OS QUATRO DEUSES – prólogo


Escriba: Anderson Oliveira

1º O CHACAL
Numa noite fria no ano de 1980, um arqueólogo e seu filho acampam no deserto da Núbia, região do Sudão, acompanhando uma caravana de nômades do Saara. O arqueólogo é Mustafá Rachid Mowers, professor de História antiga da Universidade do Cairo, Egito. Seu filho é Mohamed Antony “Tony” Mowers, de dez anos. Eles fazem uma fogueira e sentam-se para se esquentar enquanto Mustafá conta uma história:
— Veja filho, logo estaremos nos templos de Abu-Simbel, uma das coisas mais maravilhosas depois das pirâmides de Gizé.
— Mas pai, aqui não é mais o Egito, como pode haver construções egípcias aqui?
— Há muito tempo, todo o território abrangido pelo Nilo fazia parte do grande Império Egípcio. Estamos onde era o Alto Egito, há mais de três mil anos. Isso me faz lembrar de uma história que seu avô me contou quando eu era um menino, assim como você. Quer que eu conte?
— Sim!
— Bem... Havia nessa época um terrível feiticeiro, chamado Khepri. Ele era tão poderoso que vivia eternamente. Já existia antes do Egito ser um Império e só se foi quando os romanos já marchavam sobre as areias quentes do Saara. Com seu poder, ele fez vários faraós caírem e, levou ao trono muitos tiranos cruéis que lhe tinham vendido a alma...
— Uau! E ele morreu?
— Não... pois era imortal. Dizem as lendas que nem os deuses o queriam no outro mundo!
— Então como ele se foi?
— Aconteceu o seguinte: um dia sua influência começou a se perder. Após Alexandre tomar o poder e declarar Ptolomeu rei, nem seus seguidores lhe queria servi-lo, pois diziam que ele traiu sua nação a entregando a um estrangeiro. Então foi traído e denunciado aos sacerdotes do templo de Amon. Khepri usou de seus encantamentos para tentar fugir, mas vieram quatro Magis, os mais poderosos daquele tempo, que haviam aprendido muito na Grécia e Mesopotâmia. Os quatro uniram forças e conseguiram encarcera-lo. Mas isso só o deteria provisoriamente.
— Então, o que aconteceu?
— Os magis fizeram uma grande mágica. Algo que era proibido desde os tempos de Ramsés II, pois eram terríveis suas conseqüências. Então invocaram seus deuses... Anúbis, patrono dos mortos, pois Khepri o ludibriara e sempre fugiu de suas garras; Hórus, o supremo deus celeste, a quem nada é oculto, nem a vida nem a morte e Isis, que restaurou a vida de Osíris, segundo a lenda. Assim, com a força dos deuses conseguiram criar uma urna, onde poderiam aprisionar a alma de Khepri para todo o sempre. Mas isso custaria caro para os corajosos magis.
— Como?
— Ao realizarem os encantos, aos pés da grande Esfinge, Khepri, por um instante, conseguiu fazer seu último feitiço e sugou o poder dos magis e os levou para sua prisão consigo. Os magis não morreram, mas perderam seus dons e não mais podiam realizar prodígios. No fim, mumificaram o corpo de Khepri e o selaram numa tumba secreta, o corpo e a urna com sua alma, para que ninguém possa encontrá-lo.
— Isso é fantástico, pai!
— E sabe o que mais, Tony? Dizem que a tumba, o corpo e a urna de Khepri ainda estão escondidos sobre as areias em algum lugar do Egito... Egito... Egito...
— Pai!! Papai!!! — Acorda Tony de um sonho. Sonhara com a última noite em que vira seu pai. Logo que amanheceu Mustafá foi assassinado por ladrões etíopes. Hoje Tony tem trinta e cinco anos e ocupa o mesmo cargo que seu pai ocupou na Universidade do Cairo.

