DETETIVE AL
Sombras do Passado
INTRODUÇÃO:


Obs.: Leia antes o arco “Quem matou Salvador Mendonça”
Por: Anderson Oliveira (maio-junho de 2004)

Todos nós temos sombras... coisas que escondemos no mais profundo dos baús para que ninguém saiba, coisas que fizemos e não nos orgulhamos. Pessoas que conhecemos e não sentimos nenhuma saudade... Todos temos sombras... sombras do passado... passado que queremos esquecer. Mas... nenhuma verdade fica nas sombras por muito tempo... um dia, quando você menos esperar, ela ressurge como uma fera para te consumir. E o que fazer quando isso acontece? Fugir e tentar esquecer? Repetir os mesmos erros mais uma vez? Ou devemos enfrentar e, já que temos uma segunda chance, fazer o melhor e, talvez, calar esses fantasmas para sempre... Este é o dilema que Al de Sousa, detetive da Policia Civil enfrentará.

CAPÍTULO I:Recordações
Está quente... parece que está fazendo uns trinta e cinco graus... Nossa! Espero que isso acabe logo! Sou Al de Sousa, detetive da Polícia Civil. Estamos de campana em frente a uma casa no bairro de Moema, São Paulo, onde um homem mantém refém sua mulher e suas duas filhas. Estamos aqui já faz quatro horas, os negociadores dizem que ele está drogado, que tentou matar a filha mais velha, mas a mulher entreviu batendo nele com uma vassoura, daí o cara ficou P de vida e quase mata todas elas, mas foi impedido pelos vizinhos e... bem... estamos aqui.
Milton, o delegado do distrito onde trabalho e meu melhor amigo está bem nervoso. Ele está conversando com um dos negociadores, não consigo ouvir, mas vejo quando ele me chama:
— O que foi Milton?
— Al, o seqüestrador quer cinqüenta mil em dinheiro pra fugir daqui. Ele pediu pra alguém entrar lá e levar o saco com o dinheiro.
— E daí?
— Você vai entrar! — Já devia esperar! Mesmo não sendo treinado pra isso, já fiz isso uma vez e me sai bem... ele quer que eu repita. Visto um colete à prova de balas, pego o saco do suposto dinheiro, na verdade é um punhado de jornal pra dar volume, escondo uma arma dentro do saco. Entro na casa, vejo o cara com a filha mais nova de refém, ele tem um trinta e oito, a menina que deve ter uns dez anos está muito assustada e chora muito. No sofá, em estado de choque, estão a mulher a e outra filha... Logo que entro o cara começa a falar:
— E-então... cadê meu dinheiro!?
— Vamos com calma amigo... está... — Ando em direção a ele.
— Fica aí! Fica aí porra!!! — Ele aponta a arma pra mim.
— Que isso cara! Estou desarmado! Veja. — Dou uma volta para ele ver que não tenho arma. — Olha, seu dinheiro está nesse saco.
— Abre!! Quero ver!!
— Certo! — Lentamente me abaixo e finjo desamarrar o saco. — Droga... Este nó tá muito apertado!!
— Anda logo caralho!! — Ele tá ficando impaciente, então abaixa a arma por um instante. Nessa hora pego a pistola do saco e atiro na mão dele. Ele grita e deixa a arma cair. — Filho da puta!! Caralho!! — Dou uma coronhada nele e afasto a menina, logo outros policiais entram e o imobilizam.
— Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser será usado contra você no tribunal. Terá direito a defesa, se não puder pagar um advogado, o Estado pagará um para você... — E com isso... encerramos o caso.
[23:35, bairro do Tatuapé. Duas garotas voltam da faculdade, no caminho passam por um beco ao lado de um ferro-velho, sem perceber que um homem as segue...]
— Vamos logo Solange! Ainda tenho que passar na casa do Beto!
— Calma Gisele. Estamos quase...! Você ouviu isso?!
— O quê!?
— Foi um barulho... Ah! Deve ser um gato vira lata! Então...
— Espera! Agora ouvi! Gatos não usam sapatos Solange! — [Gisele olha para trás e vê o homem as seguindo.] — Corre Solange... Corre!! — [Apesar do aviso da amiga, Solange não se mexe, talvez por medo. Gisele corre por dez metros, mas o salto de sua sandália quebra e ela cai, a tempo de ver sua amiga ser morta pelo homem que as seguia.] — N-não...! Não... Nããããooooooo!!!!!!
[07:21, Distrito da Polícia Civil:]
— Delegado Milton!!
— Diga Paulo. O que foi dessa vez? Por que tem jornalistas na porta?
