Evangelho Segundo Nicodemos

INCLUI O VEREDICTO DE P. PILATOS CONTRA JESUS

Editou e traduziu: Paulo Dias

Veredicto

EVANGELHO APOCRIFO QUE FAZ PARTE do Ciclo de Pilatos, tem duas ''divisões'' sumamente independentes entre si: Os Actos de Pilatos e A Descida do Cristo aos Infernos; originalmente dois documentos de per si. E' um evangelho da cruz, quer dizer literatura da Paixão.

O Ciclo de Pilatos constitui-se essencialmente de: um evangelho (este), a sentença, duas cartas descritivas de Jesus (de Nicéforo e Públio Lêntulus), diversas outras trocadas entre Pilatos, Roma e Herodes, e pequenos outros evangelhos-miniatura. Justino e Tertuliano demonstram ter sabido deste documento, a definir-se como ''um rol que Pilatos fez acerca da Paixão, dirigido a Tibério'' (Otero pag. 395) recolhido talvez nos arquivos romanos, rol que o imperador Maximino fez divulgar em ca. 311-2 na tentativa de ridicularizar e injuriar Jesus, e que foi refundido depois a favor do cristianismo, conforme citado por Epifânio em 376.

O Ciclo de Pilatos moveu a piedade popular ao longo dos tempos, sem dúvida por oferecer muitos elementos pitorescos: retratos de Jesus, fragmentos de documentos, e por ter sido um dia baseado nos próprios actos processuais do julgamento mais famoso da História. A Gesta ou Actos de Pilatos, por exemplo, ressente-se ainda de uma linguagem pesadamente jurídica, indicativa de ter sido um dia literatura judiciária. O Ciclo de Pilatos foi minuciosamente estudado por Tischendorf e Harnack. Fonte- Otero, Los Evangelios Apócrifos, BAC, 1985, Madri, 5 ed. [alt significa vacilo no manuscrito]

A GESTA DE PILATOS

Memoriais de Nosso Senhor Jesus Cristo compostas no tempo de Pôncio Pilatos

[alt Por João Evangelista] [alt Memoriais do que foi perpetrado contra Nosso Senhor Jesus Cristo no tempo de Pôncio Pilatos, escritas por Nicodemos príncipe da sinagoga dos judeus, em letras hebraicas] [alt Narrativa da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua santa ressurreição, escrita por um judeu de nome... alt Enea... Eneas... alt Emaus...]

PROLOGO

EU ANANIAS, protector, pretoriano, perito legal, por meio das Escrituras cheguei a conhecer Nosso Senhor Jesus Cristo e me aproximei dele pela fé, e recebi o santo baptismo, e agora, depois de saber sobre os memoriais relativos a Nosso Senhor Jesus Cristo, feitos naquele tempo, e que os judeus deixaram em depósito com Pôncio Pilatos, os encontrei escritos como estavam, em hebraico, e com o favor divino os traduzi em grego (para conhecimento de todos os que invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo), no reinado de Flaviano Teodósio, nosso senhor, no ano 17, [18], e sexto de Flaviano Valentino, nona indicção [nota- este Ananias ou Enea ou Eneas ou Emaús parece ter visto, no ano 424-5, algum documento perdido em arquivos; a data que ele indica foi ''a data em que foi interpolado o escrito'' cf. Otero pag. 403].

Todos, pois, que virdes e transcreverdes este escrito em outros livros, lembrai-vos e pedi vós, a favor de mim, para que o Senhor seja piedoso comigo e me perdoe os pecados que eu haja cometido contra si Paz aos leitores e ouvintes, e a seus servidores, amen [''ouvintes'' denota um tempo em que os livros ainda serviam mais para serem ouvidos do que vistos] [''pedi'' = imperativo do vb. pedir na 2a. pessoa do plural].

