Aspirai aos Carismas
I - O TEMPO DOS CARISMAS:
Os carismas perturbam, tanto do lado
dos que os desejam como dos que os examinam e analisam ceticamente. Perturbam, pois não
se sabe como viver este tipo de fenômeno, como promovê-lo na comunidade eficientemente
sem enganos ou desvios, ou na busca de algum poder ou reconhecimento dos demais.
Até dentro da Igreja os carismas
inquietam, por sua dimensão sensível que receiam poder provocar a atração
do sensacional e até o surgimento de uma credulidade excessiva no povo de Deus.
O irracional fascina e ao mesmo tempo
perturba...
Os carismas não podem ser
considerados como um fim em si mesmos, ou então como a aquisição de um poder. O
exercício deles comporta normalmente um risco em si. É próprio de sua natureza fazer
apelo à sensibilidade daquele que o utiliza; porém não podemos por isso rejeita-los ou
mesmo deprecia-los, fazendo-lhes pouco caso.
Não podemos esquecer que a
renovação espiritual que a igreja vive nestes últimos tempos é pentecostal. A
renovação atual abre-se a experiência da efusão do Espírito Santo; e como
conseqüência primordial, segundo o Atos dos Apóstolos, a eclosão dos carismas, (conf.
I COR. 12, 411).
Destes, os mais notáveis se destinam
a fornecer motivos de credibilidade evidenciando a ação divina. Os demais facilitam e
tornam eficaz a atitude dos propagadores do evangelho.
É verdade que fervor e eclosão
carismática andam juntos e que em diversos períodos do cristianismo viram
jorrar de novo, em abundância estes fenômenos.
Urge então para nós e, sobretudo
aos grupos de oração e comunidades carismáticas, que aspirem aos carismas, para isso é
necessário faze-los perder sua aura, que os faz fora do comum dos
mortais cristãos.
Os carismas são simples na sua
eclosão e no seu exercício, acessíveis a todos.
EXERCÍCIO:
Leia o Salmo 50
(51).
Ore com: I COR.
14,1b; 12, 4 11.
Peça a Deus em oração essa
aspiração aos carismas e também à eclosão dos mesmos.
( conf. I COR. 12,4 11 ).
II NÃO DESPREZEM OS DONS DE
PROFECIA.
INTRODUÇÃO:
No módulo passado, vimos que nós
estamos vivendo O TEMPO DOS CARISMAS, que eles tanto fascinam como perturbem;
que a renovação espiritual que nossa igreja esta vivendo é pentecostal e é uma
reatualização vivificante da graça batismal, mediante a efusão do Espírito Santo, que
teve como conseqüência primeira à eclosão dos carismas. Portanto conosco isso deve se
repetir..., mas para isso é necessário que aspiremos aos carismas.
Hoje falaremos dos dons de profecia;
para isso utilizaremos a classificação que São Tomás de Aquino utiliza para
classificarem as categorias de carismas.
-
Carismas que dependem do
conhecimento:
Falar ou cantar em
línguas; profecia; conhecimento imediato (interpretação), discernimento.
-
Carismas de discurso:
Palavra de sabedoria
ou ciência.
-
Carismas de ação:
Fé; governo, etc.
-
Carismas de cura e milagres:
Normalmente acompanham
todo discurso (pregação, conselho, exortação, ensinamento) dos enviados de Deus
dando-lhes credito.
Retomando o nosso tema, podemos dizer
que não conviria limitar a Renovação a programas de vida, a projetos criativos ou a
serviços multiformes, mesmo pastorais. Lembre-se não podemos limitar.
Onde estariam a flexibilidade, a
vitalidade, a efervescência espiritual de múltiplos aspectos, que fazem da Renovação
não tanto um movimento, nem uma tendência, mas uma experiência de Pentecostes renovado,
que apenas começou...
Esses projetos, programas, serviços
são conseqüências e não causas da Renovação. A teologia pos carismas nos ensina
exerce-los justa e acolhedoramente direcionado para o crescimento contribui para todos
estes aspectos. Edificação da Igreja, evangelização e bem de todos. Mas também para a
oração para o diálogo com Deus fiel e profundo. Este apelo para a vida mística, isto
é, para a experiência da presença de Deus, encontro prolongado, num coração a
coração tudo isso nutridos pelos sacramentos.