— Finalmente o senhor chegou! Nessa madrugada, uma garota foi assassinada no Tatuapé, a amiga viu tudo, ela disse que foi um homem e...
— Hmm... Isso é grave, e o que vocês já fizeram?
— Um grupo já foi para o local e removeu o corpo, ela está no IML. Desculpe senhor, mas não foi possível... vazou pra imprensa!
— Chame Al... Isso é trabalho pra ele.
Depois do ocorrido de ontem, Milton me deu folga, mas de nada adiantou quando o policial Paulo Campos me ligou falando sobre a universitária morta. São sete e cinqüenta e oito quando chego no distrito. Como Paulo já me avisou dos jornalistas, entrei pelos fundos e fui direto à sala do Milton, onde ele, Paulo e o agente Cléber Rodrigues, da delegacia do Tatuapé me esperavam:
— Então senhores... o que houve dessa vez?
— Detetive Al, eu presumo. — Diz Cléber. — Grande trabalho no caso Mendonça. Bom... O que me traz aqui é o seguinte: Há um maníaco no meu bairro. Mas, diferente de outros, esse não abusa sexualmente das vítimas, só as mata.
— Senhor Rodrigues... Pelo que já fui informado... só uma moça foi morta, o que não caracteriza obra de um maníaco. Devemos investigar o passado da moça, ver se ela tinha inimigos, se sua família é envolvida com o trafico e tudo mais.
— Espero que você esteja certo. Vou mandar localizar a família da moça...
— Certo... Assim que localizarem a família, me avisem que eu quero vê-los.
— Ok... Agente Rodrigues, vamos ajudar nas investigações... — Diz Milton.
O dia passa, Milton me pede para ficar no distrito por hoje, ele me dará folga outro dia. São oito e dez da noite quando o agente Cléber manda me avisar que já encontrou a família da moça... se me lembro o nome dela era... Solange. Pobre garota, vinte e um anos, uma vida inteira desperdiçada... Ela cursava medicina, queria salvar vidas e acabou perdendo a dela. A amiga que conseguiu escapar está muito abalada, falo com ela depois. Agora vou ao endereço que Cléber me indicou, vai junto comigo o policial Paulo, rapaz esperto e de confiança. Nove e vinte chegamos a uma barbearia, o pai de Solange tem ela desde quando se casou, segundo o relatório. Mas é estranho, a barbearia está aberta e funcionando, seria lógico que o pai a fechasse em sinal de luto pela filha. Eu e Paulo descemos da viatura, parece cair uma fina garoa, ao entrarmos, logo ouço o pequeno rádio de pilha tocando música sertaneja, um dos barbeiros vem falar comigo:
— Policiais...?! Querem fazer a barba... o cabelo...?
— Procuramos pelo senhor Barbosa, ele se encontra?
— Sou eu. Mas o que aconteceu? Há algo errado com meu estabelecimento...?
— O senhor é pai de Solange Barbosa? — A cara dele muda, parece que há muito tempo não ouvia esse nome...
— Ehhh... deixei de ter uma filha no dia em que ela saiu de casa... — Hmm... por isso ele continua trabalhando, talvez nem saiba...
— Sinto em dizer... mas ela foi morta. — Nos olhos do homem um ar de surpresa misturado com como se ele dissesse “eu já sabia”... Ele pensa em dizer alguma coisa, mas desiste antes mesmo de abrir a boca, então se volta e anuncia aos fregueses que precisa fechar, depois encosta na parede e respira fundo...
— Ahhh... Eu fiz o que pude, falei pra ela não se envolver com aquele marginal, mas ela não me ouviu!! — Minhas suspeitas podem estar certas, esse pode ser um crime de vingança. Peço para entrar na sua casa para podermos conversar melhor sobre isso. Ele nos manda subir as escadas até o andar de cima, de lá vem um cheiro de feijão fresco. A mãe de Solange está preparando o jantar, entramos e sentamos no sofá, Seu Barbosa conversa com a esposa, ela chora e se tranca no quarto. Então começamos a falar:
— Foi ontem à noite, depois de sair da faculdade, ela e uma amiga estavam andando sozinhas quando um homem as seguia, a amiga escapou, mas sua filha não conseguiu. Ela for morta com várias facadas pelo corpo...
— M-meu Deus!! — Ele fica bastante perturbado... pelo que entendi, houve uma briga entre eles e a moça saiu de casa, é melhor eu perguntar sobre isso.
— O que aconteceu pra ela sair de casa?
— F-foi por causa daquele.... do namorado dela. Um rapaz que nós nunca aprovamos, de caráter duvidoso, acho que até é envolvido com drogas... Ela queria se casar com ele, nós brigamos e ela saiu de casa e disse que nunca mais poria seus pés aqui... isso já faz quase um ano...
