sem vê
nem perto, nem longe,
Mas logo me
conformei
Por saber
que assim fiquei
Parecido com
Camonge.
Na minha penosa
lida
Eu nunca perdi
a fé,
Olhei sempre
para vida
Do jeito que
a vida é.
Se procurando
ventura,
Só
incontrei amargura
Que o crué
fado me deu,
Vivo sempre
conformado
Pensando em
argum coitado
Que sofre
mais do que eu.
Quando o mil
e novicento
E dezenove
chegou,
Se eu já
tinha sofrimento
Meu sofrimento
dobrou,
Quase dizê
não adianta,
De tarde não
tinha janta
Nem armoço
de manhã,
Com aquele
padecê
Fui obrigado
a sabê
Que gosto
tem mucunã.
Na mais dura
privação
Na minha casa
era seis,
Eu com os
meus quatro irmão
E mamãe
na viuvez,
Nós
fumo criado assim,
Eu, José,
Pedro e Joaquim
E a nossa
mana Maria,
No mais precaro
vivê,
Sem os dono
do pudê
Sabê
se a gente inzistia.
No diminuto
terreno
Que recebemo
de herança,
Cumecei derne
pequeno
Na minha penosa
infança
Sendo pobre
agricutô,
Topando frio
e calô
De suó
todo muiado,
Derne os pés
inté no rosto
De tudo pagando
imposto
Sem ninguém
tê me ajudado.
Mas porém
como a leitura
É a
maió diciprina
E veve na
treva iscura
Quem seu nome
não assina,
Mesmo na lida
pesada,
Para uma escola
atrasada
Tinha uma
parte do dia,
Onde estudei
argum mês
Com um véio
camponês
Que quase
nada sabia.
Meu professô
era fôgo
Na base do
português,
Catálogo,
era catalôgo,
Mas grande
favô me fez.
O mesmo nunca
esqueci,
Foi com ele
que aprendi
Minhas premêra
lição,
Muito a ele
tô devendo,
Saí
escrevendo e lendo
Mesmo sem
pontuação.
Depois fiz
só meus estudo,
Mas não
nos livro escolá
Eu gostava
de lê tudo,
Revista, livro
e jorná.
Com mais uns
tempo pra frente,
Mesmo vagarosamente,
Não
errava nenhum nome.
Lia no claro
da luz
As pregação
de Jesus
E as injustiça
dos home.
Sobre a minha
poesia
Não
é preciso eu falá,
As mesma as
rádio anuncia
Aqui, ali
e acolá.
Mencioná
não carece
Pois todo
mundo conhece
O tema que
a mesma incerra,
E os meu livro,
pubricado,
Anda no mundo
ispaiado
Como nutiça
de guerra.
O meu singelo
apelido
Que com razão
me pertence
Foi com amô
iscuído
Por um grande
cearense
Que conversando
comigo,
Disse um dia,
meu amigo,
Você
merece carinho
Na poesia
papulá
E por isso
eu vou lhe dá
O nome de
um passarinho.
"É ave
que anda solta
E inda mais
canta cativa,
Seu nome agora
é Antonio
Crismado por
Patativa"(1)
Sem fantasia
nem arte,
Nesta rude
poesia
Contei pequenina
parte
De minha biografia,
Segui por
este caminho
Sem companheiro,
sozinho,
Não
sei se político sou,
Quero justiça,
verdade
E aquela fraternidade
Que Jesus
Cristo pregou.
Assaré,
setembro de 1981
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(1) José
Carvalho de Brito - Belém do Pará - 1929
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Texto retirado
do livro:
BALCEIRO -
PATATIVA E OUTROS POETAS DE ASSARÉ