JOSÉ RÉGIO  

  Um poeta de Portugal - e que poeta...  

  o maior dos vivos!  

  (Manuel Bandeira 1942)  

 

 

  José  Régio  

  (1901-1969)  

          

            José Régio (pseudónimo literário de José Maria dos Reis Pereira) nasceu em Vila do Conde, em 17 de Setembro de 1901. Poeta, dramaturgo, romancista, crítico, ensaísta, professor, memorialista, é talvez a figura literária mais completa do século XX. A sua vida, para além das suas actividades docentes, foi a sua obra.

            Feitos os estudos secundários na Póvoa de Varzim e no Porto, matriculou-se na Faculdade de Letras de Coimbra, na secção de Filologia Românica, de onde sai licenciado em 1925, com uma dissertação revolucionária para o tempo, que veio a ser, refundida, a «Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa» e que foi, de facto, a sua estreia literária. Em 1925 publicava na Lusa Atenas o seu primeiro livro de versos, «Poemas de Deus e do Diabo».

            Embora a crítica lhe fosse, em geral, indiferente e, até, hostil, não desistiu Régio das suas actividades literárias. Em 1927, com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, funda a revista e o movimento literário da «Presença», de que será sempre o principal animador, embora nem sempre o principal inspirador e onde cedo manifestou apreciáveis qualidades de crítico.

            Em 1928 fixou-se em Portalegre como professor de liceu, funções em que permanecerá durante trinta largos anos.

            Por tudo isto, três «meios» lhe marcam os destinos: Vila da Conde e o seu mar; Coimbra e a sua tradição do tardio séc. XIX; Portalegre e o mundo ancestral e largo que ela significa.

            Bastante considerado nos meios intelectuais do País, ia repartindo serenamente a sua vida entre o ensino em Portalegre e as férias em Vila do Conde, de mistura com uma produção literária em prosa e verso mais ou menos constantes.

            Faleceu em Vila do Conde, em 22 de Dezembro de 1969.

 

          Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e crítico. Em 1927, funda com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca a revista PRESENÇA, órgão do Segundo Modernismo, de que foi uma ENCADERNAÇÃO ACTUAL DAS OBRAS (14X21) - CÂNTICO NEGRO - «Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: «vem por aqui»! Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. -Que eu vivo com o mesmo sem vontade com que rasguei o ventre a minha Mãe. ...,... das principais figuras. Preocupado com os problemas do eu dividido entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo, a sua obra novelística, desenvolvendo esta temática conflitual em que se defrontam religiosidade e experiência quotidiana, contém entretanto elementos de crítica social e testemunha a influência de Dostoievsky precisamente no modo como inconsciente e personalidade aí se encontram presentes. Nem sempre Deus é nomeado no conflito que em Régio se adensa. Isso não lhe retira porém nunca o carácter eminentemente confessional - como se, seja na contradição mais espiritualista, seja num maniqueísmo da consciência, seja no confronto com o seu próprio discurso, a dúvida e o medo fossem um fantasma sempre presente, sempre intruso, por isso mesmo tanto mais ameaçador na sua ausência. E é assim que não apenas no teatro Régio se manifesta como um dramaturgo: muitos dos seus poemas apresentam um sentido e uma estrutura formal dramáticos, ainda mesmo quando o interlocutor de Régio é Régio ele-próprio ou, como refere Eduardo Lourenço, um «sósia prodigiosamente real». Da sua obra ensaística são de destacar os textos de doutrinação polémica, em especial os que se relacionam com a reacção à crítica neo-realista e com a defesa dos ideais de certo esteticismo humanista do grupo da PRESENÇA.

 

 

PREÇÁRIO

Obras normais BROCHADAS (capa mole) (14x20)

POESIA

Poemas de Deus e do Diabo (esg) - José Régio Encadernado- 7938$-39,59 6.300$-31,42
Biografia - José Régio Encad- 4725$-23,57 3.423$-17,07
Fado - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07
As Encruzilhadas de Deus - José Régio Encad-  7938$-39,59 6.300$-31,42
Mas Deus é Grande - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07
A Chaga do Lado - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07
Filho do Homem - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07
Cântico Suspenso - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07
Música Ligeira - José Régio Encad-  4725$-23,57 3.423$-17,07

Colheita da Tarde - José Régio (C/ Ediç Especial) Encad-  4725$-23,57

3.423$-17,07

FICÇÃO

O Jogo da Cabra Cega - José Régio  Encad- 5040$-25,14 3.738$-18,64
O Príncipe com Orelhas de Burro (esg)- José Régio  (Com Edi. Especial) Encad-  7938$-39,59 6.300$-31,42
Uma Gota de Sangue - José Régio (C/ Ediç Especial)Encad- 5040$-25,14 3.738$-18,64
As Raízes do Futuro - José Régio(C/ Ediç Especial)Encad-  5040$-25,14 3.738$-18,64
Os Avisos do Destino - José Régio(C/Ediç Especial)Enc-  5040$-25,14 3.738$-18,64
As Monstruosidades Vulgares - José Régio(C/ Ediç Especial)Enc- 5040$-25,14 3.738$-18,64
Vidas são Vidas - José Régio Encad-  5040$-25,14 3.738$-18,64
Histórias de Mulheres (esgotado)- José Régio Encad-  7938$-39,59 6.300$-31,42
Há Mais Mundos - José Régio  (Com Edição Especial) Encad- 7938$-39,59 6.300$-31,42

TEATRO

Jacob e o Anjo - José Régio Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12€
Benilde ou a Virgem Mãe - José Régio Encad- 4935$-24,62                 (Com Edição Especial) 3.633$-18,12 €
El-Rei Sebastião - José Régio  Encad- 4935$-24,62                             (Com Edição Especial) 3.633$-18,12 €
A Salvação do Mundo - José Régio Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12 €
Três Peças em um Acto - José Régio Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12 €

ENSAIO

António Botto e o Amor - José Régio  Encad- 4935$-24,62              (Com Edição Especial) 3.633$-18,12 €
Ensaios de Interpretação Crítica - José Régio Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12 €
Três Ensaios Sobre Arte - José Régio Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12 €
Páginas de Doutrina e Crítica da Presença - José Régio(Com Ed Especial) Encad- 4935$-24,62 3.633$-18,12 €
Confissão de um Homem Religioso - José Régio  Encad-  5040$-25,14  (Com Edição Especial) 3.738$-18,64
Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa - José Régio Encad-   4725$ - 23,57 3.423$-17,07

O preçário refere-se às edições normais encadernadas (14x21). Porém existem Edições Especiais (brochadas, 17x24) com uma tiragem de 100 exemplares assinadas por Saúl Dias irmão de José Régio com o preço de 15.435$00 - 76,99. As obras com Edições Especiais encontram-se marcadas no preçário a vermelho. 

Regresso à página inicial

 

 

Se procura algum poema, em especial, siga para os índices já abaixo: do lado esquerdo colocaram-se os nomes dos poemas e do lado direito o nome da obra em que se encontra o poema.