2º O FALCÃO
Cidade do México 1985. Uma família é obrigada a se separar. O pai, Carlos DeJuan, após a morte da esposa Virginia, se viu sem condições de sustentar os filhos, Eric, o mais velho e Alejandro, o caçula, e os deixa com os tios e some na estrada. Os meninos se abraçam e choram pelo pai que os abandona. Passa o tempo e Eric arruma uma trouxa e, na calada da noite, cobre seu irmão e diz antes de deixar a casa:
— Dorme bien hemanito! Yo vou procurar nuestro padre. — E o garoto de doze anos sai sem rumo.
Eric pega carona com camponeses e vai para o interior do país. Passa fome e é obrigado a trabalhar nas lavouras. Então foge e entra clandestinamente em um ônibus que leva turistas as ruínas das cidades Astecas. Ao chegar ao lugar, o menino se maravilha com as construções de pedra e se distraí sendo avistado pelos guardas:
— Hei niño! Que passa? No puede estar en este lugar!! — Diz os guardas. Eric foge. — Está escapando! — E é perseguido. Decide entrar em uma gruta onde se acham inscritos nas paredes, mas o escuro o assusta e logo é pego pelos guardas.
Após muitos dias num juizado de menores, Eric é devolvido para a casa dos tios. Lá, promete nunca mais fugir e nutre um grande sonho: estudar para um dia poder ser como os homens que desvendam as civilizações antigas. Assim o fez, e hoje é um brilhante arqueólogo e professor de seu país, com apenas trinta e dois anos.

3º A DAMA
Brasil 1987. Uma garota rica e mimada embarca para a Inglaterra, lar dos avós e onde irá estudar. Ela é Alicia Towers, filha de um diplomata americano e de uma descendente de duques austríacos. Nasceu no Brasil e tem nove anos. Apesar de sempre querer uma vida como via nos filmes e pelo o que sabia sobre a Inglaterra, não queria deixar o Brasil. Mas não teve escolha.
Durante meses estudou em um colégio católico, mas nunca abraçou a religião e sempre teve comportamento que obrigava as freiras a deixarem de castigo. Certa vez, com suas amigas inglesas, conseguiu fitas cassetes de rock e as levou escondidas para o colégio. Dançaram a noite toda, até que num descuido deixaram um grande crucifixo cair e se quebrar em mil pedaços. Consequentemente foi expulsa.
Sua avó ficou muito furiosa, mas seu avô riu-se muito das travessuras da neta. Tanto que o Lord Towers a levou para passear o dia inteiro. Foram ao majestoso Museu Britânico, onde Alicia se maravilhou com as relíquias egípcias. Em instantes, o comportamento agitado da menina foi se moldando e se tornou curiosa sobre o que via:
— Vovô... O que é isso?!
— Esta a máscara funerária de Tutankhamon, um dos maiores tesouros do museu. É feita de ouro e lápis-lazúli... Foi descoberta em 1922 na pequena tumba do faraó... Tutakhamon subiu ao trono aos nove anos e morreu aos dezoito, sendo chamado de o faraó menino... — Enquanto seu avô falava sabiamente, Alicia foi tomando grande interesse sobre a cultura e arte egípcia.
Hoje, ela faz doutorado na Universidade de Oxford no curso de arqueologia e história natural. Uma das mais aplicadas alunas e promessa de seu professor, curador do Museu Britânico, Henry Gaiman. Alicia tem vinte e sete anos e está prestes a se formar.

4º O LEÃO
Tel-Aviv, Israel 1990. Um jovem judeu e sua família vão, como de costume, a sinagoga em dia de sábado. O garoto de doze anos é Billy Jackson, filho de um dos rabinos. Ele se acomoda enquanto ouve seu pai discursar:
— Assim nosso pai Abraão recebeu de Deus uma aliança. Seus filhos seriam tirados da servidão e levados para uma terra que mana leite e mel. Então, Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou a doze filhos, nossos patriarcas, um deles José, que foi vendido como escravo pelos irmãos, mas prosperou e, na terra do Egito, se tornou importante diante do povo... — O discurso começa a encantar Billy... — Moisés foi eleito por Deus para tirar seu povo do Egito e leva-los a terra prometida... Faraó se recusou a deixar os hebreus irem, então caiu sobre o Egito as dez pragas...
Billy ouvia e acompanhava o sermão de seu pai e sentia um desejo de aprofundar-se mais na história de seu povo. A partir daí, buscou saber mais sobre o Egito e sua história, a fim de confrontar com os escritos da Torá. Passou o tempo e foi obrigado a sair de Israel, pois os conflitos com os palestinos estavam se agravando. Sua família foi para o Brasil onde se estabeleceu, mas Billy queria continuar seus estudos e, aos dezoito anos, foi para o Egito onde cursou a Universidade do Cairo, e teve como professor Tony Mowers.
Hoje Billy integra a equipe do Professor Mowers e é um de seus únicos amigos. É um arqueólogo e se especializa em desvendar a história do povo hebreu e de outros povos semitas. Tem vinte e sete anos e vive no Egito.


