Escrito por: Anderson Oliveira

Interlúdio – “A Dama de Espadas”

É estranho quando de repente a gente se olha no espelho e se pergunta: “Por que você foi cair nessa arapuca?”. Não era esse o meu plano... não eram essas as minhas ambições. Meu nome é Adriana... os sobrenomes são vários: Andrade, Almeida, Alcântara, Alves, Assis... Depende da ocasião. Eu queria ser atriz... de certa forma, eu sou, de um modo diferente, mas... eu poderia ser... se não tivesse feito as escolhas erradas.
Hoje, para muitos, sou mais uma carta no baralho. Quando visto minha roupa de couro preto, ponho aquela máscara e uso as habilidades ninja que aprendi forçadamente na infância, eles me chamam de Dama de Espadas. “Eles”? Eles quem? Meus patrões. Já tive muitos patrões nessa carreira. O ramo de serviço? Entrar em lugares impenetráveis, roubar alguma jóia ou montante em dinheiro, matar quem estiver no caminho e fugir. Ou simplesmente matar.
Sou uma mercenária, matadora de aluguel... chame como quiser. Esta noite meus patrões são bastante importantes... estou fazendo serviços lucrativos pra eles há semanas e eles parecem felizes com meu trabalho. Está na hora... deixo o pulgueiro que chamo de apart-hotel e saio na noite.
Sobre meu traje visto um casaco... não uso a máscara, o que faz muitos pensarem que não passo de mais uma vadia que anda pelas ruas. Caminhando até meu destino ouço os bêbados e vagabundos gritarem gracinhas... minha vontade era esquarteja-los, mas não vale a pena matar de graça...
— E aí boneca? Te dô dez conto só pro cê fazer um carinho em mim! — Um deles cruza meu caminho. Seu bafo de pinga e esses dentes podres me enojam.
— Rapa fora, otário!
— Qual é princesa? Vai dispensar um partidão como eu...? — Ele insiste enquanto eu tento seguir meu caminho. — Vem cá, gostosa! — Ele passa a mão na minha bunda! Desgraçado!
— Assinou seu óbito, cumpadi! — Pego ele de jeito. Com uma chave de braço puxo ele pra frente e torço seu pescoço. Solto e ele cai como um saco de batatas no chão. Não morreu, mas vai ficar seqüelado. Os outros vagabundos ao redor olham pasmados. Por sorte esse beco não tem policiamento, senão eu tava ferrada. — O que foi?! Quem vai ser o próximo engraçadinho? — Meu ultimato faz todos se afastarem. Assim continuo andando.
A noite está bonita. Uma lua cheia... enorme! Eu adoro a lua... me faz lembrar de tempos melhores. Nem sempre eu fui o que hoje sou... Mas agora não posso perder tempo com lembrançinhas. O local onde meus chefes me esperam está perto. Aproveito que não tem ninguém ao redor e tiro o casaco, visto a máscara, ajeito as espadas nas costas e subo por uma escada de incêndio até chegar ao topo de um velho prédio.
O resto do caminho sigo pelos telhados. Faz parte do meu trabalho manter minha identidade em segredo. Não podia chegar de cara exposta pela porta da frente e dizer: “Oi, eu sou a Dama de Espadas!”. Cruzar os telhados é muito clichê. Não gosto disso... gostaria de ter um carro... ou uma moto que seja... Cheguei ao local. Desço pela saída de ar e entro no prédio. Eles já me esperavam, pois sempre entro por este mesmo lugar:
— Pontual como sempre, Dama de Espadas! — Diz o Premolli com seu sorriso nojento. Junto com ele estão mais dois velhotes.
— A gente faz o que pode. Qual é a boa? — Pergunto enquanto ajeito o cabelo. Sinto que os velhos não sacaram meu vocabulário... Pelo jeito eles são da laia que um dia foi meu passado.
— A “boa” é que nós precisamos falar com você... Sobre o ocorrido de ontem á noite. — O Premolli se refere à piranha de vermelho que conseguiu escapar das minhas mãos. Droga, bem que eu queria esquecer disso...
— Ela escapou por ter usado um truque sujo! Isso nunca mais vai se repetir!
— Nós pensávamos que truques sujos fosse sua especialidade! — O velho, com cara de gringo.
— Tá... admito... eu tava confiante porque a franga já tava nas últimas... acho que subestimei a guria... Mas garanto que isso nunca mais vai acontecer...
— É claro que não... pois você não trabalha mais pra nós! — Falou o outro velho, um oriental.
— Como é que é?! Vocês não podem me dispensar só porque eu não detive aquela ninja! E sabe por quê? Por que nem tinha nada combinado... eu lutei com ela porque era uma emergência... Não fui contratada pra isso... Vocês não podem me dispensar... aliás, vocês estão até me devendo...
— Pior que é verdade o que ela diz. — Intercedeu Premolli. — Não podemos culpá-la... ontem foi um serviço extra... ela não teve tempo de estudar a oponente... — Pela primeira vez eu vou com a cara desse italiano. Mas por que ele iria querer salvar a minha pele?
Os três se reúnem pra discutir meu futuro... bem que eu podia retalhar todos... Eu podia não... eu gostaria! Seria ótimo... Mas aí dezenas de capangas armados entrariam pelas portas e janelas e seria adeus. Espero eles conversarem do lado de fora da sala enquanto afio uma de minhas espadas. Então os dois velhos saem... de cabeça baixa, sem olhar pra mim... E logo Premolli me chama:
— Então? Continuo na parada? — Pergunto enquanto guardo a espada e entro na sala.
— Sim... você continua na... “parada”. — Ele faz aspas com os dedos! Putz... isso me irrita! — Gostaria de falar sobre ontem...
— Eu já disse tudo que sei... A franga jogou sujo...!
— Isso não importa mais. O que interessa é que agora você tem que terminar o serviço.
— Moleza! É só procurar na lista telefônica o endereço de uma ninja loira de vermelho!! — Ele me olha daquele jeito chato. — Tá, esqueci que cê odeia piadas...
— E parece que esqueceu quem eu sou. O que eu faço nessa organização. Não há nada que eu não descubra... pra isso pago dezenas de capangas...
— Então quer dizer que tem o endereço da dondoca?
— Pode-se dizer que sim. — Ele tira do bolso do paletó um papel dobrado. — Quando ela fugiu deixou rastros... Nossos homens conseguiram segui-la até este condomínio num bairro chique, depois foram intimidados pela polícia... Pelo menos sabemos que ela mora aqui... — Sabia... ela tinha jeito de ser rica... sei isso por experiência própria... É... já tive momentos melhores...
Pego o papel. Premolli não diz mais nada, nem precisa, já saquei. Tenho que usar minhas habilidades para entrar nesse condomínio e descobrir quem é a vaca. Até que será fácil, nada que um bom carro roubado, umas roupas de grife e até um daqueles cachorros de bolso não resolvam.
Então saio para mais uma noite de trabalho. Pena não poder aproveitar a noite como eu gostaria. Antigamente eu... eu... Antigamente não interessa mais. Escolhas erradas, palavras ditas nas horas impróprias... e eu estou aqui. O único consolo é que tem horas que esse serviço é divertido! Pois é... Mãos à obra!

CONTINUA EM: A NINJA ESCARLATE II

JEPH: O Noivado

ESQUADRÃO M


Página de Anderson Oliveira2005

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