JOSÉ RÉGIO
Um poeta de Portugal - e que poeta...
o maior dos vivos!
(Manuel Bandeira 1942)
José Régio
(1901-1969)
José Régio (pseudónimo literário de José Maria dos Reis Pereira) nasceu em Vila do Conde, em 17 de Setembro de 1901. Poeta, dramaturgo, romancista, crítico, ensaísta, professor, memorialista, é talvez a figura literária mais completa do século XX. A sua vida, para além das suas actividades docentes, foi a sua obra.
Feitos os estudos secundários na Póvoa de Varzim e no Porto, matriculou-se na Faculdade de Letras de Coimbra, na secção de Filologia Românica, de onde sai licenciado em 1925, com uma dissertação revolucionária para o tempo, que veio a ser, refundida, a «Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa» e que foi, de facto, a sua estreia literária. Em 1925 publicava na Lusa Atenas o seu primeiro livro de versos, «Poemas de Deus e do Diabo».
Embora a crítica lhe fosse, em geral, indiferente e, até, hostil, não desistiu Régio das suas actividades literárias. Em 1927, com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, funda a revista e o movimento literário da «Presença», de que será sempre o principal animador, embora nem sempre o principal inspirador e onde cedo manifestou apreciáveis qualidades de crítico.
Em 1928 fixou-se em Portalegre como professor de liceu, funções em que permanecerá durante trinta largos anos.
Por tudo isto, três «meios» lhe marcam os destinos: Vila da Conde e o seu mar; Coimbra e a sua tradição do tardio séc. XIX; Portalegre e o mundo ancestral e largo que ela significa.
Bastante considerado nos meios intelectuais do País, ia repartindo serenamente a sua vida entre o ensino em Portalegre e as férias em Vila do Conde, de mistura com uma produção literária em prosa e verso mais ou menos constantes.
Faleceu em Vila do Conde, em 22 de Dezembro de 1969.
Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e crítico. Em 1927, funda com João
Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca a revista PRESENÇA, órgão do Segundo
Modernismo, de que foi uma das principais figuras. Preocupado com os problemas
do eu dividido entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo, a sua obra
novelística, desenvolvendo esta temática conflitual em que se defrontam
religiosidade e experiência quotidiana, contém entretanto elementos de
crítica social e testemunha a influência de Dostoievsky precisamente no modo
como inconsciente e personalidade aí se encontram presentes. Nem sempre Deus é
nomeado no conflito que em Régio se adensa. Isso não lhe retira porém nunca o
carácter eminentemente confessional - como se, seja na contradição mais
espiritualista, seja num maniqueísmo da consciência, seja no confronto com o
seu próprio discurso, a dúvida e o medo fossem um fantasma sempre presente,
sempre intruso, por isso mesmo tanto mais ameaçador na sua ausência. E é
assim que não apenas no teatro Régio se manifesta como um dramaturgo: muitos
dos seus poemas apresentam um sentido e uma estrutura formal dramáticos, ainda
mesmo quando o interlocutor de Régio é Régio ele-próprio ou, como refere
Eduardo Lourenço, um «sósia prodigiosamente real». Da sua obra ensaística
são de destacar os textos de doutrinação polémica, em especial os que se
relacionam com a reacção à crítica neo-realista e com a defesa dos ideais de
certo esteticismo humanista do grupo da PRESENÇA.
PREÇÁRIO
Obras normais BROCHADAS (capa mole) (14x20)
Poemas de Deus e do Diabo (esg) - José Régio Encadernado- 7938$-39,59€ | 6.300$-31,42€ |
Biografia - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
Fado - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
As Encruzilhadas de Deus - José Régio Encad- 7938$-39,59€ | 6.300$-31,42€ |
Mas Deus é Grande - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
A Chaga do Lado - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
Filho do Homem - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
Cântico Suspenso - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
Música Ligeira - José Régio Encad- 4725$-23,57€ | 3.423$-17,07€ |
Colheita da Tarde - José Régio (C/ Ediç Especial) Encad- 4725$-23,57€ |
3.423$-17,07€ |
O Jogo da Cabra Cega - José Régio Encad- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
O Príncipe com Orelhas de Burro (esg)- José Régio (Com Edi. Especial) Encad- 7938$-39,59€ | 6.300$-31,42€ |
Uma Gota de Sangue - José Régio (C/ Ediç Especial)Encad- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
As Raízes do Futuro - José Régio(C/ Ediç Especial)Encad- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
Os Avisos do Destino - José Régio(C/Ediç Especial)Enc- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
As Monstruosidades Vulgares - José Régio(C/ Ediç Especial)Enc- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
Vidas são Vidas - José Régio Encad- 5040$-25,14€ | 3.738$-18,64€ |
Histórias de Mulheres (esgotado)- José Régio Encad- 7938$-39,59€ | 6.300$-31,42€ |
Há Mais Mundos - José Régio (Com Edição Especial) Encad- 7938$-39,59€ | 6.300$-31,42€ |
Jacob e o Anjo - José Régio Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12€ |
Benilde ou a Virgem Mãe - José Régio Encad- 4935$-24,62€ (Com Edição Especial) | 3.633$-18,12 € |
El-Rei Sebastião - José Régio Encad- 4935$-24,62€ (Com Edição Especial) | 3.633$-18,12 € |
A Salvação do Mundo - José Régio Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12 € |
Três Peças em um Acto - José Régio Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12 € |
António Botto e o Amor - José Régio Encad- 4935$-24,62€ (Com Edição Especial) | 3.633$-18,12 € |
Ensaios de Interpretação Crítica - José Régio Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12 € |
Três Ensaios Sobre Arte - José Régio Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12 € |
Páginas de Doutrina e Crítica da Presença - José Régio(Com Ed Especial) Encad- 4935$-24,62€ | 3.633$-18,12 € |
Confissão de um Homem Religioso - José Régio Encad- 5040$-25,14€ (Com Edição Especial) | 3.738$-18,64€ |
Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa - José Régio Encad- 4725$ - 23,57€ | 3.423$-17,07€ |
O preçário refere-se às edições normais encadernadas (14x21). Porém existem Edições Especiais (brochadas, 17x24) com uma tiragem de 100 exemplares assinadas por Saúl Dias irmão de José Régio com o preço de 15.435$00 - 76,99€. As obras com Edições Especiais encontram-se marcadas no preçário a vermelho.
Se procura algum poema, em especial, siga para os índices já abaixo: do lado esquerdo colocaram-se os nomes dos poemas e do lado direito o nome da obra em que se encontra o poema.
