Livro II — “Em busca do Templo proibido de Aracpus”.
Os Primeiros Contatos - saltério primeiro


Escriba: Anderson Oliveira

Em algum lugar no deserto, os Historiadores são atacados por dezenas de criaturas vestidas com sudários em farrapos tendo cabeças de babuínos. Cercados em um vale de pedras, os Historiadores, devidamente armados com suas armaduras, observam os espíritos avançarem:
— Não adianta! Quanto mais os atacamos, mais deles surgem! — Diz Alicia.
— É... Temos que encontrar Hapi... ele é a fonte disso tudo! — Diz Billy.
— Essa não! Lá vêm eles! — Diz Eric enquanto os babuínos se lançam no desfiladeiro.
— Atenção! Preparem-se para lutar!! — Avisa Tony enquanto saca sua Espada de Gizé e vai ao ataque.
Como eles foram parar no meio do deserto para lutar contra essas estranhas criaturas? Quem é Hapi e o que ele pode ter a ver com Khepri? Tudo isso começou dez dias atrás, em um restaurante no Cairo, onde os quatro arqueólogos se reuniram para discutir como capturariam Khepri:
— Khepri quer se vingar do mundo, certo? — Começa Alicia a explicar seu plano.
— Foi o que ele disse. — Respondeu Eric.
— E se não me engano, ele usará magia para fazer isso. Sem dúvida alguma ele também vai vir atrás da gente, caso descubra que nós não morremos soterrados naquela tumba...
— Aonde você quer chegar, Alicia? — Perguntou Tony.
— Trata-se do motivo que me fez vir ao Egito. Durante anos, meu avô me contou histórias fantásticas sobre deuses e tudo mais que fosse mitológico aqui. Isso me influenciou a estudar arqueologia... E entre meus estudos, meu professor, Henry Gaiman me contou sobre o Templo de Aracpus!
— Templo de Aracpus? Nunca ouvi falar nisso! — Disse Billy. Depois de dar um gole no café, perguntou para Tony: — Conhece essa história?
— Já li a respeito... Mas tudo não passa de fantasia... Segundo a lenda, Aracpus era o deus aracnídeo, senhor dos justos que vagavam pelas trevas.
— Aracpus? Nunca ouvi o nome desse deus. — Questionou Eric.
— É porque ele foi censurado. — Atalhou Alicia. — Expulso do séqüito dos deuses, Aracpus vagou pelo mundo até fundar uma seita secreta. Seus seguidores então edificaram um templo que guarda os segredos nunca revelados sobre as civilizações antigas! São tesouros que poderiam mudar nossa visão sobre os antigos de tal maneira que...
— Isto é... se essa seita realmente tivesse existido! — Interrompeu Tony.
— Mas ela existe! — Falou Alicia. — Meu avô chegou a ter contato com alguns de seus membros... sim, eles existem até hoje. São chamados de Aracnos!
— Tudo bem, mas onde entra Khepri nessa história? — Pergunta Eric.
— O Templo de Aracpus deve conter os mais valiosos escritos sobre encantos e magias jamais conhecidas... Se Khepri ficar sabendo que nós estamos à procura do Templo, ele irá atrás de nós, para nos matar e se apoderar dos segredos de Aracpus... Aí o pegamos! Que tal?
A bela jovem contou seu plano entusiasmada esperando pela mesma reação de seus colegas. Entretanto os três demonstraram-se indiferentes e continuaram a tomar seus cafés enquanto Alicia aguardava pela resposta com brilho em seus encantadores olhos verdes. Após um pigarro, Tony quebrou o silêncio e disse:
— Primeiro: se essa seita realmente existe até hoje, se eles realmente construíram um templo há séculos, o que garante que ele ainda está inteiro e intacto como você fez parecer? Segundo: quer mover mundos e fundos para sairmos em expedição para buscar algo que nem sequer possa existir?
— Se é dinheiro que te preocupa, Tony, fica tranqüilo que meu professor, Mr. Gaiman financiará toda a expedição. A única coisa que eu quero de vocês e sua presença. E é claro que o templo existe, só está enterrado em algum lugar do deserto.
— Tá... Ok... Podemos fazer isso, mas teremos que envolver outras pessoas... só nós quatro não seremos capazes de encontrar nada no deserto. — Disse Tony.
