Escrito por: Anderson Oliveira

O Prólogo

A cidade de Townsville, uma cidade entregue nas mãos do crime. Sua população vive em temor constante graças aos freqüentes assaltos, seqüestros, estupros e chacinas. O governo local, além de corrupto e envolvido em escândalos, é inerte frente à situação da cidade. A força policial ridícula e despreparada é motivo de chacota para a impressa áspera e sensacionalista.
Um homem guarda em seu coração o gosto amargo de uma perda causada pelo caos que é Townsville. A noite cai, mas os funcionários do Laboratório Utônio sabem que seu chefe não irá dispensá-los. Por cinco anos tem sido assim...
— Professor! Os contêineres com o elemento experimental já estão...
— Me deixe em paz, Dexter! Eu preciso resolver esses cálculos!
— Posso ajudar em alguma coisa?
— Não... eu termino sozinho... agora... vá cuidar das cobaias...
— Mas e as caixas...?
— Deixe aí... depois eu organizo... agora vá!
— Ah... está certo, professor... — Dexter sai da sala do professor Utônio, no corredor, a caminho da ala onde ficam os animais, ele resmunga: — Este homem está enlouquecendo! Vive obcecado em realizar o impossível... ele não pode fingir que é Deus... — Dexter chega à sala dos animais. Um chimpanzé começa a gritar e pular quando o vê: — O que foi, Caco? Também quer dormir? Fique calmo, tome... coma essa banana.
O professor Utônio se tranca em sua sala de pesquisas:
— Minhas queridas! Como puderam me abandonar?! — O professor chora olhando para um porta-retrato onde ele aparece abraçado à sua esposa e as suas três filhas. Estava à família saindo de férias, um assalto havia sido cometido. A polícia saiu em perseguição aos bandidos pela estrada principal da cidade. Houve um terrível acidente envolvendo vários carros, entre eles, o do professor. Somente ele sobreviveu. — Minha amada Tracy, fatidicamente eu nada posso fazer para trazê-la de volta... Já nossas filhas... Divina idéia ter colhido amostras de seus sangues...
Desde o acidente, o professor uniu esforços na tentativa de clonar suas filhas. Anos de pesquisas, testes com cobaias, fracassos e noites a claro. O mais renomado cientista de Townsville se fechou para o mundo a fim de trazer suas amadas filhas de volta. E hoje ele está prestes a conseguir:
— Creio estar diante das técnicas mais avançadas de reprodução humana. Não posso contar com um útero verdadeiro para gerar os embriões... então criei essa incubadora que ainda vai acelerar o processo de crescimento... Falta pouco, em breve terei minhas amadas Linda, Flor e Dulce em meus braços! — Enquanto pensa, ele controla uma máquina que faz três tanques contendo os embriões afundar em um fosso numa sala contígua.
Uma tempestade se inicia. Os trovões e raios assustam os animais. Dexter pegara no sono e acorda com os gritos dos macacos e cães. Ele tenta acalmar os bichos, mas eles parecem ficar cada vez mais raivosos. Preocupado, Dexter corre para pedir ajuda ao professor:
— Professor! Professor!!
— Que diabos, Dexter! Eu já disse pra não me atrapalhar!
— Sinto muito, mas os animais estão agitados com a tempestade... e eu não sei o que fazer!
— Ora... pelo jeito eu tenho que resolver tudo?! — O professor se levanta e vai junto com Dexter. No caminho ele pensa: — Elas já estão na incubadora, não há mais com o que se preocupar... — Ao chegar à sala dos animais, o professor se aproxima das jaulas e tenta acalmar os bichos: — Acalmem-se! É só uma chuva a toa, não tem o que ter medo. — No entanto, o chimpanzé Caco não se acalma. O professor resolve abrir a jaula e pega-lo no colo. — Está tudo bem... tudo bem... — Com isso o macaco se tranqüiliza e o professor o devolve a jaula.
— Só o senhor mesmo pra cuidar tão bem desses bichos!
