Escrito por: Anderson Oliveira

Episódio 5: Amigos e Inimigos – Parte 2: um amigo nas sombras.

A cidade de--
— // ... Townsville está limpa, Ninho das Águias. Repetindo: A cidade de Townsville está limpa. Aqui é Águia-1 pedindo permissão para retornar ao ninho. //
Caças ainda sobrevoam os céus da cidade, onde há poucos instantes um míssil foi detonado em pleno ar. Seus alvos...? As Meninas Superpoderosas... das quais não há nenhum vestígio... Mas espere! Abaixo do ponto exato do choque com o míssil existe um ferro velho... e... há algo se movendo lá embaixo!
Uma mão coberta por luva verde emerge dos amontoados de ferro destorcido. Em seguida, não longe dali, mãos de aparência delicada cortam o metal com grande facilidade e, em outro ponto, encantadores olhos azuis se cobrem de cólera e ficam vermelhos como sangue:
— Desgraçados! Vão pagar caro por isso!!! — Diz Docinho, com graves ferimentos, saindo do entulho com raiva no olhar. — E vai ser... AGORA!! — Ela voa com tanta força que o lixo ao seu redor é levado por uma massa de ar. Na investida contra os céus, Docinho avista os caças partindo em retirada. Com velocidade redobrada ela persegue as aeronaves até igualar velocidades...
E destrói dois caças apenas com as mãos.
— Docinho!! Não!! — Diz Florzinha, também muito ferida, em sinal de preocupação com os atos da irmã. — Ela só vai piorar as coisas!! — Dizendo isso ela também levanta vôo enquanto os pilotos dos caças atingidos caem em seus pára-quedas. Nesse tempo, Docinho atravessa com o corpo a fuselagem de um terceiro caça. — Pára com isso Docinho!! Assim eles terão razões para nos temer!
— F#$@-se o que eles pensam da gente! — Responde Docinho enquanto parte ao meio a asa do quarto caça. — Viu o que fizeram?! Vai querer deixar isso barato?!
— Fica calma Docinho! Sempre tem outro jeito! — Enquanto Florzinha tentava acalmar sua irmã, o último caça restante avança contra Docinho, estando essa de costas para ele:
— // Águia-1 para Ninho das Águias, alvos sobreviveram e um deles dizimou a esquadra... mas eu tenho ela na mira... Preparando artilharia... //
— Docinho!! Atrás de você! — Alerta Florzinha enquanto o caça dispara dois mísseis, mas Docinho, agora cansada após sua explosão de raiva, não tem forças para reagir a tempo. No entanto, antes que os mísseis atingissem as meninas, uma rajada de calor os deteve. O tiro foi dado por Lindinha, que levitava a poucos metros do chão.
— Esse é o último! Vai se arrepender disso...! — Dizia Docinho disposta a atacar o último caça, mas Florzinha se opôs se pondo a sua frente:
— Deixa ele ir... temos coisas mais importantes pra resolver agora.
— Ah é...? Tipo o qu-- — Diz Docinho que perde os sentidos e cai em queda-livre, sendo amparada por Lindinha.
— Tratar nossos ferimentos, por exemplo. Você está bem, Lindinha? — Diz Florzinha descendo ao chão.
— Tô... Me machuquei mais com a queda do que com o a explosão... Mas a Docinho foi atingida em cheio pelo míssil! — Enquanto Lindinha falava, dezenas de populares se aproximavam delas com todos os tipos de comentários:
— Eu sabia que essas garotas eram perigosas...
— Que nada... Tem muita paranóia nisso tudo!
— Superpoderosas, vão pra casa!!
— Parem de causar explosões sobre nossas cabeças!!
— Fora, fora!!!
— Vamos sair daqui, Lindinha... — Diz Florzinha levantando vôo, seguida por Lindinha que leva Docinho nos braços. — Ainda precisamos encontrar o professor!
Falando nele, o professor Utônio se encontra em um salão escuro só iluminado por uma fraca lâmpada, sem janelas com paredes de metal, algemado a uma cadeira e cercado por militares armados. Visivelmente assustado, está ali há algumas horas sem nada saber do que se passa no mundo exterior. Em sua mente se preocupa com sigo mesmo e ainda mais com suas filhas. Enquanto o professor reflete, o general do pentágono entra na sala acompanhado por mais soldados:
— Muito bem, professor Utônio. Imaginou que sairia ileso após suas armações?
— O que está havendo?! Por que estou aqui?!
— Não se faça de vítima, professor! O governo norte-americano nunca deixaria sem punição alguém como você.
— Mas o que foi que eu fiz, afinal?!
— Ora... tudo bem, contarei os detalhes, afinal... o senhor terá muito tempo para ouvir. — O general pega uma cadeira e se senta de frente para o professor: — Segundo os relatórios, o senhor adquiriu amostras de um composto químico em fase experimental. Seu dever era usá-lo para desenvolver uma fonte de energia durável, para futuramente substituir o petróleo... Todos os químicos que já trabalharam com o produto deram um parecer de que o Elemento X165, como foi nomeado, nunca fosse usado em organismos vivos, pois os efeitos seriam desastrosos...
— Sim, mas foi um acidente...!
— Um acidente levou uma criatura de quinhentas toneladas a destruir boa parte da sua cidade? Um acidente matou tinta e duas pessoas e deixou outras duzentas hospitalizadas? Nossos peritos examinaram a rede de esgotos de Townsville... mais criaturas surgirão por pelo menos cem anos... E diz que foi só um acidente?
— Mas é verdade!!
— E o que mais nos preocupa... criaturas racionais... que podem se infiltrar entre os humanos normais, mas que por trás de seus rostos belos escondem uma força que só pôde ser calculada na Escala Richter*, velocidades já captadas que chegam perto a mach 6**, fora raios de microondas disparados pelos olhos e outras habilidades em potencial, por sorte, ainda não despertadas.
— Como obteve esses dados?!
— Nada é oculto para nós, professor! Ou melhor... quase nada... O que não sabemos, e esperamos que o senhor nos diga... é o seu verdadeiro propósito para criar aquelas meninas... aquelas monstruosidades... E saiba que nós temos meios para persuadi-lo. — Ao ouvir tal sentença, o professor engole seco.
— Eu... eu... Só queria tê-las de volta...
— Suas filhas que morreram fatalmente em um acidente há mais de dez anos... Não se assuste professor, sua vida foi investigada... e não é de hoje. Desde que começou suas experiências ilegais de clonagem humana o governo está observando suas ações. Mas quem poderia imaginar que por trás disso o senhor estava realmente criando super-seres?
— Eu já disse que foi um acidente!!! — O professor se exalta, os soldados reagem dando um passo a frente, porém contidos com um olhar do general.
— Agora seus truques acabaram, professor-- — Enquanto falava, o telefone do general toca. Ele atende: — Sim, sou eu... Como? O que disse, soldado? Já era de se esperar... Pois bem... está autorizado... desligo. — Ele guarda o telefone e olha para o professor. — Suas... “filhas”... acabaram de destruir quatro aeronaves do exército americano... Por sorte (e apenas isso), nossos homens não morreram. Veja sua criação, professor Utônio!
O general se levanta e sai da sala deixando o professor em desespero. Pelos corredores, o general caminha com seus soldados até chegarem a uma sala fortemente trancada. Sem nada dizer, o general abre a porta e entra, ordenando que os soldados se vão. Na sala escura, ele acende uma fraca luz. Atrás de um arquivo de aço, um vulto o espera nas sombras:
— Ótimo trabalho...
— Estamos fazendo tudo como o senhor pediu...
— Como disse?
— Hã... desculpe... como o senhor Ordenou!
— Assim está melhor... — Diz o vulto misterioso com sua voz rouca e seca. Longe dali, a Meninas pousam e se escondem em um beco na região central de Townsville:
— Acho que aqui estaremos seguras... Irão nos procurar na periferia... nunca no centro... — Diz Florzinha enquanto observa que ainda há alguns soldados nas ruas, o que espanta a população.
— Veja Florzinha, a Docinho está acordando! — Avisa Lindinha que deixa a irmã sobre um colchão velho.
— Argh... Saco! O que aconteceu?! — Diz Docinho acordando e se levantando.
— Não se mexa, você está muito ferida... precisa descansar! — Diz Florzinha detendo Docinho para que ela se deite. Nisso, alguns soldados as encontram:
— Vejam rapazes... se não são nossas fugitivas! — Diz o que vem a frente empunhando seu fuzil.
— Vamos informar nosso superior... — Diz um outro.
— Espere... que tal nos divertimos um pouco primeiro? Eu pego a loirinha!
— Seus filho da... — Docinho tenta se levantar, mas sente muita dor. Florzinha e Lindinha não querem ferir ninguém para não dar motivos aos seus perseguidores, mas se vêem numa situação de risco:
— Vão embora!! Sumam daqui! — Diz Florzinha enquanto recua junto com Lindinha. Os soldados avançam com sorrisos nada agradáveis.
— Que isso meninas! A gente só quer brincar! — Diz o soldado da frente, quando de repente ele é atingido por um bloco na cabeça. Os outros olham pra cima e vêem o vulto de alguém de baixa estatura no alto do muro.
Ele salta sobre os soldados e os ataca com um pedaço de cano e com suas mãos enquanto estes tentam atirar nele, mas antes que possam disparar algum tiro são desarmados pelo atacante. Enquanto aquele pequeno homem se livra dos soldados um a um, as meninas só podem observar.
Em pouco tempo, os soldados fogem apressados e com estranhos ferimentos, parecidos com arranhões e mordidas, além os golpes de cano e pedras. Aquele que os atacou os observa enquanto fogem por um instante, logo depois salta sobre as caçambas e se oculta nas sombras, deixando somente a vista seu cachecol listrado que tremula ao vento. As meninas se aproximam, mas ele recua...
— Hã... Oi! Obrigada... você salvou a gente...! — Diz Florzinha sem jeito.
— Não agradeça, eu sei pelo que vocês estão passando. — Ele responde das sombras.
— Sabe? Sabe como? — Pergunta Lindinha.
— Agora eles as perseguem porque vocês são diferentes deles... e aqueles que são diferentes, seja em qualquer sentido, são perseguidos, humilhados e excluídos. Comigo tem sido assim também. Por isso sei muito bem o que estão sentindo, pois senti o mesmo...
— O mesmo o quê? — Pergunta Docinho que se levanta com dificuldade.
— Vontade de reagir... de lutar... De mostrar que minha diferença não é para que eles sintam pena ou nojo de mim, mas para mostrar que eu sou superior a todos eles! Mostrar que eu não devo temê-los.
— E... de que maneira você é diferente? — Pergunta Florzinha. — Saia das sombras e nos deixe te ver.
— Não! Vocês irão me achar... bizarro! Todos me acham... e por isso eu... eu... Esqueçam... vão embora! Eles certamente voltarão aqui.
— Espere!! Apareça... não iremos te achar bizarro... só queremos ver o rosto daquele que nos ajudou... enquanto todos nos odeiam... — Continua Florzinha.
— Bem... Ok, tudo bem... Mas... Eu avisei. — Ele salta para fora das sombras. As meninas se assustam, mas tentam conter suas reações enquanto o vêem, com roupas largas e velhas e com um saco de papel cobrindo sua cabeça. Mas não é a roupa que as assustam:
— Você é... Um macaco! — Diz Docinho. — Um macaco que fala!
— Um chimpanzé! Não sou apenas um macaco comum! Um chimpanzé!!! — Diz ele com exaltação na voz. Um chimpanzé de pelos pretos e pele esverdeada com olhos avermelhados e uma barba branca.
— Ah... mas você não é... bizarro... Eu achei bonitinho! — Diz Lindinha com seu jeito meigo.