No ano 15 [alt 18] do governo de Tibério César, imperador dos romanos, ano 19 do governo de Herodes, rei da Galileia; no dia 8 das calendas de abril, ou, 25 de março; no consulado de Rufo e Rubelion; no ano 4 da 202a. Olimpíada; José Caifás sendo neste tempo sumo-sacerdote dos judeus. Estas coisas narrou Nicodemos sobre a cruz e a paixão do Senhor, logo que ocorridas, e as entregou aos príncipes do clero e aos demais judeus, ele mesmo traduziu do hebreu ao grego [alt chamou Enea e lhe mandou escrever tudo o que Anás e Caifás haviam feito contra Jesus, e traduziu do hebreu ao grego assim que o recebeu].

I

1. DEPOIS DE SE HAVEREM reunido em conselho os príncipes dos sacerdotes e os escribas, Anás e Caifás e Semes e Dothaim e Gamaliel, Judas, Levi e Neftali, Alexandre e Jairo [alt Judas, Levi, Neftali, Alexandre e Siro, que testemunharam contra Jesus] e os restantes dentre os judeus apresentaram-se diante de Pilatos acusando Jesus de muitos feitos, dizendo: "Sabemos que ele é filho de José o carpinteiro e que nasceu de Maria, e chama-se a si mesmo filho de Deus e rei; além disso profana o sábado e ainda pretende abolir a lei de nossos pais". Disse-lhes Pilatos, ''o que faz, e o que pretende abolir?'' Disseram, ''temos uma lei que proíbe curar no sábado, pois bem ele, servindo-se de artimanhas, curou no sábado aos coxos, cegos, paralíticos, surdos e endemoniados''. [alt Disse-lhes Pilatos: "se realiza honestamente suas curas, não faz mal algum". Os judeus replicaram: "Se realizasse suas curas honestamente, não seria mal pior; mas para faze-las usa a virtude de Belzebu, príncipe dos demônios"]. Pilatos disse, 'que tipo de artimanhas?'' Disseram, ''por magia, pelo poder de Belzebu, expulsa os demónios e estes o obedecem''. Disse-lhes Pilatos: "Isto não é tirar os demônios pela virtude de um espírito imundo, mas sim pela virtude do deus Esculápio". [nota- o trecho vem de um tempo onde ''judeus'' eram apenas os membros da elite].

2. Os judeus disseram a Pilatos: "Rogamos a tua majestade que ele seja apresentado diante do teu tribunal para inquirido". Pilatos então os chamou e disse-lhes: "Dizei-me vós como é que eu, um mero governador, posso submeter nada menos que um rei a interrogatório?" Eles responderam: "Nós não dissemos que é um rei, mas sim que ele mesmo se dá esse titulo". Então Pilatos chamou o meirinho para dizer-lhe: "que me seja apresentado aqui Jesus, com toda a deferência". O mensageiro saiu, então, e logo que o identificou, o adorou; depois tirou o manto que levava em suas mãos e estendeu-o no chão, dizendo: "Senhor, passa por cima e entra, que o governador te chama". Os judeus vendo o que o mensageiro havia feito, puseram-se a gritar contra Pilatos, dizendo: "Por que te serviste de um mensageiro para faze-lo entrar, e não de um simples pregoeiro? Sabes que o mensageiro, assim que o viu, passou a adorá-lo e estendeu seu manto sobre o chão, fazendo-o caminhar por cima como se fosse um rei?".

3. Pilatos, então, chamou o meirinho e lhe disse: "Por que fizeste isto e estendeste o manto sobre o chão, fazendo Jesus passar por cima?'' O mensageiro respondeu: "Senhor governador, quando me enviaste a Jerusalém junto com Alexandre eu o vi montando um burro, e os filhos dos hebreus iam aclamando-o com ramos nas mãos, enquanto outros estendiam suas vestes no chão dizendo: 'Salva-nos, tu que estás nas alturas; bendito o que vem em nome do Senhor'."