Obras de José Régio

Poesia

Painel

Poemas de Deus e do Diabo

Legião

Poemas de Deus e do Diabo

Narciso

Poemas de Deus e do Diabo

Adão e Eva

Poemas de Deus e do Diabo

Do Meu Orgulho

Poemas de Deus e do Diabo

Cristo

Poemas de Deus e do Diabo

O Diário

Poemas de Deus e do Diabo

O Santo de pedra

Poemas de Deus e do Diabo

Ícaro

Poemas de Deus e do Diabo

O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta

Poemas de Deus e do Diabo

Quinta-Feira Santa

Poemas de Deus e do Diabo

Lázaro

Poemas de Deus e do Diabo

Cântico Negro

Poemas de Deus e do Diabo

Chão Movediço

Poemas de Deus e do Diabo

A Jaula e as Feras

Poemas de Deus e do Diabo

As Barreiras

Poemas de Deus e do Diabo

Na Praça Pública

Poemas de Deus e do Diabo

Libertação

Poemas de Deus e do Diabo

Ronda dos Braços Quebrados

Poemas de Deus e do Diabo

Litania Heróica

Poemas de Deus e do Diabo

História Para Crianças Grandes

Poemas de Deus e do Diabo

Introdução a uma Obra

Poemas de Deus e do Diabo

 Para voltar ao preçário

Conto

Biografia

Baptismo

Biografia

Génese

Biografia

Lúcifer

Biografia

A Terra é Redonda

Biografia

Narciso

Biografia

Struggle for Life

Biografia

Apeadeiro

Biografia

Equilíbrio Instável

Biografia

A Jaula e as Feras

Biografia

Lázaro

Biografia

Turismo

Biografia

Soneto de Circunstância

Biografia

Experiência

Biografia

O Manequim

Biografia

Síntese

Biografia

Fugiu um Doido

Biografia

Libelo

Biografia

Tartufo

Biografia

Melancolia

Biografia

Ícaro

Biografia

Renúncia

Biografia

Demasiado Humano

Biografia

Pobres

Biografia

Tudo-Nada

Biografia

Baile de Máscaras

Biografia

Pecado

Biografia

Velho Testamento

Biografia

Última Ceia

Biografia

Boneco Desfeito

Biografia

Cristo

Biografia

Filho do Homem

Biografia

Soneto de Onan

Biografia

O Pequeno Super-Homem

Biografia

Libertação

Biografia

Espírito

Biografia

Segundo Soneto da Libertação

Biografia

Soneto de Amor

Biografia

Beleza Humana

Biografia

Momento Musical

Biografia

Triunfo

Biografia

Vocação

Biografia

Soneto de José Matias

Biografia

Frente a Frente

Biografia

Santo Ofício

Biografia

Auge

Biografia

A Coluna de Fogo

Biografia

Vésperas

Biografia

Cântico

Biografia

A Esfinge

Biografia

Juízo de Deus

Biografia

Novo Soneto de Amor

Biografia

Pecado Original

Biografia

Germinal

Biografia

Os Mortos Vivos

Biografia

Visitação da Tarde

Biografia

Lirismo

Biografia

Salve-se Quem Puder

Biografia

Logro

Biografia

De Profundis

Biografia

Cá e Lá

Biografia

Estrela da Tarde

Biografia

Job

Biografia

Capelas Imperfeitas

Biografia

Universalidade

Biografia

Metapsíquica

Biografia

As Duas Idades

Biografia

O Menino Sem Tempo

Biografia

Últimos Votos

Biografia

Ignoto Deo

Biografia

Meditação da Noite

Biografia

Redenção

Biografia

A Longa História

Biografia

Legião

Biografia

Cai o Pano

Biografia

Testamento do Poeta

Biografia

O Poeta Morto

Biografia

Epitáfio do Poeta

Biografia

Imortalidade

Biografia

Segue no Próximo Número

Biografia

 Para voltar ao preçário

Portugal de Todo o Mundo

Fado

Romance de Vila do Conde

Fado

Fado Português

Fado

Fado do Silêncio

Fado

Fado de Amor

Fado

Balada de Coimbra

Fado

Fado dos Pobres

Fado

Fado das Ruas Sem Sol

Fado

Fado do Grande e Horrível Crime

Fado

Toada de Portalegre

Fado

Fado das Mulheres de Vida Fácil

Fado

Fado do Amor sem Nome

Fado

Fado dos Ferros

Fado

Fado Alentejano

Fado

Fado Canção

Fado

Os Cristos

Fado

 Para voltar ao preçário

Colegial

As Encruzilhadas de Deus

Versos da Bela Adormecida

As Encruzilhadas de Deus

Meu Menino, Ino, Ino

As Encruzilhadas de Deus

Nocturno

As Encruzilhadas de Deus

Elegia Bufa

As Encruzilhadas de Deus

Pequena Elegia

As Encruzilhadas de Deus

Fantasia Sobre um Velho Tema

As Encruzilhadas de Deus

João sem Terra

As Encruzilhadas de Deus

Queixas do Poeta Contra Este Mundo

As Encruzilhadas de Deus

Realejo

As Encruzilhadas de Deus

Jogo de Espelhos

As Encruzilhadas de Deus

Poema de Amor Sem Fé Nem Esparança

As Encruzilhadas de Deus

Carta de Amor

As Encruzilhadas de Deus

O Papão

As Encruzilhadas de Deus

O Fértil Desespero

As Encruzilhadas de Deus

Evasão

As Encruzilhadas de Deus

Adeus

As Encruzilhadas de Deus

Poema do Silêncio

As Encruzilhadas de Deus

Confraria

As Encruzilhadas de Deus

Quando Deus Fala

As Encruzilhadas de Deus

Velha História

As Encruzilhadas de Deus

O Jongleur de Estrelas e o seu Jogo

As Encruzilhadas de Deus

Poema da Carne-Espírito

As Encruzilhadas de Deus

Canção de Guerra

As Encruzilhadas de Deus

Caos

As Encruzilhadas de Deus

Exortação ao Meu Anjo

As Encruzilhadas de Deus

Ámen

As Encruzilhadas de Deus

Mitologia

As Encruzilhadas de Deus

Amor

As Encruzilhadas de Deus

Alegria

As Encruzilhadas de Deus

Sarça Ardente

As Encruzilhadas de Deus

 Para voltar ao preçário

Páscoa

Mas Deus É Grande

Enterro do Anjinho

Mas Deus É Grande

Nossa Senhora

Mas Deus É Grande

Chegou a Noite

Mas Deus É Grande

Melodia

Mas Deus É Grande

Canção

Mas Deus É Grande

Os Mortos

Mas Deus É Grande

O Pego

Mas Deus É Grande

Ausência

Mas Deus É Grande

Soluço na Noite

Mas Deus É Grande

A Virgem Louca

Mas Deus É Grande

Humorismo

Mas Deus É Grande

Ode

Mas Deus É Grande

Fraternidade

Mas Deus É Grande

Obsessão

Mas Deus É Grande

Certeza

Mas Deus É Grande

Canção da Tarde

Mas Deus É Grande

Levitação

Mas Deus É Grande

As Minhas Asas,-deu-mas…

Mas Deus É Grande

Pequena Sinfonia

Mas Deus É Grande

 Para voltar ao preçário

Legenda

A Chaga do Lado

Um Poeta Ainda canta

A Chaga do Lado

Caridade

A Chaga do Lado

Geografia Humana

A Chaga do Lado

Vai Nascer um Menino

A Chaga do Lado

Os Felizes à Força

A Chaga do Lado

Ter ou não Ter, ou Os Amigos

A Chaga do Lado

Reportagem

A Chaga do Lado

A Um Camarada

A Chaga do Lado

Sabedoria

A Chaga do Lado

Encontro Nocturno

A Chaga do Lado

Soneto de Circunstância

A Chaga do Lado

A Cidade Ideal

A Chaga do Lado

Onomatopeia

A Chaga do Lado

a Um Jovem Poeta

A Chaga do Lado

Epigrama Elegíaco

A Chaga do Lado

Non est hic

A Chaga do Lado

Equilíbrio Instável

A Chaga do Lado

Grande Guerra

A Chaga do Lado

O Menino Sem tempo

A Chaga do Lado

Tu e Nós

A Chaga do Lado

 Para voltar ao preçário

Cancioneiro de João Bensaúde – Pre-Posfácio

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Poesia

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Fantasia Erótica

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Uma Criança

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Velho Bandolim

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de Maria e José

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Momento

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Canção Cruel

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Um Poeta

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Elegia

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de Stª Maria Madalena

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Álbum

Filho do Homem

O Amor e a Morte - Poema

Filho do Homem

Os Epitáfios – Novo Epitáfio para Um Poeta

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Rastro

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de S. Pedro, Pesc e Papa

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Oração da Manhã

Filho do Homem

O Amor e a Morte – União

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Um Doidinho

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Lamento

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de Stª Clara

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Pérola Solta

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Monólogo a Dois

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Uma Velha Donzela

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Posse

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de S. Francisco de Assis

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Funeral

Filho do Homem

O Amor e a Morte – A Uma Mulher Fácil

Filho do Homem

Os Epitáfios – Novo Epitáfio para Uma Velha Donzela

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Canção de Primavera

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de Stª Isabel Raínha de Portug

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Litania do Natal

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Alma

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Um dos Grandes do Mundo

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Jogos

Filho do Homem

o Pólo Sumo – Em Louvor de S Vicente de Paula

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde - Apontamento

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Epílogo Adiado

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para o Pobre Desconhecido

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Adeus

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de Stª Teresa de Ávila

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Canção de Outono

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Metafísica

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para Um santo Obscuro

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde –Natureza

Filho do Homem

O Pólo Sumo – Em Louvor de S. João da Cruz

Filho do Homem

Cancioneiro de João Bensaúde – Consagração

Filho do Homem

O Amor e a Morte – Ode a Eros

Filho do Homem

Os Epitáfios – Epitáfio para um Anónimo

Filho do Homem

A Longa Lápide (À Memória de João Bensaúde)

