Apresenta:
UM GAROTO E UM SUPER-HERÓI
(O valor da Inocência)


ESCRITO POR: Anderson Oliveira, ARACNOS FICTIONS™
Fevereiro de 2004
– Baseado na obra de Gustavo Levin

“Ele pode voar.”
“É claro que ele pode voar...”
“Prepare-se... este será seu fim!”
“O quê?! Onde você conseguiu estes cristais?!”
“Hahahaha!! Mais uma vez você subestimou minha inteligência, INVICTO.”
“Não adiantará Full-House! A justiça sempre prevalecerá!”
“Pare com esse falatório maldito... agora a vitória será minha!”
“Continua...”

Assim diziam os últimos quadrinhos da revista que Daniel lia. Era de seu super-herói favorito, o Invicto. Daniel tinha uma vasta coleção de HQs do personagem, jogos, DVDs dos filmes e tudo mais que existia sobre o Invicto.
Daniel era um garoto de 12 anos. Uma criança comum, com uma família tradicional formada por pai, mãe e dois irmãos... e claro, o cachorro Duque. Além de quadrinhos, o menino tinha outra paixão: futebol.
Entre um jogo e outro, Daniel corria até a banca de revistas pra ver se teria uma edição nova do Invicto. Certo dia ao chegar à banca se deparou com um título novo: A Morte do Invicto.
— O quê?! — Exclamou. — O Invicto morreu?
— Só há um jeito de saber guri, compre logo essa revista. — Disse o jornaleiro.
Então Daniel comprou o gibi. Mal esperava para saber o que teria acontecido para seu super-herói aparecer ensangüentado na capa e seu nome ser escrito com letras negras de luto. Tal cena se reproduzia logo nas primeiras páginas:
“Senhoras e Senhores, o Invicto está morto!” (...) Era o título da história, assim como a primeira frase dita pela repórter Miranda Cruz.
— Não! — Diz surpreso Daniel ao contemplar a revista. E começou a ler no chão de seu quarto. Estava na história, como o encarregado de solucionar o mistério da morte do herói, um personagem que até então era um mero acessório nas aventuras fantásticas do Invicto, Jeph Billyghan. Daniel odiou Billyghan por ter tomado o lugar de seu herói.
“Vamos até lá investigar e ver o que descobrimos! Acho que daí podemos começar a descobrir sobre a morte do Invicto...” Assim acabou aquela primeira edição.
— Droga! Quantos números esse arco vai ter? — Perguntava Daniel enquanto vasculhava a revista atrás da resposta. Tinha lhe passado despercebidamente, na afobação por ler a história, a informação logo na capa: “parte 1 de 13”. — Treze! Oh não! Vai demorar mais de um ano para eu conhecer o final! Mas... como pôde acontecer? Como o Invicto pôde morrer?!
O garoto sentia que tinha perdido um amigo, um companheiro... um herói. Rever toda sua coleção não lhe adiantava... Também via pouca solução em comprar A Morte do Invicto, afinal, isso não traria seu herói de volta. Assim passaram-se os meses:
“Alguns minutos depois de Alex ter me avisado a notícia, ordenei um grupo da UCE para se dirigir até a área governamental do deserto de Del Oten, antes que nós, líderes da investigação, pudessem analisar melhor os fatos (...)”. Número dois.
“Na minha sede da UCE, Chuck estava comandando enquanto eu estava começando a fazer análises do casulo com a ajuda de um scanner especial na sala de pesquisas do posto. (...)”. Número três.
“Então é solução é essa, Bower?”, essa era eu enquanto o Tenente Jack Bower e seus subordinados preparavam minha execução. Eles estava me amarrando em alguns canos e em seguida eu seria baleado com alguns tiros de um revólver com silenciador. – Número quatro.
Daniel acompanhava Billyghan em sua investigação. Aos poucos, o que sentia pelo personagem ia se modificando. Começava a ver no agente da UCE um amigo, assim como era amigo do Invicto. O viu descobrir o que um leitor como ele já sabia há muito tempo: a origem do herói, sua identidade secreta e seu passado. Trilhar esses passos era uma tortura para Daniel.
Enfim, muitos meses depois, uma nova esperança tomou conta de Daniel. Na edição número nove de A Morte do Invicto, intitulada de “Os Cristais Valem Mais Que Mil Invenções”... na última página Billyghan narrava:
“Olá, Jeph. Há quanto tempo...”, a voz era a mesma do holograma. Eu olhei direitinho para aquele homem grande e robusto, com um uniforme preto...
“Não pode ser... não você...”, eu disse surpreso. Eu sabia que aquela voz me era familiar. E o corpo a qual pertence, mais familiar ainda...
Era o Invicto.

