O RAPAZ DA CAMISOLA VERDE - Lembro o seu vulto, esguio como espectro, Naquela esquina, pálido, encostado! Era um rapaz de camisola verde, Negra madeixa ao vento, Boina maruja ao lado...  De mãos nos bolsos e de olhar distante - Jeito de marinheiro ou de soldado... Era um rapaz de camisola verde, Negra madeixa ao vento, Boina maruja ao lado.   ...,...  Pedro Homem de Mello
Pedro Homem de Melo           

Colecção Poesia de Autores Portugueses

Povo que Lavas no Rio - Pedro Homem de Melo

2205 - 11,00 €

Desmemória - José Augusto Seabra

441 - 2,20 €

Memória do Presente - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Entre Mim e o Outro - Jacinto de Magalhães

1218 - 6,08 €

Os Poemas de Álvaro Feijó - Álvaro Feijó

651 - 3,25 €

Média Vita - Fernando Echevarria

336 - 1,68 €

Cântico e Eucalipto - Aureliano Lima

336 - 1,68 €

Obra Poética - Saúl Dias

2751 - 13,72 €

Assim - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Elsinore - Raul de Carvalho

1659 - 8,28 €

O Festim das Serpentes Novas - Isabel de Sá

336 - 1,68 €

Espelhos Paralelos - Aureliano Lima

336 - 1,68 €

Colhendo o Vento nos Frutos - Joaquim de Matos

336 - 1,68 €

Golpe de Sol na Lucidez Amarga - Almeida Matos

441 - 2,20 €

Os Rios e os Lugares - Aureliano Lima

546 - 2,72 €

Roteiro Poético de Vila do Conde - Ant Lop Ferreira

546 - 2,72 €

Ao Acaso - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

O Leito e a Casa - Aureliano Lima

609 - 3,04 €

Da Estupidez - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Adivinha: Estilicídio e Encíclia - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Estes Vários Aquários - Afonso Moura Guedes

1155 - 5,76 €

Nem Prosa Nem Poesia - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Em Questão - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

13 Sonetos de Vila do Conde - Antero de Quental

2856 - 14,25 €

O Presente, a Presença. - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

O Princípio do Eco - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Teoria da Disponibilidade - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Por Esta Avenida Sem Fim - Manuel de Varziela

1974 - 9,85 €

Crítica das Representações - Silva Carvalho

1323 - 6,60 €

Quadras Deste Lugar à Margem - Manuel Varziela

1701 - 8,48 €

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«POVO QUE LAVAS NO RIO»

Pedro Homem de Mello

         

               Prefácio por José Régio:

 

          A Vida e a Morte, eis as duas grandes presenças de Povo que Lavas no Rio: livro que todavia se diria o mais fácil, o mais popular, ousarei dizer o mais cândido, de Pedro Homem de Mello. Neste livro se intercalam cantigas do povo com poemas do autor, e, além de poemas, - contos, evocações, descrições, divagações, memórias…