— Qual o nome do rapaz?
— Robson, o sobrenome eu não sei. — Se esse tal Robson era realmente envolvido com drogas, pode ser que Solange tenha morrido por causa de alguma dívida dele com um traficante. Tenho que achar esse cara.
Deixamos a casa do Sr. Barbosa, peço pro Paulo marcar uma audiência com a amiga de Solange, Gisele. Ela deve saber quem é esse Robson e onde achá-lo. Dez horas eu volto pra casa, as crianças já estão dormindo e Luiza está tomando banho, ela ouve que eu cheguei e avisa que deixou meu jantar no micro ondas. Parece que nossa vida voltou ao normal afinal.
[00:04, Tatuapé... há cem metros de onde Solange foi executada. Um grupo de jovens saem de um barzinho.]
— Vocês ficaram sabendo? Da menina morta perto daqui? — [Diz Amanda.]
— O que foi...? Tá com medo!? — [Diz Gustavo.]
— Não é isso... seu besta!! Caramba... vocês não conseguem falar sério nem numa tragédia!! — [Enquanto o pequeno grupo discute, a figura sombria da noite anterior os observa...]
— Galera... eu vou por aqui. Até amanhã. — [Gustavo deixa o grupo e toma o caminho para sua casa... Assim como ele, os outros também o fazem até que só resta Amanda andando na rua. Exato momento em que o sombrio homem aproveita para atacar.]
— O quê?! Quem está aí...?! Aahhhhh...!!! SOCORRO!!!! — [Estas foram as últimas palavras de Amanda. Desta vez, mais breve... sem testemunhas o assassino sai no meio da noite deixando o corpo de Amanda na rua.]
Sete e quinze, Milton me liga e diz que uma segunda garota foi encontrada, a cem metros de onde Solange foi morta, isso complica a situação. Uma hora depois chego ao distrito e o agente Cléber já está lá esperando, antes de me dar um “bom dia”, ele diz:
— Não é um maníaco então, não é, detetive Al? — Ele parece me provocar, como se quisesse testar minha inteligência, provar que é melhor do que eu numa investigação...
— Não podemos tirar conclusões precipitadas... falei com o pai da primeira garota, ela tinha um namorado envolvido com drogas... talvez essa nova menina seja conhecida dos dois e...
— Pouco provável, era de faculdade diferente, de vizinhança diferente...
— Isso ainda preciso descobrir.
— Eu já pesquisei. A vítima é Amanda Dias, mora num condomínio de classe alta, nunca teve problemas com a família, ou com a lei. — Saco! Esse cara quer me desafiar? Por acaso acha que eu não sei fazer meu trabalho?
— Está certo. Posso ver o corpo?
— Claro. Está no IML. — Logo vamos pra lá. Entramos e vamos até onde o corpo está sendo periciado. Noto que há familiares da vítima, pessoas de classe alta. Entramos e eu peço para ver o corpo. É uma cena chocante, uma garota jovem, segundo os relatórios, tinha vinte e dois anos, bonita até. Com incisões e perfurações por todo o tórax, nas costas, nos braços e na perna esquerda, os legistas acreditam que o que a matou foi o grande corte no pescoço. Também acreditam que o assassino continuou a esfaqueá-la após ela ter morrido. — Veja Al... é igual! Amanda e Solange foram mortas da mesma forma... na mesma faixa horária... e pelo mesmo homem...
— Com que certeza afirma que foi o mesmo homem?
— Está obvio! — Ele ironiza... parece zombar da minha capacidade. Eu prefiro não responder.
— Quero falar com a família. — Os legistas me levam até uma mulher que dizem ser mãe da moça. Ela chora bastante, apesar de disfarçar com os óculos escuros e o discreto lencinho. Seu nome é Magda.
— Senhora Magda Dias? Eu sou o detetive Al da Policia Civil. Precisamos conversar sobre sua filha.
— Oh detetive... que desgraça! Como uma coisa assim pode acontecer?! Minha querida... ela era tão meiga e doce!! — A mulher está muito emocionada, mas preciso perguntar:
— A senhora sabe se... sua filha tem algum envolvimento com alguém que, por ventura, poderia ter feito isso? Quem sabe um namorado... alguém que tivesse inimizade?
— Não detetive, minha filha era amiga de todos! Tinha um carisma sem igual. O último namorado dela era um rapaz muito honesto, filho de uma amiga minha...
— Ela já se envolveu com drogas?
— O que é isso, detetive?! Mas que pergunta! Amanda odiava isso! Nem beber ela bebia... por sua insistência, meu ex-marido, pai dela, até parou de fumar.