Aí esta, em primeiro lugar, a
vitalidade da Renovação que há de ser salvaguardada a qualquer custo, pois uma
renovação sem carismas e sem vida mística perderia sua vitalidade, sua graça
específica, sua fecundidade e sabedoria, essa mesma que as vezes os homens consideram
como loucura.
A teologia ensina que o carisma é a
manifestação de uma graça sensível e imerecida:
- Graça Sensível: que
passa pela sensibilidade, se torna visível, audível ou tangível. Nesta época os sinais
revelam-se de uma importância muito especial, Deus não teme os sinais, em toda a Bíblia
ele no-lo prova, sendo o maior deles o de Jonas: Cristo crucificado entre o céu e a
terra. (Jonas 2,1-11).
Assim como para Jesus, também para
nós os sinais não devem ser a meta. Compreendamos antes que os carismas representam o
que o maligno mais procura imitar, para desacreditá-los ou recuperá-los no seu campo de
ação. Falsifica-los. É pelo justo exercício desses sinais carismáticos, a serviço da
verdade que poderão ser desmascarados os falsos sinais e seus autores.
- Graça Imerecida: o carisma
não depende de nenhuma santidade pessoal... É gratuita (Efe 2,8), não para coroar um
mérito, ou conceder um rótulo divino de qualidade, mas para ser colocado a serviço dos
irmãos.
Todo Grupo de Oração e Comunidade
deve aspirar aos carismas e rezar nessa intenção e estar atento ao Espírito Santo que
jamais irá recusar. Esta é uma aspiração legítima, em vista do serviço do corpo
comunitário, não é, portanto proibido, nem desaconselhável, aspirar aos carismas. (I
Cor 14,1). Eles fazem parte da nossa herança espiritual, do penhor do Espírito que já
estamos recebendo.
Portanto, é preciso resguardar os
carismas, quaisquer que sejam as críticas, resguarda-los porque são dons especiais da
misericórdia divina.
O mundo exalta a ciência ou a
competência adquirida. Teólogos elogiam a graça de estado. Os carismas não são nem
um, nem outro. Por isso incomodam têm uma eficácia espiritual e um brilho
exterior que os revestem de um caráter extraordinário.
III AS TRÊS BASES
Muitos aspiram aos carismas e não
vêem nada acontecer. Grupos de Oração e Comunidades já deveriam estar exercendo ou
vendo-os crescer.
Então o que fazer??? (colocar-se em
oração para perguntar).
Um Grupo de Oração e/ou Comunidade
orante deve saber que sempre será depositário de carismas, embrionário ou não, mesmo
que não os saiba fazer crescer.
Como vimos no módulo II, os carismas
fazem parte da nossa herança, são gratuitos e imerecidos, porém não caem do
céu, resumidamente, são lançados pela providência.
Um carisma se acolhe ativamente, não
de qualquer maneira. Neste sentido segundo Philippe Madre, três condições são
necessárias para o acolhimento dos carismas:
1 A Comunhão Fraterna:
A Comunhão Fraterna é essencial.
Não é porque nos reunimos, nos encontramos, uma, duas, três ou até a semana inteira
para rezar, ou assumir qualquer serviço, que podemos dizer que estamos em comunhão.
A Comunhão é um laço de
fraternidade a ser continuamente expresso sem medo. Nossas Comunidades, Grupos de
Oração, são assembléias onde Cristo se torna realmente presente. (Mt 18,20).
Uma ferida na comunhão, uma
negação de perdão, rivalidades quanto à autoridade, ciúmes, etc. Tudo isso pode
corroer pela base a vida profunda de um Grupo de Oração ou Comunidade. Os carismas
precisam de uma terra fecunda para desenvolver-se (Mt 13,1-9.19-23).
Onde não há o mínimo de caridade,
como pode desabrochar uma vida carismática? Devemos dar urgência à reconciliação e
viver de forma adulta em Cristo, não deixar nos afogar pelo Espírito de partido,
discórdia, mesmo que pense ter toda a razão (Tig 4,6).
A generosidade é o motor do Grupo.
A solidariedade ou a partilha dos
bens materiais.
Até certas renúncias às
ocupações, lazeres pessoais.
O calor fraterno é um clima de
hospitalidade. A própria expressão dos primeiros cristãos: vede como eles se
amam. É a misericórdia que Jesus quer, não como uma idéia a pregar, mas como uma
realidade a viver.