Obras de José Régio
Poesia
Poemas
de Deus e do Diabo |
|
Legião |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Narciso |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Adão e Eva |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Do Meu
Orgulho |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Cristo |
Poemas
de Deus e do Diabo |
O Diário |
Poemas
de Deus e do Diabo |
O Santo de
pedra |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Ícaro |
Poemas
de Deus e do Diabo |
O Poeta
Doido, o Vitral e a Santa Morta |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Quinta-Feira
Santa |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Lázaro |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Cântico
Negro |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Chão
Movediço |
Poemas
de Deus e do Diabo |
A Jaula e
as Feras |
Poemas
de Deus e do Diabo |
As
Barreiras |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Na Praça Pública |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Libertação |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Ronda dos
Braços Quebrados |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Litania Heróica |
Poemas
de Deus e do Diabo |
História
Para Crianças Grandes |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Introdução a uma Obra |
Poemas
de Deus e do Diabo |
Biografia |
|
Baptismo |
Biografia |
Génese |
Biografia |
Lúcifer |
Biografia |
A Terra é
Redonda |
Biografia |
Narciso |
Biografia |
Struggle
for Life |
Biografia |
Apeadeiro |
Biografia |
Equilíbrio
Instável |
Biografia |
A Jaula e
as Feras |
Biografia |
Lázaro |
Biografia |
Turismo |
Biografia |
Soneto de
Circunstância |
Biografia |
Experiência |
Biografia |
O Manequim |
Biografia |
Síntese |
Biografia |
Fugiu um
Doido |
Biografia |
Libelo |
Biografia |
Tartufo |
Biografia |
Melancolia |
Biografia |
Ícaro |
Biografia |
Renúncia |
Biografia |
Demasiado
Humano |
Biografia |
Pobres |
Biografia |
Tudo-Nada |
Biografia |
Baile de Máscaras |
Biografia |
Pecado |
Biografia |
Velho
Testamento |
Biografia |
Última
Ceia |
Biografia |
Boneco
Desfeito |
Biografia |
Cristo |
Biografia |
Filho do
Homem |
Biografia |
Soneto de
Onan |
Biografia |
O Pequeno
Super-Homem |
Biografia |
Libertação |
Biografia |
Espírito |
Biografia |
Segundo
Soneto da Libertação |
Biografia |
Soneto de
Amor |
Biografia |
Beleza
Humana |
Biografia |
Momento
Musical |
Biografia |
Triunfo |
Biografia |
Vocação |
Biografia |
Soneto de
José Matias |
Biografia |
Frente a
Frente |
Biografia |
Santo Ofício |
Biografia |
Auge |
Biografia |
A Coluna de
Fogo |
Biografia |
Vésperas |
Biografia |
Cântico |
Biografia |
A Esfinge |
Biografia |
Juízo de
Deus |
Biografia |
Novo Soneto
de Amor |
Biografia |
Pecado
Original |
Biografia |
Germinal |
Biografia |
Os Mortos
Vivos |
Biografia |
Visitação
da Tarde |
Biografia |
Lirismo |
Biografia |
Salve-se
Quem Puder |
Biografia |
Logro |
Biografia |
De
Profundis |
Biografia |
Cá e Lá |
Biografia |
Estrela da
Tarde |
Biografia |
Job |
Biografia |
Capelas
Imperfeitas |
Biografia |
Universalidade |
Biografia |
Metapsíquica |
Biografia |
As Duas
Idades |
Biografia |
O Menino
Sem Tempo |
Biografia |
Últimos
Votos |
Biografia |
Ignoto Deo |
Biografia |
Meditação
da Noite |
Biografia |
Redenção |
Biografia |
A Longa
História |
Biografia |
Legião |
Biografia |
Cai o Pano |
Biografia |
Testamento
do Poeta |
Biografia |
O Poeta
Morto |
Biografia |
Epitáfio
do Poeta |
Biografia |
Imortalidade |
Biografia |
Segue no Próximo
Número |
Biografia |
Fado |
|
Romance de
Vila do Conde |
Fado |
Fado
Português |
Fado |
Fado do Silêncio |
Fado |
Fado de
Amor |
Fado |
Balada de
Coimbra |
Fado |
Fado dos
Pobres |
Fado |
Fado das
Ruas Sem Sol |
Fado |
Fado do
Grande e Horrível Crime |
Fado |
Toada de
Portalegre |
Fado |
Fado das
Mulheres de Vida Fácil |
Fado |
Fado do
Amor sem Nome |
Fado |
Fado dos
Ferros |
Fado |
Fado
Alentejano |
Fado |
Fado Canção |
Fado |
Os Cristos |
Fado |
As
Encruzilhadas de Deus |
|
Versos da
Bela Adormecida |
As
Encruzilhadas de Deus |
Meu Menino,
Ino, Ino |
As
Encruzilhadas de Deus |
Nocturno |
As
Encruzilhadas de Deus |
Elegia Bufa |
As
Encruzilhadas de Deus |
Pequena
Elegia |
As
Encruzilhadas de Deus |
Fantasia
Sobre um Velho Tema |
As
Encruzilhadas de Deus |
João sem
Terra |
As
Encruzilhadas de Deus |
Queixas do
Poeta Contra Este Mundo |
As
Encruzilhadas de Deus |
Realejo |
As
Encruzilhadas de Deus |
Jogo de
Espelhos |
As
Encruzilhadas de Deus |
Poema de
Amor Sem Fé Nem Esparança |
As
Encruzilhadas de Deus |
Carta de
Amor |
As
Encruzilhadas de Deus |
O Papão |
As
Encruzilhadas de Deus |
O Fértil
Desespero |
As
Encruzilhadas de Deus |
Evasão |
As
Encruzilhadas de Deus |
Adeus |
As
Encruzilhadas de Deus |
Poema do
Silêncio |
As
Encruzilhadas de Deus |
Confraria |
As
Encruzilhadas de Deus |
Quando Deus
Fala |
As
Encruzilhadas de Deus |
Velha História |
As
Encruzilhadas de Deus |
O Jongleur
de Estrelas e o seu Jogo |
As
Encruzilhadas de Deus |
Poema da
Carne-Espírito |
As
Encruzilhadas de Deus |
Canção de
Guerra |
As
Encruzilhadas de Deus |
Caos |
As
Encruzilhadas de Deus |
Exortação
ao Meu Anjo |
As
Encruzilhadas de Deus |
Ámen |
As
Encruzilhadas de Deus |
Mitologia |
As
Encruzilhadas de Deus |
Amor |
As
Encruzilhadas de Deus |
Alegria |
As
Encruzilhadas de Deus |
Sarça
Ardente |
As
Encruzilhadas de Deus |
Mas
Deus É Grande |
|
Enterro do
Anjinho |
Mas
Deus É Grande |
Nossa
Senhora |
Mas
Deus É Grande |
Chegou a
Noite |
Mas
Deus É Grande |
Melodia |
Mas
Deus É Grande |
Canção |
Mas
Deus É Grande |
Os Mortos |
Mas
Deus É Grande |
O Pego |
Mas
Deus É Grande |
Ausência |
Mas
Deus É Grande |
Soluço na
Noite |
Mas
Deus É Grande |
A Virgem
Louca |
Mas
Deus É Grande |
Humorismo |
Mas
Deus É Grande |
Ode |
Mas
Deus É Grande |
Fraternidade |
Mas
Deus É Grande |
Obsessão |
Mas
Deus É Grande |
Certeza |
Mas
Deus É Grande |
Canção da
Tarde |
Mas
Deus É Grande |
Levitação |
Mas
Deus É Grande |
As Minhas
Asas,-deu-mas… |
Mas
Deus É Grande |
Pequena
Sinfonia |
Mas
Deus É Grande |
A
Chaga do Lado |
|
Um Poeta
Ainda canta |
A
Chaga do Lado |
Caridade |
A
Chaga do Lado |
Geografia
Humana |
A
Chaga do Lado |
Vai Nascer
um Menino |
A
Chaga do Lado |
Os Felizes
à Força |
A
Chaga do Lado |
Ter ou não
Ter, ou Os Amigos |
A
Chaga do Lado |
Reportagem |
A
Chaga do Lado |
A Um
Camarada |
A
Chaga do Lado |
Sabedoria |
A
Chaga do Lado |
Encontro
Nocturno |
A
Chaga do Lado |
Soneto de
Circunstância |
A
Chaga do Lado |
A Cidade
Ideal |
A
Chaga do Lado |
Onomatopeia |
A
Chaga do Lado |
a Um Jovem
Poeta |
A
Chaga do Lado |
Epigrama
Elegíaco |
A
Chaga do Lado |
Non
est hic |
A
Chaga do Lado |
Equilíbrio
Instável |
A
Chaga do Lado |
Grande
Guerra |
A
Chaga do Lado |
O Menino
Sem tempo |
A
Chaga do Lado |
Tu e Nós |
A
Chaga do Lado |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Pre-Posfácio |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Poesia |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Fantasia Erótica |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Uma Criança |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Velho
Bandolim |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de Maria e José |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Momento |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Canção Cruel |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Um Poeta |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Elegia |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de Stª Maria
Madalena |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Álbum |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte - Poema |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Novo Epitáfio para Um Poeta |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Rastro |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de S. Pedro, Pesc
e Papa |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Oração da
Manhã |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – União |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Um Doidinho |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Lamento |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de Stª Clara |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Pérola Solta |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Monólogo a Dois |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Uma Velha Donzela |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Posse |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de S. Francisco
de Assis |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Funeral |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – A Uma Mulher Fácil |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Novo Epitáfio para Uma Velha
Donzela |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Canção de
Primavera |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de Stª Isabel Raínha
de Portug |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Litania do
