Livro II — “Em busca do Templo proibido de Aracpus”.
A Rota para o Desconhecido - saltério segundo


Escriba: Anderson Oliveira

Alicia Towers, apoiada por seu professor Henry Gaiman de Oxford, promoveu uma expedição arqueológica para encontrar o templo proibido do deus Aracpus, cuja existência é tida como fantasiosa. Com isso, ela e os outros Historiadores pretendem atrair o feiticeiro Khepri para que possam aprisioná-lo novamente. Alheio ao fato, Khepri trouxe a vida um de seus servos, Canopus, que tem poderes sobre as entidades conhecidas como os Filhos de Hórus.
Depois que Eric recebeu uma ligação de seu irmão Alejandro, ele foi falar com Alicia para incluí-lo no grupo de apoio:
— É claro que podemos mandar uma passagem para ele vir pra cá! — Respondeu a moça enquanto procurava na biblioteca por livros de pesquisa. — E como isso não deve demorar, ele pode vir com um visto de turista.
— Graçias Alicia! Como eu posso agradecer?
— Me ajudando pegando aquele livro lá de cima!! Olha só o seu tamanho e olha o meu! — Disse Alicia na ponta dos pés para alcançar o livro. Eric se aproximou e sem esforço o pegou.
— Aqui está!
— Brigada! É difícil ser baixinha nesse mundo competitivo! — Alicia foi até uma mesa e abriu o livro. — Veja só isso... — Nas páginas amareladas havia um manuscrito em árabe que falava sobre o deus Aracpus. — Você sabe ler árabe?
— Sei ler todos os dialetos andinos, astecas e maias... Um pouco de hieróglifos egípcios e fenícios... Mas árabe não!
— Eu só sei o básico... Mas com esse garrancho não dá pra entender nada! Talvez o Tony saiba. Vamos falar com ele... — Alicia olha a pilha de livros e olha para Eric. — Vai ficar parado aí? Tá pensando que eu vou levar esses livros pesadíssimos sozinha?
— Oh... desculpe! — Eric pega os livros e sai junto com Alicia pelos corredores.
Enquanto isso, Omar foi até o Museu Egípcio do Cairo, onde na noite passada, tinham roubado artefatos e foram encontrados dois seguranças mortos. Omar entra no local do crime junto com o chefe de polícia. A área foi interditada e peritos criminalistas e cientistas de egiptologia examinam a sala. Omar tirou do bolso um monóculo e fez observações:
— Este era o corpo de Hym Kano-Pus... um sacerdote que viveu no terceiro reinado da 18ª dinastia... Por que haveriam de roubá-lo? — Perguntou para si próprio. — O que mais foi levado?
— Aqueles potes com tampas em forma de cabeças de animais... — Respondeu o chefe de polícia.
— Se refere aos vasos canopos? De que eram feitos?
— De terracota, senhor. — Respondeu um egiptólogo.
— Estranho... se ainda fosse de ouro... O que poderiam querer com um cadáver de três mil anos e vasos contendo vísceras? — Falava Omar seriamente. De repente passou a falar em alta voz: — Pelo profeta! Fizeram isso só pra provocar a ira dos mortos! Estão brincando com a gente! Jogando sortes sobre a nossa cultura antiga!! — Enquanto Omar se desesperava com o caso. A repórter Isabela Mowers entrava pela redação do seu jornal e logo foi recebida pelo seu editor:
— Por onde a senhorita andou?!
— Fui ver meu irmão na Universidade... infelizmente ele não podia...
— Depois daquela reportagem sensacionalista daqueles quatro palhaços fantasiados você não me apareceu com nenhuma matéria! E agora usa o horário de expediente para fazer visitas?
— Dobre a língua, Sr. Saban, não esqueça que eu estou aqui de free-lancer! — Disse Isabela com tom forte. — Aquela reportagem dos “palhaços” vendeu muito, pelo que estou sabendo... E hoje lhe trago outra matéria... Meu irmão fará outra expedição arqueológica e...
— Mas que grande furo! — Disse o editor ironicamente. — Eu, e todos os jornais do país já recebemos o e-mail!
— É...? Mas será que todos os jornais terão uma correspondente na expedição? — Disse Isabela com um sorriso sarcástico. O editor a encarou por alguns segundos e depois sorriu.
— Você fez o quê?! — Disse Tony surpreso para Billy em sua sala. — Minha irmã pediu para ir à expedição e você deixou sem me consultar?