2 O Zelo Evangelizador:
Não é bom que um Grupo de Oração
e/ou Comunidade rorone sobre si. Isso pode parecer benéfico, no entanto para
a existência deste Grupo de Oração e/ou Comunidade compromete-se em longo prazo.
Precisamos compreender que não é por si mesmo que um grupo atrai novos companheiros de
oração. Isso cabe ao testemunho do Cristo vivo que se espera do grupo. (No plano
físico, moral ou espiritual).
O verdadeiro carismático é ou se
torna missionário, mas com zelo. O testemunho de sua vida, obras é profundamente
evangelizador e abre ao exercício dos carismas.
É necessário preocupar-se com o
fato de se sentir incapaz de evangelizar. O testemunho do amor a Jesus reveste inúmeros
aspectos que não pedem grande formação espiritual ou competências. Há de rezar para
perceber claramente a direção a que Deus nos envia. Discerni-lo não é difícil, nunca
se engana quem quer praticar o amor.
3 A Pobreza Evangélica:
Refiro-me aqui ao Espírito de
pobreza, que deveria animar todo o cristão, que possibilita tornar-nos dependentes de
Deus, não do mundo, de confiar que sua sabedoria cuida e nos conduz a verdadeira alegria.
EXERCÍCIO:
Ver Mt 13,1-9.19-23 (Parábola do
semeador) e meditar para logo em seguida mergulhar em oração. Meditar sobre as três
bases.
Ver I Cor 14,1 . 12,4-11
IV O ACOLHIMENTO DOS
CARISMAS
Como saber se recebemos um carisma?
Como ajuda-lo a emergir?
Como colaborar com a graça para
fazê-lo crescer?
- É sobre esses aspectos que iremos
tratar neste IV módulo.
Para iniciar queria dizer-lhe que
essa matéria requer prudência, nela não se pode ser completo, longe disso! Algumas
regras práticas orientarão nossa caminhada.
Se fizermos parte de um Grupo de
Oração com um mínimo de estrutura, que possibilite o discernimento e com irmãos que
exerçam funções de unidade e de autoridade não há porque temer.
Se eu me enganar, eles me avisarão
com caridade, a médio, curto prazo, pois um falso carismático mancha a unidade
comunitária, freia o impulso da oração do Grupo de Oração e não se pode deixar de
percebê-lo.
A humildade é necessária para
ouvi-los sem revoltas e ou afetar-me.
Em um Grupo de Oração e/ou
Comunidade é sinal de maturidade essa unidade e essa possibilidade de correção
fraterna, na caridade.
Um carisma verdadeiro avalia-se pelos
seus frutos de confirmação, para ser ratificado e exercido mais plenamente. A
confirmação mais do que o carisma em si mesmo é o sinal da Obra de Deus. A meu ver,
quando 4 ou 5 confirmações forem recebidas podemos ver que se trata de um dom autentico.
O surgimento dos dons não depende do
grau de antiguidade ou de hierarquia do Grupo de Oração e/ou Comunidade.
A experiência da efusão do
Espírito Santo é fecunda mais do que se pensa, esta fecundidade não é considerada com
fé e é realmente ai que as comportas celestes se abrem; talvez a
preparação para a efusão lucrasse se insistíssemos sobre essa realidade como
promoção dos carismas.
Nossa oração para a obtenção dos
carismas é legítima, na medida que for uma oração de abandono. Pedimos os carismas
não para nós, mas para o bem de nossa Comunidade. A Sabedoria Divina compete dispensar
os carismas para esse fim; a nós aguardar com paciência e confiança.
A eclosão de um carisma embrionário
detecta pela multiplicação das coincidências. A Gênesis de um carisma é obra do
Espírito Santo em nós, e é a partir do testemunho do Espírito em nós, que jorra
progressivamente o dom. A escuta interior é fundamental, precisamos aprender a escutar o
próprio coração, finalidade da verdadeira oração.
Deus está falando ao nosso
coração, as preocupações da vida nos mantém à superfície de nós mesmos
e às vezes até as nossas reuniões de oração.
Como último conselho diria para
aqueles que ainda questionam-se positivamente a respeito dos carismas, que rezem
com pessoas que já têm um carisma confirmado. Entrar na unção espiritual
de alguém que já tem o costume de viver o carisma é muito proveitoso, pois é capaz de
ativar um dom nascente que seria difícil desenvolver.
