Edições Integradas nas Comemorações
do
Cinquentenário da «Presença» (encad) |
|
4935 - 24,62€ | |
José
Régio e a História do Movimento da Presença-João Gaspar Simões |
3990 - 19,90€ |
3780 - 18,85€ | |
Régio,
Casais, a “Presença” e Outros Afins - Jorge
de Sena |
3990 - 19,90€ |
3990 - 19,90€ | |
Revista
«Presença» (número comemorativo) |
5460 - 27,23€ |
«PÁGINAS DE DOUTRINA E CRÍTICA DA PRESENÇA»
Por
José Régio
Depois de ter copiado, atenta, beneditina, generosamente, pelo seu próprio
punho, todos os textos, assinados, ou não assinados, que José Régio publicara
na presença, nos treze anos que duraria essa «folha de arte e crítica»
por ele fundada em 1927, em Coimbra, com Branquinho da Fonseca e o autor destas
linhas, Alberto de Serpa, secretário da redacção da perseverante revista na
sua derradeira fase, renunciou a confiar à casa editora das Obras Completas
do autor do Jogo da Cabra cega o operosíssimo trabalho que levara a
cabo. Porquê? Porque entendeu que, perante a complexidade da tarefa que tinha
por indispensável à fixação correcta da matéria desses textos, (muito havia
a fazer ainda, trabalho de anos, para uniformizar, como era mister, a grafia e
outros pormenores dessa colaboração avulsa), e atenta a urgência em dá-los
à estampa, uma vez próxima a comemoração do cinquentenário do aparecimento
da presença, melhor seria que outrem chamasse a si esse encargo,
disposto a sobrepor aos escrúpulos de uma edição rigorosa a oportunidade de
uma data altamente significativa.
Foi então que os herdeiros do escritor, o editor das Obras Completas
e o próprio autor deste prefácio, de acordo com Alberto Serpa, reconhecida a
urgência da impressão do trabalho, para que o seu aparecimento coincidisse com
a data do quinquagésimo aniversário do advento da presença, decidiram
que outrem assumiria, de facto, a responsabilidade de o dar à estampa tal como
estava, isto é, sem uma escrupulosa uniformização gráfica e ortográfica.
Ora essa responsabilidade acabou por ser remetida ao signatário destas linhas.
Em verdade, pensámos, não estávamos perante textos linguísticos de
tal transcendência que se não pudesse obviar, publicando-os, aos
inconvenientes de qualquer possível irregularidade na sua transcrição das páginas
da revista onde tinham visto a luz, inclusivamente com «gralhas», fazendo com
menos rigor do que o teria feito o próprio José Régio, se fosse vivo, ou
qualquer autoridade filológica encarregada de proceder a uma edição crítica
dos mesmos textos. A urgência sobrepunha-se, realmente, ao rigor da edição,
concluímos.
Tendo sido José Régio o principal doutrinário da presença e
celebrando-se, em 1977, o meio século decorrido sobre o aparecimento do
primeiro número da revista, afigurou-se-nos — a mim principalmente — que
constituiria um lapso grave, atenta a dificuldade na consulta de tão rara
publicação, o não facultar ao leitor dos nossos dias o conhecimento directo
das páginas de doutrina, crítica, polémica, comentário, etc., que José Régio
inserira, durante treze anos, na publicação de maior significado literário,
na história das letras nacionais, depois do aparecimento de Orpheu. E nesta
ordem de ideias chamei a mim, aceitando o encargo, muito conscientemente, tal
responsabilidade, embora certo de que a edição que apresentaria ao leitor não
seria modelar, muito longe disso. Tempo não faltaria contudo, pensei, aos
vindouros, para corrigirem o que por agora sairia menos perfeito. Aliás a
circunstância de o autor deste prefácio publicar, pela mesma altura, um livro
intitulado José Régio e a História do Movimento da «presença» decididamente
concorria para que ele pusesse o maior empenho em dar a conhecer os documentos
doutrinários e críticos que o seu camarada de direcção deixara espalhados
pelas páginas da folha que haviam fundado e dirigido. Desta sorte o livro de
José Régio seria como que o complemento desse outro meu, ou, se quiserem, esse
outro livro seu seria como que o complemento deste outro de José Régio. (...)
(de: Prefácio por João Gaspar Simões)
E
A HISTÓRIA DO
Por
João Gaspar Simões
Aproveitando a
data que este ano se celebra — o aparecimento em Coimbra, a 10 de Março de
1927, do primeiro número da revista Presença—, lembrei-me de reunir
num volume não só o texto, refundido, do livro que em 1957 dei à estampa sob
o título de História do Movimento da «Presença», mas alguns outros
textos e documentos em meu poder capitais para o conhecimento da vida e da morte
dessa «folha de arte e crítica» que veio a ocupar uma situação única na
história das letras e das artes do nosso país na primeira metade do nosso século.
