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O Combustível de Mil e Uma
Utilidades
![Petroleo2.gif (17077 bytes)](Petroleo2.gif)
Fisicamente,
o petróleo é uma mistura de compostos de diferentes pontos de ebulição. Esses
componentes dividem-se em grupos, ou frações, delimitados por seu ponto de ebulição.
Os intervalos de temperatura e a composição de cada fração variam com o tipo de
petróleo. As frações cujo ponto de ebulição é inferior a 200o C, entre eles a
gasolina, costumam receber o nome genérico de benzinas. A partir do mais baixo ponto de
ebulição, de 20o C, até o mais alto, de 400o C, tem-se, pela ordem: éter de petróleo,
benzina, nafta ou ligroína, gasolina, querosene, gasóleo (óleo diesel), óleos
lubrificantes. Com os resíduos da destilação produz-se asfalto, piche, coque, parafina
e vaselina.
O Petróleo
existe na Terra nos estados sólido, líquido e gasoso mas só o líquido tem
merecido o direito ao uso do nome e o reconhecimento como grande benfeitor da humanidade
(embora o gás já esteja ameaçando tomar-lhe a dianteira). Era conhecido e usado pelos
povos mais antigos, sobretudo na forma de betume, que servia para muitas coisas, entre as
quais construir estradas e calafetar embarcações. Ganhou importância no mundo moderno
quando substituiu o óleo de baleia na iluminação pública das cidades européias. Até
então, aproveitava-se o petróleo que aflorava espontaneamente à flor da terra; o
primeiro poço perfurado para extraí-lo foi obra do americano Edwin L. Drake, em
Titusville, Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1859. Logo ele estava sendo extraído em
toda parte e a invenção do automóvel elevou-o à condição de mais importante
fonte de energia da sociedade moderna.
Mas o
petróleo serve para muito mais coisas do que simplesmen-te produzir gasolina. Refinado,
ele se transforma também em querosene, óleo diesel, óleo lubrificante, solventes,
tintas, asfalto, plásticos, borracha sintética, fibras, produtos de limpeza, gelatinas,
remédios, explosivos e fertilizantes. Ao longo da História, pro-du--ziu também
incontáveis guerras, invasões, disputas territoriais, golpes de Estado, revoluções,
cismas políticos. O Oriente Médio, os Estados Unidos e os territórios da antiga União
So-viética são os maiores produ-tores e os dois últimos igualmente os maiores
con-sumidores.
Parentes próximos, mas
inaproveitáveis
Além do petróleo convencional, disponível em campos que podem ser explorados pela
simples perfuração de poços, há outros tipos que dependem de estudos, pesquisas e
desenvolvimento tecnológico para serem utilizados. Por exemplo, o petróleo extrapesado
do cinturão do Orinoco, na Venezuela, as areias de alcatrão de Athabasca, no oeste do
Canadá, e os reservatórios de petróleo gelado e viscoso do Declive Norte do Alasca. O
óleo da argila xistosa também é um recurso potencial, embora ainda não possa ser
considerado verdadeiro petróleo é uma rocha sedimentária rica em substâncias
orgânicas que ainda não "ficou no forno" o tempo suficiente para chegar ao
ponto. Podemos aquecê-la num forno de verdade e acelerar o processo, mas custaria quase
três vezes mais do que a exploração de poços comuns. Uma coisa é certa: esses
recursos não convencionais poderão se tornar importantes, no futuro, mas continuam
cercados por incertezas econômicas e científicas. O mais certo é acreditar que eles
jamais chegarão a ser aproveitados em larga escala.
História
A moderna indústria petrolífera data de meados do século XIX. Em 1850, na Escócia,
James Young descobriu que o petróleo podia ser extraído do carvão e do xisto
betuminoso, e criou processos de refinação. Em agosto de 1859 o americano Edwin
Laurentine Drake perfurou o primeiro poço para a procura do petróleo, na Pensilvânia. O
poço revelou-se produtor e a data passou a ser considerada a do nascimento da moderna
indústria petrolífera. A produção de óleo cru nos Estados Unidos, de dois mil barris
em 1859, aumentou para aproximadamente três milhões em 1863, e para dez milhões de
barris em 1874.
