Escrito por: Anderson Oliveira

Uma cidade abocanhada pela noite escura, onde somente a Lua cheia resplandece algum brilho. Uma cidade entregue à mão vil e suja do crime. Não são só meros assaltantes a bancos ou condomínios de luxo. Não são só traficantes, falsificadores, cafetões, estupradores e políticos corruptos. É uma máfia. Não tente distinguir entre as conhecidas máfias italianas, chinesas, japonesas e russas. É uma única máfia, onde a nação não importa.
Pelas ruas, nos guetos e nos morros, eles a chamam de Mega Máfia Internacional. O apelido vem de acordo com suas ramificações em todo o planeta. A MMI, como é chamada, controla quase tudo no sub-mundo. O tráfico, o contrabando, os acertos de contas... Tamanha é sua organização que só os membros mais elevados têm conhecimento de toda a dimensão da máfia. Assim, se a polícia pegar um “peixe pequeno”, este não poderá entregar a organização.
Como eu sei de tudo isso? Eu vim até aqui para destruí-los. Na madrugada eu vesti o traje ninja que fiz ainda no Japão para concretizar minha vingança que alimento há dez anos. Quem sou eu? Meu nome é Láila. Para todos, só uma garota de classe média alta, loira, bonita e órfã. Mas sob o escarlate do traje de couro e cota de malha, eu sou uma ninja.
Corro pelos telhados dos prédios do centro da cidade. Descobri que altos líderes da MMI se encontrarão aqui perto. Mas eles também já sabem da minha presença. Ao chegar ao prédio, dez homens armados com metralhadoras me esperam. Eles vestem preto (que previsível!) e cobrem o rosto com máscaras. É hora de testar meu treinamento:
— Ali está o desgraçado que acabou com a turma do beco!
— Hei cara! Mas é uma mulher! É só uma mulher!!
— É mesmo, camarada! Então vamos fuder com essa vadia! — Já estou me acostumando com essas palavras carinhosas. Eles engatilham as armas... estão a dez metros de distância... há um vão entre nós. Impossível saltar dez metros entre um prédio e outro... a menos que você seja um super-herói... coisa que eu não sou. Por isso vim preparada...
Entre as armas que peguei, uma é um gancho com corda. Salto doze andares abaixo e me penduro pela corda me escondendo nas sombras. Não demora muito até os capangas irem até o para-peito e atirarem. Sinto as balas passarem a menos de cinco centímetros do meu corpo. Por sorte uma marquise me protege. No entanto não quero ficar aqui a noite toda.
— Pra onde foi a puta?!
— Sei lá! Parece que evaporou!
— Se a gente não levar a cabeça da piranha pro chefe, ele acaba com a gente!
— Olhem ali! — Tenho que ser rápida! Com a corda me lanço pro alto e passo pelos capangas. Com minha espada destruo sete armas e derrubo dois caras. Com a confusão, um atira no outro. Antes mesmo de descer sobre o telhado, disparo shurikens e acerto dois caras os fazendo jogarem as metralhadores sobre o para-peito. Só restou um armado.
— Morra!! Sua filha da puta!! — Minha roupa não é a prova de balas e tão pouco o ninjutsu me tornou super forte, mas graças a minha agilidade e com uma ajuda de obstáculos consigo me esconder. Quem dera fosse igual aos filmes onde eu pudesse ricochetear os tiros com a espada. A vida real não é tão simples... eu é que sei.
Mas uma hora as balas têm que acabar... é só esperar o exato momento e... Agora!! Acerto uma shuriken no pescoço do franco atirador. Agora acabar com os outros será moleza!
— Vamos acabar com ela!! — Enquanto os que ainda estão de pé correm até mim, eu saco meus chacos. Seis homens tentam me enfrentar somente com as mãos. Coitados! De uso dos chacos e com saltos e chutes eu os derrubo um a um em poucos segundos. Guardo as armas nas botas e recolho algumas shurikens. É hora de entrar.