Filho do Homem

 Para voltar ao preçário

Havia Na Cidade

Cântico Suspenso

Sucata

Cântico Suspenso

O Baile

Cântico Suspenso

Legenda para Nada

Cântico Suspenso

O Templo Abandonado

Cântico Suspenso

Olhos no Beco

Cântico Suspenso

Hamlet e a Caveira

Cântico Suspenso

A Estátua

Cântico Suspenso

Os Dois de Fora

Cântico Suspenso

Melopeia do Café Deserto

Cântico Suspenso

Cançaõ do Moço Jardineiro

Cântico Suspenso

O Relógio

Cântico Suspenso

Elegia

Cântico Suspenso

O Grito

Cântico Suspenso

Serenata

Cântico Suspenso

Voo

Cântico Suspenso

A Última Deusa

Cântico Suspenso

Os Santos

Cântico Suspenso

A Sombra

Cântico Suspenso

Penumbra

Cântico Suspenso

Convocação

Cântico Suspenso

Ode à Esperança

Cântico Suspenso

Estação Término

Cântico Suspenso

 Para voltar ao preçário

Música Ligeira

Música Ligeira

Partilhas

Música Ligeira

Canção de Outono

Música Ligeira

Canção dos Dias Contados

Música Ligeira

Fantasia Nocturna

Música Ligeira

Cantar de Amigo

Música Ligeira

Pobre

Música Ligeira

Toadilha

Música Ligeira

Mistificações

Música Ligeira

Fonte

Música Ligeira

Carta de Amor

Música Ligeira

Bailarino

Música Ligeira

Cantar de Amigo

Música Ligeira

Ajuste de Contas

Música Ligeira

Lamento

Música Ligeira

Canção do Velho Poeta

Música Ligeira

Lágrima, Pérola

Música Ligeira

Manhã de Névoa

Música Ligeira

 Para voltar ao preçário

Poesia

Colheita da Tarde

Castelos no Ar

Colheita da Tarde

Balada Louca

Colheita da Tarde

Dona Lua

Colheita da Tarde

O Outro

Colheita da Tarde

Ferro Em Brasa

Colheita da Tarde

Canção do Regresso

Colheita da Tarde

Humorismo a 40º de Febre

Colheita da Tarde

Soneto dos Reis no Exílio

Colheita da Tarde

Cantigas

Colheita da Tarde

Pequena Sinfonia Heróica

Colheita da Tarde

Pequena Ode

Colheita da Tarde

Vida e Morte

Colheita da Tarde

Fogos Fátuos e Fogos de Artifício

Colheita da Tarde

Instantâneo Com Pose

Colheita da Tarde

Uma Dúzia de versos

Colheita da Tarde

Telintar

Colheita da Tarde

Pequeno Poema

Colheita da Tarde

«Como Uma Flor…»

Colheita da Tarde

Condição Humana

Colheita da Tarde

Poemetos em Prosa para um Ano Novo

Colheita da Tarde

Quatro Pequenos Poemas em Prosa

Colheita da Tarde

Apólogo

Colheita da Tarde

Amor

Colheita da Tarde

Ressentimento

Colheita da Tarde

Caridade

Colheita da Tarde

A Corda tensa

Colheita da Tarde

Colaboração

Colheita da Tarde

«Todos me Vão Morrendo…»

Colheita da Tarde

Fonte de Água Viva

Colheita da Tarde

Evolucionismo

Colheita da Tarde

O Amor

Colheita da Tarde

«Deixem-me! Deixem-me ser Tantos Quantos Sou…»

Colheita da Tarde

As Duas Idades

Colheita da Tarde

«Para Além dos Pinhais…»

Colheita da Tarde

Última exortação ao meu Anjo

Colheita da Tarde

Domingo no Alentejo

Colheita da Tarde

Improviso Corrigido

Colheita da Tarde

Conceito

Colheita da Tarde

«Foste Simples, Banal…»

Colheita da Tarde

Jardim do Poeta

Colheita da Tarde

Manhã de Abril

Colheita da Tarde

Canção Crepuscular

Colheita da Tarde

Ano Novo

Colheita da Tarde

Versos de Álbum

Colheita da Tarde

Canção

Colheita da Tarde

Filosofia Caseira

Colheita da Tarde

Pequena Fábula para a BI

Colheita da Tarde

sextilhas Fáceis em Louvor da Poesia

Colheita da Tarde

Voto

Colheita da Tarde

Enfim

Colheita da Tarde

A Flor e a Canção

Colheita da Tarde

Momento Musical

Colheita da Tarde

Verbo

Colheita da Tarde

Improviso

Colheita da Tarde

Declaração

Colheita da Tarde

As Duas Presas

Colheita da Tarde

Epitáfio para uma Borboleta

Colheita da Tarde

Auto-Epitáfio de João Bensaúde

Colheita da Tarde

Epitáfio para um Herói

Colheita da Tarde

Canção Juvenil

Colheita da Tarde

Ode à Rima

Colheita da Tarde

Natal

Colheita da Tarde

A Morte e a Vida

Colheita da Tarde

Vocação

Colheita da Tarde

Os Poetas

Colheita da Tarde

alarme

Colheita da Tarde

Cantiga do poeta

Colheita da Tarde

Palavras

Colheita da Tarde

 Para voltar ao preçário

Edição da Câmara Municipal de Vila do Conde (Ver respectivo preçário na página inicial)

Amor

Primeiros versos Primeiras Prosas

Noivos

Primeiros versos Primeiras Prosas

O Anjo Da Inocência

Primeiros versos Primeiras Prosas

Junto Ao Rio Ave

Primeiros versos Primeiras Prosas

Tísica

Primeiros versos Primeiras Prosas

À tua Imagem

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Canção Duma Mãe

Primeiros versos Primeiras Prosas

Serenata

Primeiros versos Primeiras Prosas

Canção Funérea

Primeiros versos Primeiras Prosas

Canção Da Lua

Primeiros versos Primeiras Prosas

Nossa Senhora?

Primeiros versos Primeiras Prosas

Amar Sem Ser Amado

Primeiros versos Primeiras Prosas

Quadros Negros

Primeiros versos Primeiras Prosas

O Canto dum Infeliz

Primeiros versos Primeiras Prosas

Cantares Dispersos

Primeiros versos Primeiras Prosas

Canto Patriótico

Primeiros versos Primeiras Prosas

O Rosário que Me Deste

Primeiros versos Primeiras Prosas

Ao Mar

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Profecia de Jesus

Primeiros versos Primeiras Prosas

Literatura

Primeiros versos Primeiras Prosas

Lírios

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Canção dos Ceguinhos

Primeiros versos Primeiras Prosas

Nuno Álvares

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Canção da Saudade

Primeiros versos Primeiras Prosas

Versos a Alguem

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Elegia do Mar

Primeiros versos Primeiras Prosas

Sonho Morto

Primeiros versos Primeiras Prosas

Aos Soldados que Partem

Primeiros versos Primeiras Prosas

Soneto

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Torre

Primeiros versos Primeiras Prosas

Velhinha

Primeiros versos Primeiras Prosas

Versos

Primeiros versos Primeiras Prosas

À Luz Do Luar

Primeiros versos Primeiras Prosas

O Meu Sepulcro

Primeiros versos Primeiras Prosas

Expansão

Primeiros versos Primeiras Prosas

Cantigas

Primeiros versos Primeiras Prosas

Momentos Tristes

Primeiros versos Primeiras Prosas

Mãe e Filho

Primeiros versos Primeiras Prosas

Na Rua

Primeiros versos Primeiras Prosas

Lágrimas

Primeiros versos Primeiras Prosas

Olhos Verdes

Primeiros versos Primeiras Prosas

Ela

Primeiros versos Primeiras Prosas

Chorar, Cantar

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Que Eu Adoro

Primeiros versos Primeiras Prosas

Balada

Primeiros versos Primeiras Prosas

Morta

Primeiros versos Primeiras Prosas

Aos Ateus

Primeiros versos Primeiras Prosas

A Noite

Primeiros versos Primeiras Prosas

Oração a Ela

Primeiros versos Primeiras Prosas

  Para voltar ao preçário

 

 

 

Prosa de Régio

 

«O JOGO DA CABRA CEGA»

Por José Régio

 

 