— Nossa! Ele está vivo!! — Vibrou o menino. — Ele estava vivo o tempo todo! Eu... eu sabia! O Invicto nunca poderia morrer assim... não o Invicto!!
Desde então os dias seguintes foram de festa para Daniel. Afinal seu herói estaria voltando, era só esperar as próximas edições... só faltava quatro... e logo o Invicto voltaria para assumir seus lugar de honra.
Ao acordar certo dia, Daniel se arrumou e saiu pra escola. A alegria era visível em seu semblante, o garoto irradiava uma nova vida. Decidiu ir a pé para o colégio. Não esperaria a carona da vizinha. Caminhava tranquilamente pelas calçadas...
Próximo à escola havia uma movimentada avenida. Todos tinham que esperar o sinal fechar para poderem atravessar. Lá estava Daniel. Sinal verde, os carros param e os pedestres andam. Porém um carro desgovernado, bandidos em fuga, não respeitou o sinal... O resto dispensa narração.
Foi internado gravemente na UTI. Daniel fora atropelado. Dois, três, cinco dias em coma. Ao abrir os olhos estavam lá seus pais e irmãos. Recebeu todo o carinho e preocupação dos seus. Mas um pensamento sobressaiu na sua mente e ele disse:
— O Invicto! Quero a revista! Preciso ler! — Disse como que não dando atenção aos seus pais. Estes se entristeceram por ver seu filho mais preocupado com um gibi do que com eles. Mesmo assim pediram ao seu irmão mais velho, que também apreciava gibis, que comprasse a revista e lhe levasse no hospital.
“Acho que sei o que você vai perguntar primeiro, Jeph. Eu estou nessa forma graças ao meu pai biológico, He’lan. Ele me ensinou várias formas de usar os cristais e também utilizá-los em máquinas terrestres. Construí esse espaço secreto no subsolo e, com os cristais, eu copiei a minha essência para essas máquinas, me fundindo ao sistema delas e podendo controlar tudo. Esse sistema serve para uma situação de emergência no caso da minha morte.”
— Não...! — Balbuciou Daniel. — Ele não está vivo... era só um... holograma... — Caiu sobre o menino toda a tristeza que o abatia meses atrás. Agora ainda pior, pois estava na cama de um hospital.
Não via mais sentido em continuar lendo a revista... assim a deixou cair no chão. Após derramar algumas contidas lágrimas, adormeceu. A enfermeira viu a revista e a colocou sobre os pertences de Daniel. Porém o menino nem sequer a olhava mais.
Precisava ficar internado por pelo menos mais um mês e meio. O caso era grave. No mês seguinte, seu irmão lhe trouxe o exemplar número onze de A Morte do Invicto. Mas Daniel se mostrou indiferente e não aceitou o presente. O irmão deixou a revista sobre seu travesseiro mesmo assim.
Depois de um tempo, Daniel se virou e viu a revista. Com raiva, usando o braço que não fora engessado, lançou o mais longe que conseguiria a revista. Ficou só por mais algumas horas. Sentiu curiosidade então, e queria ler a revista. Pensou em chamar a enfermeira para pega-la pra ele, mas resolveu fazer isso sozinho, contrariando todas as ordens médicas.
Então começou a se levantar. Antes de tudo tinha que se livrar do cobertor que praticamente o amarrava. Feito isso, com muito esforço se pôs sentado na cama, porém ao puxar sua perna enroscou na sonda que usava para urinar. Logo perdia o equilíbrio e caia ao chão, não sem antes bater na escadinha deixada ao lado da cama e levar consigo o soro e o suporte que o segurava.
— Deus do céu! O menino caiu da cama! — Disse a enfermeira que ouviu um barulho estranho vindo do quarto de Daniel.
Essa travessura lhe custou mais machucados... O osso do braço deslocara e fraturava a bacia. Logo, mais dois meses do hospital. Dias depois, após se recuperar um pouco, resolveu enfim ler a revista número onze:
“Allen Quarterback: esse era o nome do assassino do Invicto. Os motivos? Nem mesmo o arquivo podia responder (...)”.
Então Jeph achara o assassino do Invicto. Mas para Daniel isso não mudava nada. Correram os dias naquela cama de hospital. Na edição doze, trazida pelo irmão, Daniel encontrou Jeph numa situação muito parecida com a sua, devido a um golpe sofrido do vilão.
“Fui levado até o hospital da cidade, que era bem próximo da região dos Nove Supremos. Allen Quarterback havia me dado um soco direto no queixo, e eu saí voando, eu atingi o chão várias vezes, feito uma bola de basquete. Devia ter quebrado vários ossos e costelas do meu corpo. Eram 7:30 da noite quando eu acordei na minha cama do hospital. Estava com o braço esquerdo e perna direita engessados, a cuca e o queixo enfaixados e várias marcas roxas e de sangue por quase todo o corpo.”
Finalmente... faltava só uma edição... e tudo seria resolvido. Daí o Invicto voltaria em sua série convencional, como se nada tivesse acontecido. Pensava assim Daniel. E também lhe restava só um mês para sair do hospital. Ele esperou ansiosamente.
Enfim... era sua última noite naquele lugar, e seu irmão entrava pela porta com a última edição de A Morte do Invicto. Na capa, a silhueta do herói como que feito de estrelas, como uma constelação. Daniel abriu a revista e começou a ler:
(...)“Antes de você me bater lá naquele prédio, você disse que eu não entenderia, Allen. Mas o pior é que eu entendo tudo.”
“Como assim?”
“Meu filho sofreu o mesmo que a sua noiva, naquele mesmo dia e local. Minha esposa e ele (...)”.