— É o que parece, Dexter... — O professor se vira para falar com Dexter e não percebe que não trancou direito a jaula. — Agora vou voltar ao meu projeto. — De volta a sua sala, o professor, vendo que agora é só uma questão de tempo, deixa a clonagem das filhas de lado e dá atenção as caixas do elemento químico: — Então estas são as amostras do Elemento X165... — Ele tira do contêiner uma ampola contendo um líquido azul efervescente. — É melhor guarda-lo adequadamente....
Enquanto o professor Utônio ajeita as caixas contendo ampolas do elemento químico na prateleira à direita da sala, em uma cabine conjunta, separada por uma parede de vidro, a incubadora carrega os embriões dos clones de suas filhas imersas em tanques depositados em um buraco no chão. Lá fora, a tempestade continua forte.
Passam algumas horas e tanto o professor como Dexter pegam no sono. Os trovões se intensificam e novamente assustam os animais. O chimpanzé assustado, abre sua jaula, que fora deixada aberta, e sai da sala. Pelos corredores anda com medo e ofegante. Ao avistar luz vindo da sala do professor que está entreaberta, ele entra sorrateiramente.
O professor dorme sobre sua escrivaninha. Caco se aproxima e sobe na mesa. Ele olha para o professor enquanto ele dorme e sente-se mais calmo. Então um forte trovão o assusta e ele grita. Seu grito assusta o professor que acorda agitado e acerta seu braço no macaco. Mais assustado ainda, o chimpanzé pula e se pendura no ventilador do teto.
— Caco... saia já daí!! — O Professor tenta puxa-lo, mas não o alcança. Caco está assustado e um novo trovão o faz saltar sobre as caixas do Elemento X165. — Cuidado Caco! Se derrubar isso, só Deus sabe as conseqüências! — O professor procura algo para alcançar Caco, enquanto o animal leva suas mãos aos canos que existem no teto, tendo seus pés agarrados às alças da caixa do elemento. — Caco, Não!!! — O grito do professor faz o macaco se pendurar pelas mãos, levando a caixa em seus pés. Um outro trovão o faz soltar a caixa rumo ao vidro que protege a incubadora.
O vidro se estilhaça e a caixa cai no outro lado, próxima ao fosso onde os tanques contendo os embriões fica. Duas ampolas rolam da caixa e caem no fosso atingindo o gerador de força. A incubadora explode. A explosão faz as demais ampolas ainda na caixa reagirem, o professor se protege atrás na escrivaninha, mas destroços da explosão o acertam e ele desmaia. Caco foi atingido em cheio e cai do teto, não sem antes se agarrar a segunda caixa do Elemento X165. O macaco cai desacordado enquanto a caixa tomba e o líquido escorre pelo ralo.
Em seus sonhos, o professor vê sua família viva e feliz. Teriam suas filhas dezesseis anos agora, eram trigêmeas. No sonho, ele as abraçava em um jardim ensolarado e cheio de flores e árvores. Mas ao despertar em seu laboratório destruído, vendo ao seu lado um macaco aparentemente morto e a câmara onde a esperança de que seus sonhos virassem realidade parcialmente destruída, deixou o professor pela primeira vez, sem ânimo.
Ele se levanta e olha no relógio, já é de manhã. Ainda com o corpo dolorido ele insiste em ver o que aconteceu com os embriões. Ao se aproximar da parede de vidro que já não existe mais, ele é acometido por um forte vento. Ao se virar, vê três garotas idênticas as suas filhas mortas, aparentando dezesseis anos, vestidas com aventais cirúrgicos. Uma loira de olhos azuis, uma ruiva de olhos castanhos amendoados e uma morena de olhos verdes.
— Olá professor!! — Diz a menina ruiva. Porém a reação do professor não é de alegria... deveria ser, mas algo diferente o deixa muitíssimo perturbado: as meninas estão voando...

Continua...

JEPH: O Noivado

ESQUADRÃO M


Página de Anderson Oliveira2005

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