         O gosto de vaguear de noite, a horas mortas, era agora o mais querido dos meus prazeres melancólicos. Desde muito novo desenvolvo reais qualidades inventivas em tal género de prazeres: Mas qualidades que sobretudo se revelam no pormenor ou na maneira. De facto, o prazer de errar pela noite é comum a várias criaturas. Sempre desconfiei de misteriosas afinidades entre todas, por mais que as separem os gostos, os vícios, as aparências, a idade, a condição social. Não obstante tal desconfiança, que não posso bem corroborar com exemplos, eu julgava-me então único. Noites havia, sim, em que simplesmente apreciava a noite: O aspecto de mascaradas, ou desmascaradas, que certas casas têm a certas horas; o silêncio das ruas e a sonoridade das pedras; os vultos que se esgueiram, ou esperam às esquinas, ou se cosem às paredes, ou nos roçam o ombro, ou nos pedem lume, ou falam alto; e depois esboços de paisagens, ou transfigurações inesperadas de coisas que à luz do dia são banais. Porém essas noites não eram as minhas. Estas começavam sempre mais tarde, exigiam-me só, e requeriam disposições extraordinárias. Eu andava então horas e horas entregue a uma espécie de devassidão — não acho outra palavra — durante a qual vivia, por assim dizer, todo o meu passado e todo o meu futuro. Depois de ter corrido a cidade, recomeçava: Preferia os becos, as sombras, os cantos e as escadinhas escusas. E envolvia no mesmo ódio furibundo as luzes dos cafés e os raros transeuntes normais que recolhiam. Era pela antemanhã que o meu delírio atingia o auge. O cansaço atirava-me então contra qualquer muro, exausto como um pobre animal vencido. E na lúcida consciência da minha humilhação, da minha fraqueza, e da minha loucura, saboreava não sei que travor de triunfo. Uma espécie de libertação me sobrevinha. Eu experimentava uma vaga satisfação de destino cumprido! Arrastava-me até casa, subia às apalpadelas, despia-me rezando fragmentos de velhas orações; e adormecia dum sono que parecia não dever ter fim. Mas outras noites, cansava-me: Depois de ter começado as minhas deambulações onanísticas — sentia que me seria impossível prosseguir. Resolvia, então, renunciar, e acabar a noite como qualquer outro.  (de: Capítulo I: O gosto de vaguear de noite...)

 Para voltar ao preçário

 

 

 

«O PRÍNCIPE COM ORELHAS DE BURRO»

Por José Régio

 

 

         Era de uma vez, no reino da Traslândia, um casal que não tinha filhos. Grande mágoa, suponho, deve ser não ter filhos um casal que se entende bem. E assim era nesse casal. Eis porque o marido começara de precocemente encanecer, entretendo os ócios com aprender jogos chineses, coleccionar pássaros e armas brancas, estudar dialectos ou outras futilidades idênticas; e a mulher se tornava rabugenta, caprichosa, avarenta, fanática, (tendo sido a própria imagem da alegria!) como se não houvera casado, e antes do tempo envelhecera de inutilidade e amargor. Esse casal que se adorava — principiara, até, a não poder tolerar-se: Como quase todos os infelizes ligados por uma desgraça comum e odiada, cada um via no outro o espelho do seu infortúnio. Acrescentemos que, no presente caso, cada um tendia a ver no outro o próprio causador desse infortúnio. Este mútuo ressentimento ia a pontos de já nem poder o triste casal escondê-lo da corte.

         Pois não me ia esquecendo um pormenor importante? Ele era o próprio rei, ela a própria rainha de Traslândia: A ausência de filhos nesse matrimónio representava uma desgraça pública. Assim a mágoa dos dois míseros esposos se acrescentava da inquietação dos reinantes. A cupidez dos povos vizinhos espreitava o seu trono sem herdeiros. Tanto mais sendo alguns desses povos governados por parentes seus que, embora vagos, se supunham com direitos ao trono. Quanto aos governantes nem de longe seus parentes — desde já forjavam teorias, invocavam necessidades, aventavam doutrinas, alegavam conveniências, chegavam a idear questões de ordem metafísica ou religiosa que lhes permitissem, mortos os pobres reis estéreis, cair sobre o reino sem leme. Quem não sabe como sempre se arrearam de razões a ambição e a violência? (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário

 

 

 

A VELHA CASA: VOL. I

«UMA GOTA DE SANGUE»

Por José Régio

 

 

         Era a hora do estudo da tarde, e Lèlito pensava. As Catilinárias abertas na carteira, o dicionário à direita, o caderno de significados à esquerda e o lápis à mão — pareciam demonstrar que Lèlito preparava a sua lição de latim. Mas Lèlito não pensava nas  Catilinárias. Na realidade, nem pensava. Melhor fora dizer que vogava ao sabor de um vago devaneio melancólico, através do qual a saudade de casa transparecia num persistente vaivém de recordações, aliada a uma como viscosa, angustiosa, obscura sensação de pavor. Tal pavor, ainda Lèlito fugia de o confessar a si próprio; mas há três dias que o perseguia; e há seis que Lèlito chegara. Há seis que neste mesmo salão fingia, a esta mesma hora, preparar as lições do dia seguinte.

            Era um bom salão comprido, largo, com janelas subindo de um e outro lado quase até ao tecto. Pelas janelas da direita, viam-se as tílias do recreio dos maiores. Lèlito pertencia aos maiores. Pelas da esquerda, o alto muro da cerca e uns longes da cidade. Ao fundo, sobre um estrado, a mesa do prefeito. E na parede, em frente de várias filas de carteiras, havia um mapa de Portugal, um retrato do Dr. Santos Paiva, fundador do colégio, e dois caixilhos rectangulares com dizeres.

         Um dizia: Mandar é suportar o peso das responsabilidades. Menos custa obedecer.

         E o outro: Se não trabalhares com alegria, não acuses ninguém de o trabalho te ser penoso.

         «Trabalhar com alegria!... Mandar, obedecer...»

         Desde a primeira tarde que estes letreiros se tinham tornado quase odiosos a Lèlito; nem ele sabia bem porquê.

         O Colégio Familiar aceitava internos, semi-internos e externos. Os internos recebiam lições no próprio colégio em que viviam. Os semi-internos frequentavam as aulas do Liceu, acompanhados por um prefeito. Os externos só iam ao colégio receber lições. Por intermédio destes se forneciam os internos de tabaco, enviavam e recebiam correspondência clandestina, compravam revistas de cinema e desportos, com retratos de actrizes ou jogadores; às vezes, até livros ou postais obscenos.  (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário

 

 

 

A VELHA CASA: VOL. II

«AS RAÍZES DO FUTURO»

Por José Régio

 

 

         Duas coisas preocupavam agora madrinha Libânia: a doença de Lèlito e a carta, que chegara, de João. Todos os dias, logo de manhã, visitava Lèlito, a saber como passara a noite; mas era uma visita muito breve. Fazia-lhe, à tarde, uma visita mais longa, embora, muitas vezes, quase silenciosa. E depois descia e ficava sentada à meia porta do quarto, pequenina e ainda direita à borda da larga cadeira de coiro. Piedade, que lidava na cozinha, vinha de vez em quando e perguntava por mera impaciência:

         — Então não vão sendo horas, minha senhora?

         As mais das vezes, madrinha Libânia já nem lhe respondia.

         Madrinha Libânia e Piedade esperavam ambas que passasse a hora de terem chegado os passageiros do comboio. Antes, não descansariam. A carta em que João avisava os pais da sua vinda não dizia ao certo o dia da chegada. Por isso mesmo madrinha Libânia e Piedade o tinham ficado esperando todos os dias. Sem dúvida, também os pais o esperavam; e sobretudo a mãe. Porém em madrinha Libânia e Piedade, era mais visível a impaciência. Só por isso haviam ambas decidido que João chegaria um dia desses, (mesmo sem outro aviso) no último comboio da tarde. (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário

 

 

 

A VELHA CASA: VOL. III

«OS AVISOS DO DESTINO»

Por José Régio

 

         O primeiro ano de Lèlito em Coimbra decorreu sem peripécias nem grande interesse visível. Instalado numa casa da Rua dos Grilos, aí fez Lèlito uma vida recatada e monótona, quase feliz; embora só mais tarde tivesse chegado a tomar consciência do seu íntimo bem-estar de então.