Livro I — “Onde o tempo das maravilhas se inicia”.
KEMET - saltério primeiro


Escriba: Anderson Oliveira

Egito, uma terra de contrastes que fascina muitos há vários séculos. O majestoso rio Nilo viu brotar em volta de suas margens uma grande civilização milênios atrás. Hoje, visitar as ruínas e desenterrar pedaços dessa civilização é o maior atrativo do país. Mas não para um simplório comerciante da cidade de Beni Suef que só quer construir um depósito maior para sua loja:
— Por Alá! Eu pago vocês, pedreiros incompetentes, por hora de trabalho!! Vocês estão aqui há cinco dias e essa obra não anda! Veja esse buraco que vocês fizeram no meio da minha lojinha!
— Se o senhor parasse de gritar a gente trabalharia mais rápido! — Diz o mestre de obras.
— Ora, quem está gritando...?
— Sid! Sid, olhe o que tem aqui... aqui em baixo! — Chama um peão. O mestre desce pelos andaimes sob os gritos do proprietário para ver o que há, enquanto o pedreiro lhe fala: — Os homens que estavam escavando o subsolo estão com medo! Dizem ser um sinal do demônio, que não deveríamos ter cavado aqui!!
— Pare de falar besteiras, rapaz! — Diz o mestre de obras ao chegar ao local. — Pelas barbas do profeta! — Exclama ao visualizar um pilar de pedra decorada que foi desenterrada por seus homens.
Cairo, capital do Egito e sua maior cidade, dois dias depois. Um homem de terno e gravata, carregando rolos de plantas e outros papéis, atravessa a avenida movimentada para chegar ao seu trabalho. Em seu caminho um garoto vende jornais à moda antiga:
— Manchete de hoje!! Mais um ataque terrorista ao porto de Alexandria! Grupo Al-Kahn assume o ataque!! Extra! Extra!! Túmulo de sacerdote é descoberto em Beni Suef!!
— Me dê um jornal, menino! — O homem compra um jornal e, lendo-o, entra na Universidade do Cairo. Nisso o homem é interceptado por outro:
— Bom dia, Professor Mowers!
— Olá Billy... já leu o jornal de hoje?
— Sim... esses terroristas estão ficando cada vez mais perigosos, e eu pensava que no meu país era...
— Não é isso! Veja: uma descoberta em Beni Suef!
— Ah sim... era sobre isso que eu queria falar. O reitor, Sr. Omar, está selecionando uma equipe para comandar as escavações...
— Está? Então vamos Billy, não podemos ficar fora disso!! — Tony Mowers e Billy Jackson se apresam a ir até a reitoria. Lá encontram um casal desconhecido conversando com Amin Chedid Omar, reitor da Universidade e presidente do conselho de arqueologia.
— Senhores! — Diz Omar. — Ainda bem que vieram! Quero que conheçam os enviados das universidades parceiras de outros países... O professor Eric DeJuan da Universidade do México... — Eric, um homem robusto e alto cumprimenta. — E a futura Doutora Alicia Towers de Oxford, Inglaterra. — Alicia, uma moça loira também os cumprimenta. — É estranho... mas deveria haver mais profissionais de outras confederações...
— Eu ouvi algo a respeito. — Toma a palavra Eric. — Parece que alguns foram barrados com problemas de vistos, ou algo assim...
— Pois pra mim mais parece uma maldição! — Diz Alicia.
— Besteira! Maldições não existem... é invenção do povo do deserto para nos manter longe de suas terras... — Diz Tony.
— Mas eu acredito nisso, senhor... Mowers? Estranho, nossos sobrenomes são parecidos! Será que temos algum parentesco?
— Os Mowers estão no Egito há gerações... duvido muito, srta. Towers... Você não tem nenhum traço árabe, nilótico ou semita...
— Se você soubesse que confusão é minha descendência, não iria duvidar! Sou brasileira, mas meu pai é americano, minha mãe é inglesa, sua mãe era austríaca e seu pai escocês!
— Bem... mas deixemos isso de lado... Sr. Omar, eu queria... — Dizia Tony, mas o reitor o interrompe:
