DETETIVE AL
Sombras do Passado
CAPÍTULO III: Sedução


Por: Anderson Oliveira (março/abril de 2005)

Uma cena de filme de terror. Sangue nas paredes e nos objetos... Sinais de luta... Uma garota esfaqueada, nua e morta no chão. Pegadas de sangue deixadas pelo assassino indicam que ele se aproximou do telefone antes de ir. Do outro lado da linha estava o namorado da vítima, que a ouviu ser atacada e nos chamou. São duas e cinco da madrugada, eu e a equipe da perícia estamos no apartamento da garota morta. Seu nome era Valéria.
Valéria... uma das vinte duas que estavam matriculadas em faculdades, no período noturno, em toda a cidade. Ela estudava na mesma faculdade onde estudava Lívia, que morreu ontem. Tinha uma viatura na porta, talvez por isso o maníaco a seguiu até sua casa. O namorado está aqui, em estado de choque. Os pais estão a caminho. O corpo está sendo removido. No lado de fora equipes de reportagem. E eu sou obrigado a enfrentá-los se quiser voltar pro meu carro.
— Detetive!! O que pode nos dizer sobre isso? É obra do serial killer? — Pergunta uma jornalista. Procuro não responder.
— Essa já é a quarta! Que providências a polícia está tomando? — Diz outro.
— Hei... Você é Al de Sousa! Esteve envolvido no caso Ponta-de-Faca de 1993... Então é verdade que um novo Ponta-de-Faca está à solta? — Fala um de mais idade, provavelmente cobriu o caso de 93 e se lembra de mim... — Vai matar esse novo como matou o velho?! — Pergunta em tom de zombaria. Eu o encaro e digo:
— Isso não é hora para brincadeiras... uma moça morreu aqui e outras sofreram o mesmo fim. Tenha um pouco de respeito.
— Antes de Ponta-de-Faca morrer ele tinha matado dez garotas, vai esperar esse novo matar mais seis pra igualar a marca ou vai matá-lo antes? — Diz ele de novo. Se eu fosse um pouco mais paranóico, diria que é o Cléber disfarçado de repórter! É mais um que quer me provocar, pelo jeito. Melhor não responder, senão a coisa pode piorar...
Continuo andando entre eles até chagar no meu carro, com a ajuda de alguns colegas consigo sair. No volante reflito sobre os acontecimentos. Pobre Valéria... eu poderia ter evitado sua morte. Por Deus! O jeito agora é evitar as próximas mortes... Quando amanhecer eu cuidarei disso. E Luiza? Ela está sofrendo muito com tudo isso... ela precisa de mim.
Mas agora o “marido Al” tem que esperar, pois o “detetive Al” precisa agir. Luiza que me perdoe, mas vidas inocentes dependem de mim. Chego em casa e vou trabalhar na sala enquanto todos dormem. Pego as fichas das vítimas de 93, depois de Valéria, a quarta vítima, a próxima foi Erica Azevedo... Taí... Agora preciso encontrar todas as universitárias chamadas Erica, da mesma forma que encontramos as vinte e duas Valérias... Por sorte, Milton me mandou um e-mail e disse como eu deveria fazer essa pesquisa.
Quarenta minutos depois... achei o total de dezesseis moças com o nome Erica em faculdades em toda a São Paulo, só no período noturno... Bem... tenho que reduzir esse número... Oh Deus! se houvesse mais algo que poderia reduzir essa lista... Mais alguma pista, alguma singularidade... O jeito é rever os relatórios...
Valéria Clemente, que morreu essa noite estudava na mesma faculdade de Lívia, a terceira vítima... Solange e Amanda eram do mesmo bairro, porém de faculdades diferentes... Se eu procurar essa informação nos papéis de 93... Espere! A Lívia e a Valéria de 93 também estudavam na mesma faculdade! Esse novo assassino deve saber disso e não quis quebrar a ordem... Isso pode me ajudar! Onde Erica estudava? Bingo! Uma rápida olhada para conferir... É isso mesmo! Erica estudava na mesma faculdade de Amanda! Ou seja, a Erica que estou procurando só pode estudar na faculdade onde Amanda estudava... o que me leva de volta ao Tatuapé!
De manhã, eu pego tudo que descobri e falo pro Milton:
— Segundo essa lista, existe uma única Erica nessa faculdade no período noturno...
— Então... só pode ser ela a próxima vítima?