Com efeito reunem-se neste volume, além do texto, refundido, da citada História
do Movimento da «Presença», agora sob o título de Como Nasceu e
Morreu a «Presença», o qual ocupa a sua terceira parte, uma primeira
parte intitulada José Régio na Perspectiva da «Presença», e ainda
uma segunda, a que o autor chamou de Memórias Avulsas, além de uma
quarta, sob a rubrica de Cartas de José Régio a João Gaspar Simões sobre
a Vida e a Morte da «Presença». Em Apêndice juntam-se alguns
textos documentais que servem para comprovar os termos em que, na terceira
parte, Como Nasceu e Morreu a «Presença», o autor desta obra, de carácter
mais autobiográfico que propriamente histórico, relata alguns dos mais
importantes episódios do nascimento e da morte da revista de que ele é
presentemente, cinquenta anos após a sua fundação, o único director vivo.
Classificando como texto autobiográfico (as suas Obras Completas,
em publicação pela Brasília Editora, arrumam-se em cinco rubricas: Autobiografia,
Biografia, Ficção, Ensaio e Teatro) o presente texto, muito
conscientemente entende o seu autor que a obra onde reúne matérias tão díspares
se situa mais no âmbito do depoimento pessoal que no âmbito da história
propriamente dita. Protagonista de um acontecimento com repercussões incontestáveis
na cultura portuguesa não podia ele, protagonista que foi do acontecimento em
causa, situar-se num ângulo que não fosse o de alguém que reúne em si
atributos de testemunha e de agente do fenómeno que relata. O seu livro, o
livro que presentemente dá à estampa, e que faz parte de um ciclo de comemorações
programadas para celebrar o cinquentenário da «folha de arte e crítica»
coimbrã, num ponto, todavia, ganha vulto: Nele pela primeira vez vêm a lume os
documentos epistolares que José Régio, a mais representativa figura do
movimento presencista, endereçou, entre Fevereiro de 1927 e Setembro de 1940
— ao longo de treze anos que durou a vida da Presença —, ao seu
camarada na direcção da revista por eles dois fundada, com Branquinho da
Fonseca, cumpriram-se agora cinquenta anos. As quarenta e seis cartas,
seleccionadas, entre a centena e meia de cartas que José Régio endereçou ao
autor deste livro, nos quarenta e tal anos que duraram as suas relações de
amizade, constituem documentação inestimável para comprovar o que o
memorialista da História do Movimento da «Presença» já adiantara no
seu trabalho de 1957 e agora confirma neste, de 1977.
Amizade difícil, por vezes, não é essa amizade que está em causa nas
presentes páginas, mas a maneira como se desenvolveram quer as relações entre
José Régio e o autor delas, os dois mais constantes animadores da Presença,
quer o itinerário que seguiu a mesma revista durante os treze anos em que ambos
lutaram pela sobrevivência, não poucas vezes quase milagrosa, da sua «folha
de arte e crítica».
Morreram, entretanto, José Régio, Branquinho da Fonseca e Adolfo Casais
Monteiro. Apenas resta quem estas páginas subscreve, e naturalmente não por
muitos anos, como é timbre da implacável lei biológica. Nada fez, porém, o
sobrevivente para sobreviver, além de ter consagrado a sua longa existência à
diuturnidade de uma prática implícita nos princípios fundamentais da revista
que ajudou a fundar: aquela que se inscreve no trabalho intelectual
absolutamente livre, absolutamente independente. A lição da Presença, quando
outra lição não tivesse dado à inteligência portuguesa, em algo de muito
palpável se resume, que é ter mostrado, particularmente ao autor deste livro,
que o espírito só é espírito enquanto vive na liberdade a que pode aspirar
quem veio ao mundo num mundo onde a liberdade do espírito de dia para dia está
mais condicionada. Eis por que esse homem morre orgulhosamente pobre e
independente, mas morre sem amarras, morre exactamente como sempre viveu,
segundo ele — e a Presença — a única maneira de um intelectual viver e
morrer de acordo com a sua missão de intelectual. (de: Justificação Necessária
por J.G.S.)
«JOSÉ
RÉGIO — O SER CONFLITUOSO»
Por
Luiz Piva
A poesia de José Régio é a expressão consumada de um projecto moral. Importa observar, no entanto, que a moral não é um problema de codificação ou legislação tradicional; não é uma metafísica dos costumes; é, sim, uma actividade criadora, um problema humano de vida ou de morte. Neste sentido, concebendo-se a poesia como experiência moral, como consciência literária da existência, o projecto moral de José Régio se nos revela como experiência poética.