Sei que há mais dezenas de capangas me esperando lá dentro. Lembrete: na próxima vez que estourar uma boca de tráfico, não deixe sobreviventes. Desço pelas escadas auxiliares sem fazer qualquer barulho. Desço cerca de cinco andares até avistar luz. Uma porta protegida por dois grandalhões. Isso deve guardar o que procuro. Os seguranças também usam metralhadoras, mas por sorte não me viram, nada que duas shurikens não resolvam!
Quanto mais alto é, maior a queda... o ditado é verdadeiro. Detono o cadeado da porta com um único golpe da minha katana. As portas se abrem sozinhas com o impacto. Na sala, há um dojô no estilo japonês. Um lugar bem familiar pra mim. Mas está vazio. Eu entro e não vejo outra porta ou qualquer coisa estranha. Que burra! Eu devia esperar passagens secretas!
Enfim adversários a altura... de uma passagem surgem três ninjas. De preto, obviamente, trazendo katanas, sais, shurikens e bastões. Eles se movem divinamente enquanto me atacam. Sim, me admiro com suas técnicas, mesmo sabendo que posso ser vítima delas. Como manda um estranho costume, eles me atacam um de cada vez. Luto com o primeiro... ele é muito forte e rápido... dispensa as armas enquanto eu só me defendo.
Não tenho tempo a perder com sutilezas ou normas de honra. Minha luta está acima que qualquer código milenar. Então me uso de métodos traiçoeiros e derrubo meu oponente com minha espada. Logo o segundo vem. Este se usa do bastão. É muito habilidoso e percebo que estou apanhando. Sinto o sangue na minha boca enquanto me esforço para acompanhar seus movimentos.
Duas, três, quatro vezes ele me golpeia fortemente. Minha vista fica turva e eu vou ao chão. Mais uma vez me uso de deslealdade e finco minha espada de baixo pra cima... esse nunca mais terá filhos! O desgraçado cai e em seguida vem o terceiro, armado com sais. Eu não gosto muito dessa arma, é preciso ser muitíssimo habilidoso para manuseá-la com precisão. E ele deve ser.
Mais uma vez, como manda o código, ele me espera levantar. Mal posso ficar de pé e parece que estou vendo dois dele. Aperto com as duas mãos a espada enquanto espero ele agir. Parece sentir minha fragilidade e sinto que sob a máscara está rindo. Minha mestra dizia que da fraqueza é que tiramos forças. Pois é... acho que isso é válido. Não vejo direito o que aconteceu, mas apostei tudo naquele golpe.
Três segundos no máximo. Minhas pernas sangram, meus braços tremem. E o ninja cai atrás de mim. O que eu fiz realmente, só saberei mais tarde. Agora me preocuparei comigo. Estou muito ferida e acho que não serei capaz de prosseguir. Parece que falhei na minha missão... ainda não estava preparada. É melhor usar minhas últimas forças para fugir. Com essa intenção me dirigi a porta, mas uma voz arrepiante me fez voltar:
— Magnífico trabalho, minha criança. — A mesma voz seca e rouca. Os mesmos óculos espelhados. O mesmo penteado lambido. A mesma cicatriz no canto da boca. É ele... O desgraçado que vim matar. O demônio que acabou com minha vida... Ele fala: — Nunca alguém tinha feito o que você fez, jovem. Isso é admirável. Mas você não sairá daqui para contar essa história.
Eu quero destruí-lo, mas mal posso ficar de pé. Então vejo que da mesma passagem por onde ele entrou aparece outra pessoa. É uma mulher, de baixa estatura, vestida de... adivinhe... preto. A roupa é toda de couro, desde a blusa, a saia, as botas, luvas e uma máscara. Ela traz duas katanas nas costas... é uma ninja também.
— Dama de Espadas... creio que essa seja uma oponente a sua altura! — Diz o homem.
— Esta coitada? Mal pode se agüentar de pé...
— Mesmo assim acabou com os três melhores ninjas que estavam aqui... é só ver os corpos.