          Dos poemas de Povo que Lavas no Rio tenho vindo falando nesta primeira parte desta espécie de prefácio. Alguns desses poemas são admiráveis; e em todos se manifesta uma arte (e uma sensibilidade) que naturalmente funde o tradicional e o moderno. Semi-poéticas e semi-realistas, umas vezes mais escritas e outras mais oralizantes, umas vezes atingindo uma simplicidade de alto efeito (como no fecho de certas narrativas ou anedotas) e outras quase desarticuladas ou próximas do que se costuma chamar «prosa de poeta», que não é grande prosa, - As prosas de Povo que Lavas no Rio podem não alcançar a firmeza da poesia em verso do autor. Na poesia em verso é ele mais experiente. Nem por isso manifestam menos a autenticidade da sua arte. Livro gerado nas andanças do poeta por terras portuguesas (e como as toponímias nele cantam, se multiplicam!) em razão do seu interesse pelo folclore vivo e do seu amor pelo povo, - o que anima este livro é sobretudo a sinceridade profunda desse interesse e desse amor. O povo e a paisagem são os seus grandes figurantes. Da viva, fresca sensibilidade do poeta perante a paisagem e o povo lhe vem toda a força. Nas danças do povo e na sua indumentária, nos gestos ou atitudes do povo e nos seus tipos físicos, se entretêm, embevecidos, os olhos da cara do poeta, enquanto os seus ouvidos captam as suas cantigas e melodias. Mas os olhos da cara dos poetas nunca são só da cara – correspondem-se com os da alma; e os da alma vão ao fundo das aparências. Assim algumas frases podem bastar a fazer ver e a fixar certas figuras populares, como o não conseguem às vezes longos períodos de romancistas e psicólogos mais ou menos encartados. Tornam-se inesquecíveis algumas figuras de Povo que Lavas no Rio, - e quase nos surpreende que adquiram tal relevo com tal economia de meios. Mal perpassam no livro, e ficam. Poetizadas? Mas não, pelo menos no sentido vulgar. Também de crueldade, manha, extravagância ou petulância não são isentas as mais delas. Mas o que ressalta, e a tudo resiste, é a sua dignidade verdadeira; é a nobreza humilde das suas próprias convenções e superstições; é frequentemente uma religiosidade, para não dizer sentido do sagrado, que penetra o seu mesmo paganismo espontâneo; e é aquela espécie de inocência com que até à borda do crime, sob a ameaça da fatalidade, a festa prossegue e viva a dança! Não poetizadas, pois, no sentido mais vulgar, as figuras deste livro só aparentemente ligeiro são poéticas em si mesmas, - na realidade da sua vida e da sua morte. A vida e a morte (escrevi há pouco) eis as duas grandes presenças de Povo que Lavas no Rio. Pois não andam a Vida e a Morte, e os ritmos do Tempo e a festa e o fim-de-festa, quase sempre de mãos dadas na vida do povo? Pedro Homem de Mello sabe que os divertimentos do povo, os seus ritos, os seus costumes, as suas convenções, não são tão sérios senão porque ressoam de essas duas grandes presenças. E também sabe que em todos nós podem achar ecos profundos, pois ainda muito expressam do homem primitivo mais ou menos vivo ao fundo de todos nós.

José Régio

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Capa da obra de Saúl Dias - ESSÊNCIA - Perder é achar a essência do que se perdeu. Assim, eu para sempre te guardo, recatada, tal a peça doirada no museu... 

«OBRA POÉTICA» SAÚL DIAS - MÚSICA - A doce, iriada melodia, roxa sombra na tarde escarlate, chorosa, ouço-a; bate e verte quentura na minha alma fria. Quantos anos galgaram lépidos, furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça! E não há tempo que, húmido, arrefeça a toada suave de tons tépidos... Remédio para as minhas feridas, para os nervos pacífico brometo, quando eu seguir no caixão preto, entre velas e ladainhas, meus ouvidos tapados a algodão hão-de ouvi-la, tal como nessa tarde, tão discreta, suave e sem alarde, sobrepondo-se ao cantochão...

Por Saúl dias

 

 

         Viver «em pintura e «em desenho»; viver «em poesia»: tal como se diz «viver em religião». E viver em pintura e em desenho, viver em poesia, simultaneamente, "pari passu", ao longo de já um tanto mais de cinquenta anos, esse tem sido o ininterrupto destino de um homem extremamente discreto, mas também extremamente desperto, cujos papéis de identidade referem como Júlio Maria dos Reis Pereira, engenheiro civil, — e que todavia é incomparavelmente mais conhecido, ora apenas sob o primeiro dos seus nomes próprios quando se trata de pintura ou desenho, ora sob o pseudónimo de Saúl Dias quando escreve os seus poemas.

         Duas, três pessoas diferentes? Uma só verdadeira. E tanto que, sobrepondo-se ao ente social que lhe serve de suporte, não cessa de maravilhar, de inquietar, de apaziguar, de exaltar e de enternecer, desde que desdobradamente começou a exprimir-se. Através de linhas ou de sílabas, de cores ou de palavras, de metáforas plásticas ou de grafismos verbais, a pessoalíssima obra — bifronte — do pintor Júlio e do poeta Saúl Dias nunca tem deixado de coerentemente perseguir, pela renovada comunicação das mesmas nostalgias e das mesmas obsessões, os mesmos supremos objectivos de revelação do Mundo e do «seu» mundo, do «seu»mundo no Mundo, do Mundo no «seu» mundo.