— Desculpe Tony... é que... Você não me disse que ela era tão encantadora...!
— Hei rapaz! Veja como fala da minha irmã! E, além disso, ela é uma repórter... ela sabe ser encantadora para enganar gente como você!
— Tony!! — Disse Alicia ao entrar pela sala acompanhada por Eric que carregava os livros. — Lê pra mim!
— Ler o quê? Eu estava conversando...
— Leia isso, não conseguimos entender esses rabiscos! — Alicia pegou um livro dos braços de Eric e o abriu sobre a mesa.
— Mas... isso não são rabiscos... Estão em árabe arcaico e... Espere... está assinado pelo meu pai! — Tony olhou o livro emocionado. Os demais se aproximaram para acompanhar a leitura:
“No séquito dos nove deuses de Heliópolis* estão presentes as divindades mais importantes da antiga religião. No entanto, o séquito deveria constar dez deuses. Por um motivo ainda desconhecido, um deus foi apagado dos registros desde muito tempo. Seu nome foi para sempre excluído do panteão egípcio. Há muito tempo, eu e meu velho amigo, o francês Lemy Bordoux encontramos em uma caverna na região de Al-Khãrijah, próximo ao Oásis de Kharga uma pintura que indicava a existência de um templo que fora enterrado nas areias manualmente, para que ninguém o descobrisse. Na mesma noite, nós fomos atacados por um grupo de nômades do deserto. Nômades estranhos, pois se vestiam de preto e traziam uma fivela em forma de aranha. Eles me feriram nas costas e me levaram em seus cavalos para a estrada mais próxima onde me abandonaram. Nunca mais vi Lemy, mas sei que isso aconteceu porque estávamos próximos do templo proibido de Aracpus.”
Após ler o manuscrito, Tony silenciou por um instante. Os outros o olharam e perceberam a emoção em seus olhos. Alicia, ainda que entusiasmada por ter encontrado um relato documentado sobre o templo, se conteve frente à comoção que caiu sobre a sala. Após esfregar os olhos, Tony se virou para a parede e respirou fundo. Tornou a virar para os demais e disse:
— Ele tinha uma cicatriz muito grande nas costas... Nunca me disse onde se machucou, mas... isso prova que...
— Que o templo existe! — Interrompeu Alicia. — E ainda nos dá a localização por onde começar!
— Al-Khãrijah... Fica na margem oeste do Nilo... — Disse Billy. — É quase a última cidade na fronteira com o deserto.
— Então é lá que vamos começar a busca! — Disse Tony. Enquanto Alicia comemorava, Billy esfregava as mãos para iniciar um novo trabalho e Eric era usado novamente como carregador, Tony pensava: — Papai... Infelizmente não tivemos tempo de conversar sobre esse seu relato, mas pode ter certeza que eu encontrarei o templo e continuarei seu legado.
Poucas horas depois, estando Eric livre numa área comum da Universidade, seu celular toca:
— Deve ser meu irmão.. A cobrar... É ele... Alô?
—> E então, Eric, conseguiu?<
— Consegui Alejandro... As passagens já estão reservadas no aeroporto Internacional do México... Arrumei também um visto de turista pra você. O vôo sai amanhã à tarde. Basta ir ao aeroporto com seu passaporte... Você ainda tá com seu passaporte, né?
—> Claro que sim, hermano! Sempre estou pronto pra fuga! Mas só amanhã? Vou ter que esperar tudo isso?<
— Onde você está?
—> Já estou na Cidade do México... pelo menos aqui o Gonzalez fica mais cabreiro com tanta polícia por perto.<
— Ok... procura nossa tia Guadalupe, acho que ela pode de hospedar por uma noite... Mas fica longe das nossas primas!
—> Falou Eric... eu te amo!! Agora vou desligar... Adios!<
Visto que já resolveu mais um dos problemas de seu irmão, Eric se tranqüilizou e, como já anoiteceu, voltou ao quarto de hotel onde está hospedado. No mesmo hotel estão Alicia e Mr. Gaiman. O professor se recolheu mais cedo, Alicia ainda ficou na Universidade para mais pesquisas e contratos até mais tarde. Billy foi dispensado e regressou ao apartamento que aluga nos domínios da Universidade. E, por fim, Tony voltou para sua residência, ainda pensando na memória de seu pai. Tudo isso observava Khepri, através de seu espelho mágico:
— Lá estão eles! Agora todos se recolhem para repousar... É a hora! Canopus!
— Sim, meu senhor! — Canopus pegou os vasos que estavam atados em seu pescoço e através deles invocou os espíritos dos Filhos de Hórus, estes se materializam em sua frente: — Vão! Acabem com os inimigos do senhor Khepri! — Prontamente os quatro espíritos acenaram com a cabeça e se dissolveram em fumaça e desapareceram.
Nos guetos desertos do Cairo, os quatro ressurgiram. Guiados pela força de Canopus e de Khepri, cada um tomou uma direção e foi atrás de um Historiador se dissolvendo novamente em fumaça. Duamutef, o chacal, foi atrás de Tony. Imset, o homem, foi atrás de Alicia. Kebehsenuef, o falcão, foi atrás de Eric. E Hapi, o babuíno, foi atrás de Billy.
No quarto de Eric, a fumaça entrou entre as frestas da janela enquanto o arqueólogo dormia. Kebehsenuef se materializou frente a sua cama, levitou até a cabeceira e preparou uma massa de energia com as mãos envoltas por retalhos de linho branco. Quando estava prestes a tocar o rosto de Eric, este acorda e esquiva:
— Que diabo é você?! — Se levantou rápido e deu uma cotovelada na nuca de Kebehsenuef. Este grunhiu como uma rapina, e se voltou com suas garras contra Eric o arranhando no ombro. — Você deve ser da laia de Khepri! Já deveria esperar! — Eric correu até sua mochila e tirou o Udyat: — Pelo poder de Hórus! — Eric foi envolto pelo poder dourado da armadura, para o espanto de Kebehsenuef.
— Não adianta ostentar a face de meu pai, Hórus! Por sua afronta irá morrer! — Disse Kebehsenuef que saltou sobre Eric como um falcão em vôo.
Eric rolou com Kebehsenuef pelo quarto até que o dominou e com o cetro Uas prensou seu pescoço contra o chão. Porém Kebehsenuef se fez em fumaça e escapou. Ainda na forma de fumaça vagou pelo quarto deixando Eric confuso. Sorrateiramente, Kebehsenuef se materializou atrás de Eric com suas mãos cheias de energia esverdeada. Sem que percebesse, Eric foi atingido nas costas:
— Aaaahhh!! Filho duma...! — Eric se virou e acertou seu adversário com um soco de tamanha força que Kebehsenuef foi lançado contra a parede. — Caramba! Ainda não me acostumei com essa força! — Sem qualquer esforço, Eric manuseou o cetro como um bastão de combate e se posicionou para esperar um contra-ataque. Kebehsenuef novamente virou fumaça e com grande velocidade voou em direção de Eric se condensando e o pegando no vôo. Os dois se chocaram contra a parede oposta, mas Kebehsenuef saltou para trás e caiu de pé no chão.
No mesmo momento, Alicia era atacada por Imset. Ela saía do banho vestindo um roupão quando viu o espírito de pé esperando por ela. Logo lhe jogou um vaso de plantas, mas o objeto se espatifou no peito de Imset. Percebendo do que se travava, procurou por seu amuleto, mas este estava no criado-mudo. Para pega-lo precisava atravessar por Imset.
— Espero que aquelas aulas de ginástica olímpica tenham valido de alguma coisa! — Disse Alicia que logo saltou sobre Imset, mas este ainda conseguiu pegar seu pé fazendo-a cair no chão. — Me larga, seu idiota! — Se debatendo, consegue chutar as partes de Imset e se soltar. Alicia correu até a cama e, com Imset em seu encalço, ela pegou o Tet: — Pelo poder de Ísis! — Vestida com a armadura e em posse dos leques, saltou para o lado e avançou contra Imset.
O espírito com cabeça humana também se dissolvia em fumaça para escapar dos golpes. Alicia manuseava as armas habilmente, seus movimentos eram similares a uma dança. Todavia, seu inimigo escapava de seus ataques. Tomada pela fúria, Alicia dobrou sua velocidade e conseguiu atingir Imset que teve o abdome ferido.
— Quem é você?! O que veio fazer aqui?! — Perguntava enquanto redobrava o ataque. Imset foi prensado contra a parede. Abrindo sua boca fétida com dentes podres e vermes em sua língua, respondeu:
— Eu sou Imset, um dos Filhos de Hórus, a comando de meu senhor Canopus! — Ao terminar a sentença, se fez em fumaça e se condensou atrás de Alicia, a imobilizando com seus braços.
Tony também lutava. Duamutef, o chacal invadira sua casa e o tirou do sono. Tony ainda lutou para afastar os dentes afiados do invasor, até que empurrou um armário com os pés, fazendo seu chapéu cair. Dentro do chapéu deixara sua Ankh:
— Pelo poder de Anúbis! — Recitou o encanto ainda deitado. Sem que pudesse perceber, Duamutef foi golpeado com a espada. — Se não me engano, você é Duamutef, um dos deuses protetores dos vasos canopos! — Dizia Tony enquanto seu adversário recuava e ele se levantava. — Reconheço o dedo de Khepri nisso tudo!
— Grrrrrr... — Rosnava e babava Duamutef. Porém seu ferimento se fechava e era envolto por retalhos do seu sudário. — Sim, humano. Eu sou Duamutef! E você pagará por sua afronta contra o mestre Khepri! — Ele se fez em fumaça, enquanto um uivo se ouvia, a fumaça rodeava o local até que Duamutef se condensou, agarrado ao teto, e depois saltou sobre Tony.
Duamutef caiu sobre Tony e o imobilizou. Sua espada caiu fora de seu alcance, então Tony se lembrou do que poderia fazer com suas mãos. Conseguiu segurar o braço de Duamutef com a mão direita, e este começou a rejuvenescer. Em instantes seu aspecto era de um jovem, então Tony pode se livrar dele. Ele foi para pegar a espada, e quando se virou, Duamutef regressava a sua idade original:
— Seu truque só tem efeito em mortais! — Disse o chacal enquanto avançava cheio de fúria. Enquanto isso, Billy enfrentava Hapi, o babuíno, já transformado em guerreiro, graças à rapidez que teve para invocar a Esfinge:
— Um homem com cabeça de macaco vestido como uma múmia? — Dizia Billy enquanto media forças com Hapi. — Onde já te vi? Ah... — Conseguiu arranhar o rosto do espírito com suas garras. — Você é Hapi, o protetor dos pulmões nos vasos canopos!
— Ahhh!! — Urrou Hapi feito um primata. — Exato, mortal! E que pela honra do senhor Canopus, servo de Khepri, as serpentes do inferno devorem sua carne! — Hapi saltou sobre Billy e mordeu sua cabeça.
— Idiota! — Disse Billy ferindo as costas de Hapi. — Minha cabeça tá revestida de pedra! Você mordeu pedra!! — Enquanto zombava, Billy via Hapi virar fumaça frente a seus olhos. Em segundos, Hapi retornou e derrubou Billy com uma rasteira:
— Qual o peso da sua roupa de pedra quando ela te espreme os pulmões, humano? — Disse Hapi pisando sobre Billy.
Enquanto os quatro Historiadores se viam encurralados pelos inimigos em condições excepcionais, Khepri e Canopus observavam tudo através do espelho com grande júbilo. Os Filhos de Hórus eram muito poderosos frente aos Historiadores, que ainda não tinham pleno conhecimento de seus poderes.
Alheios a tudo isso, nas gráficas, os jornais eram impressos com a notícia da expedição do templo proibido de Aracpus. No entanto, a mídia eletrônica já havia divulgado a notícia pela TV, rádio e Internet. Às escondidas, um avião particular pousa no aeroporto do Cairo.
Do avião saem dois homens, trajando ternos pretos, um negro e outro branco, acompanhados por homens armados. Eles descem as escadas do avião até irem a um carro, também preto, que os aguarda. Entram no carro e este se dirige rumo ao centro da cidade. O veículo ostenta um símbolo similar a uma teia de aranha prateada. Dentro do carro, o homem branco fala para o negro:
— Ainda bem que conseguimos chegar a tempo... Eles não sabem onde estão se metendo...


* - Heliópolis: Cidade da antiguidade à margem leste do Nilo, próxima a Mênfis e Gizé. Seu nome, em grego significa “cidade do sol”. Lá floresceu a visão mais organizada e detalhada da religião politeísta do Egito.

Fim do segundo saltério

Profany, o anjo da morte

DETETIVE AL: Sombras do Passado


Página de Anderson Oliveira2005

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