Natal |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Alma |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Um dos Grandes do
Mundo |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Jogos |
Filho
do Homem |
o Pólo
Sumo – Em Louvor de S Vicente de
Paula |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde - Apontamento |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Epílogo Adiado |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para o Pobre
Desconhecido |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Adeus |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de Stª Teresa de
Ávila |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Canção de
Outono |
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Metafísica |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para Um santo Obscuro |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde –Natureza |
Filho
do Homem |
O Pólo
Sumo – Em Louvor de S. João da
Cruz |
Filho
do Homem |
Cancioneiro
de João Bensaúde – Consagração
|
Filho
do Homem |
O Amor e a
Morte – Ode a Eros |
Filho
do Homem |
Os Epitáfios
– Epitáfio para um Anónimo |
Filho
do Homem |
A Longa Lápide
(À Memória de João Bensaúde) |
Filho
do Homem |
Cântico
Suspenso |
|
Sucata |
Cântico
Suspenso |
O Baile |
Cântico
Suspenso |
Legenda
para Nada |
Cântico
Suspenso |
O Templo
Abandonado |
Cântico
Suspenso |
Olhos no
Beco |
Cântico
Suspenso |
Hamlet e a
Caveira |
Cântico
Suspenso |
A Estátua |
Cântico
Suspenso |
Os Dois de
Fora |
Cântico
Suspenso |
Melopeia do
Café Deserto |
Cântico
Suspenso |
Cançaõ do
Moço Jardineiro |
Cântico
Suspenso |
O Relógio |
Cântico
Suspenso |
Elegia |
Cântico
Suspenso |
O Grito |
Cântico
Suspenso |
Serenata |
Cântico
Suspenso |
Voo |
Cântico
Suspenso |
A Última
Deusa |
Cântico
Suspenso |
Os Santos |
Cântico
Suspenso |
A Sombra |
Cântico
Suspenso |
Penumbra |
Cântico
Suspenso |
Convocação |
Cântico
Suspenso |
Ode à
Esperança |
Cântico
Suspenso |
Estação Término |
Cântico
Suspenso |
Música
Ligeira |
|
Partilhas |
Música
Ligeira |
Canção de
Outono |
Música
Ligeira |
Canção
dos Dias Contados |
Música
Ligeira |
Fantasia
Nocturna |
Música
Ligeira |
Cantar de
Amigo |
Música
Ligeira |
Pobre |
Música
Ligeira |
Toadilha |
Música
Ligeira |
Mistificações |
Música
Ligeira |
Fonte |
Música
Ligeira |
Carta de
Amor |
Música
Ligeira |
Bailarino |
Música
Ligeira |
Cantar de
Amigo |
Música
Ligeira |
Ajuste de
Contas |
Música
Ligeira |
Lamento |
Música
Ligeira |
Canção do
Velho Poeta |
Música
Ligeira |
Lágrima, Pérola |
Música
Ligeira |
Manhã de Névoa |
Música
Ligeira |
Colheita
da Tarde |
|
Castelos no
Ar |
Colheita
da Tarde |
Balada
Louca |
Colheita
da Tarde |
Dona Lua |
Colheita
da Tarde |
O Outro |
Colheita
da Tarde |
Ferro Em
Brasa |
Colheita
da Tarde |
Canção do
Regresso |
Colheita
da Tarde |
Humorismo a
40º de Febre |
Colheita
da Tarde |
Soneto dos
Reis no Exílio |
Colheita
da Tarde |
Cantigas |
Colheita
da Tarde |
Pequena
Sinfonia Heróica |
Colheita
da Tarde |
Pequena Ode |
Colheita
da Tarde |
Vida e
Morte |
Colheita
da Tarde |
Fogos Fátuos
e Fogos de Artifício |
Colheita
da Tarde |
Instantâneo
Com Pose |
Colheita
da Tarde |
Uma Dúzia
de versos |
Colheita
da Tarde |
Telintar |
Colheita
da Tarde |
Pequeno
Poema |
Colheita
da Tarde |
«Como Uma
Flor…» |
Colheita
da Tarde |
Condição
Humana |
Colheita
da Tarde |
Poemetos em
Prosa para um Ano Novo |
Colheita
da Tarde |
Quatro
Pequenos Poemas em Prosa |
Colheita
da Tarde |
Apólogo |
Colheita
da Tarde |
Amor |
Colheita
da Tarde |
Ressentimento |
Colheita
da Tarde |
Caridade |
Colheita
da Tarde |
A Corda
tensa |
Colheita
da Tarde |
Colaboração |
Colheita
da Tarde |
«Todos me
Vão Morrendo…» |
Colheita
da Tarde |
Fonte de Água
Viva |
Colheita
da Tarde |
Evolucionismo |
Colheita
da Tarde |
O Amor |
Colheita
da Tarde |
«Deixem-me!
Deixem-me ser Tantos Quantos Sou…» |
Colheita
da Tarde |
As Duas
Idades |
Colheita
da Tarde |
«Para Além
dos Pinhais…» |
Colheita
da Tarde |
Última
exortação ao meu Anjo |
Colheita
da Tarde |
Domingo no
Alentejo |
Colheita
da Tarde |
Improviso
Corrigido |
Colheita
da Tarde |
Conceito |
Colheita
da Tarde |
«Foste
Simples, Banal…» |
Colheita
da Tarde |
Jardim do
Poeta |
Colheita
da Tarde |
Manhã de
Abril |
Colheita
da Tarde |
Canção
Crepuscular |
Colheita
da Tarde |
Ano Novo |
Colheita
da Tarde |
Versos de
Álbum |
Colheita
da Tarde |
Canção |
Colheita
da Tarde |
Filosofia
Caseira |
Colheita
da Tarde |
Pequena Fábula
para a BI |
Colheita
da Tarde |
sextilhas Fáceis
em Louvor da Poesia |
Colheita
da Tarde |
Voto |
Colheita
da Tarde |
Enfim |
Colheita
da Tarde |
A Flor e a
Canção |
Colheita
da Tarde |
Momento
Musical |
Colheita
da Tarde |
Verbo |
Colheita
da Tarde |
Improviso |
Colheita
da Tarde |
Declaração |
Colheita
da Tarde |
As Duas
Presas |
Colheita
da Tarde |
Epitáfio
para uma Borboleta |
Colheita
da Tarde |
Auto-Epitáfio
de João Bensaúde |
Colheita
da Tarde |
Epitáfio
para um Herói |
Colheita
da Tarde |
Canção
Juvenil |
Colheita
da Tarde |
Ode à Rima |
Colheita
da Tarde |
Natal |
Colheita
da Tarde |
A Morte e a
Vida |
Colheita
da Tarde |
Vocação |
Colheita
da Tarde |
Os Poetas |
Colheita
da Tarde |
alarme |
Colheita
da Tarde |
Cantiga do
poeta |
Colheita
da Tarde |
Palavras |
Colheita
da Tarde |
Edição da Câmara Municipal de Vila do Conde (Ver
respectivo preçário na página inicial)
Amor |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Noivos |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
O Anjo Da
Inocência |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Junto Ao
Rio Ave |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Tísica |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
À tua
Imagem |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Canção
Duma Mãe |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Serenata |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Canção
Funérea |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Canção Da
Lua |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Nossa
Senhora? |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Amar Sem
Ser Amado |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Quadros
Negros |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
O Canto dum
Infeliz |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Cantares
Dispersos |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Canto Patriótico |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
O Rosário
que Me Deste |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Ao Mar |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Profecia
de Jesus |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Literatura |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Lírios |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Canção
dos Ceguinhos |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Nuno Álvares |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Canção
da Saudade |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Versos a
Alguem |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Elegia do
Mar |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Sonho Morto |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Aos
Soldados que Partem |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Soneto |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Torre |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Velhinha |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Versos |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
À Luz Do
Luar |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
O Meu
Sepulcro |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Expansão |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Cantigas |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Momentos
Tristes |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Mãe e
Filho |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Na Rua |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Lágrimas |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Olhos
Verdes |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Ela |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Chorar,
Cantar |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Que Eu
Adoro |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Balada |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Morta |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Aos Ateus |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
A Noite |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Oração a
Ela |
Primeiros
versos Primeiras Prosas |
Por
José Régio
O gosto de vaguear de noite, a horas mortas, era agora o mais querido dos
meus prazeres melancólicos. Desde muito novo desenvolvo reais qualidades
inventivas em tal género de prazeres: Mas qualidades que sobretudo se revelam
no pormenor ou na maneira. De facto, o prazer de errar pela noite é comum a várias
criaturas. Sempre desconfiei de misteriosas afinidades entre todas, por mais que
as separem os gostos, os vícios, as aparências, a idade, a condição social.
