The Sunday Times

Matéria publicada em 07/04/2002 no caderno Escócia do jornal britânico The Sunday Times
(Copyright 2002 Times Newspapers Ltd.)

Heróis guerreiros em busca de uma canção
Highlander foi dificilmente um triunfo cinematográfico. Mas para muitos se tornou a cara da Escócia nas telas.
E agora o cultuado filme está gerando um musical, reporta Brian Pendreigh

De volta às brumas da história antiga, antes do "Coração Valente" de Mel Gibson, Hollywood deu ao mundo outro herói guerreiro escocês. O mundo, contudo, pareceu menos do que agradecido na época. O Highlander de Christopher Lambert afirmava ser imortal, mas sofreu uma morte prematura nas bilheterias de 1986.

Entretando, da mesma forma que Lambert recobrava-se de um golpe aparentemente fatal na tela, o filme ganhou nova chance de vida em vídeo. Existem agora três continuações e um quinto filme está sendo desenvolvido.

Mas Highlander é hoje muito mais do que um filme cult - uma série de televisão durou por mais de 100 episódios, houve uma variante em desenho animado e outra série com atores seguiu as aventuras de uma mulher Imortal chamada “The Raven”. Existem livros, jogos, réplicas de espadas, adagas, abridores de carta, roupas e joalheria - uma indústria inteira de Highlander.

Agora os produtores do filme original e seu astro francês planejam sua "piece de resistance", levando todo o fenônemo para outro formato com Highlander, o musical. "Nós estamos ainda assinando os papéis", diz Bill Panzer, que tem sido desde o princípio um dos produtores de Highlander. "Há alguns dos melhores compositores em Londres e Nova York que estão muito interessados em fazê-lo." O show no palco pode também apresentar músicas do Queen para o filme, incluindo a comovente "Who Wants to Live Forever".

Não apenas os Imortais irão irromper em canções entre as lutas de espadas, ou talvez mesmo durante elas, mas Panzer e seus sócios querem recriar os efeitos especiais do filme no palco, com uma primeira temporada que poderá ser na Broadway ou no West End de Londres.

Fãs do original devem lembrar que o personagem de Lambert, Connor MacLeod, vive na vila de Glenfinnan (na verdade o estacionamento do castelo Eilean Donan), mas é expulso por familiares supersticiosos após sua miraculosa recuperação. Sean Connery aparece, ensina-o a esgrimir, e explica que eles são membros de uma raça que não pode ser morta por homens normais, apenas uns pelos outros, e ainda só por decapitação. A energia e conhecimento da vítima são transferidos ao vencedor através de uma mini-tempestade elétrica chamada Quickening.

Críticos e espectadores iniciais tiveram problemas em aceitar o galã francês como um escocês tribal enquanto o escocês mais famoso do mundo empertigava-se no papel de um vaidoso hispano-egípcio. Espectadores pareceram igualmente intrigados por uma história que pulava para frente e para trás entre a Escócia do século 16 e a moderna Nova York para uma "Reunião", durante a qual os Imortais sobreviventes lutaram por um misterioso "Prêmio". "Só pode haver um," nos disseram.

O que um público de musicais fará com isso ainda é uma incógnita. "É completamente um outro conceito", Panzer diz, "a idéia de fazer algumas dessas transições e flashbacks no palco. Talvez nós falaremos com o Cirque du Soleil sobre gente voando ao redor do teatro e fazendo algumas mágicas. Eu acho que pode ser grandioso." Mas planos para um musical soam como novidade para Greg Widen, o roteirista americano que criou Highlander como um trabalho para a escola de cinema, após viajar pela Escócia e Inglaterra num feriado. Widen surrupiou a história escocesa e nomes de lugares para criar um confuso mito para a geração MTV, emprestando não apenas o nome Glenfinnan, mas também a terra ancestral da Rainha-Mãe, Glamis, para o castelo MacLeod, e jogando Jedburgh e Montrose na mistura para completar.

Highlander usou numerosas locações nas Highlands ocidentais e reforçou a imagem da Escócia como um país selvagem povoado por tribos guerreiras, selvagens - um retrato que horrorizou comentaristas culturais.