— Isso me lembra... Você ficou de levar uma turma do sexto semestre para trabalho de campo. — Falou Billy. — E depois do incidente em Beni Suef, a reitoria não encontrou oportunidade para isso.
— Você quer que eu exponha meus alunos à ameaça de Khepri?
— Do jeito que está, com ele soltou por aí... Ele bem que poderia nos atacar em qualquer lugar, na Universidade mesmo. Onde muitos mais inocentes correriam perigo... — Atalhou Eric.
— Vou ver o que posso fazer... Antes preciso falar com o Sr. Omar. — Dizia Tony.
— De acordo... nós iremos com você! — Interrompeu Alicia.
— Ok... Então está combinado... Para atrair Khepri, iremos à busca do Templo de Aracpus...
— E quem sabe, ainda poderemos encontrar seus tesouros?! — Falou Alicia sorridente. — Agora um brinde, cavalheiros! Ao desconhecido! Bah, vamos brindar com café mesmo!
A noite caiu, e nas sombras da escuridão da cosmopolita Cairo, um vulto que parece se fazer em penumbra caminha sorrateiro pelos corredores do Museu Egípcio do Cairo. Era o maligno Khepri, em posse do papiro que tão custosamente encontrou entre seus pertences:
— Profanadores do repouso sagrado dos mortos! — Dizia enquanto se aproximava de uma múmia em exposição. — Como ousaram tirar meu fiel servo de sua morada para deixá-lo exposto como um escravo no mercado? Que civilização corrupta tomou o mundo? — Khepri tocou a redoma que protege a múmia, em instantes ela se fez pó. Os alarmes do Museu dispararam, mas Khepri fez um gesto e o ruído cessou.
Ele abriu o rolo de papiro sobre o peito do cadáver. De um bornal tirou um frasco de óleo e ungiu a testa da múmia. Depois fechou os olhos e recitou as palavras escritas no papiro. O chão e as paredes ao redor começaram a tremer, objetos expostos foram ao chão e a folha de papiro começou a penetrar pela carne da múmia. Um estranho feixe de luz vindo do céu entrou pela boca e narinas do defunto e, com um inspiro, ele voltou à vida.
— Bem-vindo de volta ao mundo dos vivos, meu fiel Canopus! — Disse Khepri, em seguida ele fez outro encanto e as carnes e órgãos do recém-ressuscitado foram restaurados. Também materializou vestes para Canopus. Tinha a aparência de um homem pardo e velho, com olhos vermelhos de pupilas brancas, vestia-se com um manto negro, uma pele tingida de vermelho aos ombros e uma capa de linho preto nas costas. Usava na cabeça um nemes vermelho e tinha um pano a tapar sua boca e nariz.
— Senhor Khepri! Por incontáveis séculos desejei estar novamente a teu lado! — Saudou Canopus prostrando-se de joelhos.
— Vem, pois você é só o primeiro de meus discípulos que tornarão a viver! Agora tenho uma missão para ti... — Enquanto Khepri falava, seguranças do Museu entraram na sala:
— Vocês dois! Estão presos! — Falou o segurança apontando uma arma.
— Reles homem! Com quem pensas que está falando? — Disse Khepri ao estender a mão e lançar um encanto sobre os seguranças. Eles foram acometidos por uma ilusão de estarem sendo devorados por um enxame de moscas. — Agora vinde, Canopus...
— Só um momento, mestre. Devo reaver o que é meu... — Falou Canopus enquanto procurava ao redor por algo. Avistou na outra extremidade da sala, em uma cúpula de vidro, os quatro vasos canopos que tiraram de sua tumba. Com um jesto mágico, os atraiu para suas mãos, fazendo com que estraçalhassem o vidro. Depois os atou ao pescoço com uma corda que tirou da cintura. Então saíram Khepri e ele do Museu deixando os seguranças agonizando no chão.
Na manhã seguinte, os arqueólogos foram à presença do reitor da Universidade do Cairo, o Sr. Omar. Eles entram em sua sala e o encontram ao telefone muito tenso:
— Mas...? Por Alá...! Isso é terrível!! — Falava Omar, ao reparar nos quatro, fez sinal para que se sentassem e continuou a falar no telefone. — Sim... eu irei aí assim que puder! Até mais...! — Desligou, com um lenço limpou o suor da careca e se dirigiu aos quatro: — A cada dia que passa maiores barbaridades acontecem! Sabiam que uma múmia e alguns artefatos do Museu Egípcio foram roubados ontem à noite?