— “Bonitinho”? Você acha isso bonitinho?! — Ele tira o saco de papel da sua cabeça e revela seu enorme cérebro que rompe seu crânio e sua pele e emerge para fora. — Isso não é nada bonito, minha cara! E só a imagem externa é o que eles enxergam... ignoram o que eu sou por dentro! Vocês não podem imaginar como é ter tantas idéias, tantas idéias surgindo a cada segundo numa velocidade impressionante! Eu... eu... Desculpe... com tantas idéias eu acabo falando muito rápido e... e... eu tenho que ir...
— Espere... senhor macaco... podemos ir com você? — Diz Florzinha. O macaco a olha por um instante e então seus olhos mudam de expressão e ele esboça um sorriso.
— Sim! Sim, claro... vocês podem vir comigo... juntos nós poderemos nos proteger de todos que quiserem nos machucar! — O macaco salta o muro e é seguido pelas meninas que voam rasteiras atrás dele, mas em seus pensamentos ele diz: — Idéias... muitas idéias... idéias de como mostrar ao mundo que eu não sou um reles animal que eles podem se divertir! E elas, essas garotas... elas irão me ajudar!!
Enquanto a noite toma conta de toda a cidade de Townsville, nos arredores, onde funcionava o laboratório Utônio, novos tremores como o que aconteceu pela manhã assustam quem precisa passar por aquelas bandas. Terremotos fortes e que se intensificam a cada tremor começam a ruir os alicerces do prédio.
O Elemento X165 que se infiltrou no subsolo faz a terra e seus compostos orgânicos reagirem. E assim o processo de evolução que deveria leva bilhões de anos, ocorre em poucas horas.
No último tremor de terra uma elevação vulcânica brota bem abaixo do laboratório, que agora está em ruínas. E em poucos instantes uma montanha despejando lava incandescente se eleva e modifica a paisagem. Um vulcão de duzentos metros de altura surgiu em Townsville, destruindo casas e ruas ao redor. Despertando a atenção das tropas que sitiam a cidade:
— Deus do céu!! É melhor o general saber disso!! — Diz um soldado que sobrevoa a área com um helicóptero. Longe dali, do alto de um prédio, nossas heroínas junto de seu novo amigo observam o fenômeno:
— Parece que as pessoas precisam de nossa ajuda! Temos que fazer alguma coisa! — Diz Florzinha com seu instinto heróico.
— Não! Não podem! Não podem ir lá! Vão capturar vocês! — Diz o macaco com furor.
— Mas precisamos ajudar a população de Townsville! — Diz Lindinha. — Só assim eles saberão que nós não somos do mal!
— Pior que a Lindinha tem razão! Temos que ajudar essa cambada pra eles perceberem que não somos bandidas! — Diz Docinho.
— Mas... mas... — Argumenta o macaco, mas então ele parece ter outra idéia: — Vocês... Nós! Nós iremos ajudar a população de Townsville! Sim! Eu tive uma idéia de como podemos ajudar essas pessoas!! — Diz o macaco esfregando as mãos com um largo sorriso. As meninas se entreolham e resolvem seguir o macaco, afinal, elas lhe devem sua ajuda.
E assim elas continuam seguindo-o, pelos becos e sombras da cidade enquanto procuram algum lugar para se esconderem. Porém o macaco, dotado de sua extrema sapiência, as guia cada vez para mais perto do vulcão. Qual será seu plano? Serão suas intenções realmente boas? Aguarde, pois as respostas nos esperam no próximo episódio!

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*- Escala usada para medir a intensidade de um terremoto, o movimento de placas tectônicas. Elas são bem fortes, não?
**- Medida de velocidade criada por Emst Mach (1838-1916) com base na velocidade do som. 1.226 Km/h a 1 atm equivale a Mach 1. Acima de mach 5 se considera uma velocidade supersônica. Elas são bem rápidas, não?

Continua...

JEPH: O Noivado

ESQUADRÃO M


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