— Quando vocês se separaram... como ela reagiu?
— Ela nos apoiou... já tinha uns dezoito anos, sabia que seria melhor pra nós dois. — Hmm... então a menina era bastante ajuizada, caso contrário, poderia ser rebelde e se meter com maus elementos... isso acontece muito em famílias de classe média e alta. Pelo visto eu estou mais longe do que pensei... e Cléber está mais perto. Pode ser realmente obra de um maníaco. Saímos de lá e eu vou com Cléber até a delegacia do Tatuapé, são dez e três. Ele me mostra mais relatórios... para mostrar que é eficiente. Bah!
— Veja detetive... as semelhanças...
— Você pode estar certo Cléber... pode ser um maníaco. Um serial killer.
— Nós não queremos um serial killer em nosso bairro. Vou mandar reforçar o policiamento na região... vou pedir reforço para a PM... Al... sabe por que nós pedimos sua ajuda nisso?
— Não faço idéia. Já que você é tão competente, a ponto de ter tudo isso preparado em tempo recorde.
— Então vou te dizer Al. Eu nunca tive um caso de serial killer, mas sei que você já. — Ele diz isso me olhando nos olhos, como se quisesse ver bem de perto minha reação quando dizia isso. E ele vê, não consigo disfarçar... ele tocou num ponto bastante delicado pra mim. Quantas lembranças que tento esquecer... agora vêm a tona... de uma só vez... Abro os relatórios e parece que estou vendo tudo de novo...
— Não quero falar sobre isso... não agora... Preciso voltar pro meu distrito, vou levar uma cópia desses relatórios. — Saí logo, sem olhar pra cara dele.
— Esse Al... é exatamente como eu pensei!!! — [Fala Cléber em voz baixa, depois de Al sair da sua sala.]
Chego ao distrito as onze e meia... Não consigo disfarçar minha perturbação... Vou até a minha sala e fico lendo e relendo os relatórios de Cléber... vejo as fotos das vítimas, delas mortas e delas vivas... Meu coração bate forte. Paulo entra e fala:
— Detetive? Como andam as investigações?
— E-estão indo, Paulo. Bom... que horas são?
— São onde e trinta e cinco. Mas...
— Bom.. vou almoçar em casa hoje... diz pro Milton que volto logo. — Saio correndo de novo. Pego o carro e vou pra casa, na minha cabeça só lembro das palavras do agente Cléber... ele sabe e me fez relembrar de propósito! Quase meio-dia chego em casa. Luiza me recebe como há muito não me recebia:
— Querido! Que bom que veio almoçar!! Vem... lave as mãos e vamos comer, preparei seu prato preferido, parece que adivinhei que viria!! A Bia e o Gil estão da casa da vizinha, brincando com os amiguinhos... a tarde é só nossa!!
— Q-que bom... amor!
— Al?! O que foi? Por que está assim?
— Ahh... Luiza... hoje uma coisa me fez lembrar... aquilo. — Nem tenho coragem de dizer.
— Oh Deus! Não Al... não fique assim. O que passou, passou! Esqueça!
— Eu quero esquecer... mas... Ah... eu te amo! — A abraço e fico em silêncio... ouço o coração dela bater mais forte... já faz onze anos...
Acabara de entrar na polícia, nem era detetive ainda, já namorava Luiza... nos amávamos muito... minha ingressão na polícia era a esperança para o nosso casamento, já tínhamos visto casa e tudo! Foi nessa época, meados de 1993, que conheci Milton, ele já era delegado e me ajudou muito, pois era amigo de longa data de um tio meu. Lembro do meu primeiro caso, um garoto roubou um posto de gasolina e na fuga foi atropelado. Milton então disse: “Vá se acostumando Al, nesse trabalho, coisas assim são diárias!” . Droga! Eu não tinha mais que vinte e cinco anos nessa época! Fiquei chocado com tamanha frieza com que eles tratavam o caso!
Bom... o tempo foi passando e quatro meses depois, uma garota foi morta, não era a primeira... outras quatro já tinham tido o mesmo fim. Tratava-se de um maníaco serial killer. As testemunhas que sobreviveram, descreviam-no como um homem encapuzado, com uma faca e olhos gélidos. O Apelidaram de “Ponta-de-Faca”, o assassino de universitárias...
Ele só atacava garotas que voltavam da faculdade... de regiões diferentes da cidade, o que dificultava nossa ação. Não escolhia cor, classe social ou religião. Seu único critério eram de ser universitárias... não importava se estavam sozinhas... algumas vezes... ele as seguia até suas casas e cometia o crime lá mesmo. Já contabilizávamos dez garotas mortas... Lembro que Luiza estava estudando... não tinha nem vinte e três anos, fazia faculdade de odontologia, quando me veio a idéia de que ela poderia ser a próxima vítima...