         Mais dois estudantes viviam na mesma casa: Um, não passava de bicho; isto é: estudante do Liceu. Chamava-se Aurélio, e era sobrinho da excelente D. Felicidade. O outro — Adelino — frequentava o terceiro ano de Medicina.

         Quanto à excelente D. Felicidade, senhora da casa, tinha um parco montepio que lhe deixara o seu extinto. Governava-se juntando-lhe a pensão de dois ou três estudantes que sempre albergava.

         Com os seus dois companheiros de casa mantinha Lèlito umas relações quase cerimoniosas, quase agradáveis, e, seguramente, corteses. Nenhum entusiasmo, nenhuma intimidade nessas relações; mas também nenhum choque.

         O Aurélio era um rapazinho loiro, dum branco leitoso e carne mole, — com tendências para gordo. Aos enlevados olhos da tia, não havia no Liceu rapaz mais bonito! E o caso é que alguns dos seus camaradas mais velhos gostavam de lhe dar beijos. A pouca idade e a insuficiência mental o deixavam inteiramente alheio a Lèlito. Não obstante, algumas vezes o ajudava Lèlito a preparar as lições, servindo-lhe de explicador. Assim conquistara a terna gratidão de D. Felicidade, que sobre a cabeça do sobrinho erigira — e sustentava — as mais altas esperanças. Apesar dos mútuos esforços, não chegara o seu extinto a deixar-lhe filhos. De modo que desde o nascimento de Aurélio o adoptara a excelente senhora por seu. Como o rapazinho era estudioso, teimoso, curto de ideias, lá ia conquistando umas notazinhas que nutriam as ilusões da tia. Pensava esta, porém, que os mestres ainda não haviam devidamente reconhecido as qualidades do seu Aurélio. «Pois desta massa é que se eles fazem!» costumava sentenciar a excelente senhora. Queria dizer que dessa carne flácida, loira e alva do Aurélio poderia sair um director de banco, um professor da Universidade, um consagrado escritor, um ministro, quiçá um Presidente da República... E poderia. Todas as pessoas circunstantes lhe davam cabal razão. (...) (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário

 

   

A VELHA CASA: VOL. IV

«AS MONSTRUOSIDADES VULGARES»

Por José Régio

 

 

         No fim dum ano de casada, Maria Clara não saberia dizer se era feliz. Muitos momentos o era; muitas horas, até muitos dias. Mas passados esses momentos, horas, ou dias? Na verdade, talvez nem ainda tivesse chegado a reflectir nisso. Não estava no seu feitio. Simplesmente a assaltara esta dúvida, durante esses meses de vida íntima com Joaquim: «Será isto a vida que sonhei?»

         Não a perseguira por demais. Não lho permitiria nem o seu vigilante instinto de autodefesa, nem o amor que a prendia ao marido. Todavia, essa interrogação voltara, insistira em voltar, como uma dor física já com raízes: «Será isto a vida que sonhei?» E, de cada vez, uma tristeza súbita e profunda caía sobre ela, como certas nuvens que, repentinamente, escondem o sol. Era, ao mesmo tempo, uma espécie de pavor. Não obstante, mal transcendera tal interrogação aquela região obscura em que propriamente  ainda não há pensamento, mas só sentimentos confusos, germes de ideias. Talvez, também, lhe não houvesse Maria Clara consentido formular-se e desenvolver-se nitidamente.

         Ora essa tarde, não foi assim. Porque, nessa tarde, o desespero fez com que Maria Clara olhasse bem de cara a sua situação: «Na verdade, será isto a vida que sonhei?»

         O desespero, e também um íntimo impulso de vingança. Sentindo-se vítima de uma injustiça, Maria Clara não poderia perdoar sem se desafogar por qualquer desforra. Tanto mais que não era a primeira vez que Joaquim se mostrava injusto com ela, embora talvez nunca lhe tivesse aparecido tão clara a injustiça. Ora confusamente sentia Maria clara — como sempre sentia tais coisas — que o interrogar-se sobre a sua felicidade já era vingar-se do seu Joaquim. Seu..., e que ela amava como dantes. Mais ainda! Por isso mesmo se tornava tudo aquilo um absurdo, um mistério que a desesperava. Pois por que não eram felizes?! Inteiramente felizes? Por que?! Maria Clara não chegava a compreender. (...) (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário

 

   

A VELHA CASA: VOL. V

«VIDAS SÃO VIDAS»

Por José Régio

 

 

         A convalescença de Pedro foi demorada. Chegara com os dois pulmões afectados. Os novos medicamentos que para o seu caso então se experimentavam, ainda não haviam provado suficientemente. Pelo menos, no entender do Dr. Lage. O Dr. Lage não era inclinado a novidades. Há tanto ano em Azurara, se em vários aspectos da sua personalidade sempre soubera defender uma quase feroz independência, pouco a pouco, e subtilmente, se deixara penetrar noutros de esse pendor provinciano para em tudo «ir pelo seguro». Decerto o achariam atrasado, contaminado de espírito rotineiro, os jovens médicos da capital. Acabavam de se especializar lá fora, ou, pelo menos, assinavam as mais modernas revistas da especialidade. Decerto o achariam atrasado, e alguma razão teriam. O que, porém, salvava o Dr. Lage, era não só a sua longa experiência, tão inteligentemente aproveitada, como o seu imperturbável bom senso. O repouso, a boa alimentação, a despreocupação, os ares puros, alguns fortificantes, — eis no que principalmente esperava o nosso Dr. Lage para a cura de Pedro. «Com a ajuda de Deus» dizia Angelina «há-de se curar.» E o Dr. Lage: «Com a ajuda da Madre Natureza!»

         De facto, na sua própria natureza parecia estar a melhor defesa de Pedro. Admirava o Dr. Lage como pudera um homem de tão robusta constituição, na força da vida, ter chegado ao miserável estado em que o trouxera Lèlito. Entre os dois — Pedro e o Dr. Lage — se estabelecera quase desde logo aquela corrente afectiva que pode ser profunda, quando recíproca, entre um doente e o seu médico. Muito naturalmente, pois, se fora Pedro confiando ao seu novo amigo. Embora por episódios e fragmentos, aos poucos lhe dera conta de toda a sua vida.  (...) (de: Capítulo I)

Para voltar ao preçário  

 

 

Davam Grandes Passeios Aos Domingos

História de Mulheres

Sorriso Triste

História de Mulheres

A Menina Olímpia e a sua Criada Belarmina

História de Mulheres

História de Rosa Brava

História de Mulheres

Maria do Ahú

História de Mulheres

O Vestido Cor de Fogo

História de Mulheres

Pequena Comédia

História de Mulheres

«HISTÓRIAS DE MULHERES»

Por José Régio

         O comboio parara finalmente na estação de Portalegre. De novo o cavalheiro amável se dirigiu a Rosa Maria:

         — Chegou. Faça favor de descer que eu passo-lhe as suas coisas.

         — Muito obrigada! — disse Rosa Maria descendo.

         O cavalheiro amável estendeu-lhe a caixa do chapéu, o embrulho do presente da velha Leocádia para a menina Lá-Lá, e a pequena mala de couro em que Rosa Maria trazia o indispensável para o primeiro dia. A mala grande vinha despachada.

         — Muito obrigada! — repetiu Rosa Maria — Tenha boa viagem. Boa noite!

         E como ficava em Portalegre, e o cavalheiro amável dissera seguir para Elvas, olhou e sorriu-lhe quase com garridice. Nunca Rosa Maria fizera sozinha uma viagem tão longa. Na disposição de espírito em que viera, não só a tinham importunado como quase assustado as insistentes atenções do cavalheiro amável. «Vêem uma rapariga só...» — pensava ela com a sua psicologia de pouco afeita aos caminhos de ferro e aos desembaraços da mulher moderna. Agora, não havia perigo em compensar o seu aliás respeitoso admirador com esse olhar e um sorriso.