Não obstante tal desconfiança, que não posso bem corroborar com exemplos, eu
julgava-me então único. Noites havia, sim, em que simplesmente apreciava a
noite: O aspecto de mascaradas, ou desmascaradas, que certas casas
têm a certas horas; o silêncio das ruas e a sonoridade das pedras; os vultos
que se esgueiram, ou esperam às esquinas, ou se cosem às paredes, ou nos roçam
o ombro, ou nos pedem lume, ou falam alto; e depois esboços de paisagens, ou
transfigurações inesperadas de coisas que à luz do dia são banais. Porém
essas noites não eram as minhas. Estas começavam sempre mais tarde, exigiam-me
só, e requeriam disposições extraordinárias. Eu andava então horas e horas
entregue a uma espécie de devassidão — não acho outra palavra — durante a
qual vivia, por assim dizer, todo o meu passado e todo o meu futuro.
Depois de ter corrido a cidade, recomeçava: Preferia os becos, as sombras, os
cantos e as escadinhas escusas. E envolvia no mesmo ódio furibundo as luzes dos
cafés e os raros transeuntes normais que recolhiam. Era pela antemanhã que o
meu delírio atingia o auge. O cansaço atirava-me então contra qualquer muro,
exausto como um pobre animal vencido. E na lúcida consciência da minha humilhação,
da minha fraqueza, e da minha loucura, saboreava não sei que travor de triunfo.
Uma espécie de libertação me sobrevinha. Eu experimentava uma vaga satisfação
de destino cumprido! Arrastava-me até casa, subia às apalpadelas, despia-me
rezando fragmentos de velhas orações; e adormecia dum sono que parecia não
dever ter fim. Mas outras noites, cansava-me: Depois de ter começado as minhas
deambulações onanísticas — sentia que me seria impossível prosseguir.
Resolvia, então, renunciar, e acabar a noite como qualquer outro.
(de: Capítulo I: O gosto de vaguear de noite...)
«O
PRÍNCIPE COM ORELHAS DE BURRO»
Por
José Régio
Era de uma vez, no reino da Traslândia, um casal que não tinha filhos. Grande mágoa, suponho, deve ser não ter filhos um casal que se entende bem. E assim era nesse casal. Eis porque o marido começara de precocemente encanecer, entretendo os ócios com aprender jogos chineses, coleccionar pássaros e armas brancas, estudar dialectos ou outras futilidades idênticas; e a mulher se tornava rabugenta, caprichosa, avarenta, fanática, (tendo sido a própria imagem da alegria!) como se não houvera casado, e antes do tempo envelhecera de inutilidade e amargor. Esse casal que se adorava — principiara, até, a não poder tolerar-se: Como quase todos os infelizes ligados por uma desgraça comum e odiada, cada um via no outro o espelho do seu infortúnio. Acrescentemos que, no presente caso, cada um tendia a ver no outro o próprio causador desse infortúnio. Este mútuo ressentimento ia a pontos de já nem poder o triste casal escondê-lo da corte.
Pois não me ia esquecendo um pormenor importante? Ele era o próprio
rei, ela a própria rainha de Traslândia: A ausência de filhos nesse matrimónio
representava uma desgraça pública. Assim a mágoa dos dois míseros esposos se
acrescentava da inquietação dos reinantes. A cupidez dos povos vizinhos
espreitava o seu trono sem herdeiros. Tanto mais sendo alguns desses povos
governados por parentes seus que, embora vagos, se supunham com direitos ao
trono. Quanto aos governantes nem de longe seus parentes — desde já forjavam
teorias, invocavam necessidades, aventavam doutrinas, alegavam conveniências,
chegavam a idear questões de ordem metafísica ou religiosa que lhes
permitissem, mortos os pobres reis estéreis, cair sobre o reino sem leme. Quem
não sabe como sempre se arrearam de razões a ambição e a violência? (de: Capítulo
I)
«UMA
GOTA DE SANGUE»
Por
José Régio
Era a hora do estudo da tarde, e Lèlito pensava. As Catilinárias abertas na carteira, o dicionário à direita, o caderno de significados à esquerda e o lápis à mão — pareciam demonstrar que Lèlito preparava a sua lição de latim. Mas Lèlito não pensava nas Catilinárias. Na realidade, nem pensava. Melhor fora dizer que vogava ao sabor de um vago devaneio melancólico, através do qual a saudade de casa transparecia num persistente vaivém de recordações, aliada a uma como viscosa, angustiosa, obscura sensação de pavor. Tal pavor, ainda Lèlito fugia de o confessar a si próprio; mas há três dias que o perseguia; e há seis que Lèlito chegara. Há seis que neste mesmo salão fingia, a esta mesma hora, preparar as lições do dia seguinte.
Era um bom salão
comprido, largo, com janelas subindo de um e outro lado quase até ao tecto.
Pelas janelas da direita, viam-se as tílias do recreio dos maiores. Lèlito
pertencia aos maiores. Pelas da esquerda, o alto muro da cerca e uns
longes da cidade. Ao fundo, sobre um estrado, a mesa do prefeito. E na parede,
em frente de várias filas de carteiras, havia um mapa de Portugal, um retrato
do Dr. Santos Paiva, fundador do colégio, e dois caixilhos rectangulares com
dizeres.
Um dizia: Mandar é suportar o peso das responsabilidades. Menos custa
obedecer.
E o outro: Se
não trabalhares com alegria, não acuses ninguém de o trabalho te ser penoso.
«Trabalhar
com alegria!... Mandar, obedecer...»
Desde a primeira tarde que estes letreiros se tinham tornado quase
odiosos a Lèlito; nem ele sabia bem porquê.
O Colégio Familiar aceitava internos, semi-internos e externos. Os
internos recebiam lições no próprio colégio em que viviam. Os semi-internos
frequentavam as aulas do Liceu, acompanhados por um prefeito. Os externos só
iam ao colégio receber lições. Por intermédio destes se forneciam os
internos de tabaco, enviavam e recebiam correspondência clandestina, compravam
revistas de cinema e desportos, com retratos de actrizes ou jogadores; às
vezes, até livros ou postais obscenos. (de:
Capítulo I)
«AS
RAÍZES DO FUTURO»
Por
José Régio
Duas coisas preocupavam agora madrinha Libânia: a doença de Lèlito e a carta, que chegara, de João. Todos os dias, logo de manhã, visitava Lèlito, a saber como passara a noite; mas era uma visita muito breve. Fazia-lhe, à tarde, uma visita mais longa, embora, muitas vezes, quase silenciosa. E depois descia e ficava sentada à meia porta do quarto, pequenina e ainda direita à borda da larga cadeira de coiro. Piedade, que lidava na cozinha, vinha de vez em quando e perguntava por mera impaciência:
— Então não vão sendo horas, minha senhora?
As mais das vezes, madrinha Libânia já nem lhe respondia.
Madrinha Libânia e Piedade esperavam ambas que passasse a hora de terem
chegado os passageiros do comboio. Antes, não descansariam. A carta em que João
avisava os pais da sua vinda não dizia ao certo o dia da chegada. Por isso
mesmo madrinha Libânia e Piedade o tinham ficado esperando todos os dias. Sem dúvida,
também os pais o esperavam; e sobretudo a mãe. Porém em madrinha Libânia e
Piedade, era mais visível a impaciência. Só por isso haviam ambas decidido
que João chegaria um dia desses, (mesmo sem outro aviso) no último comboio da
tarde. (de: Capítulo I)
«OS
AVISOS DO DESTINO»
Por
José Régio
O primeiro ano de Lèlito em Coimbra decorreu sem peripécias nem grande interesse visível. Instalado numa casa da Rua dos Grilos, aí fez Lèlito uma vida recatada e monótona, quase feliz; embora só mais tarde tivesse chegado a tomar consciência do seu íntimo bem-estar de então.
Mais dois estudantes viviam na mesma casa: Um, não passava de bicho;
isto é: estudante do Liceu. Chamava-se Aurélio, e era sobrinho da excelente D.
Felicidade. O outro — Adelino — frequentava o terceiro ano de Medicina.
Quanto à excelente D. Felicidade, senhora da casa, tinha um parco
montepio que lhe deixara o seu extinto. Governava-se juntando-lhe a pensão de
dois ou três estudantes que sempre albergava.