— Professor Mowers... Certamente soube do sítio descoberto em Beni Suef? Bem, o conselho mandou um pessoal da cidade, mas eu achei melhor uma equipe mais... “profissional” assumir as escavações... Logo pensei no senhor!
— Obrigado, reitor.
— O seu pai era um grande amigo meu... eu o vejo em você, rapaz! Sei que você será capaz de comandar uma expedição em nome da Universidade...
— Será um prazer... Eu e minha equipe...
— Quanto a sua equipe... quero que acrescente os nossos visitantes para seu primeiro trabalho de campo... Espero que não se incomode com a presença do Sr. DeJuan e da Srta. Towers...
Tony sempre gostou de trabalhar sozinho, no máximo, acompanhado de quem já conhece há anos e tem certa confiança. Conviver com estranhos sempre foi uma coisa que ele tentou evitar. Ele olha para os estrangeiros e receia em confiar neles. Sente alguma simpatia por Alicia, dado a sua beleza e desenvoltura, mas resolve não aprofundar esses sentimentos. Notou que Eric é calado, mas atento. Logo deduziu que aprende fácil... Olhou Billy, seu único amigo. Este se fez de desentendido. Tony olhou Omar, um homem previsível e astuto. Não viu outra escolha senão...
— Ok... São bem-vindos na equipe.
— Ótimo! — Disse Omar. — Professor DeJuan, professora Towers, nós providenciamos excelentes aposentos, espero que repousem essa tarde. Professor Mowers e Sr. Jackson, voltem aos seus afazeres. Encontraremos-nos novamente amanhã de manhã para organizar a expedição. Até lá.
Horas depois, após dar suas aulas, Tony pega novamente o jornal que comprara pela manhã e lê a notícia sobre a descoberta. Uma nota curta que se espreme junto à matéria do ataque ao porto de Alexandria. Os assuntos políticos do país não são do interesse de Tony, mas algo chamou sua atenção nessa reportagem:
— “Al-Kahn assume o atentado, reportagem de Isabela Mowers”. Isabela! Minha irmã está por aqui? Está trabalhando nesse jornal? Por Alá! Faz dez anos que não nos vemos!
— Está falando sozinho, professor? — Diz Billy que entra em seu escritório.
— Estava Billy... Descobri que minha irmã está na cidade...
— Eu nem sabia que você tinha irmã!
— Bem... na verdade é meia-irmã... Somos de mães diferentes. Na última vez que a vi, ela foi pra América com sua mãe... Uma vez me mandou uma carta dizendo que estava estudando jornalismo... Agora vejo seu nome no jornal...!
— Interessante... bem... E quanto à expedição? O que você vai preparar? quem vai levar?
— Isso ficará a cargo do conselho. Mas você, como meu assistente, está garantido. Além dos dois estrangeiros que irão só observar...
— Bonita a moça, não?
— Hmm... Um pouco... É... Um pouco...
No dia seguinte, os quatro arqueólogos se reúnem com o conselho de arqueologia do Museu do Cairo para acertarem o orçamento, o material e o pessoal envolvido:
— Os primeiros que estiveram lá dizem que é uma tumba... de algum sacerdote, mas ainda não a abriram. — Diz Omar.
— Por que ainda não? — Pergunta Tony.
— Porque não acharam porta alguma. A câmara está totalmente vedada.
— Isso é impossível! — Diz Billy. — Tumbas não eram feitas dessa forma...
— E se não for bem uma tumba? — Pergunta Eric. — Mas uma... prisão.
— Bem... é uma hipótese... Mas é por isso que os senhores irão lá descobrir. — Diz Omar encerrando a reunião.
Beni Suef é uma cidade pequena nas proximidades do Cairo. Sua principal fonte de renda é o turismo, assim como na maioria do país. Hoje o cenário do local foi invadido por carros de todos os tipos: Equipes de reportagens; caminhões removedores de areia e pedras e os carros dos arqueólogos. A equipe liderada pelo professor Tony Mowers assume a exploração.
