Evolução dos meios de comunicação[1]

Luiz Carlos Neitzel
Mestre em Mídia e Conhecimento
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 Num processo crescente, o homem desenvolveu a pré-escrita (modelagem), criou a xilografia (árabes), o papel, os caracteres móveis para impressão manual e a impressão mecânica. Assim, os escritos puderam atravessar distâncias geográficas e cronológicas, foram levados de um lado a outro do planeta e, ao transmitir conhecimentos entre pessoas de sua época, contribuíram para o registro da história humana.

Com o desenvolvimento da escrita alfabética, novas formas de transmissão de informações foram desenvolvidas, e um dos fatores novidativos é que, a partir de então, a história pôde ser registrada em detalhes. As informações podiam então “viajar” mais facilmente, sem necessitar da presença física de um contador, apesar de estes ainda hoje terem um papel fundamental em algumas sociedades (podem ser citados os trovadores da literatura de cordel, grupo que ainda produz uma literatura oral principalmente no nordeste do Brasil). Foram desenvolvidos meios de transportá-las que não necessitassem obrigatoriamente ter o próprio homem como portador e transportador, exemplo disso é a utilização de pombos-correio, do telégrafo (código morse), entre outros.

Debruçado sobre seus projetos, o homem avança e transforma o presente e o futuro, num constante processo evolutivo[2], sem que haja a simples substituição de uma técnica por outra, mas um “deslocamento de centros de gravidade”.[3] Constata-se que sempre há movimentos crescentes e sucessivos na história: da oralidade para a escrita, da escrita para a imprensa, desta para o rádio e para a televisão, até chegar-se à informática. O aperfeiçoamento dos meios de veicular a informação foram criados pela necessidade de o homem se comunicar. O ser humano, ao longo de sua história, mantém-se sempre na expectativa de desvelar novos horizontes, explorar territórios alheios, impulsionado pelo desejo de interação, de descoberta. A invenção da imprensa veio ao encontro desse desejo, “divide-se a História em antes e depois do surgimento da escrita”.[4]

Que se pense, por exemplo, na importância representada pela escrita ao ser introduzida por civilizações como a Sumeriana, a Egípcia e a Chinesa. Ela passou a ocupar o espaço privilegiado no qual se assentava a tradição oral, substituindo a efemeridade pela permanência, introduzindo novos hábitos. A partir de então, o homem não precisou mais se preocupar com a questão do apagamento das memórias, suas lembranças não mais dependiam da transmissão oral, passaram a ser registradas pela escrita[5], e estas, perpetuadas nos meios de registro utilizados em cada época.

Mas, apesar de a escrita se tornar a memória de um povo, de uma cultura, de vencer, sob este aspecto, a barreira do tempo, existiam alguns problemas. Os manuscritos inicialmente eram gigantescos, pesados, propriedades de bibliotecas, difíceis de manejar. O homem empenhou-se na popularização dessa técnica e, em 1450, recebeu um impulso com a imprensa de Gutenberg. Profecias apocalípticas foram efetuadas no hemisfério dessa descoberta por aqueles que detinham em suas mãos os manuscritos, modelos singulares, e não desejavam que esse saber estivesse ao alcance de todos, mas que continuasse limitado aos conventos e bibliotecas de acesso vedado ao povo.

Com o passar dos anos, essas profecias se esboroaram e o livro tornou-se móvel, disponível para apropriação e uso pessoal.

“Se o surgimento da escrita marca o início da história, a invenção, na Europa, da composição por tipos móveis e da técnica de imprimir ilustrações com chapas de metal gravadas, vai promover radicais mudanças no modo de pensar e de viver da sociedade. A divulgação do conhecimento se torna acessível a cada vez um número maior de indivíduos.”[6]

O jornal, conhecido inicialmente como folhetim, surgiu como veículo de transmissão de informações diárias. Ele era inicialmente lido em voz alta por um letrado. Até hoje tem a responsabilidade de levar a última notícia, mantendo atualizada a sociedade. No século dezenove, o jornal brasileiro era constituído basicamente de textos. Mesmo os anúncios publicitários utilizavam-se mais de estruturas textuais verbais, apostando largamente no poder argumentativo das palavras. No século vinte, os anúncios publicitários passaram a valer-se cada vez menos de textos verbais e cada vez mais de signos não verbais, símbolos e imagens que possibilitem uma outra forma de leitura, a icônica[7].

A impressão foi, durante muito tempo, a principal tecnologia intelectual de armazenamento e disseminação das idéias, mas, ainda não satisfeito, o homem continuou a sonhar com outras formas de comunicação que o aproximassem mais facilmente de outras culturas e divulgassem o saber produzido com maior rapidez e amplitude. O homem buscava conquistar um meio mais rápido de comunicação, de registro, e dedicou-se a aperfeiçoar os meios de que dispunha para diminuir a barreira da distância e do tempo, solucionar o problema da velocidade, pois somente após horas, dias, semanas é que a mensagem escrita no papel chegava às mãos do destinatário.