Com os seus dois companheiros de casa mantinha Lèlito umas relações
quase cerimoniosas, quase agradáveis, e, seguramente, corteses. Nenhum
entusiasmo, nenhuma intimidade nessas relações; mas também nenhum choque.
O Aurélio era um rapazinho loiro, dum branco leitoso e carne mole, —
com tendências para gordo. Aos enlevados olhos da tia, não havia no Liceu
rapaz mais bonito! E o caso é que alguns dos seus camaradas mais velhos
gostavam de lhe dar beijos. A pouca idade e a insuficiência mental o deixavam
inteiramente alheio a Lèlito. Não obstante, algumas vezes o ajudava Lèlito a
preparar as lições, servindo-lhe de explicador. Assim conquistara a terna
gratidão de D. Felicidade, que sobre a cabeça do sobrinho erigira — e
sustentava — as mais altas esperanças. Apesar dos mútuos esforços, não
chegara o seu extinto a deixar-lhe filhos. De modo que desde o nascimento de Aurélio
o adoptara a excelente senhora por seu. Como o rapazinho era estudioso, teimoso,
curto de ideias, lá ia conquistando umas notazinhas que nutriam as ilusões da
tia. Pensava esta, porém, que os mestres ainda não haviam devidamente
reconhecido as qualidades do seu Aurélio. «Pois desta massa é que se eles
fazem!» costumava sentenciar a excelente senhora. Queria dizer que dessa
carne flácida, loira e alva do Aurélio poderia sair um director de banco, um
professor da Universidade, um consagrado escritor, um ministro, quiçá um
Presidente da República... E poderia. Todas as pessoas circunstantes lhe davam
cabal razão. (...) (de: Capítulo I)
«AS
MONSTRUOSIDADES VULGARES»
Por
José Régio
No fim dum ano de casada, Maria Clara não saberia dizer se era feliz. Muitos momentos o era; muitas horas, até muitos dias. Mas passados esses momentos, horas, ou dias? Na verdade, talvez nem ainda tivesse chegado a reflectir nisso. Não estava no seu feitio. Simplesmente a assaltara esta dúvida, durante esses meses de vida íntima com Joaquim: «Será isto a vida que sonhei?»
Não a perseguira por demais. Não lho permitiria nem o seu vigilante
instinto de autodefesa, nem o amor que a prendia ao marido. Todavia, essa
interrogação voltara, insistira em voltar, como uma dor física já com raízes:
«Será isto a vida que sonhei?» E, de cada vez, uma tristeza súbita e
profunda caía sobre ela, como certas nuvens que, repentinamente, escondem o
sol. Era, ao mesmo tempo, uma espécie de pavor. Não obstante, mal transcendera
tal interrogação aquela região obscura em que propriamente
ainda não há pensamento, mas só sentimentos confusos, germes de
ideias. Talvez, também, lhe não houvesse Maria Clara consentido formular-se e
desenvolver-se nitidamente.
Ora essa tarde, não foi assim. Porque, nessa tarde, o desespero fez com
que Maria Clara olhasse bem de cara a sua situação: «Na verdade, será isto a
vida que sonhei?»
O desespero, e também um íntimo impulso de vingança. Sentindo-se vítima
de uma injustiça, Maria Clara não poderia perdoar sem se desafogar por
qualquer desforra. Tanto mais que não era a primeira vez que Joaquim se
mostrava injusto com ela, embora talvez nunca lhe tivesse aparecido tão clara a
injustiça. Ora confusamente sentia Maria clara — como sempre sentia tais
coisas — que o interrogar-se sobre a sua felicidade já era vingar-se do seu
Joaquim. Seu..., e que ela amava como dantes. Mais ainda! Por isso mesmo se
tornava tudo aquilo um absurdo, um mistério que a desesperava. Pois por que não
eram felizes?! Inteiramente felizes? Por que?! Maria Clara não chegava a
compreender. (...) (de: Capítulo I)
«VIDAS
SÃO VIDAS»
Por
José Régio
A convalescença de Pedro foi demorada. Chegara com os dois pulmões
afectados. Os novos medicamentos que para o seu caso então se experimentavam,
ainda não haviam provado suficientemente. Pelo menos, no entender do Dr. Lage.
O Dr. Lage não era inclinado a novidades. Há tanto ano em Azurara, se em vários
aspectos da sua personalidade sempre soubera defender uma quase feroz independência,
pouco a pouco, e subtilmente, se deixara penetrar noutros de esse pendor
provinciano para em tudo «ir pelo seguro». Decerto o achariam atrasado,
contaminado de espírito rotineiro, os jovens médicos da capital. Acabavam de
se especializar lá fora, ou, pelo menos, assinavam as mais modernas
revistas da especialidade. Decerto o achariam atrasado, e alguma razão teriam.
O que, porém, salvava o Dr. Lage, era não só a sua longa experiência, tão
inteligentemente aproveitada, como o seu imperturbável bom senso. O repouso, a
boa alimentação, a despreocupação, os ares puros, alguns fortificantes, —
eis no que principalmente esperava o nosso Dr. Lage para a cura de Pedro. «Com
a ajuda de Deus» dizia Angelina «há-de se curar.» E o Dr. Lage: «Com
a ajuda da Madre Natureza!»
De facto, na sua própria natureza parecia estar a melhor defesa de Pedro. Admirava o Dr. Lage como pudera um homem de tão robusta constituição, na força da vida, ter chegado ao miserável estado em que o trouxera Lèlito. Entre os dois — Pedro e o Dr. Lage — se estabelecera quase desde logo aquela corrente afectiva que pode ser profunda, quando recíproca, entre um doente e o seu médico. Muito naturalmente, pois, se fora Pedro confiando ao seu novo amigo. Embora por episódios e fragmentos, aos poucos lhe dera conta de toda a sua vida. (...) (de: Capítulo I)
História
de Mulheres |
|
Sorriso
Triste |
História
de Mulheres |
A Menina Olímpia
e a sua Criada Belarmina |
História
de Mulheres |
História
de Rosa Brava |
História
de Mulheres |
Maria do Ahú |
História
de Mulheres |
O Vestido Cor
de Fogo |
História
de Mulheres |
Pequena Comédia |
História
de Mulheres |
«HISTÓRIAS
DE MULHERES»
Por
José Régio
O comboio parara finalmente na estação de Portalegre. De novo o cavalheiro amável se dirigiu a Rosa Maria:
— Chegou. Faça favor de descer que eu passo-lhe as suas coisas.
— Muito obrigada! — disse Rosa Maria descendo.
O cavalheiro amável estendeu-lhe a caixa do chapéu, o embrulho do
presente da velha Leocádia para a menina Lá-Lá, e a pequena mala de couro em
que Rosa Maria trazia o indispensável para o primeiro dia. A mala grande vinha
despachada.
— Muito obrigada! — repetiu Rosa Maria — Tenha boa viagem. Boa
noite!
E como ficava em Portalegre, e o cavalheiro amável dissera seguir para
Elvas, olhou e sorriu-lhe quase com garridice. Nunca Rosa Maria fizera sozinha
uma viagem tão longa. Na disposição de espírito em que viera, não só a
tinham importunado como quase assustado as insistentes atenções do cavalheiro
amável. «Vêem uma rapariga só...» — pensava ela com a sua
psicologia de pouco afeita aos caminhos de ferro e aos desembaraços da mulher
moderna. Agora, não havia perigo em compensar o seu aliás respeitoso admirador
com esse olhar e um sorriso.