— Roubados? — Perguntou Tony.
— E hoje encontraram dois seguranças mortos no local do crime. Dizem que morreram de uma alucinação! Isso está ficando assustador!!
— Alucinação...? — Falou consigo mesmo Billy pensativo.
— Bem... Mas, Sr. Omar, nós viemos aqui para comunicar uma proposta de expedição... — Dizia Alicia enquanto Omar se servia de uma xícara de chá. — Queremos encontrar o templo proibido de Aracpus! — Ao ouvir isso, Omar cuspiu o chá que tinha na boca e, ainda engasgando, falou aos berros:
— Templo de Aracpus?! Está louca mulher?! Não quer que eu gaste uma fortuna para buscar um conto de fadas?!
— Na verdade, dinheiro não será problema. — Disse um senhor de cabelos brancos e bengala que entrou na sala.
— Mr. Gaiman! — Falou Alicia alegre enquanto correu para abraçar seu professor.
— Minha querida, eu vim assim que você me chamou. — Gaiman se dirigiu a Omar. — Sr. Omar, a Universidade de Oxford, assim como alguns associados, estão dispostos a arcar com todos os custos dessa expedição. A única coisa que precisamos é que nos empreste o Prof. Mowers e o Prof. Jackson. E claro, já entrei em contato com o México para liberar o Prof. DeJuan.
— Fora que... — Atalhou Tony. — Há uma turma minha que precisa ir a um trabalho de campo para encerrar o semestre... Seria bom poder tê-los conosco.
— Ora mas... — Resmungou Omar, mas frente à seriedade da presença de Mr. Gaiman, renomado arqueólogo inglês, aluno do famoso Howard Carter*, ele não teve argumentos. — Então está bem... se querem ir para o meio do deserto escavar o nada, eu não me oponho. Mas atenção Mowers: a segurança de seus alunos é de sua responsabilidade!
— Como sempre foi, Sr. Omar! — Disse Tony com um discreto sorriso.
— Então, quando começamos? — Falou Eric.
— O mais rápido possível, cavalheiros... e uma dama! — Disse Gaiman. Logo, cada um partiu para organizar uma parte da expedição.
Muito longe das areias quentes do Egito, um motoqueiro foge de carros pretos e velhos pelas ruas repletas de barracas de feira de uma cidadezinha no México. Por onde passa causa confusão e os carros em seu encalço destroem as barracas e põem em risco as pessoas. O motoqueiro sobe por uma rampa num caminhão e salta por uma tenda de galináceos assustando as aves. Os carros encurralados freiam bruscamente. Do primeiro carro sai um homem robusto usando um chapéu panamá com um charuto na boca:
— Maldito cabrón! Ele não vai escapar da próxima vez! Anda... vamos embora! — O homem torna ao carro e a comitiva vai embora. Enquanto isso o motoqueiro continua correndo, ele olha pra trás para ver se ainda o perseguem, visto que não, para frente a um posto de gasolina.
— Madre de Dios! Essa foi por pouco! Preciso sair daqui... Já sei com quem falar! — Ele tira o capacete e vai até um telefone público. Instantes depois, no Egito, o celular de Eric toca:
— É a cobrar... Tsc... Alô?
—> Olá hermano! Como estas?<
— Alejandro? O que houve?
—> Eric... preciso sair daqui... O cartel do Gonzalez está atrás de mim!<
— O que você aprontou dessa vez, Alejandro?
—> Sabe a filha do Gonzalez... A Rosário? Bem...<
— Não me diga que você...?! Quando é que você vai aprender, seu...?!
—> Me poupa do sermão, Eric! O lance é que eu preciso que você me tire daqui... Se o Gonzalez me pegar vai me matar!<
— Olha... Tem muita coisa acontecendo comigo aqui no Egito... você nem acreditaria... O máximo que eu posso fazer e tentar te colocar no grupo pra uma expedição que iremos...
—> Eu faço qualquer coisa Eric!<
— Tá... então... me liga daqui a cinco horas... Vou ver o que posso fazer. — Eric desliga. — Esse Alejandro... só se mete em confusão... O pior é que eu que tenho que livrar ele!
