Capítulo IV
O Fera Insana


Por: Danilo “Morlun” Fasolo

Ao nascer do Sol, em meio de uma das dezenas de florestas de Morlword.

Sobre uma grande rocha isolada no meio de um grande lago estava sentada uma jovem garota. Tinha lindos olhos verdes encantadores, cabelos longos e da mesma cor dos olhos, assim como seus lábios que poderiam seduzir qualquer homem ou mulher. E suas vestes, também verdes, apenas cobriam suas partes íntimas. Em meio a tudo isso podia se ver a sua aparência idêntica com Zanália, a deusa das águas. E apesar de tanta beleza, essa garota chorava, e suas lágrimas se misturavam com as águas do lago.
_Por que derramai tais preciosas lágrimas, Zeni, minha filha e deusa das florestas? – Era uma voz masculina que vinha de todos os lados. Então uma luz clara como o sol apareceu diante da garota e logo se transformou num homem, flutuando no ar. Ele era alto, sua pele tinha duas cores: do lado direito era preto, como a noite, e do esquerdo era azul, com o céu. Seu olho direito era branco, como a lua, e o esquerdo era alaranjado, como o sol. Tinha longos cabelos grisalhos, assim como a braba. E uma longa capa branca lhe cobria o corpo, tendo por dentro uma escuridão repleta de estrelas, como o céu noturno.
_Ora, meu pai... – Disse a garota, que fora chamada de Zeni, em meio a soluços. – Tu bem sabes o motivo do meu pranto.
_Ainda pelas maldades que os mortais derramam sobre tuas preciosas florestas?
_Não são minhas, meu pai... São de Morlword, presenteado por vocês, os deuses anciãos.
_Zeni... – O homem se aproximou de Zeni e sua mão esquerda, que era azul, saiu da capa para acariciar o rosto dela. – Não desperdice suas lágrimas para algo tão desnecessário... Faz parte do destino que cobre Morlword, como Persi bem disse antes de nós, os deuses anciãos, presentear esta preciosa cidadela.
_Mas é algo tão triste, meu pai. Não há represas que possam segurar os rios que correm dos meus olhos.
O homem limpou as lágrimas de Zeni ainda com a mão esquerda e a ocultou novamente dentro de sua capa:
_Não se esqueça do fim do relato de Persi, Zeni: Morlword ainda terá uma era de plena harmonia. E também não se esqueça dos mortais que lutam pelo bem, em honra a nós, os deuses.
_Claro, meu pai... tens razão.
_Agora devo me retirar. Adeus, minha filha. Que a alegria lhe tome conta.
_Adeus, meu pai.
Em seguida, o homem desapareceu da mesma forma que apareceu. E Zeni sorriu, desaparecendo da mesma forma, mas com uma radiante luz verde.


No meio da tarde, nos subúrbios ao oeste do centro das civilizações de Morlword.