Mas imediatamente ele se debruçou na portinhola, e falou num tom mais íntimo:
— Boa noite! Espero tornar a encontrá-la. Elvas não é assim tão
longe de Portalegre! E terei muitíssimo prazer... (...) (de: Capítulo I de
"Davam Grandes Passeios aos Domingos")
Os
Três Vingadores ou Nova Hist de Roberto do Diabo |
Há
Mais Mundos |
O Fundo Do
Espelho |
Há
Mais Mundos |
Conto do
Natal |
Há
Mais Mundos |
Os
Paradoxos do Bem |
Há
Mais Mundos |
Os Três
Reinos |
Há
Mais Mundos |
Os
Alicerces da Realidade |
Há
Mais Mundos |
As
Historietas dum Coleccionador de Antiguidades |
Há
Mais Mundos |
«HÁ
MAIS MUNDOS»
Por
José Régio
Decerto mal chegava a ser homem, um homem como os outros, aquele estranho ser todavia com formas claramente humanas. Por vários aspectos, antes se diria da raça dos bichos. Como os dos bichos da floresta, se apresentava coberto de pêlos o seu rude corpo gigantesco. De igual para igual brigavam pela conquista duma presa comum, ele e os bichos. Por uma natural solidariedade acamaradavam em certas horas de perigo: aquelas, por exemplo, em que, desencadeadas, as misteriosas forças da Natureza tanto ameaçam bichos como homens. À semelhança dos bichos se deitava a dormir na terra estreme, e qualquer chão ou pedra lhe servia de mesa para os brutos festins. Nada, pois, senão essa rivalidade a que os obrigava a urgência de satisfazerem comuns necessidades primárias, (entre quais, talvez a do amor) impedia que só amigos tivesse ele nas variadas classes das bestas: das bestas-feras, das bestas mansas. Não as compreendia perfeitissimamente nos seus costumes e caracteres, moléstias e até linguagem? Desde o espantoso rugir do leão, que assusta todos os outros animais, ao diamantino trilo das aves; desde o pungente, longo, humorístico ronco do asno ao roçagante zoar confidencial dos insectos, — hábil conhecedor se tornara das suas várias línguas, que na perfeição imitava. Afastar-se-ia muito dessas a sua própria? A verdade é que também os bichos o entendiam, parecia. (...) (de: Conto do Natal)
Três
Peças em Um Acto |
|
O Meu Caso |
Três
Peças em Um Acto |
Mário ou
Eu Próprio-o Outro |
Três
Peças em Um Acto |
«TRÊS
PEÇAS EM UM ACTO»
Por:
José Régio
(A acção decorre na actualidade, durante um baile de segunda-feira de Entrudo, numa casa elegante da Capital. A cena representa uma sala próxima do salão de baile. Arranjo simples, rico, e de bom gosto. Grande porta envidraçada ao fundo, para uma varanda. Porta larga à esquerda, outra à direita. A sala está deserta ao subir o pano. Chegam, abafados, os sons de um terceto que toca no salão. Ouvem-se durante uma parte do diálogo, até que se indique silêncio. Columbina entra a correr pela esquerda, logo seguida de Pierrot. Mefistófeles sai-lhe ao encontro pela direita. Columbina corre até boca de cena, volta-se de repente para eles.)
Columbina —
Estou então
entre dois fogos?
Pierrot — (avança um passo, com ambas as mãos ao peito) O do
meu coração, Columbina!
Mefistófeles — (avança também um passo, dobra-se numa leve
reverência) Columbina..., o do meu desejo.
Columbina — Sois perseverantes, vejo-me reduzida a ouvir-vos. Já
é um triunfo vosso. Ainda bem que sois dois, um neutralizará o outro. (Puxa de
uma cadeira, senta-se a meio da cena, voltada para o público.) Vem cá Pierrot!
(Pierrot, de salto, vem cair a seus pés.) Vem também Mefistófeles! (Mefistófeles
adianta-se com aprumo e graça, pára a seu lado, espera.) E agora divirtam-me!
Conquistem-me! Façam-me esquecer que me obrigam a ouvi-los. (...) (de: TRÊS
MÁSCARAS fantasia dramática)
Ensaios
de Interpretação Crítica |
|
Camilo,
Romancista Português |
Ensaios
de Interpretação Crítica |
Florbela |
Ensaios
de Interpretação Crítica |
O Fantástico
na Obra de Mário de Sá Carneiro |
Ensaios
de Interpretação Crítica |
«ENSAIOS
DE INTERPRETAÇÃO CRÍTICA»
Por:
José Régio
Muitas vezes é o grande artista um herdeiro que multiplica, e renova, os bens herdados. Camões se me afigura bom exemplo em favor desta observação. Quando Luís de Camões apareceu na nossa literatura, já duas grandes correntes a vivificavam: Uma, que talvez possamos dizer popular, com raízes profundamente entranhadas na alma da raça. Outra, culta e em grande parte importada; mas que nem por isso deixara de encontrar terreno propício no rico solo português.
Mais fácil, porém, será sentir, na poesia anterior a Camões, a existência destas duas correntes, ou averiguar, até, quanto à forma, o que melhor caberá a uma ou outra, do que distinguir, ao fundo das composições, os sentimentos mais próprios de cada. Quase sempre tenderam os nossos poetas a bem receber quaisquer formas estranhas, sem, todavia, alterarem intrinsecamente a sua atitude poética: O conteúdo resiste ao continente; o sólido fundo persiste através da maleabilidade da forma, da variabilidade da aparência, — a usarmos aqui duma linguagem por certo convencional mas cómoda. Se tentáramos aprofundar até onde fundo e forma, ou, ainda mais grosseiramente, conteúdo e continente, são ou não distinguíveis na expressão artística, mais se nos enredaria a questão. Por agora diremos que breve decaem entre nós as formas menos adequadas às profundas características nossas; ou que não atingem o santuário da arte, ficando-se naquela superfície (ou limiar do santuário) em que a produção literária é quase mero brinco, simples expressão retórica, essas composições que importam formas inadequadas ao nosso fundo, ou ensaiam doutrinas, modas, correntes, inclinações da sensibilidade, posições do pensamento, a que interiormente sejamos pouco propensos. (...) (de: Discurso sobre Camões)
Três
Ensaios Sobre Arte |
|
A Expressão
e o Expresso |
Três
Ensaios Sobre Arte |
Vistas
Sobre o Teatro |
Três
Ensaios Sobre Arte |
«TRÊS
ENSAIOS SOBRE ARTE»
Por:
José Régio
A arte é expressão — tenho pensado; e, naturalmente, escrito
ou dito. Ora logo provoca esta afirmação pelo menos duas interrogações:
Que modo, ou género, de expressão?
Expressão... de quê?
Por outras palavras:
Mas toda a expressão será arte?
Mas será arte a expressão seja do que for?
Todos a quem se disser a arte é expressão levantarão, pelo
menos, estas questões; (excepto os muito pouco dados a levantar questões). Não
julgo fácil responder-lhes; não estou certo de lhes saber responder; mas
compreendo que, sem qualquer desenvolvimento, parecerá bem pouco dizer da arte
que é expressão. Por isso tentarei responder aqui o melhor que puder.
Deverei pedir desculpa de me transcrever, num ensaio em que tento
averiguar eu próprio o que penso sobre determinado assunto? Se acha que sim,
desculpe-me o prezado leitor. Escrevi algures:
«Toda a arte é expressão; e nem o que às vezes chamamos, em arte, sugestão
é outra coisa senão expressão subtil. Aquém ou além da expressão, não
há arte. Não há arte no gaguejar ou inarticular por que pode exprimir-se
(mas não artisticamente) o indivíduo intensamente emocionado, como a não há
no silêncio sublime por que pode exprimir-se (mas não artisticamente) o
místico em êxtase. Tão-pouco há arte naquela simulação da expressão
que é a retórica no sentido depreciativo — deturpado — da palavra. Para
ser expressão artística, a do primeiro é deficiente; a do segundo,
transcendente; a do último, o retórico, ao mesmo tempo insuficiente e
excessiva. Já, porém, pode haver arte na introdução intencional, em
qualquer obra teatral ou romanesca, do gaguejar ou inarticular do apaixonado, do
santo pasmo do místico, do palavrear do retórico. Isto nos fará suspeitar que
simultaneamente haja intenção profunda e jogo, imitação aparente e
tranfiguração real, no género de expressão que é a expressão artística.
Ora se nada do que fica dito chega a definir esse género de expressão, —
porventura algum indício dará do que outra vez ousarei tentar dizer melhor».
Não felicito o autor do trecho pela clareza; ou antes, aproveitando uma
distinção de José Marinho, pela claridade. Consideremos, porém, haver uma
clareza aparente não só deficiente como perigosa, pois nos pode induzir a
supor simples e fácil o que é complexo e difícil; ou a julgar ter deixado
explicado o que ficou obscuro. Não escolhi o trecho citado senão porque aflora
pontos essenciais do que penso sobre a expressão artística — e porque, na
sua relativa clareza, exige, não obstante, ser clarificado. Esta parece também
ter sido a opinião do autor no próprio instante de escrevê-lo, pois ali mesmo
escreveu que outra vez tentaria dizer melhor. Essoutra vez chegou. Não só o
modo como também o objecto da expressão que é a arte, — eis o que
tentarei averiguar ao longo deste pequeno ensaio. Do trecho citado,
salientaremos:
a) Uma expressão existe que não chega a ser arte.
b) Uma expressão existe que transcende a arte.
c) Uma expressão existe que, tanto por insuficiência como por excesso, pretende
e não consegue atingir a arte.