Jeph derrotava Quarterback e solucionava o caso. Era o fim. E... onde está o Invicto? Por que ele não reapareceu? Por que ele não voltou dos mortos como tantos outros heróis? Daniel percebia que aquilo tudo tinha sido em vão.
Deitou-se para dormir. Logo pela manhã sairia do hospital. Já não estava com gesso e nem sondas. Os pensamentos de Daniel ainda eram sobre o Invicto... sobre sua morte... Encararia ali que nunca mais veria seu herói novamente em ação. Fechou os olhos... então ouviu uma voz:
— Hei Daniel... acorde! Quero falar com você!
— Quem...? Quem está aí? — Não podia ver graças à escuridão, mas resolveu o problema abrindo as cortinas. — Meu... meu Deus! Você é...
— Isso mesmo Daniel... eu sou o Invicto.
— Não... não é possível! Você é só um personagem de gibi.
— Tudo é possível, quando você crê. — Daniel olhava admirado para seu herói que estava ali, no seu quarto de hospital.
— Mas... você morreu...
— É isso que seu coração diz? Ou é isso que você tenta acreditar? Olhe Daniel... Eu não morri, pois vivo dentro de você. Enquanto você acreditar em mim, tudo será possível.
— Eu... não entendo.
— Enquanto você tiver a inocência de acreditar naquilo que quiser, nada... absolutamente nada será impossível. — Invicto estende a mão para Daniel... este temeroso estende a sua.
— Invicto...
— Venha amiginho... vamos passear. — Invicto o pega pela mão.
— V-você é real! — Exclama o menino ao sentir a mão firme do herói. Invicto sorri. Logo eles estão voando. — Voando...? Estamos voando?!
— Sim Daniel... agora veja... — Invicto abre a janela e os dois saem. Eles voam pelos arredores por alguns instantes. Daniel mal pode acreditar e quase explode de tamanha alegria. Então voltam pro quarto de hospital.
— Puxa!! Isso foi demais! Você é demais Invicto!
— Obrigado amiguinho. Bem... agora preciso ir.
— Não! Fica mais um pouco! Espera até minha família te ver!
— Não posso, desculpe. O mundo está precisando de mim agora. Mas tome... — Invicto tira do cinto uma moeda estilizada com sua insígnia. — Guarde isso... para que nunca deixe de crer. Adeus! — Dizendo isso ele sai voando pela janela até sumir no horizonte.
Amanhece. Daniel dorme. Seus pais chegam para buscá-lo. Ele acorda, olha para os lados, pensa na noite anterior e diz em voz baixa:
— Foi tudo um sonho, nada aconteceu... — Ele então, cabisbaixo, se arruma, veste suas roupas, junta as coisas que usou numa mochila e pega as revistinhas que lera nestes meses. Nisso, uma coisa cai de dentro de uma delas. Ao se abaixar pra procurar ele vê: — A moeda! A moeda que o Invicto me deu!
— Venha filho... — Chama sua mãe. — Vamos pra casa.
— Já vou mãe. — Ele pega suas coisas e ia saindo quando olha pra moeda em sua mão, se volta e olha pela janela: — Valeu Invicto... Nunca deixarei de acreditar!

FIM

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