— Esses eram uns fracos... Ainda respeitavam os códigos do Ninjutsu. E ela... não durará mais do que meio minuto! — A mulher saca as espadas, é daí que tirou o nome de Dama de Espadas? Inteligente... É o que eu temo. — Faça suas orações criança... — Ela é ágil demais! Me vejo encostada na parede com o fio de uma das suas katanas no meu pescoço... Parece o fim.
Dizem que quando estamos pertos da morte, nossa vida inteira passa diante de nossos olhos. Não é minha vida toda, meros dezoito anos... mas só onde meu pesadelo particular começa...

Eu tinha sete anos. Minha mãe me colocava pra dormir. Ela era linda! Dizem que eu pareço com ela... não sei... deve ser... Seu nome era Isabel. Após me dar um beijo de boa noite, eu a vi sair do meu quarto e apagar a luz. O que acontece agora, eu não vi, mas imagino. Ela foi até a sala onde meu pai estava trabalhando.
Ele era Henrique Soares. Um executivo até então bem sucedido. O que eu não sabia, nem podia imaginar... é que parte desse sucesso ele devia a MMI. Estou falando de muito dinheiro. Até hoje não sei ao certo, mas a dívida estava se encerrando:
— Querido... já é tarde, venha dormir...
— Só mais alguns minutos, Isabel... preciso fazer direito essa conta... nossa vida depende disso!
— Henrique... você não imagina como eu fico com medo disso tudo! Com que tipo de pessoas você foi se envolver!
— Era o único jeito! Só assim eu poderia conseguir o capital necessário para investir nas aplicações! Só não contava que o prazo acabaria tão cedo... e que os juros superassem meus cálculos.
Não eram simples agiotas. Eles emprestam enormes quantidades de dinheiro a juros altíssimos... muitas empresas faliram graças a eles. Contatos no governo garantem uma distribuição dos lucros para que a MMI não saia perdendo. Meu pai devia mais do que todo nosso patrimônio. E ele só tinha até a meia-noite daquele dia para pagar. E o prazo se esgotou.
Como cães selvagens, os canalhas não iriam esperar nem mais um segundo. O único jeito de quitar a dívida agora era executando o devedor. Assim, um carro deles esperava em frente a minha casa nessa noite. Meia-noite e cinco, ao verem que ninguém fosse até eles com o pagamento, eles resolveram entrar:
— Tempo esgotado Soares... ou nos paga, ou morrerá junto com sua família! — Disse o líder do grupo.
— Espere Premolli. Eu conseguirei o dinheiro até amanhã de manhã, só preciso de mais tempo. — Disse meu pai. Augustini Premolli... um italiano que na época fazia os serviços desse tipo pra MMI. Junto com ele haviam mais três homens armados. Suas identidades eu nunca pude saber.
— Já esperamos demais! Te darei dois segundos para me entregar centavo por centavo... Um...
— Por favor...
— Dois... Fim da linha! — Premolli então deu ordens aos seus capangas. O grito da minha mãe nesse instante me fez acordar... acordar para um pesadelo. Abri a porta do meu quarto e abraçada ao meu urso de pelúcia vi meus pais serem executados.
Toda noite sonho com isso. Eles de joelhos enquanto dois homens atiram à queima-roupa. Um sonho dantesco... Nessa hora eu não gritei, só senti uma lágrima escapar do meu olho. Premolli me viu, desde então guardo seu rosto como a imagem de um demônio. Ele deu ordem ao terceiro capanga para me matar, este me olhou e caminhou até mim.
Não tive medo dele, pelo contrário, de alguma forma senti em seu ser que ele desaprovava o que se passava. Não sei se foi pena, compaixão... se ele se identificou comigo... mas ele me fez entrar no quarto, sussurrou “fique aqui”, me afastou e atirou contra a parede. Depois saiu e fechou a porta.
Aquele homem poupou minha vida. Infeliz... deveria ter me matado, acabaria com todo meu sofrimento. E seria melhor para ele também. Por quê? Para buscar a resposta eu recordo do dia seguinte...