4. Os judeus então começaram a gritar e disseram ao meirinho: "Os jovens hebreus clamavam em sua língua, como então te informaste da sua equivalência em grego?" O mensageiro respondeu: "Perguntei a um dos judeus e lhe disse: 'Que estão gritando em hebraico?' E ele me traduziu". Pilatos disse-lhes: "Como soa em hebraico o que eles diziam em altos brados?" Os judeus responderam: "Hosanna membrome; baruchamma; adonai". Então Pilatos lhes disse: "E o que significa Hosanna e as outras palavras?" Os judeus responderam: "Salva-nos [alt bendito] tu que estás nas alturas; bendito o que vem em nome do Senhor". Pilatos disse-lhes: "Se vós mesmos dais testemunho das vozes que saíram da boca dos jovens, que falta cometeu o mensageiro?" - Eles se calaram. Então o governador disse ao meirinho: "Sai e faze-o entrar da maneira que te aprouver". Saiu, então, o mensageiro e fez o mesmo que antes, dizendo a Jesus: "Senhor, entra; o governador te chama". [nota- este salmo em hebraico pode ser lido ''salva-nos (= hosana) de Roma'' (= mim be Rome)].

5. Mas, no momento em que Jesus entrava, os que seguravam os estandartes inclinaram-se e adoraram a Jesus. Os judeus que presenciaram esse gesto de reverência e adoração a Jesus, começaram a gritar desaforos contra os que portavam as bandeiras. Mas Pilatos lhes disse: "Não vos causa admiração ver como eles se inclinaram e adoraram Jesus?" Os judeus responderam a Pilatos: "Nós mesmos vimos como eles se inclinaram e o adoraram".

[alt O governador chamou então os que carregaram as bandeiras e lhes disse: "Por que agistes assim?" Eles responderam a Pilatos: "Nós somos gregos e servidores das divindades, como então iríamos adorá-lo? Saibas que, enquanto estávamos eretos, nossos corpos se inclinaram por si mesmos e o adoraram".

6. Então Pilatos disse aos arquissinagogos e anciãos do povo: "Escolhei vós mesmos alguns varões fortes e robustos; que eles segurem os estandartes e vejamos se estes se inclinam sozinhos". Então os anciãos escolheram de entre os judeus doze homens fortes e robustos, aos quais obrigaram a sustentar os estandartes em grupos de seis, e ficaram em pé diante do tribunal do governador. Então Pilatos disse ao mensageiro: "Leva-o para fora do pretório e introduze-o novamente da maneira que te aprouver". E Jesus saiu do pretório acompanhado do mensageiro. Pilatos chamou então aqueles que anteriormente estavam com os estandartes e lhes disse: "Jurei pela saúde de César que, se os estandartes não se dobrarem à entrada de Jesus, cortar-vos-ei as cabeças". E o governador ordenou novamente que Jesus entrasse. O mensageiro observou a mesma praxe inicial, e rogou encarecidamente a Jesus que passasse por cima de seu manto. E caminhando sobre ele, entrou. Mas no momento de entrar, novamente os estandartes se dobraram e adoraram a Jesus].

II

1. QUANDO PILATOS VIU a cena, encheu-se de medo e dispôs-se a deixar o tribunal. Mas, enquanto ainda pensava em levantar-se, sua mulher enviou-lhe esta carta: "Não te envolvas com esse justo, pois durante a noite sofri muito por sua causa". Então Pilatos chamou todos os judeus e lhes disse: "Sabeis que minha mulher é piedosa e que tende a seguir-vos em vossos costumes judeus?" Eles disseram: "Sim, sabemos". Pilatos disse-lhes: "Pois bem, minha mulher [Cláudia Prócula] acaba de enviar-me este recado: 'Não te envolvas com esse justo, pois durante a noite sofri muito por sua causa'." Mas os judeus responderam a Pilatos dizendo: "Não te dissemos que é um mágico? Sem dúvida enviou um sonho fantástico [alt um pesadelo] a tua mulher".

2. Pilatos então chamou a Jesus e lhe disse: "Como é que estes testemunham contra ti? Não dizes nada?" Jesus respondeu: "Se não tivessem poder para isso, não diriam nada, pois cada um é dono de sua boca para falar coisas boas e más: eles verão".