Isso me corroeu por dias... a proibi de ir para faculdade, mas ela insistia, uma vez até a segui, mas ela viu e brigou comigo. Fiquei apavorado... pensando que a qualquer momento... minha amada, poderia ser morta! Então fiquei obcecado por prender o maníaco, antes que ele pudesse achar Luiza. Mas numa noite... fomos chamados para resolver uma chacina. Tive que ir, mas meu coração estava com Luiza, já era tarde e ela não tinha me telefonado como combinamos... único jeito de eu a deixar continuar a estudar. Como um pressentimento... sabia que justo naquele dia, que não poderia vê-la... ela precisava de mim.
Ponta-de-Faca a seguiu, ela voltava da casa de uma amiga, onde fora depois das aulas. Já era mais ou menos meia-noite, ela voltou pra casa a pé. O maníaco, não sei por que razão, resolveu segui-la até em casa. Mas Luiza, há poucos metros do portão, percebeu que estava sendo seguida... Ela correu, gritou... isso assustou o homem que se escondeu... mas não foi embora. Duas horas depois eu consegui ir até lá... Ela estava apavorada... me pediu desculpas. Fiquei alguns minutos, mas ela mesmo pediu para eu ir embora. Achando que ela estava segura dentro de casa, resolvi ir. Ponta-de-Faca estava esperando esse momento... assim que saí ele invadiu a casa de Luiza, entrou pela janela da cozinha, usando seu já famoso capuz preto... andou até o quarto dela...
Luiza se debateu, lhe jogou objetos, gritou. Mas ele insistia... tinha como convicção em executar seu ato de loucura... sem mais demoras. Graças a Deus, eu não fui embora como Luiza me pediu, fiquei escondido na garagem... quando ouvi os gritos dela, subi correndo... bem a tempo de evitar que... que... Ponta-de-Faca matasse Luiza!! Nós lutamos... descemos as escadas rolando... ele me feriu com sua faca... cicatriz que hoje nem olho, tentando esquecer... Por um instante... olhei em seus olhos e pude ver a loucura, jamais vi tamanha insanidade em alguém. Não sei se ele me disse... não lembro se ele alguma vez falou, mas quando lembro disso, me vem na cabeça as seguintes palavras: “Ela é minha! Você não vai tirar ela de mim enquanto eu viver!!” Talvez minha mente as tenha inventado... para justificar o que tive que fazer...
O Matei. O matei com um tiro na cabeça... em plena sala da casa de Luiza... Céus!! Nunca tinha matado ninguém antes! O pior... eu me senti melhor depois que fiz isso! Não posso acreditar! Como pude... me sentir bem... depois de tirar uma vida! Depois disso tudo... eu e Luiza fizemos um pacto. Jamais iríamos nos lembrar disso... Jamais iríamos falar disso pra alguém. Um ano depois nos casamos, Luiza estava grávida de nossa filha Bia... compramos uma casa e vivemos felizes...
Mal conseguimos almoçar... Luiza sente toda minha preocupação. Eu, só depois de relembrar tudo, começo a perceber a singularidade desse novo assassino, com o Ponta-de-Faca... O mesmo jeito de matar, o mesmo perfil de vítimas... garotas universitárias... mas não posso me precipitar... até agora só foram duas garotas... talvez pare por aqui... queria Deus que sim! Ligo pro Milton e peço pra tirar a tarde de folga... não consigo trabalhar desse jeito. Ele entende e concede. Fico o resto do dia em casa... pensando...
[19:54, numa casa mal iluminada, úmida e cheia de insetos. Um homem, o assassino, come um pedaço de pizza fria, sentado num banco. A sua frente, uma faca, sua arma. Na parede atrás dele, vários recortes de jornais, com as manchetes: “Assassino Serial a solta. Polícia não sabe como agir”; “Dez universitárias mortas. Crime desafia a sociedade”; “‘Ponta-de-Faca’, vítimas que escaparam apelidam o maníaco”; “Ponta-de-Faca encontra seu fim. Policial o mata na casa da namorada”; “Morre Ponta-de-Faca! Policial herói salva a namorada do assassino.”. O homem se levanta e fita a parede, em particular um certo jornal que leva a foto e os nomes de todas as vítimas, as duas primeiras estão riscadas. Com o dedo ele aponta para a terceira... pega sua faca, um capuz preto, e sai.]

Fim do Capítulo I

Galeria de Desenhos

REVOLT


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