Dislexia - Prof� Augusta Schimidt

Entender como aprendemos e o porqu� de muitas pessoas inteligentes e, at�, geniais experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, � desafio que a Ci�ncia vem deslindando paulatinamente, em 130 anos de pesquisas. E com o avan�o tecnol�gico de nossos dias, com destaque ao apoio da t�cnica de resson�ncia magn�tica funcional, as conquistas dos �ltimos dez anos t�m trazido respostas significativas sobre o que � Dislexia.

A complexidade do entendimento do que � Dislexia, est� diretamente vinculada ao entendimento do ser humano: de quem somos; do que � Mem�ria e Pensamento- Pensamento e Linguagem; de como aprendemos e do por qu� podemos encontrar facilidades at� geniais, mescladas de dificuldades at� b�sicas em nosso processo individual de aprendizado. O maior problema para assimilarmos esta realidade est� no conceito arcaico de que: "quem � bom, � bom em tudo"; isto �, a pessoa, porque inteligente, tem que saber tudo e ser habilidosa em tudo o que faz. Posi��o equivocada que Howard Gardner aprofundou com excepcional mestria, em suas pesquisas e estudos registradas, especialmente, em sua obra Intelig�ncias M�ltiplas. Insight que ele transformou em pesquisa cientificamente comprovada, que o al�ou � posi��o de um dos maiores educadores de todos os tempos.

A evolu��o progressiva de entendimento do que � Dislexia, resultante do trabalho cooperativo de mentes brilhantes que se t�m doado em persistentes estudos, tem marcadores claros do progresso que vem sendo conquistado.

Durante esse longo per�odo de pesquisas que transcende gera��es, o desencontro de opini�es sobre o que � Dislexia redundou em mais de cem nomes para designar essas espec�ficas dificuldades de aprendizado, e em cerca de 40 defini��es, sem que nenhuma delas tenha sido universalmente aceita. Recentemente, por�m, no entrela�amento de descobertas realizadas por diferentes �reas relacionadas aos campos da Educa��o e da Sa�de, foram surgindo respostas importantes e conclusivas, como:

a) que Dislexia tem base neurol�gica, e que existe uma incid�ncia expressiva de fator gen�tico em suas causas, transmitido por um gene de uma pequena ramifica��o do cromossomo # 6 que, por ser dominante, torna Dislexia altamente heredit�ria, o que justifica que se repita nas mesmas fam�lias;

b) que o disl�xico tem mais desenvolvida �rea espec�fica de seu hemisf�rio cerebral lateral-direito do que leitores normais. Condi��o que, segundo estudiosos, justificariam seus "dons" como express�o significativa desse potencial, que est� relacionado � sensibilidade, artes, atletismo, mec�nica, visualiza��o em 3 dimens�es, criatividade na solu��o de problemas e habilidades intuitivas;

c) que, embora existindo disl�xicos ganhadores de medalha ol�mpica em esportes, a maioria deles apresenta imaturidade psicomotora ou conflito em sua domin�ncia e colabora��o hemisf�rica cerebral direita-esquerda. Dentre estes, h� um grande exemplo brasileiro que, embora somente com sua autoriza��o pessoal poder�amos declinar o seu nome, ele que � uma de nossas mentes mais brilhantes e criativas no campo da m�dia, declarou: "N�o sei por que, mas quem me conhece tamb�m sabe que n�o tenho dom�nio motor que me d� a capacidade de, por exemplo, apertar um simples parafuso";

d) que, com a conquista cient�fica de uma avalia��o mais clara da din�mica de comando cerebral em Dislexia, pesquisadores da equipe da Dra. Sally Shaywitz, da Yale University, anunciaram, recentemente, uma significativa descoberta neurofisiol�gica, que justifica ser a falta de consci�ncia fonol�gica do disl�xico, a determinante mais forte da probabilidade de sua fal�ncia no aprendizado da leitura;

e) que o Dr. Breitmeyer descobriu que h� dois mecanismos inter-relacionados no ato de ler: o mecanismo de fixa��o visual e o mecanismo de transi��o ocular que, mais tarde, foram estudados pelo Dr. William Lovegrove e seus colaboradores, e demonstraram que crian�as disl�xicas e n�o-disl�xicas n�o apresentaram diferen�a na fixa��o visual ao ler; mas que os disl�xicos, por�m, encontraram dificuldades significativas em seu mecanismo de transi��o no correr dos olhos, em seu ato de mudan�a de foco de uma s�laba � seguinte, fazendo com que a palavra passasse a ser percebida, visualmente, como se estivesse borrada, com tra�ado carregado e sobreposto. Sensa��o que dificultava a discrimina��o visual das letras que formavam a palavra escrita. Como bem figura uma educadora e especialista alem�, "... � como se as palavras dan�assem e pulassem diante dos olhos do disl�xico".