3. Mas os anciãos dos judeus responderam, dizendo a Jesus: "Que é que nós vamos ver? Primeiro, que tu viestes ao mundo por fornicação; segundo, que o teu nascimento em Belém trouxe como conseqüência uma matança de crianças; terceiro, que teu pai José e tua mãe Maria fugiram para o Egito por encontrarem-se ameaçados na cidade".

4. Então, alguns dos que ali estavam presentes, e que eram judeus piedosos, disseram: "Nós não estamos de acordo que haja nascido de fornicação, mas sim sabemos que José desposou Maria e que não foi gerado através de fornicação". Pilatos disse aos judeus que afirmavam sua origem através de fornicação: "Isto que dizeis não é verdade, posto que os esponsais foram celebrados, segundo afirmam vossos próprios compatriotas". Então Anãs e Caifás disseram a Pilatos: "Todos juntos afirmamos e cremos que ele tenha nascido de fornicação; estes são prosélitos e seus discípulos". Pilatos chamou Anás e Caifás e disse-lhes: "Que significa a palavra prosélito?" Eles responderam: "Que nasceram de pais gregos e fizeram-se judeus agora". Ao que contestaram os que afirmavam que Jesus não havia nascido de fornicação (isto é: Lázaro, Astério, Antônio, Tiago, Amnés, Zeras, Samuel, Isaac, Finees, Crispo, Agripa e Judas): "Nós não nascemos prosélitos, mas sim somos filhos de judeus e dizemos a verdade, pois encontrávamo-nos presentes nas bodas de José e de Maria".

5. Pilatos chamou estes doze que afirmavam não haver Jesus nascido de fornicação e disse-lhes: "Eu vos conjuro pela saúde de César, dizei-me, é verdade o que afirmastes, que não nasceu de fornicação?" Eles responderam: "Nós temos uma lei que proíbe jurar, porque é pecado; deixe que estes jurem pela saúde de César que não é verdade o que acabamos de dizer, e seremos réus de morte". Então Pilatos disse a Anás e Caifás: "Nada respondem a isto?" Eles replicaram: "Tu dás crédito a estes doze que afirmam o nascimento legitimo de Jesus; enquanto isso, todos, em massa, estamos bradando que é filho de fornicação, que é feiticeiro e que se chama a si próprio Filho de Deus".

6. Então Pilatos ordenou que toda a multidão saísse, à excepção dos doze que negavam a origem da fornicação, e ordenou que Jesus fosse separado. Depois lhes disse: "Por que razão querem dar-lhe a morte?" Eles responderam: "Têm inveja dele por curar no Sábado". Ao que respondeu Pilatos: "E por uma boa obra querem matá-lo?"

III

1. E CHEIO DE IRA saiu do pretório e disse-lhes: "Tomo por testemunha o sol de que não encontro nenhuma culpa neste homem". Os judeus responderam e disseram ao governador: "Se não fosse um malfeitor, não o haveríamos entregado a ti". E Pilatos disse: "Tomai-o vós e julgai-o segundo vossas leis". Então os judeus disseram a Pilatos: "Não nos é permitido matar ninguém". Ao que Pilatos contestou: "A vós sim Deus proibiu de matar, mas e a mim?"

2. E, entrando de novo no pretório, chamou Jesus à parte e disse-lhe: "És o rei dos judeus?" Jesus respondeu: "Dizes isto por conta própria ou pelo que os outros te disseram de mim?" Pilatos replicou: "Mas será que também eu sou por acaso judeu? Teu povo e os pontífices puseram-te em minhas mãos, que fizeste?" Jesus respondeu: "Meu reino não é deste mundo pois, caso contrário, meus servidores teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus; mas o meu reino não é daqui". Então Pilatos disse: "Logo, tu és rei?" Jesus respondeu: "Tu dizes que eu sou rei; pois para isto nasci e vim ao mundo, para que todo aquele que é da verdade ouça a minha voz". Pilatos disse-lhe: "Que é a verdade?" Jesus respondeu: "A verdade provém do céu". Pilatos disse: "Não há verdade sobre a terra?" E Jesus respondeu a Pilatos: "Estás vendo que os que dizem a verdade são julgados pelos que exercem o poder sobre a terra".