Só pela manhã a polícia entrou na minha casa. Todo um aparato pirotécnico e inútil para resgatar os corpos dos meus pais. Junto com eles estavam meus tios, Rebeca, irmã do meu pai, e Koshiro, o marido dela, um japonês que era amigo de infância do meu pai. Ele tinha uma irmã, Yuriko, que era minha madrinha. Ela veio também.
Os três me encontraram sentada no chão do meu quarto abraçada ao ursinho. Eu não pude me mover à noite toda. Estava tomada pelo pavor e isso me corroia por dentro. Eles me levaram de lá. Eu não dizia uma só palavra. Meus olhos estavam inchados de chorar, mas meu semblante era sério e indiferente. Nem a companhia da minha prima e melhor amiga Simone me fazia dizer nada. Assim fiquei por dias...
Até no dia do enterro. Acho que foi aí que comecei a odiar a cor preta. Dezenas de pessoas de luto, carros e guarda-chuvas pretos e óculos escuros me apavoraram. Minha madrinha não se afastava de mim, ela estava com as mãos sobre meus ombros o tempo todo. Eu vi os caixões dos meus pais descerem enquanto o padre dizia suas palavras e as pessoas jogavam flores...
Minha tia me deu uma rosa para eu atirar no túmulo. Era uma rosa vermelha, a flor preferida da minha mãe... vermelho era sua cor favorita... me lembro de um lindo vestido vermelho que ela adorava. Joguei a rosa na cova sobre o caixão de minha mãe. Vejo essa cena lentamente nos meus sonhos. Era o adeus.
Então senti um arrepio na espinha, devagar me virei e vi um outro carro se aproximar. Do carro saía meu demônio particular: Premolli. O maldito teve a petulância de ir ao enterro daqueles que mandou matar a sangue-frio. Meu coração se encheu de ódio naquele instante. Ele sorria... discretamente... mas sorria. E me viu. E viu que eu o encarava... mas o que ele poderia temer? Eu era só uma garotinha fragilizada... Não sei... mas ele tornou ao carro e se foi.
Com certeza, o homem que poupou minha vida foi executado por Premolli naquele dia. Por isso ele deveria ter me matado, podia carregar a morte de uma criança na mente, mas viveria por mais tempo. Depois do enterro fomos pra casa dos meus tios. Enquanto Simone tentava me distrair com bonecas e roupas, eu ouvia os três conversando na cozinha:
— Quem ficará com a guarda legal de Láila? — Pergunta Yuriko.
— Eu sou sua parenta mais próxima, o lógico seria que ela ficasse com a gente. — Disse minha tia.
— Olha... todos nós sabemos porque Henrique e Isabel foram mortos... Seu irmão tinha dívidas com “eles”... E por um milagre Láila está viva... Henrique era muito meu amigo e me pôs a par de tudo que ele fazia. Por isso eu sei que Láila não foi poupada sem mais nem menos... Eles virão atrás dela. — Dizia Yuriko. — Se ela continuar aqui, com vocês, estará em perigo... e vocês e sua filha também.
— Mas o que quer dizer com isso, minha irmã? — Disse meu tio.
— Você sabe que eu estou de viagem para o Japão. Eu não tenho filhos e nem mais ninguém com quem me preocupar... Se eu ficar com Láila, posso tirar ela daqui e deixa-la em segurança no Japão. Lá posso protegê-la e proteger vocês.
— Tem razão... será melhor para todos... e pra ela também... — Disse minha tia. Após aquela conversa ficou decidido que eu ficaria sob a guarda da minha madrinha.
Semanas depois, após os acertos finais com a justiça sobre minha guarda, nós duas fomos para o Japão. Nessas semanas eu ainda não falava nada. Só sabia que estávamos indo para muito longe. Yuriko tinha uma casa na província de Koga, um lugar simples que ainda guardava um pouco de sua história milenar.
Era a casa em si pequena, pelo o que eu era acostumada. Eu entrei e comecei a andar por ela toda. Era como um feitiço, uma atração por aquele estilo de vida novo. Poucos móveis, paredes de bambu e muitos símbolos e amuletos decorando cada cômodo. Mas havia um lugar especial nos fundos da casa.