         Mas imediatamente ele se debruçou na portinhola, e falou num tom mais íntimo:

         — Boa noite! Espero tornar a encontrá-la. Elvas não é assim tão longe de Portalegre! E terei muitíssimo prazer... (...) (de: Capítulo I de "Davam Grandes Passeios aos Domingos")

 Para voltar ao preçário  

Os Três Vingadores ou Nova Hist de Roberto do Diabo

Há Mais Mundos

O Fundo Do Espelho

Há Mais Mundos

Conto do Natal

Há Mais Mundos

Os Paradoxos do Bem

Há Mais Mundos

Os Três Reinos

Há Mais Mundos

Os Alicerces da Realidade

Há Mais Mundos

As Historietas dum Coleccionador de Antiguidades

Há Mais Mundos

 

 

«HÁ MAIS MUNDOS»

Por José Régio

         Decerto mal chegava a ser homem, um homem como os outros, aquele estranho ser todavia com formas claramente humanas. Por vários aspectos, antes se diria da raça dos bichos. Como os dos bichos da floresta, se apresentava coberto de pêlos o seu rude corpo gigantesco. De igual para igual brigavam pela conquista duma presa comum, ele e os bichos. Por uma natural solidariedade acamaradavam em certas horas de perigo: aquelas, por exemplo, em que, desencadeadas, as misteriosas forças da Natureza tanto ameaçam bichos como homens. À semelhança dos bichos se deitava a dormir na terra estreme, e qualquer chão ou pedra lhe servia de mesa para os brutos festins. Nada, pois, senão essa rivalidade a que os obrigava a urgência de satisfazerem comuns necessidades primárias, (entre quais, talvez a do amor) impedia que só amigos tivesse ele nas variadas classes das bestas: das bestas-feras, das bestas mansas. Não as compreendia perfeitissimamente nos seus costumes e caracteres, moléstias e até linguagem? Desde o espantoso rugir do leão, que assusta todos os outros animais, ao diamantino trilo das aves; desde o pungente, longo, humorístico ronco do asno ao roçagante zoar confidencial dos insectos, — hábil conhecedor se tornara das suas várias línguas, que na perfeição imitava. Afastar-se-ia muito dessas a sua própria? A verdade é que também os bichos o entendiam, parecia. (...) (de: Conto do Natal)

Para voltar ao preçário  

 

 

Três Máscaras

Três Peças em Um Acto

O Meu Caso

Três Peças em Um Acto

Mário ou Eu Próprio-o Outro

Três Peças em Um Acto

«TRÊS PEÇAS EM UM ACTO»

Por: José Régio

         (A acção decorre na actualidade, durante um baile de segunda-feira de Entrudo, numa casa elegante da Capital. A cena representa uma sala próxima do salão de baile. Arranjo simples, rico, e de bom gosto. Grande porta envidraçada ao fundo, para uma varanda. Porta larga à esquerda, outra à direita. A sala está deserta ao subir o pano. Chegam, abafados, os sons de um terceto que toca no salão. Ouvem-se durante uma parte do diálogo, até que se indique silêncio. Columbina entra a correr pela esquerda, logo seguida de Pierrot. Mefistófeles sai-lhe ao encontro pela direita. Columbina corre até boca de cena, volta-se de repente para eles.)

         Columbina — Estou então entre dois fogos?

         Pierrot — (avança um passo, com ambas as mãos ao peito) O do meu coração, Columbina!

         Mefistófeles — (avança também um passo, dobra-se numa leve reverência) Columbina..., o do meu desejo.

         Columbina — Sois perseverantes, vejo-me reduzida a ouvir-vos. Já é um triunfo vosso. Ainda bem que sois dois, um neutralizará o outro. (Puxa de uma cadeira, senta-se a meio da cena, voltada para o público.) Vem cá Pierrot! (Pierrot, de salto, vem cair a seus pés.) Vem também Mefistófeles! (Mefistófeles adianta-se com aprumo e graça, pára a seu lado, espera.) E agora divirtam-me! Conquistem-me! Façam-me esquecer que me obrigam a ouvi-los. (...) (de: TRÊS MÁSCARAS fantasia dramática)

Para voltar ao preçário  

 

 

Discurso Sobre Camões

Ensaios de Interpretação Crítica

Camilo, Romancista Português

Ensaios de Interpretação Crítica

Florbela

Ensaios de Interpretação Crítica

O Fantástico na Obra de Mário de Sá Carneiro

Ensaios de Interpretação Crítica

«ENSAIOS DE INTERPRETAÇÃO CRÍTICA»

Por: José Régio

         Muitas vezes é o grande artista um herdeiro que multiplica, e renova, os bens herdados. Camões se me afigura bom exemplo em favor desta observação. Quando Luís de Camões apareceu na nossa literatura, já duas grandes correntes a vivificavam: Uma, que talvez possamos dizer popular, com raízes profundamente entranhadas na alma da raça. Outra, culta e em grande parte importada; mas que nem por isso deixara de encontrar terreno propício no rico solo português.

         Mais fácil, porém, será sentir, na poesia anterior a Camões, a existência destas duas correntes, ou averiguar, até, quanto à forma, o que melhor caberá a uma ou outra, do que distinguir, ao fundo das composições, os sentimentos mais próprios de cada. Quase sempre tenderam os nossos poetas a bem receber quaisquer formas estranhas, sem, todavia, alterarem intrinsecamente a sua atitude poética: O conteúdo resiste ao continente; o sólido fundo persiste através da maleabilidade da forma, da variabilidade da aparência, — a usarmos aqui duma linguagem por certo convencional mas cómoda. Se tentáramos aprofundar até onde fundo e forma, ou, ainda mais grosseiramente, conteúdo e continente, são ou não distinguíveis na expressão artística, mais se nos enredaria a questão. Por agora diremos que breve decaem entre nós as formas menos adequadas às profundas características nossas; ou que não atingem o santuário da arte, ficando-se naquela superfície (ou limiar do santuário) em que a produção literária é quase mero brinco, simples expressão retórica, essas composições que importam formas inadequadas ao nosso fundo, ou ensaiam doutrinas, modas, correntes, inclinações da sensibilidade, posições do pensamento, a que interiormente sejamos pouco propensos.  (...)  (de: Discurso sobre Camões)

Para voltar ao preçário  

 

 

Em Torno Da Expressão Artística

Três Ensaios Sobre Arte

A Expressão e o Expresso

Três Ensaios Sobre Arte

Vistas Sobre o Teatro

Três Ensaios Sobre Arte

«TRÊS ENSAIOS SOBRE ARTE»

Por: José Régio

         A arte é expressão — tenho pensado; e, naturalmente, escrito ou dito. Ora logo provoca esta afirmação pelo menos duas interrogações:

         Que modo, ou género, de expressão?

         Expressão... de quê?

         Por outras palavras:

         Mas toda a expressão será arte?

         Mas será arte a expressão seja do que for?

         Todos a quem se disser a arte é expressão levantarão, pelo menos, estas questões; (excepto os muito pouco dados a levantar questões). Não julgo fácil responder-lhes; não estou certo de lhes saber responder; mas compreendo que, sem qualquer desenvolvimento, parecerá bem pouco dizer da arte que é expressão. Por isso tentarei responder aqui o melhor que puder.

         Deverei pedir desculpa de me transcrever, num ensaio em que tento averiguar eu próprio o que penso sobre determinado assunto? Se acha que sim, desculpe-me o prezado leitor. Escrevi algures:

         «Toda a arte é expressão; e nem o que às vezes chamamos, em arte, sugestão é outra coisa senão expressão subtil. Aquém ou além da expressão, não há arte. Não há arte no gaguejar ou inarticular por que pode exprimir-se (mas não artisticamente) o indivíduo intensamente emocionado, como a não há no silêncio sublime por que pode exprimir-se (mas não artisticamente) o místico em êxtase. Tão-pouco há arte naquela simulação da expressão que é a retórica no sentido depreciativo — deturpado — da palavra. Para ser expressão artística, a do primeiro é deficiente; a do segundo, transcendente; a do último, o retórico, ao mesmo tempo insuficiente e excessiva. Já, porém, pode haver arte na introdução intencional, em qualquer obra teatral ou romanesca, do gaguejar ou inarticular do apaixonado, do santo pasmo do místico, do palavrear do retórico. Isto nos fará suspeitar que simultaneamente haja intenção profunda e jogo, imitação aparente e tranfiguração real, no género de expressão que é a expressão artística. Ora se nada do que fica dito chega a definir esse género de expressão, — porventura algum indício dará do que outra vez ousarei tentar dizer melhor».

