O director do Oriente de 28. 5. 1922,
dá-nos uma imagem degradante da juventude da época. Afirma que as crianças
mal conseguem equilibrar-se, andam pelas ruas sem protecção e sujeitas a
todos os perigos. Quando mais crescidos, divertem-se a apedrejar os ninhos
de andorinha, partindo beirados e telhas, janelas e candeeiros, e por
vezes, atingem os transeuntes.
Guerreiam por motivos fúteis e mesmo sem
motivo, acompanhando a briga com obscenidades infames, para gaúdio e
diversão dos adultos.
Ainda de calção, fumam sem preocupações
nem procurando esconder. Formam rodas nos largos, ruas e portais mais
recônditos para jogar à batota, disputando botões e outras bugigangas.
Quando mais crescidos, escondem-se atrás dos muros da praça, dos valados e
até dentro das pocilgas, para jogarem a dinheiro, sendo explorados pelos
mais velhos ou mais argutos.
Da mesma forma se banham, em completa
nudez, no cais e no açude do moinho, o que era uma falta de decoro,
considera o director do jornal.
Por último, entendendo tratar-se da
situação mais grave, diz que vão para a taberna beber vinho, fumar e jogar
de parceria com os adultos que os exploram e depravam. Conclui, por isso,
que logo ao despontar da meninice se iniciam no vício e na depravação,
sendo triste ver que em resultado de tão criminosa educação, os
professores tem de se conter por medo aos alunos, chegando ao cúmulo de
haver quem injurie e agrida os próprios pais. Mostra-se indignado por a
lei não admitir jovens como sócios das colectividades enquanto estão
isentos de entrar nas tabernas.
Oriente. Fevereiro de 1999.