         Uno e diverso, o universo de Júlio e Saúl Dias vive essencialmente de tais confrontos, de tais acareantes justaposições. Paradoxalmente, nos versos, é o mundo exterior o que mais amiúde se vê «por cima», enquanto, nas telas e nos desenhos, o sussurro do mundo interior o que melhor se ouve «à superfície»... Mas do intrínseco diálogo entre os dois, por ser constante, resultam a espessura e a transparência, ambas inconfundíveis, de cada poema-quadro, de cada quadro-poema. O que obviamente não explica, de modo algum, este profundo mistério insondável: o de assim se viver, com tão ambígua fidelidade, como quem «vive em religião», simultaneamente no Mundo e no «seu» mundo — no seu mundo de pintura e de desenho, no mundo da sua poesia.   (de: Prefácio por David Mourão-Ferreira)

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«DESMEMÓRIA»

Por José Augusto Seabra

 

         Tão só palavra.

         Soante em quase forma, reticente, nua limpa já pressente o sopro do gesto que ousá-la deseja. Por densas ervas, encentrantes sentenças, errante vai a mão que insinuante tece. Cadenciando em passos oraculares, acolhe a flama que fremindo abrevia efectivos e idos sentidos. A talhar já uma das travessas, olha avessa o vale, acariciando distâncias, margeando o herdado.

         Na dança da mão que desmancha, já acena. Desvestida de feridas profecias, festeja o demasiado e arde polissílaba. De raízes silenciosa? Lenta, ainda se ousando em dança, alcança o som e lança o passo, passa, repassa e pára: efémera dança de uma dança sucessiva, acena assim em declíneo, declinando sons, diluindo o número.

         Do som centro, suspende o suspiro o tempo o espaço surpreende-se inventado. Nasce então termo anverso do verso tão narrado, narrando também estas ausências, enterradas, integradas, inteiradas nestas distâncias. Lugar que se eleva profundo e em ânsias erra fundo um corte na página entreerrante de nem ser — não ser — condição infinita, infinito fundamento de um corpo gravidando. Incorporando-se inventa, investe seus próprios limites no prazer da relação, continuação, condenação: instantes pontuando consoantes o ritmo evanescente do desejo despontando nascente. (...) (de: DE(S)LEITURA por: Norma Tasca)

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«OS POEMAS DE ÁLVARO FEIJÓ»

Por Álvaro Feijó

 

 

         Álvaro Feijó morreu com 24 anos, a 9 de Março de 1941, tendo publicado em vida um único livro de versos — Corsário — que veio a lume em 1940. Poucos meses depois da sua morte, alguns dos seus amigos, condiscípulos e camaradas de letras, grupo a que pertenci, fizeram sair na colecção coimbrã «Novo Cancioneiro» um volume que compreendia a reedição integral do Corsário, toda a produção que se destinava a um futuro livro deixado incompleto — Diário de Bordo — e uma escolha dos seus primeiros versos.

         Hoje, vinte anos volvidos, a poesia de Álvaro Feijó mantém-se válida e perene, ou melhor, estes vinte anos foram a pedra de toque da sua sobrevivência e até da sua originalidade, que podemos agora reconhecer melhor se volvermos os olhos, já desapaixonadamente críticos, à floração poética neo-realista daquele tempo. Devo mesmo declarar, antes de mais, que considero Álvaro Feijó um grande poeta. Morto no alvorecer da vida, atingindo a maioridade poética entre os 21 e os 23 anos, a sua voz aparece-nos de súbito com um timbre próprio, para calar-se logo a seguir, é certo, mas ainda a tempo de nos legar uma colectânea de versos que se me antolha de especialíssima importância no conspecto da poesia portuguesa posterior à Presença.  (Por: João José Cochofel)

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«ENTRE MIM E O OUTRO»

Por Jacinto de Magalhães

 