Até o final do século XIX, os Estados Unidos dominaram praticamente sozinhos o comércio
mundial de petróleo, devido em grande parte à atuação do empresário John D.
Rockefeller. A supremacia americana só era ameaçada, nas últimas décadas do século
XIX, pela produção de óleo nas jazidas do Cáucaso, exploradas pelo grupo Nobel, com
capital russo e sueco. Em 1901 uma área de poucos quilômetros quadrados na península de
Apsheron, junto ao mar Cáspio, produziu 11,7 milhões de toneladas, no mesmo ano em que
os Estados Unidos registravam uma produção de 9,5 milhões de toneladas. O resto do
mundo produziu, ao todo, 1,7 milhão de toneladas.
Outra empresa, a Royal Dutch-Shell Group, de capital anglo-holandês e apoiada pelo
governo britânico, expandiu-se rapidamente no início do século XX, e passou a controlar
a maior parte das reservas conhecidas do Oriente Médio. Mais tarde, a empresa passou a
investir na Califórnia e no México, e entrou na Venezuela. Paralelamente, companhias
européias realizaram intensas pesquisas em todo o Oriente Médio, e a comprovação de
que essa região dispunha de cerca de setenta por cento das reservas mundiais provocou uma
reviravolta em todos os planos de exploração.
A primeira guerra mundial pôs em evidência a importância estratégica do petróleo.
Pela primeira vez foi usado o submarino com motor diesel, e o avião surgiu como nova
arma. A transformação do petróleo em material de guerra e o uso generalizado de seus
derivados -- era a época em que a indústria automobilística começava a ganhar corpo --
fizeram com que o controle do suprimento se tornasse questão de interesse nacional. O
governo americano passou a incentivar empresas do país a operarem no exterior.
Período entre guerras. O desmembramento do império otomano facilitou a penetração de
companhias européias na região, especialmente nos territórios sob mandato e
protetorado. No fim da década de 1920, a descoberta de um imenso campo petrolífero no
Iraque transformou o país no segundo produtor do Oriente Médio. Em 1935, inaugurou-se o
primeiro dos grandes oleodutos entre o Oriente Médio e o Mediterrâneo. A exploração
daquelas áreas ampliou-se com o aumento crescente do consumo mundial e a acirrada disputa
entre as grandes empresas. Foram descobertas enormes jazidas em Bahrein, na Arábia
Saudita e no Kuwait.
Em 1928, a Venezuela passou a ocupar o segundo lugar entre os produtores de petróleo. No
México a produção aumentou muito de 1919 a 1921, a ponto de atingir 25% do total
mundial, mas depois caiu bruscamente. Em 1938, o governo mexicano expropriou as empresas
estrangeiras de petróleo.
Depois de 1945. Durante a segunda guerra mundial, a demanda de petróleo atingiu
proporções gigantescas, e no pós-guerra a procura pelo produto intensificou-se ainda
mais. O desenvolvimento mais notável ocorreu no Oriente Médio, mas também se
alcançaram resultados importantes no norte da África, no Canadá e na Nigéria.
Aproximadamente a partir de 1950 manifestou-se na maioria dos países produtores uma
acentuada tendência para a regulamentação rígida das concessões a empresas
estrangeiras. No Irã foi desapropriada a Anglo-Iranian em 1951 e criada a National
Iranian Oil Company, mas dois anos mais tarde se constituiu um consórcio de capitais
anglo-franco-americanos.