— Exato! Agora precisamos descobrir onde ela mora e avisa-la do perigo. — O que, eu creio, não ser fácil.
— Cuidaremos disso Al. Aguarde uns minutos enquanto nossa equipe procura essas informações.
[08:54. Grande manifestação de estudantes em frente a Faculdade onde Valéria e Lívia estudavam.]
— Queremos segurança!! Não podemos estudar com um assassino a solta!! — [Grita uma manifestante.]
— Vamos boicotar as aulas em nossas universidades! Ninguém entrará para estudar enquanto o bandido não for preso! — [Incita o cabeça do protesto. Os manifestantes com placas e apitos gritam palavras de ordem. Os seguranças da faculdade não podem conte-los e chamam pela polícia militar. Entre os manifestantes há alguns conhecidos:]
— Aí... Eu sou Gustavo, era amigo de Amanda Dias, a segunda garota morta... não estudo aqui, mas queria dar meu apoio!
— Você é bem-vindo, eu sou Simone... estava com Lívia quando... quando...
— Todos nós sentimos... Eu sou Henrique, fui eu que organizou o protesto... Não conhecia intimamente nenhuma das meninas, mas sou amigo do Gilson, namorado da Valéria, que morreu ontem. O Gilson deve vir aqui a qualquer momento. — [Enquanto esse pequeno grupo se forma, num lugar distante, um rapaz maltrapilho conversa com outra conhecida:]
— É bom te ver, Gisele... Assim que soube da morte da Solange eu fugi da cadeia... Por que você me pediu pra te encontrar aqui?
— Estamos fazendo um protesto aqui, Robson. E... minha família ficou muito perturbada com isso, se você aparecesse lá em casa não iria dar certo.
— Então beleza, mas eu acho que ficar fazendo protesto e essas coisas de playboy não vai resolver porra nenhuma. Eu mesmo vou caçar esse assassino do caralho e fazer e pagar por ter matado minha mina...
— Cuidado Robson! A policia está trabalhado e...
— Polícia uma merda! Os coxinha não faz nada, são tudo cuzão. Agora deixa eu ir, se alguém me ver por aqui pode feder...
[12:15. A dois quilômetros do protesto, uma garota pega um táxi:]
— Olá, pode me levar até o Tatuapé?
— Claro, moça! — [Diz o motorista.]
— Calor hoje, né? Puxa...! O senhor pode ligar o rádio, por favor? — [Ele liga, está passando um noticiário sobre o assassinato de Valéria.]
— Deus do céu!! Essa moça... Valéria... posso dizer com certeza que ela pegou meu táxi ontem... A gente até conversou sobre os assassinatos!
— Eu hein! Credo! Seu táxi trás mau agouro!
— Roberto... meu nome é Roberto! Espero que não tenha nada a ver com meu táxi!
— Eu também espero! Ah, meu nome é Erica.
— Bonito nome! Então, essa moça... Valéria, ela pegou meu táxi ontem e estava sentada aí mesmo onde você está! Puxa vida! Pra você ver que a gente nunca sabe o dia de amanhã! — [Erica olha com estranheza Roberto e logo senta do outro lado do banco.]
[12:49. Um bar no Tatuapé onde Cléber e Hernan jogam bilhar e bebem cervejas:]
— Estoy a hablar desde lo início, Cléber! É mejor nosotros salirmos daqui!
— Cala a boca Hernan! Se não fosse o Al ter aparecido lá ontem a gente tava numa boa... E daí se não saiu como o planejado? Pro diabo! A gente vai terminar essa porra custe o que custar! — [Cléber dá uma tacada tranqüilamente, mas Hernan está nervoso.] — Cacete, errei! É sua vez, gringo.
— Basta! Yo no quero mais jogar! — [Hernan pega o taco e, de uso de sua habilidade de atirador de facas, o arremessa fazendo-o acertar em cheio um quadro na parede.]
— Caralho, Hernan!! — [Cléber agarra Hernan pelo colarinho.] — É melhor você abaixar a crista, seu argentino filho da puta! Fica na tua e só faz o que for mandado! Ouviu?
— Está bien, está bien!! — [Cléber o solta, anda até o outro lado da mesa de sinuca e bebe toda a cerveja que está no seu copo. Hernan o olha com rancor, mas quando Cléber o olha de volta ele abaixa a cabeça. Cleber pega suas coisas e vai embora.]