         Neste tempo de linguagens estilhaçadas, em que a proliferação dos códigos foi fracturando o «espaço literário» e transgredindo infinitamente os seus limites, entrou já no domínio da sensibilidade comum o contágio do poético e do científico, que as vanguardas futuristas, no princípio do século, com grande escândalo ensaiaram. Se a solicitação da poesia ou da arte era ainda, para os homens de ciência do passado, um derivativo ou um escape, em momentos de privilegiado abandono, ela acabou por vir a tornar-se uma nacessidade do nosso imaginário quotidiano. Que o binómio de Newton seja «tão belo como a Vénus de Milo», pode considerar-se hoje uma evidência. Mas já seria difícil continuar a dizer, como Álvaro de Campos: «O que há é pouca gente para dar por isso». Pois, como escreve Jacinto de Magalhães:

 

         «Ser incómodo é ser 897 F – 24 – c – ½ Z,

 

         O que toda a gente vê ser um número desagradável».

 

         A invasão da Ciência foi tal, neste nosso «mundo estatístico» cujo logocentrismo parece entrar em agonia, que os pensamentos se volveram autênticas «expressões algébricas». Mas, por isso mesmo, e reversivelmente, «pensar esfera é pensar poeticamente na geometria»; ou, num quiasmo revelador da obsessão do poeta, «geometria é pensar poeticamente o universo». Assim a linguagem do poema investe a linguagem do cálculo e do laboratório, num contágio recíproco; sinal de que uma e outra estão em crise.

         Jacinto de Magalhães, médico geneticista que dirige no Porto um Centro de investigação, com uma vasta e qualificada obra na sua especialidade, é o exemplo mesmo do cientista com vocação poética, ou do poeta com vocação científica. Por isso a lógica do seu discurso escapa à prisão de qualquer código referencial, para esposar a «contradição complementar» de que tanto a ciência como a poesia participam, segundo Stéphan Lupasco.  (...)  (de: Prefácio por José Augusto Seabra)

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  COM OS MORTOS - Os que amei, onde estão? idos, dispersos, Arrastados no giro dos tufões, Levados, como em sonho, entre visões, Na fuga, no ruir dos universos...  E eu mesmo, com os pés imersos Na corrente e à mercê dos turbilhões, Só vejo espuma lívida, em cachões, e entre ela, aqui e ali, vultos submersos...  Mas se paro um momento, se consigo Fechar os olhos, sinto-os a meu lado De novo, esses que amei: vivem comigo, Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também, Juntos no antigo amor, no amor sagrado, Na comunhão ideal do eterno Bem.

«13 SONETOS DE VILA DO CONDE»

Por Antero de Quental

 

         Vila do Conde, com o seu aspecto Medieval, com o seu enorme convento sobranceiro ao mar, atrai o poeta e torna-se o seu último refúgio no continente. É para uma pequena casa situada na praça mais antiga da vila que Antero vai morar, levando consigo os seus livros e as novas descobertas da sua metafísica: O Nirvana e a morte. Longe do burburinho de Lisboa, das suas intrigas políticas e da sua mesquinhez literária, Antero sente que depois de prolongada luta tinha alcançado, enfim, a bonança necessária, o sossego de espírito e de coração a que há muito aspirava.

         A sua vida em Vila do conde é mansa, quieta, patriarcal. Em casa, o convívio com as duas filhas de Germano Meireles. De tarde dá longos passeios pela vila fora, vai até à Senhora da Lapa, até Azurara e muitas vezes até ao Mindelo, o local onde seu pai desembarcou como soldado liberal para combater o absolutismo.

         O mar é a sua grande atracção, o único motivo cósmico que o tocou profundamente, ora brando ora revolto. Ele era o espelho da sua alma inquieta, o reflexo natural da sua vida agitada; recorda-lhe a sua infância, a sua ilha, a sua solidão imensa cheia de vagas e de ressonâncias. O Ave faz-lhe lembrar o Mondego. O casario da Vila, subindo em anfiteatro até ao convento, é a recordação da Coimbra «encantada e quase fantástica» da sua mocidade.  (...)  (de: Introdução por António Ramos de Almeida)

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