Alguns países, como o Canadá e a Venezuela, adotaram o sistema de concessões de áreas
limitadas. Outros optaram por permitir a exploração indiscriminada em troca do pagamento
de royalties, de montante variável de uma área para outra, às vezes somado a
exigências como construção de refinarias, utilização de mão-de-obra nacional etc. A
política de divisão dos lucros em partes iguais entre o governo e os concessionários,
aplicada na Venezuela a partir de 1943, logo foi adotada pela maioria dos países em
desenvolvimento. Na Ásia, tornaram-se produtores Indonésia, Bornéu e Nova Guiné. Na
América Latina, Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Bolívia começaram a extrair óleo
de suas jazidas.
Em setembro de 1960, por iniciativa dos grandes produtores do Oriente Médio (Arábia
Saudita, Irã, Iraque e Kuwait) e da Venezuela, foi fundada a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP). Em 1973, após a quarta guerra entre árabes e
israelenses, os países exportadores de petróleo decidiram tomar algumas medidas -- como
reduzir quotas de produção, embargar exportações para os Estados Unidos e alguns
países da Europa, triplicar os preços do óleo cru -- o que causou uma crise mundial e
mostrou claramente o quanto o Ocidente dependia do petróleo dos países árabes. Desde
então, os aumentos sucessivos de preços determinados pela OPEP levaram os países
importadores a uma revisão de sua política energética, com controle rigoroso do
consumo, utilização de fontes de energia alternativa e, quando possível, como no caso
do Brasil, incremento da exploração de suas jazidas.
Em meados da década de 1990, a OPEP contava com 12 membros. Além dos cinco fundadores,
filiaram-se ao organismo Indonésia, Líbia, Qatar, Argélia, Abu Dhabi, Nigéria, Equador
e Gabão, os quais, juntos, controlavam dois terços das reservas mundiais. O
comportamento dos preços do barril de petróleo voltou a dominar o cenário internacional
em 1990, principalmente em virtude da invasão do Kuwait pelo Iraque. A incerteza gerada
pelo conflito provocou uma tendência de alta do barril -- que alcançou quarenta dólares
-- e uma conseqüente elevação da produção mundial. Nos anos seguintes a OPEP lutou
sem sucesso para manter o preço mínimo que fixara, de 21 dólares por barril, mas que
baixou a até 15 dólares.
Tecnologia
As características físicas e químicas do óleo cru, juntamente com a localização e a
extensão das jazidas, são os principais fatores na determinação de seu valor como
matéria-prima. O petróleo jaz oculto no fundo da terra, e nenhuma de suas propriedades
físicas ou químicas permite detectá-lo com certeza da superfície. Técnicas
geológicas, geofísicas e geoquímicas desenvolvidas para a exploração não fornecem
prognósticos precisos sobre a existência de petróleo em determinada área e, quando
muito, dão uma indicação de boas possibilidades de encontrá-lo.
Até o início do século XX, a exploração consistiu em detectar indícios de petróleo
na superfície terrestre. Perfuravam-se então poços em locais de exsudações e
afloramentos, ou a sua volta. A prospecção científica desenvolveu-se no começo do
século XX, quando os geólogos começaram a mapear as características terrestres
indicadoras de sítios favoráveis à perfuração.
Particularmente reveladores eram os afloramentos que indicavam a existência de rochas
sedimentares porosas e impermeáveis alternadas. A rocha porosa (arenitos, calcários ou
dolomitas) serve de reservatório para o petróleo, que nela pode migrar, sob uma
diferença de pressão, através de interstícios e fendas, até o ponto de escapamento,
ou seja, até o poço perfurado. As rochas impermeáveis (argila, folhelho), impedem o
óleo de migrar do reservatório. No início da década de 1920, começou a exploração
de subsuperfície, acompanhada da análise de sondagem (amostras retiradas do poço
perfurado por sondas).