Em um pequeno bar, o único daquela região, havia várias pessoas que bebiam alegremente, conversavam e jogavam jogos para entretenimento. Aquele bar estava sempre cheio, não importa se era dia ou noite. Mas de todas essas pessoas a que mais interessa é um homem solitário em sua mesa, que todos o ignoravam. Aquele era um homem bem diferente dos outros: tinha pêlos castanhos por todo o corpo, parecia um animal humanóide, suas unhas, das mãos e dos pés, eram pontudas e afiadas o bastante para cortar carne. Usava uma calça e uma jaqueta, ambas eram brancas e de jeans. E seu rosto era ocultado com o chapéu branco e o jornal que lia, ou fingia ler, segurando com as duas mãos. Em sua frente, sobre a mesa, havia uma garrafa de bebida e um copo cheio da mesma até a metade.
Uma linda morena entra no bar, não ligando para os homens que a olhavam com malícia. Aquela era a Liz, mas com roupas mais discretas.
Ela caminha até o homem solitário e senta na frente dele. Todos estranham a atitude dela, pois é a primeira que senta ali, junto com ele. Ela ficou olhando para ele, que ocultava o seu rosto atrás daquele jornal. Então este pegou o copo de bebida com a mão direita, levou-o para trás do jornal, deu um gole sem mostrar o rosto, e colocou o copo onde estava. Em seguida, com a mesma mão, ele pega a garrafa e encheu o copo.
_O que quer aqui, Liz? – Diz finalmente o homem com sua voz grossa, quebrando o silêncio da mesa, mas sem tirar o rosto de trás do jornal.
_Apenas conversar, Jack.
_Sem “Jack”! Sabe o quanto odeio esse apelido.
_Está bem, Jackloss. Ou prefere “Fera Insana”?
_Pode ser, cada um tem o seu bom gosto. Mas você, por outro lado, não tem bons gostos, pois insiste em me chamar pelo apelido que odeio por trazer as lembranças das qual você bem sabe. Tsc, já tô falando demais!
_Está bem, Jackloss, desculpe.
_Não te desculpo.
_E por que não? - Insiste Liz, séria e com esperanças de ter uma boa conversa.
_Você sabe como eu te odeio!
_Eu era a sua única amiga--
_Por isso mesmo! Agora fala logo o que você quer e caia o fora! Ou se preferir, caia fora agora o mesmo, pois com certeza não terá o que quer!
Nisso o barman se aproxima da mesa.
_A senhorita vai querer algo?
_Apenas água. - Respondeu Liz. Ela espera o barman se retirar e fala a Jackloss. - Você anda passando informações para o Clã Vermelho, não é?
_E daí?! A vida é minha! Pelo menos elas me pagam bem!
O barman levou um copo d’água para Liz e se retirou. Ela continuou:
_Você pôs a vida de uma mulher em perigo.
_Eu sei o que falo, sua maluca! E você veio aqui pra me dar lição de moral?!
_Quero saber onde está a Milena, para ajudá-la!
_Paga quanto?
_Jackloss--
_Tá vendo?! Eu disse que você não ia conseguir o que queria!
_Por favor. Não seja tão duro comigo... O que foi que te fiz?
_Sempre com a mesma pergunta! E você sabe a resposta!
_Por querer ser sua amiga?
_É! Por isso mesmo!
_Jack, por favor--
_Não me chama de Jack! - Jackloss bateu com as mãos na mesa, tirando o jornal da frente do rosto, e finalmente revelando o mesmo. Tinha longas costeletas pretas e dentes como os de um lobo. Mas o mais assustador eram os seus olhos: vermelhos. - Pinóia!
Apesar do olhar ameaçador de Jackloss Liz não sentiu medo, e sim tristeza. E seus olhos se umedecem.
_Jackloss...
_Não me venha com choro...! - Jackloss volta a ocultar o seu rosto com o jornal. - Cai fora daqui.
_Por favor... Faz isso não por mim, mas pela Milena. Ela vai morrer...
_Dane-se!
Liz deu um gole da sua água no momento em que três homens armados com pistolas entram no bar. Um deles parou logo na frente do balcão. Os outros dois continuaram andando. Um parou do lado da mesa onde estavam Jackloss e Liz, mas sem reparar neles. E o outro parou mais adiante. Então o do meio disse para todos:
_É só colaborar que ninguém se machuca! Vâmo passando os dinheiros e as jóias numa boa!
_É isso aí! Passa a sua parte, ô barman! - Disse o primeiro, do lado do balcão.
Jackloss deu uma olhada neles e se levantou. Os assaltantes o estranharam. Então o homem peludo disse:
_Qualé?!
_Ih! Olha só! - Disse o assaltante à frente de Jackloss, em tom sarcástico e zombador. - Um animal humano!
_Me chamou... de animal...?! - Jackloss o encarou com fúria. - Ninguém me chama de animal! - Ele atacou o assaltante com dois arranhões nos rosto com as mãos e um chute no estômago, derrubando-o. - Levanta! - Jackloss o ergueu pelo pescoço com a mão esquerda e o socou sem parar com a mão direita. Em seguida ele torceu o pescoço do bandido com as duas mãos. - NINGUÉM ME CHAMA DE ANIMAL!!! - Jackloss largou o corpo no chão e se virou para o bandido próximo ao balcão. - É a sua vez, meu caro! Algo a declarar?
Com medo, o bandido deu três tiros com sua pistola, lançando três raios energéticos azulados, acertando no peito de Jackloss. Aquilo apenas dissolveu os pêlos e torrou a pele dos pequenos locais atingidos. E em poucos instantes os ferimentos somem.
_Ah, não...! - Disse Jackloss, com uma expressão sarcasticamente desanimada. - Não faz isso, cara... Os pêlos voltam defeituosos e levam umas dez noites e doze dias pra voltarem ao normal! Sem falar que até lá são quinze luas!
Os bandidos ficaram com mais medo ainda. Já as outras pessoas, assim como a Liz, assistiam aquilo sem se espantarem, como se aquilo fosse comum.
_Vou ter que te matar. - Disse Jackloss para o homem que lhe atirou. Então ele pegou a garrafa de sua mesa e lança, acertando com o fundo na testa do alvo, fazendo-o cair desacordado e sangrando. Então o restante, que estava atrás de Jackloss, acertou cinco tiros nas costas dele, fazendo furos na jaqueta. - Ah, não...! Você--! - Jackloss olhou para os furos na sua jaqueta, virando-se de frente para o inimigo. - Eu não acredito que você fez isso! Você-- Peraí, deixa eu ver direito... - Ele olhou mais uma vez para as suas costas. - Você acertou o meu jeans! - Ele olhou furioso para o bandido. - Jeans custa caro, meu! E pior: só se acha lá no centro, beeeeem longe daqui!
_D-d-desc-culpe... - Disse o bandido, engolindo em seco.
_Te desculpar?! Eu devia mandar você ir comprar, mas não posso! Sabe por quê? Porque vou ter que te matar, seu cretino!
_N-não...!
Jackloss saltou e acertou uma voadora na garganta do homem, derrubando-o no chão. Em seguida ele cravou suas unhas no estômago dele com a mão direita, enterrando os dedos. Então murmurou:
_Ninguém se mete com o Fera Insana...! - ele se levantou deixando o homem cuspindo sangue até morrer. - Bem.. é isso.
As pessoas passaram a ignorar totalmente aquilo e voltaram a fazer o que antes faziam. Liz estava cabisbaixa e ainda chorando. Jackloss se aproximou da sua mesa e deu um gole final no seu copo. Olhou para ela e disse impaciente:
_Lá no centro, o hotel mais luxuoso que encontrar. - E se retirou do bar.

Continua...

Profany, o anjo da morte

DETETIVE AL: Sombras do Passado


Página de Anderson Oliveira 2006

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