São duas em ponto. Enfim nossos pesquisadores conseguiram rastrear o endereço de Erica. É nessas horas que eu gostaria de ser um hacker pra poder fazer isso sozinho e ainda em menos tempo. Milton reuniu uma equipe de dez homens pra fazer a segurança da moça, mas eu achei melhor falar com ela sozinho, um batalhão de policiais poderia assustá-la. Então pego o endereço e mais outros papéis e saio em direção ao Tatuapé.
Agora é três e vinte, finalmente chego na rua da moça... Um lugar de classe média alta, com árvores, gramados e câmeras de vigilância por todos os lados, poucos carros na rua... aliás, tem um que me é familiar... Mas não lembro de onde agora...
[O carro que Al vê é, por estranha coincidência, de Cléber. Este, de dentro do carro, também vê Al passar com grande surpresa.]
Acho que é essa a casa, toco a campainha, pouco depois uma voz fala ao interfone. Sem enrolar muito, consigo entrar. Uma senhora me recebe, é a mãe dela. Ela diz que Erica foi até a casa de uma prima, mas logo voltará, eu pedi pra esperar, não disse o motivo da conversa. Não espero muito, em menos de meia hora eu a ouço entrar na casa. Na porta a mãe lhe fala que eu a espero. Então ela entra.
Morena clara, cabelos lisos e castanhos, um metro e setenta de altura, magra, mas com corpo definido... em resumo, uma linda jovem. Ela me olha com susto. Entendo, afinal ser esperada por um policial não é muito agradável. Ela atravessa uma cortina de contas que fica fazendo barulho por mais alguns segundos. Ela se senta, então eu falo:
— Erica Nascimento? Eu sou o detetive Al de Sousa.
— O que foi, detetive?
— Certamente a senhorita sabe que um maníaco está atacando universitárias nos últimos dias?
— Sei... Ponta-de-Faca, né?
— É... — Dou uma pausa. Depois disso tudo, ouvir esse nome ainda me deixa tenso. — Pois bem, eu sou o encarregado do caso. Como disse, o chamam de Ponta-de-Faca... Você sabe por quê?
— Sim... vi alguma coisa sobre isso na televisão. Tem a ver com um outro assassino de 93... Eu era muito pequena nessa época, mas lembro dele. Mas...?
— Esse novo maníaco é chamado assim porque ele imita os passos do original... Assim o faz matando garotas com os mesmos nomes das que o Ponta-de-Faca matou. — Tiro duma pasta cópias das fichas das primeiras vítimas de 93 e as de agora e jogo sobre a mesa de centro. — Solange Ferreira e Solange Barbosa... Amanda Machado e Amanda Dias... Lívia dos Santos e Lívia Soares... Por fim, Valéria Oliveira e Valéria Clemente.
— E eu com isso, detetive? — Jogo outra ficha...
— Erica Azevedo... — Ela olha ficha, depois olha pra mim. Erica tenta segurar, mas não consegue e solta uma grande gargalhada...
— Quer... quer dizer que você achar que eu sou a próxima?! Desculpa... Desculpa eu rir assim, mas... Olha só... Quantas Ericas você acha que existe nessa cidade?
— Na sua faixa etária, matriculadas em cursos noturnos... dezesseis. — Digo com seriedade, logo a moça ri outra vez.
— E você vai na casa de cada uma?!
— Não, pois não é só nos nomes que o assassino copia Ponta-de-Faca, mas também nas faculdades em que cada uma estuda. Se uma estudava na mesma faculdade de outra, o assassino de agora quer vítimas com o mesmo perfil. Você estuda na mesma faculdade de Amanda Dias... A Erica de 93 estudou na mesma da Amanda também de 93.
— Você tá de brincadeira!
— Garota, isso é sério! Sua vida, e de outras garotas depende disso!! — Eu grito. Ela então tira o sorriso da face. — O que eu peço é simples: Não vá estudar hoje!
— Olha, eu sei que você só tá fazendo seu trabalho... mas você tem que entender que dizer pra alguém que ela vai morrer no mesmo dia deixa qualquer um confuso! Ainda mais depois que eu peguei um táxi aonde o motorista veio com uma história de que esteve com essa tal Valéria ontem. — O quê? Alguém que esteve com Valéria e agora esteve com Erica? Isso é muito estranho, melhor eu investigar esse taxista...
— Onde eu posso encontrar esse táxi?