Em demanda do princípio espiritual de uma vida nova, que pressupõe uma
transformação qualitativa da consciência, o poeta se pergunta a si mesmo pela
morte, e pergunta à morte por si mesmo, por seu próprio destino. Assumindo
esta interrogação radical, o poeta experimente, na força do espírito e no
calor do sangue, a conversibilidade dos termos extremos da vida e da morte, do
bem e do mal, de deus e do diabo. A experiência poética desta conversão dos
termos extremos — que se unem e coincidem em um só, no meio do caminho da
vida, no meio do caminho da morte —, constitui o itinerário espiritual que,
como mistério da alma, singulariza o projecto moral de José Régio.
Com o objectivo de explicitar, interpretar e, sobretudo, compreender e
tornar compreensível o sentido e o alcance da vida que o poeta para si mesmo
delineou, articula-se o minucioso estudo de Luiz Piva. Para além dos diversos méritos
de sua investigação, sobressai, com particular ênfase, o decidido esforço de
esclarecimento hermenêutico, estrategicamente orientado para a compreensão e
avaliação do projecto moral de José Régio. (...) (de: "O projecto moral
de José Régio" por Ronaldes de Melo e Souza)
«RÉGIO,
CASAIS, A "PRESENÇA" E OUTROS AFINS»
Por
Jorge de Sena
Quando a Brasília Editora me convidou a reunir em volume quanto
escrevera sobre a presença e vários presencistas, aceitei gratamente a
ideia, e preparei o presente volume, em que o escrito mais antigo era
exactamente a primeira crítica (a um recém-publicado livro) que escrevi — em
1942 —, e o mais recente era um artigo em memória de Casais Monteiro, que se
publicou no Brasil em 1974, mas é desconhecido em Portugal. Não garanto que
tudo quanto escrevi com algum possível interesse de recolha em livro, a tais
temas referente, esteja aqui: mudar duas vezes de continente (e num deles cruzá-lo
depois de um lado para o outro, como já me sucedeu nos Estados Unidos) não é
muito bom para os arquivos de ninguém, que sempre ficam para trás ou se
extraviam que mais não seja adentro deles mesmos, quando as mudanças os
baralham. Creio, todavia, que está aqui, mais ou menos, tudo o que, por uma razão
ou outra, importará em tão já longo período de vida minha e de vida literária
portuguesa. E preparava eu um daqueles vastos e substanciosos prefácios que
tanta gente admira em mim e outros detestam tanto (o que contribui muitíssimo
para que eu os escreva), quando David Mourão-Ferreira, como Secretário de
Estado da Cultura, e João Gaspar Simões, como comissário para as comemorações
nacionais do Cinquentenário da presença e representando os «presencistas»
de sempre, me convidaram para proferir, a conferência digamos oficial do
acontecimento que seria, em Coimbra, na inauguração da exposição iconográfica
e bibliográfica, celebratória da revista e dos que em torno dela ou ao lado
dela se impuseram ao respeito na História da Literatura Portuguesa, conferência
essa e inauguração essa que aconteceram a 7 de Junho do corrente ano, no admirável
ambiente do Museu Machado de Castro. Porque, como é sabido, a proferi (e com
emoção partilhada pelos promotores e o imenso público que enchia a sala), eu
aceitei com desvanecimento a honrosa incumbência. Ao fim de trinta e cinco anos
de escrever sobre a presença por certo muito menos do que outros, sem «presencistas»
serem como eu não fui, terão escrito, a mim me convidavam para tão
significativa ocasião; e não acho que tenha sido melhor do que outros às
vezes o foram. Aceitei, porém, o convite, porque ele selava trinta e cinco anos
escritos de uma camaradagem iniciada em 1939, há quase 40 anos, e muitas
amizades com «presencistas», que datam dessa data ou perto dela. E, ao fazê-lo,
cumpre-me dizer aqui que o fiz sabendo representar todas as gerações mais
novas que os «presencistas ou não», ou delas os elementos capazes de
respeitar e de admirar a literatura que tanto nos precedeu como prosseguiu e
prossegue ainda ao nosso lado, na obra dos que ainda não deixaram, quais
outros, a nossa companhia. (de: Uma
nota introdutória por Jorge de Sena))
Em dois sentidos, pelo menos, poderá entender-se o título desta colectânea
de notas, artigos e ensaios: presença da presença no amplo contexto da
vida cultural portuguesa; presença da presença no âmbito restrito dos
meus próprios interesses e preocupações críticas.
