CARÍCIAS

 

porta se abre lentamente. Olhos nos olhos, aos poucos, rosto no rosto e os lábios eletrizados, depois de um leve e tímido toque, como se tivessem sido atingidos por um choque, separam-se rapidamente. Parados, em êxtase, a primeira impressão os leva a recordar, em alta velocidade, todos aqueles maravilhosos sonhos imaginados e cheios de ternura que viveram por meses. O despertar desse momento faz com que a realidade seja tão ou mais doce quanto aquela por eles idealizada. 

            O primeiro abraço torna-se quase que eterno. Os temores iniciais, os riscos parecem ter desaparecido naquele momento de magia. Há a sensação de que, naquele abraço forte, o calor emanado dos corpos poderia fundi-los em um só. Demorado, letárgico, apenas os rostos se deslocam a procura dos lábios, úmidos e trêmulos, ansiosos por se encontrarem, numa doce mistura de seivas até então desconhecida. Olhos fechados, o movimento das faces, como se a procura de uma melhor posição, em busca de um sabor especial, resultante de uma sensação gustativa inebriante e jamais vivenciada, só experimentada nos manjares mais divinos.

            De repente, param. Ainda abraçados e, sem saber o porquê, mãos dadas, deitam-se suavemente sobre a cama e olham-se verdadeiramente pela primeira vez, expressando um sorriso de felicidade por aquela descoberta prodigiosa. Agora as mãos percorrem lenta e suavemente os corpos, tateando milímetro a milímetro, esquadrinhando os contornos anatômicos dos dois. A cada toque, a cada beijo, a cada carícia, o desejo de continuar a busca incessante de novos tesouros. É como se estivessem num verdadeiro banquete, onde cada parte dos seus corpos oferecesse um gosto diferenciado e mais delicioso, à medida em que eles se expunham.

            Uma proposta, uma frase dita timidamente, talvez um pouco precipitada: “fiquemos mais à vontade”. Isso os levou a desnudarem-se das vestes e dos temores que ainda restavam. Os carinhos, que antes se limitavam a determinadas partes visíveis, facilmente palpáveis, tiveram segmento. Recomeçaram dos cabelos dela, até então intactos. Sedosos, cheirosos, deixariam o seus perfume impregnado nas mãos do seu companheiro para sempre. Jamais ele conseguirá esquecer aquele aroma, mesmo que as suas mãos sejam lavadas a todo instante. A imagem daquele terno gesto voltará sempre à sua mente e, com ela, todo o cheiro tão agradável emanado por aqueles cabelos.

            Os olhos, o nariz, as orelhas, o pescoço. Cada uma dessas partes tem a sua textura, o seu calor, o seu sabor e, por que não dizer, a sua suavidade. Os lábios dele percorrem cada uma dessas porções vagarosamente, detendo-se em gestos antropofágicos de leves mordidas que excitam e mexem com toda a estrutura física e emocional da sua amada. De repente, em leves movimentos, ela acomoda a sua cabeça sobre o  peito dele, permitindo que as suas mãos possam percorrer os contornos daquele corpo feminino, desde o pescoço, descendo pelas costas, atingindo as curvas bem delineadas e largas das suas nádegas, oferendo momentos de suavidade, meiguice e de posse consentida. .

            Agora, sentam-se na cama, olham-se demoradamente e, frente a frente se tateiam a partir das faces. Os seios dela vão se tornando entumecidos e oferecem-se ao toque, aos beijos, e às carícias. De repente, bastante rijos, mostram-se sensíveis como se dessem um retorno, uma resposta ao reconhecimento da sua participação e cumplicidade àquele ato tão desejado. Ela levanta lentamente a cabeça e a gira levemente, à procura de encontrar uma melhor posição para sonhar, viver aquele momento ou, quem sabe, sentir uma maior sensação de submissão e afeto.

            Deitam-se mais uma vez e os beijos recomeçam exatamente dos seios, descendo pelo ventre, onde tiques e arrepios mostram a sensibilidade da pele. Os lábios dele continuam a percorrer aquele corpo pequeno e bem desenhado, desviando-se em direção à coxa direita, lisa, contraída, até chegar aos pés que se retraem mas deixam-se beijar, como uma prova de subserviência do homem à sua amada. As plantas dos pés, frias, têm uma textura diferente mas gostosa de se sentir. Assim, de um pé para outro, os lábios continuam a navegar em sentido contrário, passando pela perna, pela coxa esquerda e detendo-se sobre os pelos aparados do seu ventre.

            A procura do ponto mais sensível, seus lábios encontram uma secreção morna, demonstrando o quanto todo esse ritual conseguiu afetar o emocional e elevar o desejo de saciar as suas carências emocionais. Gestos vagarosos, moderados, agem como se criassem a confiança para os instantes mais importantes e desejados que iriam viver.

            O homem torna-se o macho e, sobre o corpo frágil e receptivo da sua amada, acomoda-se, encontra-se. Como se fossem feitos por encomenda, amoldam-se e preenchem os espaços um do outro de forma suave e sensual. Movimentos lentos, compassados logo levam-na ao clímax. Continuam, repete-se o ritual e as manifestações de ternura, até que ele compartilha daquele instante sublime do êxtase total, indescritível. Agora param um pouco, afastam-se, todavia as mãos dele continuam a refazer os caminhos antes percorridos, agora com mais vagar, mais brandura. Olhos fechados, ele tenta gravar para sempre cada instante, cada sensação, cada gesto executado, cada momento de realização.

            Pouco demora para que o homem retome a sua atitude máscula e cubra a sua companheira com o mesmo carinho, a mesma doçura e a mesma virilidade. Corpos ardentes, sedentos de amor e carícias deixam-se conduzir pelo enlevo daquele instante tão desejado e tão esperado por ambos. Agora ele sussurra aos seus ouvidos, morde-lhe levemente as suas orelhas, enquanto ela libera gemidos de prazer e plenitude, até que caem, de novo, cada um para o seu lado, dessa vez, marcados para sempre, pelo sentimento do amor saciado e a certeza de que atingiram o seu sonho.

            Enfim, levantam-se e vão ao banho. Ensaboam-se mutuamente em leves movimentos sensuais, com as mais doces carícias, enquanto os lábios se unem, embalados pela água morna que dá  um sabor especial ao ato. As mãos deslizam sobre todos os caminhos que fazem vibrar os corpos e enchem as suas mentes dos mais deliciosos desejos.

 Há aquela imensa vontade de deixarem os corpos voltarem a se fundir num só, mas o tempo, implacável, diz que chegou a hora de se separarem. Trocam-se rapidamente. Outros tantos beijos, um abraço que parecia não ter mais fim e, antes da porta voltar a se fechar, a promessa que voltarão a se encontrar mais uma vez, outra, quem sabe, até que seja para sempre.

Nada mais será igual a antes, pois as carícias trocadas, o arrebatamento e o encanto daqueles momentos marcaram para sempre as suas vidas, dando-lhes mais alimento aos seus sonhos para tornar eterno aquele encontro.

 Hugo Hereda 

 

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