Era um dojô. Um ginásio de treino da arte milenar do Ninjutsu. O dojô era maior que o resto da casa, eu entrei e fiquei admirada com o que vi, todas aquelas armas e acessórios ninjas, o cheiro de incenso e de ervas terapêuticas... aquilo me fascinou. Yuriko entrou atrás de mim e disse:
— Este é meu esconderijo... onde vinha sempre para me esconder do mundo... me encontrar com minha paz interior. Minha família descende de um antigo clã de ninjas... Mas só eu me interessei em manter a tradição viva, pois seu tio Koshiro sempre foi mais cosmopolita, voltado aos negócios... Sou uma kunoichi, ou seja, uma ninja mulher...
Enquanto eu ouvia o relato dela, em meus pensamentos vinham imagens de tudo o que eu já havia visto sobre ninjas. Nos filmes eram habilidosos lutadores... E aquelas armas faziam meu coração bater mais forte. Eu tive a sensação de ter encontrado um meio de exorcizar meu demônio... de sanar minha chaga... Então andei até o centro do dojô...
— Me ensina... — Eu disse. Eram minhas primeiras palavras após aquela noite. Yuriko nessa hora me olhou com firmeza. Sem dúvida eu seria sua discípula eleita.
O treinamento começou no dia seguinte. Durante anos eu aprendi toda a filosofia do ninjutsu... treinei a mente, o espírito, o corpo. Eu era uma só com a natureza, aprendia a tirar forças da terra. A medida com que o tempo passava eu me fortalecia em corpo e mente. Yuriko era ótima. Uma excelente mestra... ora paciente, ora rígida.
Não me afastei do resto do mundo. Freqüentava a escola e mantinha contato com a cultura do meu país. Não desaprendi minha língua natal e nenhuma vez deixei de sentir saudades da minha casa. Também pesquisei sobre meus inimigos, foi aí que aprendi tudo sobre a MMI. Foram dez anos vividos no Japão. Enfim eu era uma verdadeira ninja kunoichi. Yuriko me presenteou com uma linda espada de aço, estava na sua família há gerações. O treinamento tinha acabado, mas ela nunca deixou de ser minha mestra, não só na luta, mas na vida. Suas lições guardarei sempre.
Eu estava com dezessete anos, quase dezoito. Ao fim dos meus estudos, manifestei a vontade de regressar ao Brasil. Cheguei até Yuriko e disse isso, ela, que preparava um chá de raízes, me olhou e viu nos meus olhos o porquê dessa minha decisão:
— A vingança é um veneno que brota dentro do coração. Eu lhe ensinei técnicas de defesa, até modos de matar, mas também lhe ensinei uma filosofia de respeito e tolerância.
— Eu compreendo, e sei que me ensinou algo mais: justiça. — Ela me sorriu. Se levantou e me deu um abraço:
— Nada de que eu te ensinei pode superar o que verdadeiramente importa na vida de um ser humano: os laços de sangue. Minha querida, você é igual a sua mãe, tanto fisicamente quanto em determinação e força de vontade. Vá... siga seu destino.
Deixei Yuriko sozinha em seu paraíso secreto enquanto voava de volta para o Brasil. Não sabia o que esperar lá, mas sabia o que deveria procurar. Ao chegar ao aeroporto, meus tios e minha prima estavam me esperando. Eu viveria com eles a partir daí. Minha prima Simone estava linda, trazia o traço oriental que herdou de seu pai, mas agora com ares de mulher.
Eu, loira e de olhos verdes, e ela, oriental com cabelos lisos e negros, ninguém acreditava que éramos primas. Por algumas semanas ela me levou aos lugares da moda, me fez conhecer seus amigos e me contou seus segredos. Éramos grandes amigas como nunca. E a ela eu também contei meus segredos:
— Uma ninja? Você é uma ninja?!
— Sou.
— Que legal! E o que você vai fazer agora?
— O que espero fazer desde o dia do enterro dos meus pais: encontrar Augustini Premolli e faze-lo pagar por ter matado eles!