— Hi... Eu peguei lá em São Miguel... Mas o nome do cara era Roberto... isso eu lembro.
— Ok... Agora eu vou embora... Você entendeu o que eu disse? Não vá pra faculdade hoje!
— Tá, tá... vou fazer o possível...
— Faça até o impossível. — Não levo nenhuma fé nessa menina... por via das dúvidas vou pedir pra uma viatura vigiar a casa. Agora preciso encontrar esse tal Roberto, taxista. Um cara que esteve com uma das vítimas e com Erica soa muito suspeito. É melhor o Milton ficar a par de tudo isso... Minutos depois:
—> Faça isso Al, ache esse motorista ainda hoje... estou mandando dois homens para vigiarem a moça... Vou colocar escolta também na porta da faculdade e regiões próximas.<
— Está certo Milton, a gente se fala depois.
[15:53. Distrito da Polícia Civil, sala do delegado Milton. Ele desliga o telefone e Paulo, que carrega uma pasta com papéis, entra na sala:]
— Faça o favor, Paulo. Me chama o Roger e o Zé...
— Sim senhor... — [Ao sair, Paulo esbarra a pasta no bebedouro e a deixa cair, um papel vai parar no pé de Milton, este se abaixa e o pega:]
— Aqui Paulo, deixou isso cair... Hei, espere um pouco! — [A folha é uma cópia de um jornal que traz nomes e fotos das dez vítimas de Ponta-de-Faca, onde as quatro primeiras estão com um “X” de caneta.] — O que você faz com isso, Paulo?! Por que fez essas marcas?
— Hã... É... Isso é um papel que o detetive Al deixou cair e eu ia jogar fora... Eu nem vi direito o que se tratava...
— Ia jogar fora isso? Você ia jogar fora um pertence de um policial sem que ele soubesse?
— Mas estava no chão... e...
— E se ia jogar fora, por que estava no meio desses outros documentos aí? Ia jogar tudo fora?
— Nã... Não senhor... Eu...
— Olha, vá logo fazer o que eu te pedi. — [Milton amassa o papel e o joga no lixo. Paulo sai da sala bastante nervoso. Milton pensa:] — É melhor eu ficar de olho nesse rapaz...
Quatro horas e quarenta minutos. Eu estou em São Miguel Paulista e procuro nos pontos de táxi pelo tal Roberto. De indicações em indicações logo eu chego a um ponto de fronte da Faculdade onde Lívia e Valéria estudavam. Havia ali uma manifestação de estudantes, pelo que me informaram, mas agora só tem poucos jovens. Mas isso não me interessa agora... vou procurar o sujeito.
Falo com uns taxistas e estes me indicam o cara, ele está limpando o interior do veículo com o rádio ligado. Estão tocando músicas antigas, os chamados flash backs. Mas isso também é irrelevante. Puxo conversa com o homem:
— Você é o Roberto?
— Sim chefia... Se quiser táxi fala ali com aquele camarada, eu não posso furar a fila.
— Não, não é isso não. Eu sou o detetive Al da polícia. Queria conversar sobre uma moça que pegou seu táxi ontem. — Ele levanta surpreso, como todo mundo quando eu me apresento.
— Uma moça? Aqui em frente a essa faculdade a gente costuma levar muitos jovens, moças e rapazes...
— Estou falando de uma chamada Valéria...
— Ah... entendi... A que foi morta... — Ele cruza os braços e abaixa a cabeça.
— É... o que sabe sobre ela?
— Nada! Ela só pegou o táxi... a gente conversou um pouco e aí ela foi embora... deixou gorjeta... Depois só sei o que li nos jornais e ouvi no noticiário.
— E... sobre o que conversaram?
— O que poderia ser? Outra menina tinha sido morta... dessa mesma faculdade. Só era isso que podíamos falar. — Então ele falou sobre Lívia para Valéria? Assim como falou de Valéria para Erica...
— E essa outra menina... Lívia... você chegou a conhece-la?
— Não sei... se ela pegou me táxi eu não sei. Só se eu não perguntei o nome... — Hmm... Pena que eu não tenho uma foto de Lívia aqui... Esse Roberto é tranqüilo... fala com calma e não demonstra medo. Mas, como estamos atrás de um psicótico, isso não quer dizer nada. Melhor não falar nada sobre Erica, pode ser perigoso pra garota.
