Livro II — “Em busca do Templo proibido de Aracpus”.
Desenterrando um Passado Recente - saltério terceiro


Escriba: Anderson Oliveira

As entidades dos quatro Filhos de Hórus, a comando de Canopus, atacaram os Historiadores em lugares diferentes. Graças aos poderes dos amuletos, os arqueólogos puderam resistir aos ataques, mas a condição excepcional dos protetores dos vasos canopos lhe garantiram vantagem. Alheios a isso, dois homens misteriosos desembarcaram na cidade.
— Peraí... — Dizia Eric ainda sonso... — Se ele, que é um cara com cabeça de falcão, pode voar... quer dizer que eu também posso! — Eric respirou fundo e tentou voar, mas Kebehsenuef novamente o atacou. — Infeliz!! — Eric se virou e pegou a cabeça de Kebehsenuef com as duas mãos e apertou. Movido pela adrenalina, Eric fez os olhos presentes em suas mãos brilharem, e com isso suas mãos geraram esferas de luz.
Atingido pelo forte calor que emanava pelas esferas, Kebehsenuef teve sua cabeça queimada. Seus olhos explodiram e seu grito agonizante marcou sua evaporação e fuga. Eric ofegante observou suas mãos enquanto as esferas apagavam e os olhos na armadura voltavam ao normal:
— Putz! Isso é tão legal quanto voar! — Exclamou vendo a fumaça de Kebehsenuef vagar pelo céu noturno enquanto ouvia o grasnar agonizante de um falcão.
Alicia tinha sido imobilizada por Imset. Este lhe apertava com seus braços e a envolvia com seu sudário. A moça sufocava e sentia seu fígado sendo espremido. Desesperada, a adrenalina toma seu corpo e seus olhos começam a brilhar. Duas adagas colocadas de enfeite na parede do quarto então começaram a levitar e rumaram em direção de Imset.
— Aaahhg! — Ele grita ao ter seus olhos perfurados pelas adagas. Com isso, solta Alicia que sem vacilar arremessa seus leques contra Imset. Este, porém se faz em fumaça e escapa para fora. Alicia ainda respira para retomar o fôlego. Ela olha as adagas no chão e se pergunta como conseguiu move-las.
Tony rola pela casa lutando contra o chacal Duamutef. Este ataca como uma fera selvagem enquanto Tony só consegue manter suas presas longe o suficiente de seu pescoço. Duamutef consegue prender Tony com suas mãos. Usando retalhos de seu sudário, amarra a mão esquerda de Tony enquanto leva sua mão com garras afiadas para atacar:
— Morra, mortal!! — Prestes a retalhar a garganta de Tony, Duamutef se depara com a lâmina do cabo em forma de machado da magnífica Espada de Gizé. Tony conseguira se soltar do sudário e sacar a tempo a arma. Como conseqüência, Duamutef perdeu a mão. — Nãooooooo!! — Sua negativa se converte em uivo e o espírito se dissolve e desaparece, assim como sua mão decepada.
— Por Alá...! — Disse Tony aliviado. — Isso está ficando perigoso!
Billy é pisoteado por Hapi que salta sobre suas costas enquanto urra como um macaco. O chão embaixo de Billy começa a ceder frente à pressão de sua pesada armadura de rocha. Arriscando tudo, Billy dobra as pernas a fim de chutar Hapi. E conseguiu. O babuíno foi jogado contra o armário de madeira que ficou estraçalhado. Billy se levantou e encontrando Hapi ainda tonto, o chutou repetidamente com suas botas de pedra.
— Aaaahhhhh!!! — Urrou Hapi enquanto fugia sob a forma de fumaça. Billy olhou em volta e se preocupou com a bagunça causada pela luta. Sem forças para refletir sobre o acontecido, somente desfez o encanto e caiu sonolento no chão. Nas areias do Saara, Khepri em seu templo presenciava o fracasso de seus enviados:
— Que cena lastimável foi esta, Canopus?! — Disse com fúria no olhar para seu discípulo.
