Boletim Mensal * Ano VI * Setembro de 2007 * Número 54

           

 

  Há Historiadores que não são Doutores e Doutores que jamais passarão de “contadores de estórias”.
 

 

         Em matéria publicada no “Diário de Pernambuco” de algumas semanas atrás, o articulista pergunta ao jornalista e pesquisador de história Eduardo Bueno se não teria ficado admirado  por alguns colégios terem adotado seus livros para o ensino da História do Brasil. Ele atribui o fato a seu modo de escrever que torna a história mais fácil de ler e aprender.
            Na mesma matéria foi perguntado a alguns doutorados em história o que achavam da obra de Eduardo Bueno e, se alguns diziam não a conhecer, outros alegavam que o autor não era formado em história mas sim jornalista.
            É uma pena que se analise um escritor, um historiador, um jornalista ou outro qualquer técnico pelo seu curso.
            Vejamos alguns exemplos que confirmam o que dizemos.

            João do Rio (João Paulo Emilio Correia Barreto), David Nasser e Ibrahim Sued foram, cada um no seu gênero, conceituados jornalistas sem que, qualquer deles, tenha o curso de jornalismo.
            Não me consta que Heródoto, considerado o “Pai da História” se tenha licenciado na matéria.
            Joaquim Caetano da Silva, medico e diplomata, cônsul do Brasil, na Holanda em, 1854 e José Hygino Duarte Pereira, político e diplomata com uma bolsa de estudo do Governo Brasileiro entre 1885 e 1886,  estudaram e paleografaram documentos da Companhia das Índias Ocidentais e, a partir deles muitos volumes foram depositados no Instituto Histórico de Pernambuco e na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro..
            José Capistrano de Abreu, um dos maiores historiadores brasileiros, não passou do ginásio.
            Francisco Adolfo Vernhagen não possuía qualquer doutoramento em história.
            Evaldo Cabral de Mello, um dos maiores historiadores ainda em atividade no Brasil, era diplomata.
            E poderíamos citar mais uma ou duas dezenas deles,  mas vamos finalizar com uma exceção e uma indefinição:
            José António Gonsalves de Mello, é a exceção. Professor de História que, para escrever sobre as invasões flamengas ao Brasil, aprendeu flamengo arcaico para poder estudar, ler e traduzir os documentos da Companhia das Índias Ocidentais e das Cortes Portuguesas e Espanholas sobre o assunto.
            Do estudo desses documentos nasceu o livro mais completo sobra as invasões neerlandesas, “Tempo dos Flamengos”.
            Leonardo Dantas da Silva, a indefinição, formou-se em direito e dedicou-se à pesquisa histórica. Para isso, consultou o Professor Gonsalves de Mello que o orientou nas suas pesquisas.
            Em seus primeiros trabalhos seguiu uma linha que lhe deu prestigio e conceito como respeitado historiador. Nos últimos anos, mudou completamente a sua linha de trabalho, por razões que não conseguimos  entender,  passou a escrever algumas fantasias.
            Em 1999 publicou “Brasil e os Holandeses” e em 2006 “Holandeses em Pernambuco. O Dr. Leonardo Dantas da Silva sabe muito bem que os holandeses jamais invadiram o Brasil. O Professor José António Gonsalves de Mello escreveu sempre “flamengos” e, alguns séculos antes dele, mais precisamente em 1637, João (Ioannes) de Laet, na época um dos diretores da Companhia das Índias Ocidentais, publicou em Leiden o livro “Roteiro de um Brasil desconhecido – Descrição das costas do Brasil, Kapa Editorial, 2007, baseado em interrogatórios feitos na Europa (Laet nunca veio ao Brasil) que descrevem com detalhes a costa brasileira e, na pag. 47, diz:- “os fragmentos foram selecionados de depoimentos de portugueses capturados pela Companhia das Índias Ocidentais; de relatórios de marinheiros holandeses aprisionados pelos portugueses e portugueses aprisionados pelos holandeses; de holandeses que já desde muito antes da “invasão neerlandesa em Pernambuco” estiveram ao serviço dos portugueses ...” (a Holanda era uma província, a mais rica, da Republica das Província Unidas ou Republica dos Paises Baixos e seus habitantes eram chamados neerlandeses, flamengos ou batavos).
            E ficamos por aqui porque não nos consta que Jorge Amado, Camões, Ferreira de Castro, Miguel de Cervantes, Shakespeare e Saramago tenham doutorado em Literatura.
    

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