Finalmente: a palavra-chave é a
confiança em Deus, no Emanuel, afinal de contas é o nosso carisma, Deus que cuida de
seus filhos e os quer fazer crescer. Ele nos deu muito mais do que imaginamos, depende de
nós deixá-los jorrar.
V EXERCER OS CARISMAS
A uma espécie de santa
anarquia (a do Espírito Santo) que não podemos nunca controlar. Alguns carismas
serão quase permanentes, outros esporádicos. Posso ter um carisma de cura e rezar em
vão por um doente cuja cura desejo, etc.
Receber um carisma confirmado,
autêntico, não me atribui poder nenhum sobre Deus e providência. A vida carismática
requer, a docilidade crescente ao Espírito Santo.
Isso não quer dizer que elas não
envolvam com o tempo, através de um amadurecimento progressivo e seu exercício. Ele deve
amadurecer se não definha. Se ficar estagnado demais no tempo, já está se apagando.
Para amadurecer um carisma é
necessário exercita-lo freqüentemente, mesmo que Deus não esteja sempre atuando
na hora marcada. Um carisma autêntico deve poder ser colocado em condições
de funcionar, isto deve ser uma preocupação normal dos responsáveis por
Grupos de Oração e/ou Comunidades.
O exercício de um carisma não se
faz jamais em detrimento da unidade de um Grupo de Oração e/ou Comunidade. Mesmo que
amadurecido e confirmado o carisma não exclui de quem o recebeu certas exigências:
- A Obediência: aos responsáveis,
que segundo o seu carisma administram o melhor possível a unidade no Grupo de Oração
e/ou Comunidade e o seu crescimento, de que deverão render contas a Deus...
- Vida de Oração mais abundante e
regular: tanto pessoal como em grupo. E até contemplativa, que deve tornar-se um diálogo
íntimo com Deus. Esta se alimenta dos sacramentos e nutre a escuta interior, tão
indispensável à vida carismática. Acrescentaria a assistência de um diretor
espiritual.
- A Busca da Humildade: Deus é quem
nos escolhe para sermos seus instrumentos, é ele quem faz tudo.
- A Alegria: a eclosão dos carismas
não é compatível com a tristeza permanente! Somos chamados a praticar a alegria, não
somente a exuberante, mas uma mais profunda, ligada a uma fidelidade à oração, a um
desejo de se doar pelo Cristo, até em certos sofrimentos... Não é à toa que acolhemos
sofredores de todo tipo no nosso seio.
- Estar Pronto a Renúncias
Imprevistas: estar exposto a transtornos, surpresas, alterações de programa, escolhas a
fazer para permanecer fiel à graça. Não ver o carisma sob o seu aspecto
confortável (Lc 14,28).
O exercício carismático no seu
desenvolvimento é cansativo e desconhecemos isso, se não recorremos à oração a ______
nos pegará rapidamente, visto que esta aprendizagem nem sempre nos agrada.
- Uma Vigilância Espiritual: com
efeito, o tentador não gosta dos verdadeiros carismáticos, por reconduzirem ao Senhor. E
tentará, sobretudo pelo lado efetivo arruinar a atividade que se mostra fecunda. Sua
cilada é tanto mais temível quanto sua chegada é despercebida. Aquele que exerce um
carisma nunca se acredite mais forte do que os outros.
E para onde nos leva o aprendizado
dos carismas?
No início, quando começam a ser
percebidos em nosso interior, eles são vividos como um fenômeno estranho, confundindo-se
com as nossas reações psicológicas ou espirituais. Com a experiência vinda da prática
aprendemos a individualizá-los e percebemos o modo do Espírito em nós.
Aí está a primeira maturidade do
carisma: reconhecer em si a obra do Espírito e abandonar-se a ela numa docilidade que se
adquire pelo crescimento da ousadia e na confiança.
A segunda maturidade do carisma: que
se avalia pelos frutos, cada vez mais abundantes, porém com períodos de calmaria que
podem acontecer. Maturidade em que as profecias serão mais estupendas, as curas mais
numerosas ou significativas, os discernimentos mais afinados e mais valiosos, palavras de
conhecimento imediato mais precisas, abalando o seu destinatário até persuadi-lo que
Deus está realmente cuidando dele. |