Quanto ao primeiro de tais sentidos, confessarei que não deixa ele de
envolver um vago intuito apologético; ou de porventura subentender mais a
formulação de um voto que a expressão de uma realidade. Com efeito, a presença
da presença na vida cultural portuguesa tem estado bem longe de ser o
que merece, já porque a presença se mostra, ainda hoje, asfixiadamente
emparedada entre o movimento que a precedera (o Orpheu) e o movimento que
se lhe seguiu (o neo-realismo), já porque os valores que ela corajosamente
teimou em defender se veriam amiúde postergados — quando não mesmo cobertos
de ridículo — pelas mais recentes camadas da intelligentsia nacional.
Tais valores talvez seja possível sumariá-los nas seguintes alíneas:
primado absoluto da liberdade de criação; preeminência do individual sobre o
colectivo, do psicológico sobre o social, do intuitivo sobre o racional; princípio
da total independência da arte e da crítica em relação a qualquer poder; prática,
enfim, da mais tónica intransigência perante todas as expressões inautênticas,
todas as glórias fáceis ou fabricadas artificialmente, todos os produtos e
todas as manobras da mediocridade mais ou menos organizada. Mas igualmente
assinalável foi o facto de a presença não se haver cingido a
desencadear e desenvolver tais acções no plano meramente doutrinário; e de
ter antes tratado de acompanhar essa mesma doutrina — ou afirmação teorética
desses valores — pela realização e apresentação de obras concretas, através
das quais se revelava, ou ia confirmando, toda uma notável constelação de
novos poetas, novos ficcionistas, novos dramaturgos, novos críticos, novos ensaístas
e novos artistas plásticos. (...)
(de: Intróito)
Número
comemorativo
Comemora-se neste número único da presença a passagem dos
cinquenta anos decorridos sobre a data em que viu a luz em Coimbra a «folha de
arte e crítica» sob o ousado título que a ousadia dos seus colaboradores iria
tornar presença imorredoira nas letras e nas artes portuguesas. 10 de Março de
1927 é a data do primeiro número da revista que José Régio, Branquinho da
Fonseca e João Gaspar Simões trouxeram a público e que durante treze anos —
entre Março de 1927 e Fevereiro de 1940 — defenderia um programa de «literatura
viva», esse mesmo programa que José Régio traçou no artigo com que abriu o
primeiro número da publicação coimbrã. Até 1930 — precisamente até Julho
desse ano — manteve-se na direcção o triunvirato fundador da presença.
Durante um ano, até ao número vindo a lume em Outubro de 1931, dirigiram-na
apenas José Régio e João Gaspar Simões. A partir daí, os mesmos directores
e Adolfo Casais Monteiro. Presença sofreria, em Novembro de 1939, altura
em que muda de formato e entra na sua segunda série, tendo como secretário de
redacção Alberto de Serpa, uma transformação gráfica profunda. Sob essa
nova conformação gráfica conhece apenas alguns meses de vida: acaba,
precisamente, em Fevereiro de 1940, publicados que foram dois números da nova série.
Para comemorar os cinquenta anos decorridos entre Março de 1927 e Março
de 1977, o único director vivo, aquele que subscreve esta nota, e o secretário
da redacção da segunda série da mesma, o poeta Alberto Serpa, secundados pela
Brasília Editora, graças ao entusiasmo do seu director, J. Carvalho Branco, e
apoiados pela Secretaria de Estado da cultura, que tem à sua frente um poeta da
nomeada de David Mourão-Ferreira, chamaram a si a iniciativa da publicação
deste número único da presença onde figurariam inéditos dos seus
directores desaparecidos — tanto do primeiro como do segundo triunviratos —
e dos seus colaboradores infelizmente mortos ou felizmente ainda vivos. Para tal
lançámos um apelo às duas dezenas de escritores e artistas presentes nas páginas
da presença quer a título eventual quer a título permanente. Alguns
— bastantes — corresponderam ao nosso apelo, outros não lhe deram ouvidos.
O texto deste número único da nossa «folha de arte e crítica» é, pois,
constituído quer por colaboração propositadamente enviada para nele figurar
quer por material literário e artístico inédito guardado nos arquivos da
direcção da presença. Deste número fazem parte os inéditos de
Fernando Pessoa, de Álvaro de Campos, de António Botto, de João Falco, de
Adolfo Casais Monteiro, de Branquinho da Fonseca, de Raul Leal, de Carlos Queirós,
de Olavo, de Luís Cardim, de Tomaz Kim, de António de Navarro. A demais
colaboração foi-nos gentilmente proporcionada pelos colaboradores da presença
que quiseram associar-se à presente comemoração. Bem hajam.
(de: João Gaspar Simões "atenção aos nossos leitores")