A descoberta é algo raríssimo. A estrutura da câmara é semelhante a uma tumba, mas nela não há qualquer selo ou amuleto cerimonial, nem abertura, nem coisa alguma que é comum nas tumbas egípcias. O assombro que o achado causou na população fez muitos saírem de suas casas, exceto o comerciante que só queria aumentar seu estoque.
— Nós vamos abrir e ver o que há lá dentro. — Diz Tony, na presença de Billy, Eric, Alicia, mais cinco estudantes e cinco carregadores. Tony dá ordem para os carregadores cortarem na pedra fazendo uma porta com suas ferramentas. Estes vão e fazem, mas um desmoronamento se inicia.
— A estrutura está desabando! — Diz um carregador. — Temos que sair daqui!! — Assim todos, exceto os quatro arqueólogos, abandonam o local com medo de desabar.
— É melhor sairmos também... não é seguro aqui... — Diz Eric.
— Tem razão... nós vamos... — Falava Tony quando a saída da escavação era soterrada pelo desmoronamento.
— Essa não!! Estamos presos! — Diz Alicia.
— Rápido, peguem as lanternas e os tubos de oxigênio! — Avisa Billy. — Os outros levaram os rádios comunicadores... estamos isolados!
— Droga! Isso não poderia acontecer!! Vamos morrer! — Diz Eric. Nesse instante, se ouve um estranho e ruído vindo da câmara que fora aberta. Soa como um chamado. — Ouviram isso?
— Eu ouvi... Veio da câmara... — Diz Alicia que se aproxima da entrada. — Será que tem alguém lá dentro?
— Se tiver, já está morto há mais de três mil anos. — Diz Tony, mais preocupado em pedir ajuda. Então o som é ouvido novamente, dessa vez mais forte. — Pelo profeta! Agora eu escutei! — Tony pega uma lanterna e entra sorrateiramente na câmara. Os outros o seguem.
Estão como que encantados pela voz que os chama. Não é propriamente uma voz, e sim um lamento. Os quatro entram em fila indiana nos estreitos corredores da estrutura de pedra. Nas paredes, poucas pinturas. Billy, habilidoso na leitura dos hieróglifos, traduz as escritas para todos:
— “Volte... este é um lugar... proibido. Volte e salve sua vida”. Acho melhor darem atenção aos avisos...!
— Se esqueceu da lição mais importante da arqueologia, Billy? Se quiser descobrir algo novo, não ligue para as superstições.
— Eu sei, professor, mas isto aqui está me dando arrepios!
— A mim também, Billy. Nós mexicanos... latinos em geral, somos bem supersticiosos... — Diz Eric.
— Rapazes... olhem! — Alicia visualiza uma outra câmara dentro da primeira. Esta sim, ricamente decorada como uma tumba de um nobre egípcio. Um grande escaravelho voador enfeita a porta de pedra incrustada com ouro e lápis-lazúli.
— Viram... apesar das aparências... não passa de uma tumba comum. Vamos abrir e ver quem está aí. — Diz Tony que em seguida, juntamente com Billy e Eric, pegam ferramentas para a remoção da porta. Alicia observa os escritos:
— “Khepri”... Khepri é escaravelho em egípcio antigo, certo?
— Correto... Era uma das personificações de Rá. Segundo a lenda, um escaravelho rolava o disco solar pelo céu... assim como alguns besouros rolam bolas de esterco. — Diz Billy enquanto trabalha na remoção da porta.
— Quer dizer que os egípcios comparavam o sol com uma bola de esterco?! — Pergunta Eric.
— Mais ou menos isso... — Diz Tony. — Acho que a porta já está solta. Só resta esse selo de barro. É melhor tirarmos sem danificá-lo... — Porém, ao tocar do selo, que consiste em duas massas de barro atadas por uma corda decoradas com hieróglifos e o nome do morto, o artefato se esfarelou em sua mão. — Bem... Isso não é nada se aqui dentro contiver objetos preciosos!