Nessa hora começa a tocar uma música que há muito tempo eu não ouvia. É verdade... faz anos que não ouço essa música, mas sei que ela foi um grande sucesso em sua época... Curioso... pois essa música me lembra da época em que tudo aquilo aconteceu... Era em 1993 que essa mesma música que ouço agora fazia um enorme sucesso...
— Essa música... há anos não a ouço! — Digo para Roberto.
— Sério? Pois eu estou ouvindo ela já faz alguns dias... nessa mesma rádio... Já até me enjoou.
— Então... obrigado Roberto... — Volto pro meu carro, ainda com a música na cabeça. Aí ouço alguém me chamar, me viro e são os estudantes que ainda restam na porta da faculdade... devem ter me reconhecido... Por isso odeio sair na TV!
— Você! É o detetive dos assassinatos!! — Diz o que está à frente. Um grupo de cinco vem ao meu encontro. Estranho é que duas moças me são conhecidas... Se me lembro são Gisele, amiga de Solange e Simone, amiga de Lívia... os outros três rapazes eu não conheço...
— Sim, sou eu. Gisele, não é? E Simone? O que você fazem aqui?
— Era pra ser um protesto, detetive... — Diz Gisele. — Mas a maioria do pessoal desistiu.
— Nós temos que fazer nossa parte para os crimes acabarem! — Diz novamente o líder do movimento.
— E quem é você? — Eu pergunto.
— Meu nome é Henrique. — Ele estende a mão pra me cumprimentar. — Estes são Gustavo, colega de Amanda Dias e Gilson, namorado de Valéria... Gisele e Simone você já conhece. — Hmm... não tinha reconhecido Gilson. Quando o vi no apartamento de Valéria ele estava muito perturbado, agora está bem melhor... até demais...
— Se entendi, são todos amigos das vítimas...
— Quase... Eu sou primo do Gilson, não cheguei a conhecer nenhuma delas, nem Valéria. — Disse Henrique.
— Ok... Olha, nós da polícia estamos fazendo o que pudermos. Admiro sua iniciativa e acredito na força estudantil... eu na minha época participei do movimento Diretas Já, mas espero que vocês não atrapalhem a investigação. Agora preciso ir. Até outro dia. — Saio com o carro e deixo o grupo.
— Parece gente boa esse detetive! — [Diz Henrique.]
— É... Bem, desculpa, mas preciso ir... fiquei de continuar meu livro... — [Diz Gustavo.]
— Livro, você escreve? — [Pergunta Gisele.]
— É... mais ou menos... Na verdade é o primeiro que eu tô fazendo pra valer... É um romance policial... Mas eu preciso ir mesmo! Falou rapaziada! Tchau meninas!
Oito e quinze, depois de uma rápida passada no distrito chego em casa e encontro Luiza melhor, porém ainda sobre o efeito de sedativos. Bem... eu dei o aviso, policiais estão vigiando Erica... agora é por conta dela. O “marido Al” tem que entrar em ação!
[20:46. Casa de Erica, ela está no banho e pensa:]
— Isso tudo tá muito estranho... Minha mãe disse que eu deveria seguir o que meu coração diz... mesmo achando isso besteira, é melhor eu ficar em casa hoje... — [Policiais fazem campana do lado de fora.]
[23:33. Poucos alunos deixam a faculdade onde Erica estuda. Um viatura está na porta. Nas sombras, a figura do Ponta-de-Faca procura por sua vítima, mas não a encontra... Frustrado entra em seu valho carro e se vai sem levantar suspeitas.]
Dia seguinte. O Ponta-de-Faca não agiu. Graças a Deus, Erica resolveu ficar em casa. Mas isso não diz que ainda está segura. Agora são uma e cinco e eu falo pro Milton manter a viatura na porta da faculdade e arredores:
— Tá certo Al... vou fazer isso. O que você vai fazer agora?
— Vou ver Erica de novo... Acho que agora ela compreendeu o perigo. — Ao sair cruzo com Paulo que entra na sala do Milton acompanhado dos policiais Roger e José.
— Então rapazes... essa noite é pra continuar lá na faculdade... — [Diz Milton. Roger e José saem da sala e conversam entre si, Paulo ouve a conversa:]
— Caralho! Essa noite eu combinei de sair com minha esposa!
— Você vai ter que adiar, Zé... — [Diz Roger.]
— Dá licença... — [Diz Paulo.] — Eu posso ficar no seu lugar, Zé. Só não deixa o delegado ficar sabendo...