— Perdão,meu senhor! A força desses seus inimigos é superior a minha expectativa! Seus poderes são quase divinos! — Se lamentava Canopus de joelhos.
— Poderes...! Maldita hora em que eu concedi esses poderes a eles! Pois bem... esta foi só a primeira batalha... — Khepri falava, nesse momento os quatro espíritos derrotados entram no templo e se condensam. — Vejam... é patético! Sorte que, como imortais, em pouco tempo sararão os ferimentos...
— Novamente perdoe-nos, mestre! Garanto que na próxima vez, não haverá fracasso! — Disse Canopus prostrado no chão.
— Certo... agora sumam da minha frente! — Falou Khepri e logo Canopus e seus escravos se retiraram. — Talvez... ter saído de minha prisão não fosse uma boa idéia! — Lamentava Khepri caminhando até a mesa onde deixara o espelho. Eis que nele se via os jornais nas gráficas. Khepri olhou e leu a manchete: — “Templo de Aracpus”! Será possível?! Mas isto é muito conveniente! — Alegrou-se, pois certamente conhecia a lenda do deus censurado e seus segredos. Pela manhã, os quatro arqueólogos se reuniram na sala de Tony na Universidade:
— Os Filhos de Hórus... — Explicava Tony. — Divindades menores que protegiam determinados órgãos do corpo. Então todos nós fomos atacados por um deles?
— É... — Respondeu Eric. — Mas... com isso, quer dizer que esses deuses realmente existem?! E que estão sob o comando de Khepri?
— Se são deuses, não se sabe... — Disse Billy. — Podem ser objetos que Khepri fez ganharem vida... Assim como os uchebtis em seu túmulo...
— Acho que não é só isso... — Disse Alicia. — O que me atacou disse que estava a comando de um tal de Canopus...
— Canopos? — Perguntou Tony.
— Não, Canopus... com “U” no final. — Retrucou Alicia.
— É mesmo! — Interrompeu Billy. — Hapi também falou esse nome. Canopus... deve ser alguém que os controla e que trabalha para Khepri. — Nisso, Omar bateu na porta e em seguida entrou:
— Com licença, mas os últimos documentos para a expedição precisam da assinatura de vocês...
— Claro... Sr. Omar... — Disse Tony que foi pegar os papéis.
— Ainda acho tudo isso muito perigoso... Ainda mais com os recentes atos terroristas! Sabiam que roubaram uma múmia e vasos canopos sem valor do Museu do Cairo? — Quando Omar falou em canopos, os quatro o encararam assustados:
— Uma múmia e vasos canopos? — Perguntou Billy. — De quem era a múmia?
— De um sacerdote da 18ª dinastia... — Dizia Omar mais atendo aos documentos. — Seu nome era Hym Kano-Pus... Bem... era só isso... Agora voltem ao seus afazeres! — Disse com sua rabugice o reitor que saia da sala.
— Hym Kano-Pus... — Repetiu o nome, Tony.
— É claro! — Disse Alicia. — Kano-Pus... Canopus! Khepri deve ter roubado-o do museu!
— Ou... Ele saiu andando de lá... — Disse Eric. — Se Khepri pode dar vida a objetos inanimados, também deve poder reviver os mortos!
— Depois de tudo que vi, eu não duvido... — Ironizou Alicia.
— Nem eu. — Disse Tony com a voz seca. — Temos que sair na expedição o mais rápido possível. Khepri está nos caçando... Vamos cuidar dos últimos detalhes... iremos partir amanhã para Al-Khãrijah.
Horas depois, há menos nove fusos-horários, no México, Alejandro DeJuan dorme no sofá da sala da sua tia. Passa do meio-dia e ele é acordado por uma de suas primas:
— Acorde Alejandro! Olha que horas são!
— Oh... Ah boneca...! — Dizia ainda dormindo.
— Levanta! — A moça deu um tapa em Alejandro.
— Mas hein?! Ah... o que foi Maria?
— Você vai perder seu vôo!