Prospecção. A partir da década de 1950, a pesquisa do petróleo começou a ser feita
com técnicas geofísicas -- gravimétricas, magnetométricas e sísmicas -- que permitem
mapear as estruturas de subsuperfície. O gravímetro é um instrumento sensível que mede
as variações da força de gravidade provocadas, entre outros fatores, pelas diferenças
de densidade das rochas. Rochas densas, quando próximas da superfície, aumentam a
atração da gravidade, o que não ocorre com as rochas sedimentares, que são porosas. A
técnica magnetométrica utiliza as variações do campo magnético da Terra, causadas
pela existência de corpos magnéticos sob a superfície. As rochas plutônicas, que em
geral contêm mais magnetita, aumentam as leituras do magnetômetro e, assim, pode-se
verificar a profundidade das rochas.
Embora mais dispendiosos e complexos, os métodos sísmicos são mais precisos. Baseiam-se
no fato de que ondas de choque provocadas por fontes artificiais de energia, descrevendo
uma trajetória descendente, são refletidas ou refratadas pelas superfícies de contato
entre as camadas. Ao retornarem à superfície, as ondas de choque são registradas por
geofones (sensíveis aos ruídos subterrâneos), localizados em diferentes pontos das
linhas que irradiam da fonte de energia. De acordo com o princípio de refração, as
ondas de choque que atingem a superfície de contato ("horizonte") com pequeno
grau de inclinação podem ser contidas e prosseguem ao longo da camada. Se a camada de
rocha for particularmente densa, as ondas não serão completamente amortecidas e poderão
ser observadas a vários quilômetros da fonte de energia.
A reflexão é a técnica preferida na exploração sísmica. Requer fontes de menor
intensidade e menores distâncias para a instalação de geofones, pois as ondas de choque
que formam um grande ângulo de incidência com a camada de rocha são refletidas para a
superfície mais próxima da fonte. Tanto os meios permeáveis quanto os densos refletem
as ondas de choque e fornecem, além disso, informações sobre os "horizontes"
intermediários.
Métodos geoquímicos de superfície são utilizados na tentativa de descobrir a presença
de acumulações de hidrocarbonetos em subsuperfície. Nesses métodos se usam análises
geoquímicas a fim de detectar a presença de anomalias de hidrocarbonetos gasosos no
solo, na água ou no ar. Também podem ser empregadas análises do solo a fim de localizar
concentrações de bactérias que se alimentam de hidrocarbonetos gasosos provenientes das
jazidas da profundidade.
Apesar dessas modernas técnicas de exploração, o único meio de se ter certeza absoluta
da existência de petróleo ainda é a perfuração. Por economia de tempo e de capital,
costuma-se perfurar primeiro um poço para colher informações. Análises de fragmentos
das rochas colhidas revelam características físicas e químicas e são examinados por
paleontólogos, que estabelecem a correlação entre os horizontes geológicos, mediante a
análise de microfósseis. As jazidas ocorrem de preferência em áreas de espessos
depósitos sedimentares, predominantemente de origem marinha, que sofreram deformações
brandas. Nas áreas pré-cambrianas, onde predominam rochas metamórficas e ígneas, é
praticamente impossível existir petróleo.
Tipos. O petróleo consiste basicamente em compostos de apenas dois elementos que, no
entanto, formam grande variedade de complexas estruturas moleculares. Independentemente
das variações físicas ou químicas, quase todos os petróleos variam de 82 a 87% de
carbono em peso e 12 a 15% de hidrogênio. Os asfaltos mais viscosos geralmente variam de
80 a 85% de carbono e de 8 a 15% de hidrogênio.
O óleo cru pode ser agrupado em três séries químicas básicas: parafínicas,
naftênicas e aromáticas. A maioria dos óleos crus compõe-se de misturas dessas três
séries em proporções variáveis, e amostras de petróleo retiradas de dois diferentes
reservatórios não serão completamente idênticas.