IV

1. E DEIXANDO JESUS no interior do pretório, Pilatos foi até os judeus e lhes disse: "Eu não encontro culpa alguma nele". Os judeus [alt Caifás] replicaram: "Ele disse: 'eu sou capaz de destruir este templo e reedificá-lo em três dias'." Pilatos disse: "Que templo?" Os judeus responderam: "Aquele edificado por Salomão em quarenta e seis anos; ele diz que vai destruí-lo e reedificá-lo ao final de três dias". Pilatos disse: "Eu sou inocente do sangue deste justo; vós vereis". E os judeus disseram: "Seu sangue seja sobre nós e sobre nossos filhos".

2. Então Pilatos chamou os anciãos, os sacerdotes e os levitas e disse-lhes em segredo: "não façais assim, pois nenhuma das vossas acusações merece a morte, já que elas referem-se às curas e a profanação do sábado". Os anciãos, sacerdotes e levitas responderam: "Se alguém blasfema contra César é ou não digno de morte?" Pilatos disse-lhes: "É digno de morte". Os judeus disseram: "Pois se alguém que blasfema contra César é digno de morte, saiba que este blasfemou contra Deus".

3. Depois o governador mandou que os judeus saíssem do pretório, e chamando Jesus, disse - lhe: "Que vou fazer contigo?" Jesus respondeu: "Faz como te for ordenado". Pilatos disse: "E como me foi ordenado?" Jesus respondeu: "Moisés e os profetas falaram sobre a minha morte e sobre a minha ressurreição". Os judeus e os ouvintes perguntaram a Pilatos: "Por que continuas ouvindo essa blasfêmia?" Pilatos respondeu: "Se estas palavras são blasfêmias, prendei-o por blasfêmia, levai-o à vossa sinagoga e julgai-o segundo a vossa lei". Os judeus contestaram: "Está escrito em nossa lei que se um homem peca contra outro homem merece receber quarenta açoites menos um; mas diz que se alguém blasfema contra Deus deve ser apedrejado".

4. Pilatos disse-lhes: "Tomai-o por vossa conta e castigai-o como quiserdes". Os judeus replicaram: "Nós queremos que seja crucificado". Pilatos contestou: "Não merece a crucificação".

5. Então o governador lançou um olhar ao seu redor sobre a turba de judeus que estava presente e, ao ver que muitos deles choravam, exclamou: "Nem toda a multidão quer que morra". [alt Quereis vós também que morra?'' Disseram, ''não queremos, pois não vemos culpa nele'']. Os anciãos dos judeus disseram: "Por isso viemos todos em massa, para que morra". Pilatos perguntou-lhes: "E por que deverá morrer?" Os judeus responderam: "Porque chamou a si próprio Filho de Deus e rei".

V

1. UM CERTO JUDEU de nome Nicodemos pôs-se diante do governador e disse: "Rogo-te, bondoso como és, permite-me dizer umas palavras". Pilatos respondeu: "Fala". E Nicodemos disse: "Tenho falado nestes termos aos anciãos, aos levitas, à multidão inteira de Israel reunida na sinagoga: 'Que pretendeis fazer com este homem? Ele opera muitos milagres e prodígios como nenhum outro foi nem será capaz de fazer. Deixai-o em paz e não trameis nada contra ele; se os seus prodígios têm origem divina permanecerão firmes; porém, se têm origem humana, dissipar-se-ão. Pois também Moisés, quando foi enviado da parte de Deus ao Egito, fez muitos prodígios, previamente assinalados por Deus, na presença de Faraó, rei do Egito. E estavam ali alguns homens a serviço de Faraó, Jamnes e Jambres, os quais operaram, por sua vez, não poucos prodígios como os de Moisés, e os habitantes do Egito tinham Jamnes e Jambres por deuses. Mas como os seus prodígios não provinham de Deus, eles pereceram, bem como os que lhes davam crédito. [alt Pois Lázaro ressuscitado confirma as palavras e obras de Jesus]. E agora, deixai livre este homem, pois não é digno de mote'."