Um novo marco na história das comunicações estabeleceu-se com a invenção do rádio. Este tinha possibilidades de alcance muito maior e chegava mais rapidamente que qualquer outra mídia, principalmente no Brasil, cujo público letrado era bastante reduzido. O rádio, explorando a oralidade e a idéia da transmissão ao vivo, adentrou facilmente nos lares brasileiros. Como sua forma de transmissão e recepção necessitava apenas de uma estação emissora e aparelhos de recebimento, a mensagem podia chegar facilmente às pessoas, inicialmente em suas casas e, logo mais, com o surgimento de aparelhos portáteis, a qualquer parte a que esse aparelho fosse levado. Com o rádio, desenvolveu-se toda uma técnica de comunicação sonora em que o ouvinte era envolvido por uma série de recursos que o levam a vivenciar virtualmente (recorrendo ao seu imaginário) uma situação proposta, como, por exemplo, nas peças de teatro ou novelas transmitidas radiofonicamente. Os efeitos utilizados para simular chuvas, trovoadas, incêndios e toda uma infinidade de ruídos tinham como finalidade reproduzir uma cena real.

Popularizou-se na década de 70 a televisão. A partir de então, não só a palavra em forma de som poderia viajar pelo espaço, também a imagem em movimento a fazê-lo. É uma forma de comunicação em que a oralidade passa a dividir espaço com a comunicação da imagem, do símbolo, do movimento. A informação, além de ser falada, pode ser lida, vista, interpretada pelo receptor. A visão, sentido tão privilegiado nessa cultura, passa a ser o centro de explorações. Para o telespectador, assistir ao noticiário na televisão possui outra significação, há uma relação visual com quem transmite a informação, não é mais uma voz anônima ou um texto de alguém que não se pode imaginar quem seja. É uma pessoa que fala e mostra e se mostra a quem a assiste. A relação sujeito-transmissor-receptor mudou. O telespectador estreitou sua relação com o apresentador.

Com a evolução dos meios de comunicação mediáticos, no final do século XX, ocorre o agrupamento de todas as tecnologias anteriores. Surge uma tecnologia mais eficaz, que oferece todas as possibilidades já exploradas na imprensa, no rádio, na televisão, operando uma ultrapassagem: a possibilidade de interação e a velocidade com que tudo ocorre. O indivíduo não fica somente no papel de receptor passivo, há a possibilidade de escolha, há decisões a serem tomadas. O volume de informações emitidas é maior, bem como a rapidez com que chegam aos lares, oportunizando-se situações que as tecnologias anteriores não possibilitavam.

Pode-se ler o jornal de qualquer parte do mundo, assistir a uma entrevista, participar de conferências, ouvir músicas das mais longínquas regiões do planeta, trocar correspondências, ler, discutir, conversar, tudo em um único aparelho, uma “máquina comunicacional” chamada computador. Máquina que está conectada a milhares de outras, formando uma complexa rede, um rizoma informacional[8].

 


[1] NEITZEL, Luiz Carlos. Evolução dos meios de comunicação. In Dissertação de mestrado, UFSC: 2001. p 17 – 22.

[2] “O homem é o único ser que planeja. Joga-se para além de si, não aceitando o que a natureza lhe propõe nem o destino. (...) O futuro é dimensão fundamental do homem. Pelo projeto, torna-se senhor do futuro. Analisa o passado, retoma-o na memória, para ir adiante com ele ou apesar dele.” ALMEIDA, Fernando José de. As aparências enganam. In: BRASIL. Salto para o Futuro: TV e Informática na Educação / Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, SEED, 1998. p. 78.

[3] “Que isto fique claro: a sucessão da oralidade, da escrita e da informática como modos fundamentais de gestão social do conhecimento não se dá por simples substituição, mas antes por complexificação e deslocamento de centros de gravidades. O saber oral e os gêneros de conhecimento fundados sobre a escrita ainda existem, é claro, e sem dúvida irão continuar existindo sempre.” LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. p. 10.

[4] FIALHO, Francisco Antonio Pereira. A eterna busca de Deus. Sobradinho, DF, EDICEL, 1993, p. 15.

[5] "L'ecriture est um système graphique qui permet de fixer la parole ou la pensée à travers l'espace et le temp." SABARD. op. cit., p. 4.

[6] FIALHO, op. cit., p. 41.

[7] Linguagem através de signos não verbais que apresentam semelhança ou analogia com o contexto em foco.

[8] “(...) o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traços não remete necessariamente a traços de mesma natureza; ele põe em jogo regimes de signos muito diferentes, inclusive estados de não-signos.” In: DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Aurélio Guerra e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. p. 32.

 

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Publicado em Set./2003

Última atualização: 03/07/08 02:50:43

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