         Não felicito o autor do trecho pela clareza; ou antes, aproveitando uma distinção de José Marinho, pela claridade. Consideremos, porém, haver uma clareza aparente não só deficiente como perigosa, pois nos pode induzir a supor simples e fácil o que é complexo e difícil; ou a julgar ter deixado explicado o que ficou obscuro. Não escolhi o trecho citado senão porque aflora pontos essenciais do que penso sobre a expressão artística — e porque, na sua relativa clareza, exige, não obstante, ser clarificado. Esta parece também ter sido a opinião do autor no próprio instante de escrevê-lo, pois ali mesmo escreveu que outra vez tentaria dizer melhor. Essoutra vez chegou. Não só o modo como também o objecto da expressão que é a arte, — eis o que tentarei averiguar ao longo deste pequeno ensaio. Do trecho citado, salientaremos:

         a) Uma expressão existe que não chega a ser arte.

         b) Uma expressão existe que transcende a arte.

         c) Uma expressão existe que, tanto por insuficiência como por excesso, pretende e não consegue atingir a arte.

         Algo nos irá dizendo sobre o que é a expressão artística o exame destas três expressões que o não são. (de: «EM TORNO DA EXPRESSÃO» capítulo I) 

Para voltar ao preçário

 

 

 

Edição da Câmara Municipal de Vila do Conde (Ver respectivo preçário na página inicial)

O Castelo Abandonado

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Pai!…

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Vingança do Tio Miguel

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Morte de Helena

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Harpa de Ouro do Bardo

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Sonho Realizado

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Conto do Natal

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Morta

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Suicídio Romântico

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Invocação à  Morte

Primeiros Versos Primeiras Prosas

O Palácio da Felicidade

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Como Um Homem se Perde

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A História da Torre

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Uma Tragédia

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Morte do Sr. Abade

Primeiros Versos Primeiras Prosas

A Louca

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Um Doido

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Sacrifício Imposssível

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Lenda da primeira Açucena

Primeiros Versos Primeiras Prosas

Para voltar ao preçário

 

 

«JACOB E O ANJO»

Por José Régio

 

        A cena representa o quarto de dormir do Rei, no palácio durante a noite. O quarto é circular. Tem uma grande porta à direita, uma grande janela à esquerda. A janela deve estar situada de modo a poder deixar entrar uma larga barra de luz branca azulada (suponha-se luar) que ilumine o leito real. Este deve estar colocado entre a janela e a porta. A altura da janela deve ser tal que um homem alto caiba de pé sobre o peitoril. A altura da porta deve estar em boa relação com a da janela. E a largura do leito deve permitir que dois homens lutem em cima dele com plena liberdade de movimentos. Assim toda a cena dará uma impressão de grandeza desproporcionada ao tamanho normal das figuras humanas.

         O pano sobe o mais devagar possível. O Rei dorme sob o jorro de luz que entra pela janela aberta. Subido o pano, a cena permanecerá sem alteração durante alguns segundos. Depois há uma leve pancada na bateria duma orquestra rudimentar oculta entre bastidores. Começa um prelúdio em surdina. Aparece de pé no peitoril da janela, em silhueta, a figura do Anjo.

         O Anjo veste dos pés à cabeça uma espécie de malha que lhe modela todo o corpo. Tem os braços abertos um pouco levantados, como quem se prepara para subir ou voar; e umas asas que são meio asas meio barbatanas, e propriamente nem uma nem outra coisa, lhe ligam os pulsos aos flancos. Pela posição em que aparece, o rosto mal se lhe distingue. Qualquer artifício de caracterização conseguirá que mal se lhe distinga em todo este prólogo.

         De salto, o Anjo cai sobre o leito em que dorme o Rei. O Rei acorda sobressaltado, procurando soerguer-se. (...)  (de: Prólogo)

 Para voltar ao preçário  

 

 

«BENILDE OU A VIRGEM MÃE»

Por: José Régio

 

         (A cena representa uma cozinha num velho solar alentejano. Grande lareira ao fundo, com uma fresta para o quintal. Estanhos e cobres no friso da lareira. Decoração apropriada. Mesa puxada à esquerda, com duas ou três cadeiras toscas e sólidas. À direita, uma porta para o interior da casa. Outra à esquerda, que dá para o quintal, a par de uma pequena janela de portada única. É pela tarde de um dia de Inverno. Entra uma luz soturna, escassa, pela fresta e pela janela, deixando na penumbra toda a cena. Junto da lareira, com as mãos caídas no regaço e a cabeça baixa, em silhueta sobre a luz da fresta, P.e Cristóvão está sentado. Ao cabo duns momentos de imobilidade e silêncio, entra pela porta do quintal o Dr. Fabrício, acompanhado por Genoveva. O Doutor entra, tira a gabardina, aproxima-se da lareira esfregando as mãos.)  (...) (de: Acto Primeiro)

 Para voltar ao preçário  

 

 

«EL-REI SEBASTIÃO»

Por: José Régio

 

         Projectei juntar um longo prefácio a esta minha quarta tentativa teatral. Cheguei a escrever a maior parte dele. Parecia-me, e parece-me, que alguma coisa poderia dizer de relativo interesse quer sobre teatro em geral, quer sobre o meu em particular. Acabei por desistir desse projecto; mas não de todo: Noutro lado tentarei desenvolver um bocadinho quaisquer minhas ideias sobre teatro, se, entretanto, não vier a pensar que tais minhas ideias críticas ainda interessarão menos do que as minhas realizações artísticas. Por agora, contentar-me-ei com brevemente dizer duas ou três coisas que se me afiguram fundamentais.

         Primeira: Desde que atinja certo nível artístico e qualidade intrínseca, toda a obra de arte — teatral ou não — há-de ser considerada no plano universal do género a que pertence. Quero dizer que transpôs as fronteiras; nem que, de facto, ainda as não transpusesse, por ainda não traduzida. Duas condições me aparecem como essenciais para que uma obra de arte alcance tal nível: A sinceridade profunda, involuntária, da sua concepção; a superioridade, nem que relativa, da sua realização ou forma. Desde que uma obra seja manifestação de uma personalidade possuidora de correspondestes dons de expressão, — sem dúvida poderá ser também encarada do ponto de vista da sua nacionalidade. Por mim, até acho interessante que o seja! Para lá, porém, das suas características nacionais, há-de a tal obra dar-se um lugar no campo da criação artística universal. De contrário se lhe negará qualquer valor absoluto, — o que é absurdo desde que haja sido reconhecida como autêntica obra de arte. (...) (de: Nota Preambular por José Régio)

 Para voltar ao preçário  

   

 

«A SALVAÇÃO DO MUNDO»

Por: José Régio

 

         A acção decorre no reino imaginário da Traslândia. Supõe-se que na actualidade. Todos os figurantes vestem, pois, à moda actual, e consoante a sua categoria, excepto os cuja indumentária particular for indicada nas rubricas. A cena representa uma sala no palácio do rei Pedro I de Traslândia. Ao fundo, uma grande janela de balcão dá para a mais vasta praça da cidade. Larga porta à direita, quase toda escondida por alto e pesado reposteiro, e que liga com os aposentos particulares do rei. Não longe, mas o suficiente para dar fácil passagem, uma luxuosa mesa de trabalho. Outra porta à esquerda, em frente da primeira; mas descoberta, entre bandas dum reposteiro igual. Convém que tanto a altura como a largura da janela, portas e reposteiros, sem serem desmedidas, criem uma atmosfera de excentricidade. Arranjo sóbrio e rico de toda a quadra. Ao subir o pano, Pedro de Traslândia, de costas para o público, fala, à varanda, para a multidão reunida lá em baixo. Um altifalante torna distintas as suas palavras a todos os ouvintes (inclusive os da plateia). (...) (de: Acto Primeiro)

 Para voltar ao preçário  

   

 

«ANTÓNIO BOTTO E O AMOR»

Seguido de Críticos e Criticados

Por: José Régio

 

         Tanto se fala hoje de arte pela arte e arte social que — naturalissimamente — nunca tal questão esteve tão enredada. Sê-lo-á por natureza? O conflito arte pela arte e arte social engrena afinal nestrouto que reduzo a expressões caricaturais e por isso cómodas de momento: arte livre e arte ao serviço. Se políticos e sociólogos são hoje os mais inflamados contra a arte pela arte (de aí o meu primeiro movimento a só considerar a oposição arte pela arte-arte social), é isso devido a soprar sobre o mundo culto, nesta primeira metade do século 20, a violência das paixões políticas e aspirações sociais em que todos nos enrodilhamos; todos; uns mais do que outros, porém: porque em todos os tempos houve homens antes espectadores, especuladores ou contemplativos e outros activos ou agitadores; como em todos os tempos houve activos de acção imediata e outros de acção indirecta; ou como em todos os tempos houve agentes agindo nos mais diversos campos, e todos incapazes de sacrificarem a outras esferas a sua esfera pessoal de acção. Dá uma «saudável tristeza» (a feliz expressão é do poeta que me proponho estudar neste ensaio), dá uma saudável tristeza e grande tranquilidade — isto de se considerar o que em todos os tempos se repete.  (...) (de: Capítulo I)