Algo nos irá dizendo sobre o que é a expressão artística o exame
destas três expressões que o não são. (de: «EM TORNO DA EXPRESSÃO» capítulo
I)
Edição da Câmara Municipal de Vila do Conde (Ver
respectivo preçário na página inicial)
O Castelo
Abandonado |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Pai!… |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Vingança
do Tio Miguel |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Morte de
Helena |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Harpa de
Ouro do Bardo |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Sonho
Realizado |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Conto do
Natal |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Morta |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Suicídio
Romântico |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Invocação
à Morte |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
O Palácio
da Felicidade |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Como Um
Homem se Perde |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A História
da Torre |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Uma Tragédia |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Morte do
Sr. Abade |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
A Louca |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Um Doido |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Sacrifício
Imposssível |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Lenda da
primeira Açucena |
Primeiros
Versos Primeiras Prosas |
Por
José Régio
A cena representa o quarto de dormir do Rei, no palácio durante a noite. O quarto é circular. Tem uma grande porta à direita, uma grande janela à esquerda. A janela deve estar situada de modo a poder deixar entrar uma larga barra de luz branca azulada (suponha-se luar) que ilumine o leito real. Este deve estar colocado entre a janela e a porta. A altura da janela deve ser tal que um homem alto caiba de pé sobre o peitoril. A altura da porta deve estar em boa relação com a da janela. E a largura do leito deve permitir que dois homens lutem em cima dele com plena liberdade de movimentos. Assim toda a cena dará uma impressão de grandeza desproporcionada ao tamanho normal das figuras humanas.
O pano sobe o mais devagar possível. O Rei dorme sob o jorro de luz que
entra pela janela aberta. Subido o pano, a cena permanecerá sem alteração
durante alguns segundos. Depois há uma leve pancada na bateria duma orquestra
rudimentar oculta entre bastidores. Começa um prelúdio em surdina. Aparece de
pé no peitoril da janela, em silhueta, a figura do Anjo.
O Anjo veste dos pés à cabeça uma espécie de malha que lhe modela
todo o corpo. Tem os braços abertos um pouco levantados, como quem se prepara
para subir ou voar; e umas asas que são meio asas meio barbatanas, e
propriamente nem uma nem outra coisa, lhe ligam os pulsos aos flancos. Pela posição
em que aparece, o rosto mal se lhe distingue. Qualquer artifício de caracterização
conseguirá que mal se lhe distinga em todo este prólogo.
De salto, o Anjo cai sobre o leito em que dorme o Rei. O Rei acorda
sobressaltado, procurando soerguer-se. (...)
(de: Prólogo)
Por:
José Régio
(A cena
representa uma cozinha num velho solar alentejano. Grande lareira ao fundo, com
uma fresta para o quintal. Estanhos e cobres no friso da lareira. Decoração
apropriada. Mesa puxada à esquerda, com duas ou três cadeiras toscas e sólidas.
À direita, uma porta para o interior da casa. Outra à esquerda, que dá para o
quintal, a par de uma pequena janela de portada única. É pela tarde de um dia
de Inverno. Entra uma luz soturna, escassa, pela fresta e pela janela, deixando
na penumbra toda a cena. Junto da lareira, com as mãos caídas no regaço e a
cabeça baixa, em silhueta sobre a luz da fresta, P.e Cristóvão está sentado.
Ao cabo duns momentos de imobilidade e silêncio, entra pela porta do quintal o
Dr. Fabrício, acompanhado por Genoveva. O Doutor entra, tira a gabardina,
aproxima-se da lareira esfregando as mãos.)
(...) (de: Acto Primeiro)
Por:
José Régio
Projectei juntar um longo prefácio a esta minha quarta tentativa teatral. Cheguei a escrever a maior parte dele. Parecia-me, e parece-me, que alguma coisa poderia dizer de relativo interesse quer sobre teatro em geral, quer sobre o meu em particular. Acabei por desistir desse projecto; mas não de todo: Noutro lado tentarei desenvolver um bocadinho quaisquer minhas ideias sobre teatro, se, entretanto, não vier a pensar que tais minhas ideias críticas ainda interessarão menos do que as minhas realizações artísticas. Por agora, contentar-me-ei com brevemente dizer duas ou três coisas que se me afiguram fundamentais.
Primeira: Desde que atinja certo nível artístico e qualidade intrínseca,
toda a obra de arte — teatral ou não — há-de ser considerada no plano
universal do género a que pertence. Quero dizer que transpôs as fronteiras;
nem que, de facto, ainda as não transpusesse, por ainda não traduzida. Duas
condições me aparecem como essenciais para que uma obra de arte alcance tal nível:
A sinceridade profunda, involuntária, da sua concepção; a superioridade, nem
que relativa, da sua realização ou forma. Desde que uma obra seja manifestação
de uma personalidade possuidora de correspondestes dons de expressão, — sem dúvida
poderá ser também encarada do ponto de vista da sua nacionalidade. Por mim, até
acho interessante que o seja! Para lá, porém, das suas características
nacionais, há-de a tal obra dar-se um lugar no campo da criação artística
universal. De contrário se lhe negará qualquer valor absoluto, — o que é
absurdo desde que haja sido reconhecida como autêntica obra de arte. (...) (de:
Nota Preambular por José Régio)
Por:
José Régio
A acção decorre no reino imaginário da Traslândia. Supõe-se que na
actualidade. Todos os figurantes vestem, pois, à moda actual, e consoante a sua
categoria, excepto os cuja indumentária particular for indicada nas rubricas. A
cena representa uma sala no palácio do rei Pedro I de Traslândia. Ao fundo,
uma grande janela de balcão dá para a mais vasta praça da cidade. Larga porta
à direita, quase toda escondida por alto e pesado reposteiro, e que liga com os
aposentos particulares do rei. Não longe, mas o suficiente para dar fácil
passagem, uma luxuosa mesa de trabalho. Outra porta à esquerda, em frente da
primeira; mas descoberta, entre bandas dum reposteiro igual. Convém que tanto a
altura como a largura da janela, portas e reposteiros, sem serem desmedidas,
criem uma atmosfera de excentricidade. Arranjo sóbrio e rico de toda a quadra.
Ao subir o pano, Pedro de Traslândia, de costas para o público, fala, à
varanda, para a multidão reunida lá em baixo. Um altifalante torna distintas
as suas palavras a todos os ouvintes (inclusive os da plateia). (...) (de: Acto
Primeiro)
Seguido
de Críticos e Criticados
Por:
José Régio
Tanto se fala hoje de arte pela arte e arte social que —
naturalissimamente — nunca tal questão esteve tão enredada. Sê-lo-á por
natureza? O conflito arte pela arte e arte social engrena afinal
nestrouto que reduzo a expressões caricaturais e por isso cómodas de momento: arte
livre e arte ao serviço. Se políticos e sociólogos são hoje os
mais inflamados contra a arte pela arte (de aí o meu primeiro movimento a só
considerar a oposição arte pela arte-arte social), é isso devido a soprar
sobre o mundo culto, nesta primeira metade do século 20, a violência das paixões
políticas e aspirações sociais em que todos nos enrodilhamos; todos; uns mais
do que outros, porém: porque em todos os tempos houve homens antes
espectadores, especuladores ou contemplativos e outros activos ou agitadores;
como em todos os tempos houve activos de acção imediata e outros de acção
indirecta; ou como em todos os tempos houve agentes agindo nos mais diversos
campos, e todos incapazes de sacrificarem a outras esferas a sua esfera pessoal
de acção. Dá uma «saudável tristeza» (a feliz expressão é do
poeta que me proponho estudar neste ensaio), dá uma saudável tristeza e grande
tranquilidade — isto de se considerar o que em todos os tempos se repete. (...) (de: Capítulo I)
«PÁGINAS DE DOUTRINA E CRÍTICA DA PRESENÇA»
Por
José Régio
Depois de ter copiado, atenta, beneditina, generosamente, pelo seu próprio
punho, todos os textos, assinados, ou não assinados, que José Régio publicara
na presença, nos treze anos que duraria essa «folha de arte e crítica»
por ele fundada em 1927, em Coimbra, com Branquinho da Fonseca e o autor destas
linhas, Alberto de Serpa, secretário da redacção da perseverante revista na
sua derradeira fase, renunciou a confiar à casa editora das Obras Completas
do autor do Jogo da Cabra cega o operosíssimo trabalho que levara a
cabo. Porquê? Porque entendeu que, perante a complexidade da tarefa que tinha
por indispensável à fixação correcta da matéria desses textos, (muito havia
a fazer ainda, trabalho de anos, para uniformizar, como era mister, a grafia e
outros pormenores dessa colaboração avulsa), e atenta a urgência em dá-los
à estampa, uma vez próxima a comemoração do cinquentenário do aparecimento
da presença, melhor seria que outrem chamasse a si esse encargo,
disposto a sobrepor aos escrúpulos de uma edição rigorosa a oportunidade de
uma data altamente significativa.