Duas e quarenta, eu chego até a rua de Erica. Por sorte a moça tá no portão, ela me vê... com um jeito mais calmo ela sai até a rua. Eu paro o carro e saio, ela vem até mim:
— Detetive... você de novo...
— Olha Erica, ainda não acabou... você ainda corre perigo...
— Sei... E como você é um policial muito atencioso volta aqui só pra me avisar, né? — Ela se aproxima, me olha com um olhar sensual... Mas o que ela...? — Vai, fala a verdade! Você veio aqui só pra me ver de novo! Ficou afim de mim, né?
— Mas o que é isso, garota! Eu sou um profissional... além disso sou casado e amo minha esposa!
— E daí? — Ela me pega pela cintura e se aproxima mais... — Eu adoro homens casados! — Ela me beija! Me agarra e me beija em plena rua sem pudor algum! Eu logo tento afasta-la sem machucá-la.
— Pare com isso Erica! — Digo. — O que você pensa que está fazendo?! — Ela sorri, depois anda de costas até entrar em sua casa, ainda sorrindo pra mim. Menina louca! Como pôde fazer isso! Eu entro no meu carro e recosto a cabeça sobre o volante e penso no assunto, então sinto que alguém se aproxima:
— Vejam só... Nosso amigo Al pulando a cerca! O que será que a dona Luiza iria pensar disso? — Não! O único que eu não gostaria de ver naquela hora... Sim, era o Cléber.
— O que você tá fazendo aqui?!
— Já ouvi isso antes... Porra, Al! Esse é meu bairro, você é o intruso aqui!
— Já chega, Cléber! Eu sei que você quer me provocar de qualquer jeito... E isso eu não vou aturar mais! — Saio do carro disposto a arrebentar com a cara dele, ele se afasta, mas parece topar a briga...
— Al... Você é um idiota! — Sinto um golpe na nuca... — Aaarrghh!!
— Muito bem Hernan, ele apagou! Pegamos ele de jeito... Agora vamos levar ele pro carro antes que alguém nos veja!
[23:00. Porta da Faculdade onde Erica estuda. Paulo e Roger estão na viatura.]
— Droga! Acabou o café! — [Diz Roger.]
— Peraí... tem uma padaria aberta ainda logo ali... vou comprar mais! — [Diz Paulo que sai. Quarenta minutos depois ele ainda não voltou. Os alunos saem da faculdade e Erica está entre eles. Resolveu ir à aula hoje.]
[23:49. Casa de Gustavo, colega de Amanda. Em seu laptop um texto está escrito pela metade. O texto diz:]
“E ela saiu sozinha em plena noite. Estava assustada, mas queria fingir estar calma. O assassino se aproximava silenciosamente cada vez mais rápido... Ela correu... Nessa hora, a pobre menina se arrependeu de não dar ouvidos aos apelos pra ela não sair de casa... Por isso, iria pagar com a vida.”
[Gustavo não está em casa.]
Ai... ai... A pancada está doendo até agora! Está de noite... que horas são? Cadê meu relógio? E meu celular? Droga... agora me lembro. O Cléber fez isso comigo. Estou num terreno baldio em algum lugar que desconheço. Estou com machucados nas pernas e braços... devo ter sido carregado... minhas roupas estão imundas... Preciso falar com o Milton... pra ele vir me buscar. Chego num bar, lá fico sabendo que estou em Guarulhos... Percebo que estou sem minha credencial, minha arma e sem nenhum dinheiro também. De um orelhão ligo a cobrar pro celular do Milton:
— Milton... olha... O safado do Cléber me bateu e me levou pra Guarulhos onde me largou num terreno! Manda alguém me buscar... Tenho que chegar aí antes das onze horas pra...
—> Al, são meia-noite e quarenta! Mas se é por causa da moça, fica tranqüilo que a viatura não saiu de lá em nenhum momento!<
— Você tem certeza... bem... Então tá... manda alguém me buscar...
[01:12. Uma rua próxima da casa de Erica. Rastros de sangue pelo chão indicam a presença de um corpo feminino, morto a facadas estendido sobre o meio-fio. O vento frio que trás uma fina serração faz os cabelos da vítima embaraçarem nos revelando seu rosto, ainda que ferido com chagas e mutilado com violência. Este corpo é de Erica.]

Fim do Capítulo III

Galeria de Desenhos

Profany, o anjo da morte


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