— Que vôo...? Hã? É mesmo!! — Alejandro levantou apressado, escovou os dentes, arrumou o cabelo, vestiu suas roupas, pegou as chaves da moto e, antes de sair pela porta, beijou o rosto da prima: — Hasta la vista, boneca! — Saindo pela porta ele cruza com um senhor de terno:
— Por favor... O Sr. DeJuan?
— Depende... Eu ou meu irmão?
— Eric DeJuan. — Disse o homem conferindo em um papel.
— Perdeu a viagem, cidadão. Ele tá fora do país. E eu vou encontrar com ele, dá licença...!
— Espere... pode entregar isso a ele...? — O homem deu um envelope a Alejandro.
— Claro, mas preciso ir... tô atrasado! — Alejandro pegou o envelope sem olhar e saiu em sua moto. No caminho, pensava sobre o que poderia ser: — Será que isso é dinheiro? Não Alejandro! Nada de trapaças com seu irmão que sempre livra sua barra!
De volta ao Egito, Alicia apresenta o livro que contem o manuscrito do pai de Tony, assim como sua versão traduzia que ela redigiu no dia anterior para Gaiman:
— Relato impressionante, minha cara! E vejo aqui algo que poderá nos ajudar e muito!
— O quê, professor?
— Este amigo do senhor Mowers... O francês... Lemy Bordoux... Se ele ainda vive, pode nos dizer muito mais sobre o Templo do que esse texto.
— Verdade! Mas... como poderemos encontrá-lo?
— Lemy Bordoux?!! — Disse gritando Omar em sua sala quando Alicia e Gaiman foram até ele: — É claro que eu o conheci! Era um homem presunçoso e arrogante! Tinha uma cicatriz horrível na garganta...
— Não queremos saber como ele era, Sr. Omar. Só interessa saber se ainda está por aí... — Interrompeu Gaiman.
— Lemy, depois da morte de Mustafá Mowers (que Alá o tenha), ficou louco.
— Louco? — Perguntou Alicia.
— Sim. Falava coisas sem sentido e passou a ter umas manias estranhas. A última vez que o vimos ele estava na fronteira do deserto com uma aranha enorme na boca. O bicho ainda estava vivo e ele disse que estava esperando ela entrar sozinha por sua goela! Depois seus parentes o levaram pra França... ouvi dizer que está em um sanatório até hoje!
— Isso é... Muito interessante senhor Omar... Muito interessante... — Dizia Alicia pensativa. Em seguida ela e Gaiman foram ter com Tony e os outros: — Se encontrarmos esse homem, ele pode nos ajudar muito!
— Você disse que ele está louco e na França... Não temos tempo para encontrá-lo. A viagem começa amanhã! — Disse Billy.
— O que é uma pena... — Disse Tony de sua cadeira. — Gostaria muito de encontrar alguém que foi muito amigo do meu pai. Quantas coisas ele poderia me dizer...
— Mas o que mais me instigou foi o relato dele com uma aranha na boca. — Disse Alicia. — No texto, seu pai diz ter sido atacado por nômades com fivelas em forma de aranha... E estamos em busca do templo do deus aracnídeo!
— O que isso quer dizer? — Pergunta Eric.
— Que a seita criada por Aracpus está viva... e de alguma forma afetou Bordoux para que ele enlouquecesse. — Enquanto a astuta jovem confabulava, não muito longe dali, os homens misteriosos que chegaram na madrugada e toda sua comitiva chegam em Gizé, próximo as pirâmides, onde esperam algo:
— Estão atrasados. — Diz o homem negro.
— É... No deserto não deve haver relógio! — Ironizou o outro. Nisso, três cavaleiros em seus cavalos, vestidos de preto com seus rostos cobertos se aproximam dos que esperavam.
— Saudações, senhores! — Respondeu o cavaleiro da frente.
— Viemos assim que chamaram. — Disse o homem negro. — Se isso é verdade, temos que agir antes que eles se machuquem.
— É a verdade... Nossos contatos na capital tiveram a informação da expedição ao templo de Aracpus antes de qualquer outro. — Disse o cavaleiro. — Pensávamos que tinham desistido disso há anos...