Ao remover a porta, todos se depararam com uma câmara funerária bem espaçosa, com o sarcófago da múmia deitado ao centro, cercado por uchebits e os objetos cerimoniais. Nas paredes, desenhos e hieróglifos estranhos e sobre um pilar, um luxuoso jarro de ouro com um lacre de papiro. Não era uma tumba comum. Faltara objetos imprescindíveis como o Livro dos Mortos, perfumes e amuletos. Os uchebits, bonecos de madeira que representam os servos do morto, aqui eram como vigias, carcereiros... Em outras palavras... era uma prisão. Tudo isso deduziram Tony e Billy após algum tempo investigando o lugar.
— Essa pessoa que está no sarcófago não era merecedor da vida no paraíso. É um condenado a ficar preso no submundo... sem encontrar a paz. — Diz Tony, se baseando na cultura antiga.
— Isso é... se ele estivesse morto. — Diz Alicia.
— Como é que é? — Pergunta Billy.
— Se eu não estiver enganada, segundo esses escritos, a pessoa mumificada é imune à morte, por tanto a única forma de detê-lo foi arrancando sua alma do seu corpo.
— Deixe-me ver isso! — Billy se aproxima e lê os hieróglifos com grande rapidez. — É... é exatamente isso que está escrito!
— Estranho... — Pensa alto Tony. — Meu pai me contou uma vez uma história sobre um antigo feiticeiro... — Enquanto Tony reflete, Eric olha com curiosidade o jarro:
— O que deve haver aqui dentro? — Eric pega o jarro e o olha atentamente. Seu brilho parece cintilar, mesmo com a pouca iluminação no recinto. Eric remove o papiro que parece lacrar o jarro com orações e encantamentos e depois remove a tampa.
A princípio o jarro parece vazio. Após alguns segundos, tendo Eric se decepcionado, uma estranha fumaça sai do recipiente. Uma fumaça verde reluzente sem cheiro algum. Logo todos fitam o acontecimento com grande estranheza:
— O que está acontecendo?!! — Diz Tony. — Parece que a terra está tremendo!! — De fato. Um tremor é provocado pela força que acompanha a fumaça que sai do jarro. Aos poucos a fumaça toma forma e vai de encontro ao sarcófago.
Ao envolver o ataúde, a fumaça parece se condensar e penetrar pelas frestas do sarcófago. Em seguida o objeto começa a trepidar como se algo de dentro dele fosse explodir. A visão apavora os quatro arqueólogos que procuram fugir. No entanto a saída da câmara funerária é soterrada graças aos tremores deixando-os presos lá dentro.
A tampa do sarcófago é lançada contra a parede oposta à porta. O sarcófago interno brilha como se irradiasse luz intensa. Logo este também é destruído. A múmia que repousava ali é envolvida pela força que saiu do jarro. Logo, a fumaça entra pelas narinas e pela boca do morto.
Quatro jarros chamados de canopos, um com a tampa em forma de chacal, o outro de falcão, o outro de homem e o último de babuíno, destinados a guardar os órgãos do morto flutuam de seus lugares e se chocam contra o corpo da múmia se fazendo em pedaços. As vísceras secas e embalsamadas, movidas pela fumaça verde, entram entre as frestas da carne do defunto.
Com um inspiro forte, o morto volta à vida. A múmia se põe sentada sobre o sarcófago, arrebenta as faixas que amarram seus braços e sacode os amuletos e enfeites que o cobrem. Em seguida olha suas mãos e braços fazendo cara de nojo. Recitando palavras no idioma antigo, ela executa encantos e magias fazendo suas carnes se restaurarem, e em pouco tempo, sua aparência é de um homem forte, de cabelos longos, porém sem roupa alguma:
— R’s Nkrat Khepri dhr!! Ubkgch i srk’rã! — Diz o homem olhando atentamente para os assombrados arqueólogos.

Fim do saltério primeiro

Profany, o anjo da morte

DETETIVE AL: Sombras do Passado


Página de Anderson Oliveira2005

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