A escola Zen é uma das principais tradições do buddhismo Mahāyāna
ou Grande Veículo.
Seus
ensinamentos enfatizam a meditação sentada e o uso de paradoxos
para revelar nossa verdadeira natureza.
O Zen teve um papel
fundamental para a formação da cultura, filosofia e religiosidade
do extremo oriente, especialmente na China, na Coréia, no Japão e
no Vietnã.
"Vivemos em excesso de vida. Vida sobre vida. Eu acho que falta um
pouco de falta de ação, uma coisa da contrição, da observação”,
reflete o monge budista Daju Sam.
O mosteiro zen budista Morro da Vargem, nas montanhas de Ibiraçú,
Espírito Santo, é um lugar onde a disciplina rigorosa se
transforma no caminho para o alto conhecimento e o equilíbrio
entre a mente e o corpo.
Lá, os monges exercitam a não ação. Tentam atingir um estado de
contemplação diante dos desejos e paixões do mundo. Mas o que será
que o zen budismo tem a ver com o pensamento do filósofo alemão
Arthur Schopenhauer? Muitas coisas. Uma delas pode ser resumida em
uma pergunta. Querer ou não querer?
Para Schopenhauer, os homens são como marionetes, comandadas por
fios invisíveis; esses fios estão dentro de nós e se chamam
vontade.
A
vontade, segundo o filósofo, é o princípio fundamental da
natureza, a força cega e incontrolável que move o mundo.Uma força
que se manifesta não só na natureza, mas no homem, desde os
primeiros dias de vida. O bebê quer a mãe, o colo, sugar.
Para Schopenhauer, o homem, como tudo na natureza, está sujeito à
força universal da vontade. Pensamos que dirigimos nossa vontade,
mas ela é uma fome insaciável, um querer irracional e
inconsciente, sem ordem, nem objetivo, que nos domina.
Schopenhauer dizia que essa força incontrolável transforma o mundo
num absurdo cruel e doloroso. A vida é sofrimento, ele diz, porque
é um constante querer, eternamente insatisfeito. Toda a realização
é o ponto de partida de novos desejos. E assim por diante.
Na visão de Schopenhauer, a vida é uma queda perpétua em
direção à morte. O prazer é apenas a ausência de dor. Não existe
satisfação que dure para sempre. Neste mundo, onde o homem é
marionete da vontade, a única liberdade viria da negação do
querer, em não querer.
Esta é uma forma de pensar que encontra, de certa forma, paralelo
no budismo.
“Quando
é o desejo sobre o desejo, eu acho que isso atrapalha o homem. O
excesso de vida vai acabar levando a uma grande morte”,
diz o monge budista.
Quando o homem nega o querer, o desejo, ele alcança uma paz
imperturbável, uma calma profunda. A vontade, quando se desliga da
vida, também se desliga da dor. Era o que Schopenhauer pensava.
“Está
faltando um pouco de silêncio, de plena observação. A sabedoria é
a prontidão da mente. Esse mundo é impermanente. As coisas são
transitórias. Você tem que estar sempre pronto para essa
transitoriedade e para essa impermanência das coisas”,
ensina o monge.
Sofrer pode ser resistir a uma mudança constante que é necessária.
E você pode atingir a alegria quando você entende a mudança e está
nesse estado de prontidão.
A individualidade, segundo Schopenhauer, também é uma grande fonte
de dor. Nós sofremos porque o nosso querer particular entre em
choque com o querer do mundo. Para o filósofo, o homem precisa se
libertar da vontade individual e se reconhecer como parte de um
todo, compartilhar com os outros o sofrimento de viver. É o
caminho da compaixão.
A filosofia do zen budismo está resumida na placa que se vê na
frente do mosteiro. Ela diz:
"Estudar budismo é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é
esquecer de si próprio. Esquecer de si próprio é estar uno com
todas as coisas."
O buddhismo é o conjunto de tradições religiosas que surgiram a
partir dos ensinamentos de Buddha. Ele não inventou estes
ensinamentos — o Dharma —, mas sim re-descobriu verdades
atemporais que já tinham sido ensinadas pelos "seres iluminados
das eras passadas". Atualmente, o buddhismo é a religião mais
difundida na Ásia, onde conta com aproximadamente 300 milhões de
seguidores. Os primeiros contatos do buddhismo com o Ocidente
aconteceram há muito tempo, mas somente a partir do século XIX é
que houve um interesse maior por parte dos ocidentais.
O buddhismo é religião, uma filosofia, um sistema de psicologia?
A tradição buddhista abrange e transcende todos estes aspectos.
Como religião, o buddhismo procura nos "religar" (re-ligare) à
nossa verdadeira natureza. Como filosofia, o buddhismo enfatiza o
"amor à sabedoria" (philo-sophia) no sentido mais elevado. E como
psicologia, o buddhismo oferece um vasto "conhecimento da mente" (psykhe-logos).
Acima de tudo, o buddhismo oferece um caminho que conduz ao fim do
sofrimento.
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Mais sobre o Budhismo
Nota:
Mas o
pensamento de Schopenhauer encontra outra forma de se afastar da
vontade: a arte. Ela permite ao homem olhar a vida de fora,
contemplar a unidade do mundo sem ser afetado pelas paixões
individuais. Assim, ele consegue se distanciar do sofrimento, ao
menos por um instante.
Para Schopenhauer, a música é a mais importante das artes, porque
ela manifesta diretamente a essência íntima da vida, que ele chama
de vontade.
“A música é algo que se sente, realmente, na alma. Ela não precisa
ser explicada. Ela é entendida de uma forma muito natural e
qualquer pessoa, independente de raça, idioma, idade, entende a
música”, diz o maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica
Brasileira, Roberto Minczuk.
Na música, o homem é capaz de contemplar essa força que o domina,
em vez de ser arrastado por ela. Isso proporciona um grande
prazer. O filósofo chegou a dizer que a música é a explicação do
mundo.
“Como se fossem moléculas, átomos, que, combinado, formam a água,
o ar”, explica Minczuk.
Através da música temos acesso à alegria mais profunda possível, a
que vem do mais íntimo do nosso ser. O mundo é música.