— Peraí... você tá falando sério?
— Nunca falei tão sério... Só voltei aqui pra isso. Só pedi para aprender o ninjutsu pra isso.
— E como você pretende achar esse cara? Como você falou, essa tal máfia é muito organizada...
— Um ninja é um espião... um guerreiro da escuridão. Nem que eu precise ir até os confins do inferno, eu o encontrarei. — Nessa hora eu tirei da mala o traje ninja que eu tinha feito. Totalmente vermelho... a cor preferida da minha mãe. Me vesti, coloquei a máscara deixando meu cabelo pra fora, me armei com a espada de Yuriko e outras armas. — Simone, só te peço que não conte nada pros seus pais. Eu voltarei... — Meus tios moram no último andar de um condomínio de considerável luxo. O quarto de Simone tem uma janela que dá pra rua. Na calada da noite eu saí e comecei minha busca.

O que me trás de volta ao ponto em que a tal Dama de Espadas me encurrala contra a parede. Por um instante minha mente se perdeu nas lembranças e agora eu voltei a mim. Veio novamente as dores pelo corpo e o medo da morte. Seria o adeus, eu falharia. Mas as lembranças dos meus pais e dos ensinamentos de Yuriko me encheram de novas forças:
— Então, dondoca... Está preparada para morrer?
— Ainda não! — Eu disse enquanto afastava a espada do meu pescoço com meus braceletes de metal. Logo me armei com minha katana e ataquei a Dama de Espadas:
— Excelente! Resolveu acordar para a vida! — Dizia ela enquanto se defendia. Seus movimentos são sublimes. Ela manuseia as duas espadas com perfeição e sua estatura baixa a torna muito ágil e escorregadia.
Eu esqueci a dor. Me usei do antigo método Mikkyo para expandir minha força interior e superar os limites do meu corpo debilitado. Meu único objetivo era neutralizar minha adversária para poder escapar. Sim, deixarei minha vingança contra Premolli para depois.
Era Premolli. O homem que estava lá assistindo a luta. O desgraçado que assassinou meus pais. Ele estava na minha frente. O que sentiria agora? O que pensou da garotinha que viu viva naquele cemitério durante todos esses anos? O que pensa da ninja de vermelho que vê agora? Não sei dizer.
— Ah! Sua vadia! — Diz a Dama de Espadas. Eu a acertei com um chute. Não posso mais prosseguir com essa luta. Tiro do bolso uma bomba de gás, uma cortina de fumaça. Solto no meio da luta. Enquanto Premolli e a Dama se protegem do gás, que é nocivo, eu corro para a saída.
— Ela está escapando!! Vá atrás dela! — Ouço Premolli dizer.
— Inferno! Meus olhos estão ardendo! Ela me pegou de jeito com esse truque. Foi mal, mas vou ter que deixar essa luta pra depois.
Enquanto eles falavam, eu volto pelo caminho que entrei. Percebo que homens armados foram acionados para me deter, mas antes que possam me avistar eu chego ao telhado do prédio. De uso da minha corda deixo o lugar na sombra na noite.
Volto ao apartamento dos meus tios. Tento entrar pela janela sem acordar a Simone, mas é inevitável:
— Láila! Deus do céu! Você está sangrando!
— Nada que um emplasto de ervas e raízes não cure até de manhã. Mas foi por pouco. Preciso descansar... — Vou ao chão como uma pedra de cansaço. Simone me ajuda com o remédio enquanto escondo as armas e o traje nos fundos do closet.
— Você vai continuar com isso? — Pergunta minha prima.
— Vou... enquanto eu não terminar minha missão... Enquanto assassinos e criminosos estiverem à solta, o traje de ninja escarlate vai cruzar entre os prédios da cidade...
— “Ninja Escarlate”... taí... gostei do nome!
— É... pode ser... A Ninja Escarlate cumprirá sua justiça.

Continua em “A NINJA ESCARLATE II”

JEPH: O Noivado

ESQUADRÃO M


Página de Anderson Oliveira2005

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