Enquanto Eric ia falar com Alicia para incluir seu irmão na equipe, Tony Reunia seus alunos para selecionar os interessados em participar da expedição:
— Só lembrando que valerá a nota do semestre! E eu bem sei que muitos aqui precisam de notas!
— Professor! — Levantou a mão uma aluna de origem americana e muito sexy. — Pra onde que é essa excursão?
— Não é uma excursão, Rebeca, é uma expedição ao templo proibido de Aracpus, o deus censurado. E é melhor a senhorita não recusar, suas notas estão vergonhosas... — Tony responde sem tirar os olhos do diário de classe, para a decepção de Rebeca, que o acha muito atraente. Em outro recinto, Billy redige e-mails destinados aos veículos de imprensa. Nisso, Isabela, irmã de Tony, chega até sua mesa:
— Com licença... O Prof. Mowers está?
— Ah... sim, ele está em classe no momento... — Billy finaliza uma frase e só então olha para Isabela: — Quem... gostaria de...?
— Eu sou Isabela, a irmã dele... — Responde a moça com um sorriso. Billy ficou fascinado pela beleza de Isabela.
— Hã... Bem... se puder esperar alguns minutos... Sente-se!
— Obrigada! Você trabalha aqui? — Perguntou Isabela enquanto cruzava as pernas.
— Hein? Ah... sim... eu trabalho e estudo meu doutorado... Você aceita um café?
— Não, obrigada... Esse café daqui não é muito bom! Mas, vi que você estava ocupado... Não se preocupe comigo, volte ao seu trabalho...
— Aquilo...? Eu só estava enviando um comunicado à impressa sobre uma expedição que vamos organizar...
— Então por que não adianta pra mim? Já que estou como free-lancer pro Diário Islâmico do Cairo?
— Ah é... Tony me falou, você é jornalista! — Billy puxa uma cadeira e se senta perto de Isabela. — A iniciativa partiu da professora Alicia Towers, de Oxford... — Billy explica a história para Isabela que ouve tudo muito atenta.
Enquanto isso, no palácio de Khepri. Ele comia um banquete de pato assado com carneiro defumado enquanto Canopus meditava sob a luz de tochas. Khepri lambe os dedos, pois há tempos não provava da suculenta carne de carneiro das margens do Delta. Nisso Canopus se levantou e foi em sua direção:
— Estou pronto, mestre!
— Pois bem... Prossiga...
— Às suas ordens! — Canopus posicionou os braços em sinal de oração, fechou os olhos e recitou em voz baixa um cântico. Depois tirou do pescoço os vasos canopos e os deixou sobre o chão, de modo que os quatro ficavam na mesma distância um do outro formando um círculo ao redor de Canopus. — Pelos quarenta juízes do palácio de Osíris... pelas doze serpentes do inferno... Que os espíritos condenados dos quatro filhos de Hórus de Edfu venham a mim, seu condenador, seu mestre!
Ao invocar essa oração os vasos que estavam no chão começaram a liberar uma fumaça branca que envolveu Canopus enquanto Khepri só observava. Os vasos se abriram e de suas tampas a fumaça tomou forma e de cada vaso surgiu um espírito vivo do deus que nele estava representado, vestidos com sudários brancos e com cabeças de diferentes animais:
— Curvem-se diante mim! Imset, o homem; Duamutef, o chacal; Hapi, o babuíno e Kebehsenuef, o falcão! E que as legiões de almas perdidas estejam sob vosso cajado! — Os quatro, trazendo olhos vermelhos e aspectos tenebrosos, se ajoelharam perante Canopus.
— Magnífico! Canopus e seus exércitos destruirão os quatro traidores que fugiram com meus poderes... E depois espalharão minha fúria pelos quatro cantos do mundo! — Esbravejou Khepri em alta voz, e depois deu uma gargalhada assustadora. Assim se principiou uma jornada cheia de surpresas...


* - Howard Carter foi o arqueólogo que, em 1922, descobriu o túmulo do Faraó Tutancâmon, após estar prestes a desistir devido aos elevados custos da missão.

Fim do primeiro saltério

Profany, o anjo da morte

DETETIVE AL: Sombras do Passado


Página de Anderson Oliveira2005

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