As séries parafínicas de hidrocarbonetos, também chamadas de série metano (CH4),
compreendem os hidrocarbonetos mais comuns entre os óleos crus. É uma série saturada de
cadeia aberta com a fórmula geral CnH2n+2, na qual C é o carbono, H é o hidrogênio e n
um número inteiro. As parafinas, líquidas a temperatura normal e que entram em
ebulição entre 40o e 200o C, são os constituintes principais da gasolina. Os resíduos
obtidos pelo refino de parafinas de baixa densidade são ceras parafínicas plásticas e
sólidas.
A série naftênica, que tem fórmula geral CnH2n, é uma série cíclica saturada.
Constitui uma parte importante de todos os produtos líquidos de refinaria, mas forma
também a maioria dos resíduos complexos das faixas de pontos de ebulição mais
elevados. Por essa razão, a série é geralmente de maior densidade. O resíduo do
processo de refino é um asfalto, e os petróleos nos quais essa série predomina são
chamados óleos de base asfáltica.
A série aromática, de fórmula geral CnH2n-6, é uma série cíclica não-saturada. Seu
membro mais comum, o benzeno (C6H6), está presente em todos os óleos crus, mas como uma
série os aromáticos geralmente constituem somente uma pequena porcentagem da maioria dos
óleos.
Além desse número praticamente infinito de hidrocarbonetos que formam o óleo cru,
geralmente estão presentes enxofre, nitrogênio e oxigênio em quantidades pequenas mas
muito importantes. Muitos elementos metálicos são encontrados no óleo cru, inclusive a
maioria daqueles encontrados na água do mar, como vanádio e níquel. O óleo cru pode
também conter pequenas quantidades de restos de material orgânico, como fragmentos de
esqueletos silicosos, madeira, esporos, resina, carvão e vários outros remanescentes de
vida pretérita.
Perfuração. Associado ao gás e à água nos poros da rocha, em geral o petróleo
acha-se submetido a grandes pressões, de modo que a perfuração de um poço faz com que
o óleo e o gás sejam impulsionados através do poço pela energia natural do
reservatório. Como o gás natural que geralmente acompanha o óleo está sob forte
compressão, freqüentemente fornece energia suficiente para mover o óleo das camadas
porosas até as paredes do poço e, por vezes, até a superfície. Se as pressões forem
insuficientes, é necessário o bombeamento para a produção de óleo.
As perfurações mais modernas são feitas por sondas rotativas, com brocas de aço de
alta dureza e de diferentes tipos e diâmetros, dependentes do diâmetro do poço e da
natureza da rocha que devem penetrar. Nesse processo, tem grande importância a injeção
de um fluido especial, composto de argila montmorilonítica e sulfato de bário. Injetada
por bomba no interior da haste rotativa de perfuração, ao retornar à superfície ela
vem misturada a detritos constituídos de fragmentos das rochas atravessadas pela broca e
que permitem sua análise. Além disso, esse fluido serve para lubrificar e resfriar a
broca, remover os detritos formados durante a perfuração e impedir o escapamento
intempestivo de gases ou óleo sob alta pressão, que pode provocar incêndios.
Transporte. Como a extração do petróleo ocorre muitas vezes em áreas distantes dos
centros de consumo, seu transporte para refinarias e mercados exige sistemas complexos e
especializados, como oleodutos, navios petroleiros, caminhões ou vagões-tanques. Quando
se trata de longas distâncias, o meio mais barato é o navio petroleiro, cujo
agigantamento tem contribuído para a redução dos custos de transporte. No transporte
por terra de grandes quantidades de petróleo, os custos mais baixos se obtêm pelo uso de
oleodutos, tubulações que, mediante bombeamento, levam o produto às refinarias.