2. Os judeus disseram então a Nicodemos : "Tu te fizeste discípulo dele e por isso fala em seu favor". Nicodemos disse-lhes: "Mas então também o governador fez-se discípulo dele porque fala em sua defesa? Não o colocou César neste cargo?" Os judeus estavam com muita raiva e rangiam os dentes contra Nicodemos. Pilatos disse-lhes: "Por que rangeis os dentes contra ele ao ouvir a verdade?" Os judeus disseram a Nicodemos: "A ti sua verdade e sua parte". Nicodemos disse: "Amém, amém, que assim seja como haveis dito".

VI

1. MAS UM DOS JUDEUS adiantou-se e pediu a palavra ao governador. Este lhe disse: "Se queres dizer algo, diz". E o judeu assim falou: "Eu estive durante trinta e oito anos deitado numa liteira, cheio de dores, quando Jesus veio, muitos dos que estavam endemoninhados e sujeitos a diversas doenças foram curados por ele. Então alguns jovens compadeceram-se de mim, e, pegando-me com liteira e tudo, levaram-me até ele. Jesus, ao ver-me, compadeceu-se de mim e disse-me: 'pega tua maca e anda'. Eu peguei minha maca e comecei a andar". Então os judeus disseram a Pilatos: "Pergunta-lhe que dia era quando foi curado". E o interessado disse: "Era Sábado". Os judeus disseram: "Já não te havíamos informado de que curava no sábado e tirava demônios?"

2. Outro judeu adiantou-se e disse: "Eu era cego de nascença, ouvia vozes, mas não via ninguém, e, ao ver passar Jesus, gritei bem alto: 'Filho de Davi, apieda-te de mim'. E compadeceu-se de mim, impôs suas mãos sobre os meus olhos e imediatamente recuperei a visão". E outro judeu adiantou-se e disse: "Estava arqueado e endireitou-me com uma palavra". E outro disse: "Havia contraído lepra e ele curou-me com uma palavra". [nota- originalmente estes depoimentos visavam apresentar Jesus como feiticeiro].

VII

E CERTA MULHER chamada Berenice (Verônica) começou a gritar de longe, dizendo: "Encontrando-me doente com hemorragia, toquei a extremidade de seu manto e a hemorragia que eu vinha tendo por doze anos consecutivos, parou". Os judeus disseram: "Existe um preceito que proíbe apresentar uma mulher como testemunha". [nota- ficou chamada de Beronika ou Verónica ou Berenice a mulher hemorroíssa, dita ser oriunda de Paneias (Cesareia de Filipe), onde fez imortalizar a cena num bronze, por sua vez copiado num sarcófago em Latrão, Roma].

VIII

E ALGUNS OUTROS, muitos homens e mulheres gritavam, dizendo: "Este homem é profeta e os demônios submetem-se a ele". Pilatos disse aos que afirmavam isto: "Por que também vossos mestres não se submeteram a ele?" Eles responderam: "Não sabemos". Outros afirmaram que havia ressuscitado Lázaro do sepulcro, defunto já de quatro dias. Então, cheio de medo, o governador disse à multidão de judeus: "Por que vos empenhais em derramar sangue inocente?"

IX

1. E DEPOIS DE CHAMAR Nicodemos e aqueles doze homens que afirmavam a origem limpa de Jesus, disse-lhes: "Que devo fazer, pois se está forjando um alvoroço entre o povo?" Disseram-lhe: "Nós não sabemos; eles verão". Convocou de novo Pilatos a multidão de judeus e disse-lhes: "Sabeis que tenho por costume soltar um prisioneiro durante a festa dos Ázimos. Pois bem, está preso e condenado um assassino chamado Barrabás, e tenho também este Jesus que está agora na vossa presença, e em quem não encontro culpa alguma. A quem quereis que solte?" Eles gritaram: "A Barrabás". Pilatos disse-lhes: "Que farei, pois, de Jesus, o chamado Cristo?" Os judeus responderam: "Que seja crucificado!" E alguns dentre eles disseram: "Não és amigo de César se soltas a este, porque chamou-se a si próprio Filho de Deus e rei; se assim procedes, queres a este por rei e não César".