Foi então que os herdeiros do escritor, o editor das Obras Completas
e o próprio autor deste prefácio, de acordo com Alberto Serpa, reconhecida a
urgência da impressão do trabalho, para que o seu aparecimento coincidisse com
a data do quinquagésimo aniversário do advento da presença, decidiram
que outrem assumiria, de facto, a responsabilidade de o dar à estampa tal como
estava, isto é, sem uma escrupulosa uniformização gráfica e ortográfica.
Ora essa responsabilidade acabou por ser remetida ao signatário destas linhas.
Em verdade, pensámos, não estávamos perante textos linguísticos de
tal transcendência que se não pudesse obviar, publicando-os, aos
inconvenientes de qualquer possível irregularidade na sua transcrição das páginas
da revista onde tinham visto a luz, inclusivamente com «gralhas», fazendo com
menos rigor do que o teria feito o próprio José Régio, se fosse vivo, ou
qualquer autoridade filológica encarregada de proceder a uma edição crítica
dos mesmos textos. A urgência sobrepunha-se, realmente, ao rigor da edição,
concluímos.
Tendo sido José Régio o principal doutrinário da presença e celebrando-se, em 1977, o meio século decorrido sobre o aparecimento do primeiro número da revista, afigurou-se-nos — a mim principalmente — que constituiria um lapso grave, atenta a dificuldade na consulta de tão rara publicação, o não facultar ao leitor dos nossos dias o conhecimento directo das páginas de doutrina, crítica, polémica, comentário, etc., que José Régio inserira, durante treze anos, na publicação de maior significado literário, na história das letras nacionais, depois do aparecimento de Orpheu. E nesta ordem de ideias chamei a mim, aceitando o encargo, muito conscientemente, tal responsabilidade, embora certo de que a edição que apresentaria ao leitor não seria modelar, muito longe disso. Tempo não faltaria contudo, pensei, aos vindouros, para corrigirem o que por agora sairia menos perfeito. Aliás a circunstância de o autor deste prefácio publicar, pela mesma altura, um livro intitulado José Régio e a História do Movimento da «presença» decididamente concorria para que ele pusesse o maior empenho em dar a conhecer os documentos doutrinários e críticos que o seu camarada de direcção deixara espalhados pelas páginas da folha que haviam fundado e dirigido. Desta sorte o livro de José Régio seria como que o complemento desse outro meu, ou, se quiserem, esse outro livro seu seria como que o complemento deste outro de José Régio. (...) (de: Prefácio por João Gaspar Simões)
«CONFISSÃO
DUM HOMEM RELIGIOSO»
Por:
José Régio
Foi nos finais da década de quarenta que José Régio começou a pensar
escrever a «Confissão dum homem religioso». De entre os muitos projectos que
a brevidade de uma vida humana mesmo muito operosa como a dele obrigou a
abandonar, ano após ano, este persistiu sempre desde então e acabou por se
realizar na obra «imperfeita» que ides ler, o mais importante e extenso texto
póstumo do grande Escritor. Contemporânea era a tenção de expor longamente
as suas concepções sobre a Arte e a Crítica em duas outras obras de uma
projectada trilogia de livros de pensamento, A Expressão Artística e Compreensão
e Crítica, que completariam e justificariam ou fundamentariam as
suas criações literárias. A primeira destas seria uma refundição e
desenvolvimento do ensaio Em torno da expressão artística, publicado em
1940 pela «Inquérito» na sua colecção dos «Cadernos culturais», e que o
Autor sempre considerou insuficiente e pouco desenvolvido, como o «em torno de»
do título pretende sugerir. Sonhava aprofundá-lo e alargá-lo, minuciando-lhe
as análises, completando-lhe as insuficiências, resolvendo-lhe as dúvidas,
esclarecendo muitos problemas apenas aflorados. Tanto quanto permitia a sua
ocupada vida de criador literário, de professor, de apaixonado coleccionador de
antigualhas, ia lendo, ou relendo, alguns dos mais importantes textos da Estética.
Kant, Hegel, Schopenhauer, os seus comentadores e epígonos; os mais actuais
pensadores da Estética, desde Guyau a Lukacs — cuja volumosa Estética tinha
entre mãos, quando adoeceu — e aos estruturalistas; sobretudo os grandes
artistas que testemunhavam sobre a sua própria arte — absorveram-lhe muito
tempo de leitura e de meditação. Intermináveis horas debatia sem se cansar os
problemas fundamentais da criação artística, dos valores estéticos, da crítica
literária, com a lucidez e o poder de análise que se patenteiam na sua obra de
crítico e de teórico. Mas a criação absorvia-o e distraía-o dessa tenção
que, por fim, veio a abandonar, desconsoladamente, nos últimos anos da vida,
resignando-se a publicar na edição das «Obras Completas» os Três ensaios
sobre Arte, que reeditam uns estudos antes publicados, entre os quais aquele Em
torno da expressão artística. (...)
(de: Introdução por Orlando Taipa).
«PEQUENA
HISTÓRIA DA MODERNA POESIA PORTUGUESA»
Por:
José Régio
Em 1925, José Régio
publica o seu primeiro livro de poesia: Poemas de Deus e do Diabo. Nesse
mesmo ano saíra — mas assinado com o seu nome verdadeiro: José Maria dos
Reis Pereira — As Correntes e as Individualidades na Moderna Poesia
Portuguesa, que, destinando-se inicialmente a servir de dissertação para
licenciatura na Faculdade de Letras de Coimbra, sofreu depois diversas alterações,
apresentando-se, em 1941, com um novo título: Pequena História da Moderna
Poesia Portuguesa.
Foi esta a
origem do presente livro. Por isso algumas das suas intenções — sobretudo as
que enxertam num conjunto de pressupostos derivados duma concepção estética tão
firmemente enraizada como a de Régio — encontram o seu melhor lugar não só
nos anos em que o livro foi refundido e em que o seu autor atingia a maturidade,
mas também nos que imediatamente precederam o aparecimento da revista Presença
(1927-1940), de que o então jovem José Régio, ao lado de João Gaspar Simões
e Branquinho da Fonseca, foi um dos fundadores.
Um dos objectivos dos presencistas consistiu em chamar a atenção do público
e concorrer para a aceitação da geração modernista, onde se destacavam Mário
de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. As dificuldades, os múltiplos obstáculos
que tal intenção não podia deixar de encontrar estão bem patentes neste
passo duma conferência — repare-se no seu título... — de Gaspar Simões,
«Defesa da Poesia Moderna Contemporânea», que se refere, precisamente, à
primeira versão deste livro: «Nesse trabalho, apresentado à conspícua
Faculdade de Letras de Coimbra, havia um capítulo intitulado O Modernismo em
Portugal. Aí Mário de Sá Carneiro era, pela primeira vez, tratado como um
grande poeta inovador, ombro a ombro com Gomes Leal, com Antero, com Nobre, com
Eugénio de Castro., etc. Há que reconhecer a ousadia. O falecido professor
Mendes dos Remédios devia ter empalidecido de espanto». (...)
(de: "A Moderna Poesia Portuguesa Vista por José Régio"
por Fernando Guimarães)