Refinação. A função das refinarias consiste em dividir o óleo cru em frações
(grupos) delimitadas pelo ponto de ebulição de seus componentes, e em seguida reduzir
essas frações a seus diversos produtos. Quando possível, os processos de refinação
são adaptados à demanda dos consumidores. Assim é que no final do século XIX, quando o
querosene de iluminação era muito utilizado, as refinarias dos Estados Unidos extraíam
do óleo cru até setenta por cento de querosene. Depois, quando a gasolina passou a ser o
subproduto mais procurado, começou a ser retirada do óleo cru nessa porcentagem. Mais
tarde, o querosene voltou a encontrar larga aplicação como combustível para aviões a
jato. As refinarias localizam-se muitas vezes junto às fontes produtoras, mas também
podem situar-se em pontos de transbordo ou perto dos mercados de consumo, que oferecem a
vantagem da redução de custo, pois é mais econômico transportar petróleo bruto por
oleodutos do que, por outros meios, quantidades menores de seus derivados.
Na refinaria, o óleo cru e os produtos semifinais e finais são continuamente aquecidos,
resfriados, postos em contato com matérias não-orgânicas, vaporizados, condensados,
agitados, destilados sob pressão e submetidos à polimerização (união de várias
moléculas idênticas para formar uma nova molécula mais pesada) sem intervenção
humana. Os processos de refino podem ser divididos em três classes: separação física,
alteração química e purificação.
Separação física. A destilação, a extração de solventes, a cristalização por
resfriamento, a filtração e a absorção estão compreendidas nos processos de
separação física. A destilação é realizada em estruturas altas e cilíndricas
chamadas torres. Depois de bombeado para os tubos de um alambique, onde é aquecido até
vaporizar-se (exceto em sua porção mais pesada), o óleo cru é dispersado para uma
coluna de destilação de um vaporizador localizado acima da base. Um gradiente térmico
é estabelecido através da torre, de tal modo que a temperatura é mais alta na base e
mais baixa no topo. Os vapores ascendentes condensam-se à medida que sobem pela torre, e
os líquidos condensados juntam-se a espaços predeterminados, de onde são recolhidos. Os
componentes cujo ponto de ebulição é semelhante ao da gasolina condensam-se quase no
topo da torre; o querosene, logo abaixo; o óleo diesel, no meio da coluna; o resíduo, na
base. Cada um desses fluxos passa então a novo estágio de processamento. Por
redestilação a vácuo, o resíduo é dividido em óleos lubrificantes leves ou pesados e
em combustível residual ou material asfáltico.
Alteração química. Os processos dessa classe de refino podem ter um dos seguintes
objetivos: decompor, ou craquear (do inglês to crack, quebrar), grandes moléculas de
hidrocarbonetos em outras menores; polimerizar ou unir pequenas moléculas de uma
substância para formar outras maiores; e reorganizar a estrutura molecular. O
craqueamento do óleo cru é historicamente o mais importante. No século XIX era
utilizado para duplicar a quantidade de querosene que se extraía do petróleo. Com o
advento do automóvel, aumentou a demanda da gasolina, e o craqueamento passou a ser usado
como meio de elevar a produção desse combustível. Pelo processo de Burton, aquece-se a
matéria-prima a cerca de 500o C sob pressão e obtém-se gasolina. Descobriu-se depois
que a gasolina assim obtida era de melhor qualidade. A seguir foi descoberto o
craqueamento catalítico, pelo qual catalisadores como a alumina, a bentonita e a sílica
facilitam o rompimento das moléculas.
A polimerização é o contrário do craqueamento. Consiste na combinação de moléculas
menores em moléculas de hidrocarbonetos mais pesados, visando sobretudo à obtenção de
gasolina. O primeiro processo de polimerização utilizava como matérias-primas
hidrocarbonetos gasosos não-saturados, principalmente o propileno e o butileno. Outro
processo de polimerização, a alquilação, combina essas duas matérias-primas com o
isobutano, hidrocarboneto gasoso saturado. A alquilação contribuiu grandemente para a
produção de gasolina para aviação.
O terceiro tipo de processo químico é aquele que altera a estrutura das moléculas de
hidrocarbonetos, a fim de aumentar o poder de combustão do produto. Em meados do século
XX, as pesquisas orientaram-se, principalmente nos Estados Unidos, para apurar a qualidade
da gasolina, o que foi conseguido não só com o desenvolvimento de novos processos de
refinação, mas também com a introdução de um aditivo, o chumbo tetraetila. Mais
tarde, porém, os compostos de chumbo foram retirados da mistura em muitos países por
serem altamente poluentes.
