ADMINISTRAÇÃO & FINANÇAS PÚBLICAS

C - MINHA ADMINISTRAÇÃO EM CALDAS  DE JANEIRO DE 1973 A JUNHO DE 1975

                                          (Continuação)

 

FATOS PITORESCOS OCORRIDOS DURANTE A MINHA  ADMINISTRAÇÃO

Outro FATO PITORESCO que marcou a nossa administração aconteceu quando procuramos a gerência do Banco do Brasil, agência de Poços de Caldas, para solicitar um empréstimo para a compra de uma patrola, tendo em vista manter em qualquer tempo em condições de tráfego as estradas secundárias do município de Caldas, que tinha uma extensão aproximada de quatrocentos quilômetros, oferecendo ao homem do campo mais um elemento importante para a valorização na comercialização de sua produção e um benefício no que se refere ao custo de manutenção de seus veículos e máquinas.

Numa parceria entre o poder público e o cidadão, e após algumas reuniões, instituímos a taxa de conservação de estrada, tendo como fator de tributação a testada frontal do terreno e o compromisso de aplicar toda a sua receita na melhoria das estradas secundárias municipais, principalmente em material para conservação de estradas, tais como cascalho, madeira e ferros para pontes e mata burros.

Da nossa visita ao gerente do Banco do Brasil, agência de Poços de Caldas, recebemos desanimadora notícia de que para a Prefeitura o Banco não oferecia naquele momento nenhum tipo de empréstimo para aquela nossa necessidade. Agradecemos meios frustrados, mas não demos a luta por perdida, pois sentimos que havia por parte dos moradores da área rural um grande interesse em ajudar na solução deste problema.

Como cremos em Deus, buscamos suas bênçãos e misericórdia para nos ajudar. E Ele respondeu às nossas orações. E alguns dias depois recebemos um telefonema do gerente nos dando notícia de que o Banco do Brasil tinha aberto uma linha de crédito para as Prefeituras Municipais, tendo como garantia os recursos do PASEP.

Imediatamente fomos à agência para sabermos como proceder para obter o empréstimo e em que ele poderia ser aplicado. O gerente nos deu todas as informações necessárias, conforme especificado em um prospecto que anunciava aos prefeitos tal benefício.

Em uma semana preparamos toda a documentação, inclusive tivemos a contribuição ágil da Câmara Municipal, que aprovou o projeto de lei necessário para o levantamento pela Prefeitura do referido empréstimo, que só poderia ser aplicado na aquisição de máquinas e veículos necessários à prestação de serviço público à população. 

Voltamos à presença da gerência do Banco do Brasil e entregamos toda a documentação, tudo conforme a sua orientação. Após examinar, e verificar que estava tudo em ordem e correto, ele nos informou que no máximo entre quinze  e trinta dias o dinheiro já estaria à disposição da Prefeitura Municipal de Caldas p\ara aplicação na aquisição de uma patrol, dois caminhões (um para coleta de lixo e outro para serviço nas estradas vicinais do município) e uma camionete utilitária para atender ao Gabinete.

Passaram-se mais de quarenta dias e nada de aprovação do nosso pedido de empréstimo. Resolvemos procurar pessoalmente o gerente e fomos informados que estava dependendo da autorização da direção do Banco do Brasil em Brasília. Não convencidos, procuramos saber de forma sigilosa de um amigo e companheiro do Lion Clube, funcionário do banco, o que poderia estar acontecendo de verdade. Para surpresa nossa fomos informados por ele de que o funcionário do banco encarregado por tal aprovação e liberação estava acostumado pelos fazendeiros da região a liberar os empréstimos mediante a oferta de um valor monetário. Agradecemos ao amigo e companheiro do Lions e lhe informamos que nós não iríamos oferecer nada, mas que iríamos tomar a providências necessárias para a liberação do nosso empréstimo.

Resolvemos, então, mandar uma correspondência para o Diretor de Administração do Banco do Brasil, com sede em Brasília, o mineiro da zona da mata, mais precisamente de Manhuaçu, Dr. Mário Paccini, que tinha feito uma excelente administração na Superintendência do INSS de Minas Gerais e que como reconhecimento do seu trabalho sério, dinâmico e honesto tinha sido nomeado para aquele cargo, atendendo aos Estados de Brasília, Espírito Santo e Minas Gerais; contamos-lhe nos mínimos detalhes tudo o que acontecera e solicitamos-lhe ajuda.

Para surpresa nossa quarenta e oito horas depois recebemos comunicado do Dr. Mário Paccini nos agradecendo pela informação e nos informando de que o empréstimo já estava à disposição da Prefeitura. Agradecemos ao Dr. Mário Paccini e ficamos aguardando a mesma comunicação por parte do gerente do Banco do Brasil, agência de Poços de Caldas.

Dois dias depois recebemos um telefonema do gerente nos solicitando para comparecermos com urgência à sua sala pois ele tinha uma boa notícia para nos comunicar. Prometemos-lhe ir imediatamente e não comentamos que já sabíamos da liberação do empréstimo.

Chegando à agência fomos á sala do gerente que nos recebeu, mesmo estando atendendo a um casal. Para tristeza e surpresa nossa nossa ele nos pediu que fizéssemos uma correspondência para a direção administrativa do Banco do Brasil, em Brasília, desmentindo uma informação que fora dada àquela direção por alguém e referente ao osso pedido de empréstimo. Perguntamos-lhe, então, se a liberação do empréstimo estava sujeita a esta correspondência. Ele informou que não. Então nós lhe informamos que nós iríamos sim fazer uma correspondência para o Dr. Mário Paccini agradecendo-lhe pela atenção e presteza em atender a nossa solicitação.

Meio desapontado e muito sem graça o gerente nos agradeceu e informou que o empréstimo já esta à disposição da Prefeitura. Agradecemos-lhe e nos despedimos pensando mais ou menos assim (isto em 1974): será que o Brasil dos próximos anos conseguirá ter homens honestos, sérios e sinceros ocupando os cargos importantes da administração pública ou terá homens como este funcionário que para liberar um empréstimo, oriundo de recurso público, precisará de receber propina?

Deixo para você, prezado leitor, responder  a esta nossa pergunta. Até a próxima quinzena quando narraremos mais um FATO PITORESCO ocorrido em nossa administração no município de Caldas no período de maio de 1972 a junho de 1975.

nav
undefined
Mais...
1
Hosted by www.Geocities.ws

1