 Para voltar ao preçário  

 

 

«PÁGINAS DE DOUTRINA E CRÍTICA DA PRESENÇA»

Por José Régio

 

         Depois de ter copiado, atenta, beneditina, generosamente, pelo seu próprio punho, todos os textos, assinados, ou não assinados, que José Régio publicara na presença, nos treze anos que duraria essa «folha de arte e crítica» por ele fundada em 1927, em Coimbra, com Branquinho da Fonseca e o autor destas linhas, Alberto de Serpa, secretário da redacção da perseverante revista na sua derradeira fase, renunciou a confiar à casa editora das Obras Completas do autor do Jogo da Cabra cega o operosíssimo trabalho que levara a cabo. Porquê? Porque entendeu que, perante a complexidade da tarefa que tinha por indispensável à fixação correcta da matéria desses textos, (muito havia a fazer ainda, trabalho de anos, para uniformizar, como era mister, a grafia e outros pormenores dessa colaboração avulsa), e atenta a urgência em dá-los à estampa, uma vez próxima a comemoração do cinquentenário do aparecimento da presença, melhor seria que outrem chamasse a si esse encargo, disposto a sobrepor aos escrúpulos de uma edição rigorosa a oportunidade de uma data altamente significativa.

         Foi então que os herdeiros do escritor, o editor das Obras Completas e o próprio autor deste prefácio, de acordo com Alberto Serpa, reconhecida a urgência da impressão do trabalho, para que o seu aparecimento coincidisse com a data do quinquagésimo aniversário do advento da presença, decidiram que outrem assumiria, de facto, a responsabilidade de o dar à estampa tal como estava, isto é, sem uma escrupulosa uniformização gráfica e ortográfica. Ora essa responsabilidade acabou por ser remetida ao signatário destas linhas.

         Em verdade, pensámos, não estávamos perante textos linguísticos de tal transcendência que se não pudesse obviar, publicando-os, aos inconvenientes de qualquer possível irregularidade na sua transcrição das páginas da revista onde tinham visto a luz, inclusivamente com «gralhas», fazendo com menos rigor do que o teria feito o próprio José Régio, se fosse vivo, ou qualquer autoridade filológica encarregada de proceder a uma edição crítica dos mesmos textos. A urgência sobrepunha-se, realmente, ao rigor da edição, concluímos.

         Tendo sido José Régio o principal doutrinário da presença e celebrando-se, em 1977, o meio século decorrido sobre o aparecimento do primeiro número da revista, afigurou-se-nos — a mim principalmente — que constituiria um lapso grave, atenta a dificuldade na consulta de tão rara publicação, o não facultar ao leitor dos nossos dias o conhecimento directo das páginas de doutrina, crítica, polémica, comentário, etc., que José Régio inserira, durante treze anos, na publicação de maior significado literário, na história das letras nacionais, depois do aparecimento de Orpheu. E nesta ordem de ideias chamei a mim, aceitando o encargo, muito conscientemente, tal responsabilidade, embora certo de que a edição que apresentaria ao leitor não seria modelar, muito longe disso. Tempo não faltaria contudo, pensei, aos vindouros, para corrigirem o que por agora sairia menos perfeito. Aliás a circunstância de o autor deste prefácio publicar, pela mesma altura, um livro intitulado José Régio e a História do Movimento da «presença» decididamente concorria para que ele pusesse o maior empenho em dar a conhecer os documentos doutrinários e críticos que o seu camarada de direcção deixara espalhados pelas páginas da folha que haviam fundado e dirigido. Desta sorte o livro de José Régio seria como que o complemento desse outro meu, ou, se quiserem, esse outro livro seu seria como que o complemento deste outro de José Régio. (...) (de: Prefácio por João Gaspar Simões)

Para voltar ao preçário  

 

 

«CONFISSÃO DUM HOMEM RELIGIOSO»

Por: José Régio

 

         Foi nos finais da década de quarenta que José Régio começou a pensar escrever a «Confissão dum homem religioso». De entre os muitos projectos que a brevidade de uma vida humana mesmo muito operosa como a dele obrigou a abandonar, ano após ano, este persistiu sempre desde então e acabou por se realizar na obra «imperfeita» que ides ler, o mais importante e extenso texto póstumo do grande Escritor. Contemporânea era a tenção de expor longamente as suas concepções sobre a Arte e a Crítica em duas outras obras de uma projectada trilogia de livros de pensamento, A Expressão Artística e Compreensão e Crítica, que completariam e justificariam ou fundamentariam as suas criações literárias. A primeira destas seria uma refundição e desenvolvimento do ensaio Em torno da expressão artística, publicado em 1940 pela «Inquérito» na sua colecção dos «Cadernos culturais», e que o Autor sempre considerou insuficiente e pouco desenvolvido, como o «em torno de» do título pretende sugerir. Sonhava aprofundá-lo e alargá-lo, minuciando-lhe as análises, completando-lhe as insuficiências, resolvendo-lhe as dúvidas, esclarecendo muitos problemas apenas aflorados. Tanto quanto permitia a sua ocupada vida de criador literário, de professor, de apaixonado coleccionador de antigualhas, ia lendo, ou relendo, alguns dos mais importantes textos da Estética. Kant, Hegel, Schopenhauer, os seus comentadores e epígonos; os mais actuais pensadores da Estética, desde Guyau a Lukacs — cuja volumosa Estética tinha entre mãos, quando adoeceu — e aos estruturalistas; sobretudo os grandes artistas que testemunhavam sobre a sua própria arte — absorveram-lhe muito tempo de leitura e de meditação. Intermináveis horas debatia sem se cansar os problemas fundamentais da criação artística, dos valores estéticos, da crítica literária, com a lucidez e o poder de análise que se patenteiam na sua obra de crítico e de teórico. Mas a criação absorvia-o e distraía-o dessa tenção que, por fim, veio a abandonar, desconsoladamente, nos últimos anos da vida, resignando-se a publicar na edição das «Obras Completas» os Três ensaios sobre Arte, que reeditam uns estudos antes publicados, entre os quais aquele Em torno da expressão artística.  (...)  (de: Introdução por Orlando Taipa).

 Para voltar ao preçário  

   

 

«PEQUENA HISTÓRIA DA MODERNA POESIA PORTUGUESA»

Por: José Régio

 

         Em 1925, José Régio publica o seu primeiro livro de poesia: Poemas de Deus e do Diabo. Nesse mesmo ano saíra — mas assinado com o seu nome verdadeiro: José Maria dos Reis Pereira — As Correntes e as Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa, que, destinando-se inicialmente a servir de dissertação para licenciatura na Faculdade de Letras de Coimbra, sofreu depois diversas alterações, apresentando-se, em 1941, com um novo título: Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa.

         Foi esta a origem do presente livro. Por isso algumas das suas intenções — sobretudo as que enxertam num conjunto de pressupostos derivados duma concepção estética tão firmemente enraizada como a de Régio — encontram o seu melhor lugar não só nos anos em que o livro foi refundido e em que o seu autor atingia a maturidade, mas também nos que imediatamente precederam o aparecimento da revista Presença (1927-1940), de que o então jovem José Régio, ao lado de João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, foi um dos fundadores.

         Um dos objectivos dos presencistas consistiu em chamar a atenção do público e concorrer para a aceitação da geração modernista, onde se destacavam Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. As dificuldades, os múltiplos obstáculos que tal intenção não podia deixar de encontrar estão bem patentes neste passo duma conferência — repare-se no seu título... — de Gaspar Simões, «Defesa da Poesia Moderna Contemporânea», que se refere, precisamente, à primeira versão deste livro: «Nesse trabalho, apresentado à conspícua Faculdade de Letras de Coimbra, havia um capítulo intitulado O Modernismo em Portugal. Aí Mário de Sá Carneiro era, pela primeira vez, tratado como um grande poeta inovador, ombro a ombro com Gomes Leal, com Antero, com Nobre, com Eugénio de Castro., etc. Há que reconhecer a ousadia. O falecido professor Mendes dos Remédios devia ter empalidecido de espanto». (...)  (de: "A Moderna Poesia Portuguesa Vista por José Régio" por Fernando Guimarães)

Para voltar ao preçário

Hosted by www.Geocities.ws

1