Purificação. A terceira classe de processos de refinação compreende aqueles que
purificam os produtos. Há no óleo cru muitos elementos não hidrocarbonados,
principalmente enxofre, que lhe conferem propriedades indesejáveis. Vários processos
foram criados para neutralizá-los ou removê-los. Por meio da hidrogenação -- processo
desenvolvido por técnicos alemães para a transformação do carvão em gasolina -- as
frações do petróleo são submetidas a altas pressões de hidrogênio e a temperaturas
entre 26o e 538o C, em presença de catalisadores.
Distribuição. A maioria dos produtos derivados do petróleo é constituída de
líquidos, na maior parte das condições estáveis, que podem ser acondicionados em
tanques e bombeados de um lugar para outro. Os produtos que apresentam maiores
dificuldades de manuseio são os que se encontram nas extremidades da escala de ponto de
ebulição: gases, graxas, combustíveis pesados, parafinas e asfaltos. O gás liquefeito
de petróleo (GLP) tem de ser armazenado e transportado sob pressão e normalmente
distribuído ao consumidor em cilindros. Graxas e alguns óleos lubrificantes são
acondicionados em barris e latas. Combustíveis pesados e asfaltos, que se solidificam à
temperatura ambiente, têm de ser armazenados e distribuídos em recipientes aquecidos ou
isolados.
Reservas mundiais. Embora os derivados do petróleo sejam consumidos no mundo inteiro, o
óleo cru só é produzido comercialmente num número relativamente diminuto de lugares, e
muitas vezes em áreas de deserto, pântanos e plataformas submarinas. O volume total de
petróleo ainda não descoberto em terra e na plataforma continental é desconhecido, mas
a indústria petrolífera desenvolveu o conceito de "reserva provada" para
designar o volume de óleo e gás que se sabe existir e cuja extração é compensadora,
considerados os custos e os métodos conhecidos. Conforme relatório das Nações Unidas
(Ocean Oil Weekly Report, de 7 de fevereiro de 1994), que toma como base a produção
média de 1991, o estoque mundial de óleo estaria esgotado em 75 anos. Das reservas
atuais, 65% estão no Oriente Médio. Segundo o relatório, o volume de óleo remanescente
na Terra é de 1,65 trilhões de barris, constituídos de 976,5 bilhões de barris de
óleo de reserva provada e de 674 bilhões de barris de óleo. (O barril, medida habitual
dos óleos, contém 159 litros. A densidade do petróleo é variável, com valor médio de
0,81, o que significa 129 quilos por barril. Um metro cúbico contém 6,3 barris, e uma
tonelada, 7,5 barris).
Presume-se que ainda existam por serem descobertos cerca de 800 a 900 bilhões de barris
de petróleo no mundo. No Oriente Médio, a maior parte do óleo descoberto e por
descobrir encontra-se sob a terra, mas no restante do mundo o óleo potencial deverá ser
encontrado na plataforma continental. (A Petrobrás e a Shell são os líderes mundiais em
exploração e produção em águas profundas.) Atividades de exploração e produção
estão sendo desenvolvidas nas plataformas do Brasil, golfo do México, Noruega, Reino
Unido, Califórnia, Nigéria e, em menor escala, China, Filipinas e Índia. São de
especial interesse os mares semifechados marginais, como mar do Norte, golfo Pérsico, mar
da Irlanda, baía de Hudson, mar Negro, mar Cáspio, mar Vermelho e mar Adriático, que
apresentam cortes sedimentares adequados e lâminas d'água relativamente pequenas.
Petróleo no Brasil
A primeira referência à pesquisa do petróleo no Brasil remonta ao final do século XIX.