2. Pilatos então, encolerizado, disse aos judeus: "Vossa raça é revoltada por natureza e enfrentou vossos benfeitores". Os judeus disseram: "A quais benfeitores?" Pilatos respondeu: "Vosso Deus tirou-vos do Egito, livrando-vos de uma cruel escravidão; vos manteve sãos e salvos através do mar bem como através da terra, alimentou-vos com maná no deserto e deu-vos codornas, deu-vos de beber água tirada de uma rocha e deu-vos uma lei, e, depois de tudo isso, encolerizastes vosso Deus, fostes atrás de um bezerro fundido, exasperastes vosso Deus e Ele dispôs-se a exterminar-vos; porém, Moisés intercedeu por vós e não fostes entregues à morte. E agora acusais a mim de odiar o imperador".

3. E, levantando-se do tribunal, dispôs-se a sair. Mas os judeus começaram a gritar, dizendo: "Nós reconhecemos como rei a César e não a Jesus. E ainda mais, os Magos vieram oferecer-lhe dons trazidos do Oriente como para o seu rei; e quando Herodes tomou conhecimento através desses personagens de que um rei havia nascido, tentou acabar com ele. Mas seu pai José tomou ciência do fato e levou-o juntamente com a mãe, e fugiram todos para o Egipto. E quando Herodes soube disso, exterminou os filhos dos hebreus que haviam nascido em Belém".

Quando Pilatos ouviu estas palavras, temeu, e depois de impor silêncio às turbas, já que estavam gritando, disse-lhes: "Então é este aquele a quem Herodes buscava?".... [CONTINUA]

A SENTENÇA CONDENATORIA DE JESUS CRISTO

PRIMEIRA RESCRITA

Um tipo de notas preliminares, numa das versões, informa que,

Esta sentença encontra-se gravada numa placa de cobre e, em ambos os lados, lê-se estas palavras: "uma placa igual foi encaminhada para cada Tribo". Foi encontrada dentro de um antigo vaso de mármore branco durante escavações realizadas em Áquila, reino de Nápoles, no ano de 1820, pelos comissionários de artes que acompanhavam o exército francês, após a expedição de Napoleão. O vaso encontrava-se dentro de uma caixa de ébano na sacristia dos Cartuxos, próximo a Nápoles; atualmente encontra-se na Capela de Caserte. A tradução a seguir, feita a partir do original em hebraico, foi realizada pelos membros da Comissão de Artes. Após muitas súplicas, os Cartuxos conseguiram que a referida placa não fosse levada [para a França], como reconhecimento dos inúmeros serviços que prestaram ao exército francês.

A SENTENÇA

No ano dezessete do império de Tibério César, a vinte e cinco do mês de março, na Santa Cidade de Jerusalém, sendo sacerdotes e sacrificadores de Deus Anás e Caifás, Pôncio Pilatos, governador da baixa Galiléia, sentado na cadeira principal do pretório, Sentencia:

Jesus de Nazaré a morrer em uma cruz, com outros dois ladrões, afirmando os grandes e notórios testemunhos do povo que: Jesus é sedutor. É sedioso. É inimigo da lei. Chama-se falsamente Filho de Deus.

Chama-se falsamente Rei de Israel. Entrou no Templo, seguido por uma multidão com palmas na mão. Manda ao primeiro centurião, Quirilino Cornélio, que o conduza ao local de suplício. Fica proibido a qualquer pessoa, pobre ou rica, impedir a morte de Jesus.

As testemunhas que firmam a sentença contra Jesus são: Daniel Robian, fariseu. Joannas Zorobatel. Rafael Robani. Capeto, homem público. Jesus sairá da cidade de Jerusalém pela porta de Estruene.