— Infelizmente não. — Retrucou o homem branco. — Nossa missão é defender as pessoas da ameaça que se esconde debaixo daquelas areias. Esta é a sina que herdamos de Aracpus: manter a verdade oculta para que inocentes não morram. Agora vamos voltar à cidade e vigiar esses arqueólogos de perto. Nós, os Aracnos não falharemos em nossa missão!
No México, Alejandro entrou no aeroporto e retirou sua passagem no guichê. Não levava bagagem alguma, só a roupa do corpo e o envelope que o homem estranho pediu para entregar para Eric. Faltava meia hora para o embarque e ele resolveu esperar sentado, sem saber que um homem fingindo ler um jornal o observava:
— É ele, senhor... — Disse através de um ponto eletrônico em seu ouvido. — Vai pegar um avião... Para onde? Espere... — Nessa hora, os alto-falantes do aeroporto chamaram os passageiros com destino ao Cairo e Alejandro se levantou e foi em direção ao embarque. — Parece que está indo para o Egito, senhor... Afirmativo. — O homem se levantou, dobrou o jornal e saiu com ele embaixo do braço.
De noite no Cairo, os quatro arqueólogos mais o Mr. Gaiman jantam em um restaurante enquanto combinam as últimas coordenadas da viagem:
— Então fica assim: as seis da manha saímos de avião até Assuã, de lá partimos de carro até Al-Khãrijah, onde procuraremos as indicações da caverna onde foi encontrado uma pintura falando sobre o templo. — Dizia Alicia com um mapa em mãos.
— Ótimo, minha querida! — Disse Gaiman. — Eu desde já desejo boa sorte para vocês!
— O senhor não vai conosco?
— Infelizmente não. Estou velho demais para uma viagem dessas. Mas em dois dias irei até Assuã, onde manterei contato. Creio que a equipe de vocês já está completa?
— Sim... — Disse Tony. — Além de nós quatro vão oito alunos meus e lá em Al-Khãrijah contrataremos carregadores e compraremos animais.
— E ainda falta meu irmão que chegará pela manhã, a tempo de partir com a gente para Assuã. — Disse Eric.
— E claro, a srta. Mowers que acompanhará a expedição como correspondente da imprensa! — Falou Billy.
— Ah claro... com tudo que aconteceu eu esqueci de falar com Isabela pra ela desistir disso! — Disse Tony.
— O que importa é que estamos prestes que escrever nossos nomes nos livros de História! O deserto que nos aguarde! — Disse com sua alegria Alicia, sem saber, porém que Khepri os observava através de seu espelho:
— Então eles são os mesmos que procurarão pelo Templo proibido de Aracpus? Pois isto é perfeito! Eu poderia desenterrar o templo de onde quer que ele esteja com um mero gesto, mas aproveitarei a ocasião para sepultar meus libertadores nas areias vermelhas do deserto! E ainda me apossarei dos tesouros do templo!! — Dizia Khepri, sem imaginar que acabara de cair na armadilha armada pelos Historiadores.
Longe de tudo isso, um velho dorme debaixo de cobertores pesados. Um homem de cabelos brancos e cumpridos, barba por fazer, num quarto de hospital. Ele tem um sonho, ou seria uma visão? Sangue e gritos na escuridão do deserto fazem o velho suar. De repente presas afiadas fazem o velho despertar do sonho:
— Mon Die! — Exclamou o velho ao levantar a cabeça assustado. Ele tem uma cicatriz no pescoço: — A fera não pode ressurgir!! Mustafá me fez prometer que eu nunca deixaria a fera despertar!

Fim do terceiro saltério

Profany, o anjo da morte

DETETIVE AL: Sombras do Passado


Página de Anderson Oliveira2005

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