Entre 1892 e 1896, Eugênio Ferreira de Camargo instalou por conta própria, em Bofete SP,
uma sonda junto ao afloramento de uma rocha betuminosa. O furo atingiu mais de 400m, mas o
poço encontrou apenas água sulfurosa. Foi somente em janeiro de 1939 que se revelou a
existência de petróleo no solo brasileiro, no poço de Lobato BA, perfurado pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão do governo federal. O poço de Lobato
produziu 2.089 barris de óleo em 1940.
Em outubro de 1953 instituiu-se o monopólio estatal da pesquisa, lavra, refinação,
transporte e importação do óleo no Brasil, pela Petrobrás (Petróleo Brasileiro S.A.),
sob a orientação e a fiscalização do Conselho Nacional de Petróleo (CNP). Na década
de 1950 e começo da de 1960 descobriram-se novos campos, especialmente no Recôncavo
Baiano e na bacia de Sergipe/Alagoas. Também se desenvolveram pesquisas nas bacias
sedimentares do Amazonas e do Paraná.
Em março de 1955, foi encontrado petróleo em Nova Olinda, no médio Amazonas. Em
seguida, as atividades de perfuração estenderam-se até a bacia do Acre. Como as
quantidades de petróleo obtidas não eram comerciais, após seis anos a avaliação dos
resultados aconselhou a redução da exploração. Em 1967, as perfurações na bacia
amazônica foram suspensas. Com os avanços tecnológicos, a Petrobrás procedeu os
levantamentos geofísicos nas bacias do Paraná e do Amazonas. Alcançaram-se bons
resultados, em particular descobertas de gás natural na região do rio Juruá, no alto
Amazonas, a partir de 1978.
Dez anos antes, a empresa iniciara a exploração de petróleo na plataforma continental,
com a descoberta de óleo no litoral de Sergipe (campo de Guaricema). Foi, porém, a crise
do petróleo, iniciada em 1973, que viabilizou a prospecção em áreas antes consideradas
antieconômicas. Na década de 1970, intensificou-se a exploração de bacias submersas. A
identificação de petróleo na bacia de Campos, litoral do Rio de Janeiro, duplicou as
reservas brasileiras. Mais de vinte campos de pequeno e médio portes foram encontrados
mais tarde no litoral do Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Alagoas e Sergipe. Em 1981,
pela primeira vez, a produção dos campos submarinos ultrapassou a dos campos em terra.
No início da década de 1980, o Brasil era, depois dos Estados Unidos, o país que mais
perfurava no mar, mas, no final do século, ainda precisava importar quase a metade do
petróleo que consumia, apesar de suas reservas provadas de aproximadamente 3,8 bilhões
de barris (0,2% das reservas internacionais).
O refino de petróleo no Brasil começou em 1932, ao ser instalada a Destilaria
Sul-Riograndense em Uruguaiana RS, com capacidade de 25m3. Em 1936 inauguraram-se duas
outras refinarias: a de São Paulo, com capacidade de oitenta metros cúbicos, e a de Rio
Grande RS, capaz de produzir o dobro. Em 1959, o CNP instalou em Mataripe BA a Refinaria
Nacional de Petróleo, mais tarde denominada Refinaria Landulfo Alves.
Na década de 1990 a Petrobrás contava com uma fábrica de asfalto, em Fortaleza CE, e
dez refinarias: Refinaria de Manaus (Reman); de Paulínia (Repkan); Presidente Bernardes
(RPBC); Henrique Lage (Revap); Presidente Getúlio Vargas (Repar); Alberto Pasqualini
(Refap); Duque de Caxias (Reduc); Gabriel Passos (Regap); Landulfo Alves (RLAM); e Capuava
(Recap). Em meados da década de 1990, o Brasil produzia cerca de 750.000 barris de
petróleo por dia, com a possibilidade de aumento gradativo desse número, com a
exploração de campos gigantes da bacia de Campos.
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