OUTRA RESCRITA

Fonte- Otero, pag. 532. ''Um curioso texto apócrifo da sentença que Pilatos pronunciou contra Jesus (...) contido num manuscrito italiano pertencente ao Arquivo Geral de Simancas (…) nota preliminar diz que o texto foi encontrado no ano 1580 na cidade de Aquila (...) cópia do original italiano feita por algum soldado do séc. XVII (…) no reino de Nápoles''. Sutcliffe estudou os dados em 1947. Simancas foi criado em 1540, em Espanha por ordem de Carlos V.

COPIA ACHADA na cidade de Aquila, do reino de Nápoles, [em 1580] [em Certa] [numa antiguidade de mármore] da sentença de [que deu] P.Pilatos contra o Cristo [da sentença dada por P.Pilatos, preisdente da Judeia no ano 18 de Tib. Cesar, imperador de Roma, contra Jesus Cristo, filho de Deus e da Virgem Maria, sentenciando-o à morte entre dois ladrões, no dia 25 de março, achada milagrosamente dentro de belíssima pedra, na qual estavam duas caixinhas, uma de ferro, e dentro desta, outra de finíssimo marfim, onde estava incluso o veredicto abaixo transcrito, em escrita hebraica, como se segue:

No ano 17 [18] de Tibério César, imperador de Roma e de todo o mundo, monarca invicto, na Olimpíada 121, na Clíada 24, 4 vezes 1147 anos da criação do mundo na conta dos hebreus, 73 da proclamação do império romano, 430 da libertação do cativeiro caldeu, [1211 da saída do Egipto]; no consulado [do pontífice romano] de Lúcio Pisano e Márcio S[?]aurico [Maurício Pisarico] [conselheiros Valério Palestino Plubico... alt Público... governador da Judeia] [alt Procônsules Lucio Balesna, Público sendo presidente da Judeia, e Quinto Flávio]; sob o regimento e governo de Jerusalém presidente gratíssimo P. Pilatos; regente da Baixa Galileia Herodes Antipas; no pontificado de Anás, Caifás; mestre do Templo Alit Almael, Roboan Ancabel, Franchino Centurion; cônsules romanos na Cidade de Jerusalém, Qunto Cornélio Sublime e Sexto Ponfílio Rufo; a vinte e cinco do mês de março.

Eu, Pôncio Pilatos, aqui presidente romano e dentro do palácio da arquipresidência julgo, condeno e sentencio à morte Jesus, que a plebe chama de Cristo Nazareno, de pátria galileia, homem sedicioso da lei mosaica, infenso ao imperador Tib; determino e pronuncio que venha a morrer em uma cruz, fixado com cravos, no uso destinado aos réus, pois aqui, congregando e reunindo muitos homens ricos, e pobres, não cessou de promover tumultos por toda Judeia, fazendo-se Filho de Deus, e rei de Jerusalém, havendo-se atrevido a entrar com palmas e triunfo, e com parte do povo, em Jerusalém e no Templo.

Mando ao primeiro centurião, Quinto Cornélio, que o conduza publicamente ao local de suplício, atravessando a cidade algemado e açoitado, vestido de púrpura e coroado de espinhos, carregando a própria cruz sobre os ombros, em exemplo a todos os malfeitores. E com ele quero que sejam levados 2 criminosos, ladrões e homicidas. E que saia pela Porta Sagrada, agora Antoniana, e que seja conduzido ao monte público do Calvário, onde seja crucificado e morra, e fique o corpo na cruz, para escarmento de todos. E seja afixado na cruz o aviso em 2 idiomas, hebreu, grego e latim, [alt hebr. Yesu aloi chisidin= Eli chassidim], JESUS NAZARENO REI DOS JUDEUS. Fica proibido a qualquer pessoa, pobre ou rica, temerariamente impedir a Justiça por mim mandada, administrada e executada com todo o rigor segundo os decretos e leis romanas e hebraicas, sob pena de rebelião contra o império romano.

Testemunhas desta nossa sentença... etc. etc. etc. [copiado no ano 1786].

LINQUES:
Carta de Públio Lêntulus
Ciclo de Pilatos
Volusiano
http://www.cristohistorico.hpg.ig.com.br

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