Mas Widen insistiu que sua história sobre um homem antes comum, amaldiçoado com a imortalidade, tinha sua própria integridade interior - tanto que ele brigou com os produtores sobre a história do Highlander 2 de 1991, que revelou que os Imortais eram na verdade alienígenas. O problema era que o escritor não possuía os direitos da franquia. Eles estavam, e ainda estão, com Panzer e seu sócio de produção Peter Davis.

"Davis-Panzer sempre me falaram que não estão no negócio de cinema, estão no negócio de Highlander", diz Widen.

Financeiramente eles obtiveram um grande sucesso desse negócio, fazendo todo o possível para manter o trem de Highlander em movimento, incluindo rodar o quarto filme na Romênia para manter os custos baixos.

Não há dúvida de que Panzer está sendo sério sobre o musical e ele tem a trilha sonora para alavancá-lo. Também não há dúvida de que Highlander retém uma base de fãs intensamente fiéis. As sequências foram na maior parte filmadas fora da Escócia e a série de TV na maioria rodada no Canadá e na França, pela simples razão de que era uma co-produção franco-canadense. Mas Glenfinnan permanece como a meca do culto Highlander.

Para muitos escoceses o significado dela reside no fato de que Bonnie Prince Charlie ergueu lá seu marco para assinalar o início da revolta Jacobita de 1745. Para os fãs de Highlander ela é importante como o local de nascimento de MacLeod e seu parente da telinha, Duncan. Eles preferem acreditar que o monumento de Glenfinnan, uma torre com um Highlander de kilt em cima, homenageia esses guerreiros ficcionais ao invés de Bonnie Prince.

Cenas de Lambert nadando e passeando de bote foram filmadas na Glenfinnan verdadeira, assim como pedaços da série de TV, e fãs têem gasto uma fortuna em peregrinações ao local. Quinze sócios do fã-clube Highlander DownUnder estão amealhando cerca de 1.350 libras para uma viagem à Escócia em setembro.

Jill Stuart, gerente do hotel Glenfinnan House, diz que enquanto turistas escoceses perguntam por lugares nas redondezas referentes ao herói local, estrangeiros estão mais interessados em Highlander. Durante a última década, fã-clubes têem sido organizados e convenções foram realizadas pelo mundo todo, as notícias se espalhando como um vírus através da internet.

Carmel Macpherson, uma consultora administrativa de 51 anos de idade, é a organizadora do clube australiano. Ela já visitou Glenfinnan antes e inclusive foi até Bucareste para ver "Highlander: Endgame" sendo filmado. "Eu tinha 35 anos quando vi Highlander pela primeira vez e fiquei fora de mim. Eu me apaixonei pelo misticismo, a qualidade da fotografia e a tragédia intrínseca da imortalidade. A Escócia é repleta de tais histórias ricas, e em Highlander tudo isso pareceu ser reunido numa reverência às atitudes cavalheirescas e tradições guerreiras; uma saudação de joelhos à riqueza das tradições celtas, cenários encantadores e uma grande história." Ela decepcionou-se com Highlander 2, mas foi fisgada pela série de TV quando seu filho de 12 anos convenceu-a a assistir. Ela até gravou seu próprio vídeo, "Duncan's Journey: One Fan's Perspective" ("A Jornada de Duncan: Perspectiva de uma Fã"), em locações na Escócia e em Paris.

Tal dedicação de uma mulher pode parecer incomum no mundo dominado por homens e quase sempre técnico da ficção científica e fantasia, mas não com Highlander. "Enquanto Highlander atrai sua parcela de jovens, machões, brandindo espadas e pretendendo ser Imortais", diz Macpherson, "seria mais verdadeiro dizer que a enorme maioria das pesquisas indica uma audiência feminina mais velha. Elas estão bem mais interessadas em discutir os vários dilemas éticos que são uma constante em Highlander 1 e nas séries. Há muitos, muitos outros fãs tão dedicados quanto nós."

Quão errado poderia estar o filme original quando disse que só poderia haver um?

(Endereço original: http://www.sunday-times.co.uk/article/0,,986-257671,00.html)
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