A dificuldade de conhecimento e de defini��o do que � Dislexia, faz com que se tenha criado um mundo t�o diversificado de informa��es, que confunde e desinforma. Al�m do que a m�dia, no Brasil, as poucas vezes em que aborda esse grave problema, somente o faz de maneira parcial, quando n�o de forma inadequada e, mesmo, fora do contexto global das descobertas atuais da Ci�ncia.

Dislexia � causa ainda ignorada de evas�o escolar em nosso pa�s, e uma das causas do chamado "analfabetismo funcional" que, por permanecer envolta no desconhecimento, na desinforma��o ou na informa��o imprecisa, n�o � considerada como desencadeante de insucessos no aprendizado.

Hoje, os mais abrangentes e s�rios estudos a respeito desse assunto, registram 20% da popula��o americana como disl�xica, com a observa��o adicional: "existem muitos disl�xicos n�o diagnosticados em nosso pa�s". Para sublinhar, de cada 10 alunos em sala de aula, dois s�o disl�xicos, com algum grau significativo de dificuldades. Graus leves, embora importantes, n�o costumam sequer ser considerados.

Tamb�m para real�ar a grande import�ncia da posi��o do disl�xico em sala de aula cabe, al�m de considerar o seri�ssimo problema da viol�ncia infanto-juvenil, citar o lament�vel fen�meno do suic�dio de crian�as que, nos USA, traz o grav�ssimo registro de que 40 (quarenta) crian�as se suicidam todos os dias, naquele pa�s. E que dificuldades na escola e decep��o que eles n�o gostariam de dar a seus pais est�o citadas entre as causas determinantes dessa trag�dia.

Ainda � de extrema relev�ncia considerar estudos americanos, que provam ser de 70% a 80% o n�mero de jovens delinq�entes nos USA, que apresentam algum tipo de dificuldades de aprendizado. E que tamb�m � comum que crimes violentos sejam praticados por pessoas que t�m dificuldades para ler. E quando, na pris�o, eles aprendem a ler, seu n�vel de agressividade diminui consideravelmente.

O Dr. Norman Geschwind, M.D., professor de Neurologia da Harvard Medical School; professor de Psicologia do MIT - Massachussets Institute of Tecnology; diretor da Unidade de Neurologia do Beth Israel Hospital, em Boston, MA, pesquisador l�cido e perseverante que assumiu a dire��o da pesquisa neurol�gica em Dislexia, ap�s a morte do pesquisador pioneiro, o Dr. Samuel Orton, afirma que a falta de consenso no entendimento do que � Dislexia, come�ou a partir da decodifica��o do termo criado para nomear essas espec�ficas dificuldades de aprendizado; que foi eleito o significado latino dys, como dificuldade; e lexia, como palavra. Mas que � na decodifica��o do sentido da deriva��o grega de Dislexia, que est� a significa��o intr�nseca do termo: dys, significando imperfeito como disfun��o, isto �, uma fun��o anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, d� significa��o mais ampla ao termo palavra, isto �, como Linguagem em seu sentido abrangente.

Por toda complexidade do que, realmente, � Dislexia; por muita contradi��o derivada de diferentes focos e �ngulos pessoais e profissionais de vis�o; porque os caminhos de descobertas cient�ficas que trazem respostas sobre essas espec�ficas dificuldades de aprendizado t�m sido longos e extremamente laboriosos, necessitando, sempre, de consenso, � imprescind�vel um olhar humano, l�gico e l�cido para o entendimento maior do que � Dislexia.

Dislexia � uma espec�fica dificuldade de aprendizado da Linguagem: em Leitura, Soletra��o, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em Raz�o e C�lculo Matem�ticos, como na Linguagem Corporal e Social. N�o tem como causa falta de interesse, de motiva��o, de esfor�o ou de vontade, como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva como causa prim�ria. Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, � caracter�stica evidenciada em cerca de 80% dos disl�xicos.

Dislexia, antes de qualquer defini��o, � um jeito de ser e de aprender; reflete a express�o individual de uma mente, muitas vezes arguta e at� genial, mas que aprende de maneira diferente...

Fevereiro/2007
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