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A
Guerra de Canudos durou um ano e mobilizou
mais de 10 mil soldados oriundos de 17
estados brasileiros e distribuídos
em 4 expedições militares. Estima-se que
morreram mais de 25 mil pessoas, culminando
com a destruição total da cidade. Na fotografia
ao lado, D. Rita Ramos
com armas utilizadas na guerra.
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Foto: Antonio Olavo, 1990.
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Novembro
- 1896
Começa a guerra de Canudos. O pretexto para o seu início
foi irrelevante. Antônio Conselheiro
precisava de madeira para a Igreja Nova
em construção e a encomendou em Juazeiro
(BA). O pagamento foi antecipado,
mas, no prazo estabelecido, a madeira
não foi entregue. Espalhou-se o boato
de que a cidade seria invadida pelos conselheiristas.
O juiz local, Arlindo Leone, tinha antigas
divergências com Conselheiro
e resolveu estimular o pânico na cidade.
Grande parte dos moradores resolveu atravessar
o Rio São Francisco, refugiando-se
em Petrolina (PE). Criado o clima
propício, o juiz solicitou tropas policiais
e foi atendido pelo Governador Luís
Viana.
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06
de Novembro - 1896
Parte de Salvador
(BA), pela Estrada de Ferro da Bahia ao
São Francisco com destino a Juazeiro,
a 1a Expedição Militar contra
Canudos. Era composta de 113 soldados
do 9º Batalhão de Infantaria,
três oficiais, um médico e dois guias
(Pedro Francisco de Morais e
seu filho, João Batista de Morais),
comandados pelo Tenente Pires Ferreira.
Levava 400 cartuchos para cada praça.
Ao chegar no dia seguinte a Juazeiro,
a expedição encontrou uma cidade apavorada,
mas os conselheiristas estavam bem longe
e não planejavam nenhum ataque. Então,
o juiz e o tenente decidem ir em direção
a Canudos.
No
dia 19, a tropa chega a Uauá
(BA). O historiador Manoel Neto afirma:
"Até alcançar Uauá a trôpega tropa
marchou penosos 150 quilômetros. Passaram
pela Lagoa do Boi, Caraibinhas, Mari,
Mucambo, Rancharia, o Tenente Pires Ferreira
e seus enfermiços e diarréicos subordinados.
Enfrentando dificuldades no comando, porquanto
estremecido com o Alferes Coelho e o próprio
dr. Antonino, o chefe da expedição cometia
outros erros perigosos: exauria a tropa
numa marcha não planejada e em terreno
sobejamente conhecido pelo inimigo, isolava-se
de apoio estratégico valioso, encaminhava-se
para combater um contendor desconhecido,
obscuro. Tinhosos, como depois se comprovou,
os combatentes de Bello Monte espreitavam..."
(Neto, Manoel. De Juazeiro a Ladeira
da Barra: A Inusitada Trajetória da Expedição
Pires Ferreira in Revista Canudos
v.1, n.1 1997 UNEB – CEEC ) |
21 de Novembro - 1896
No amanhecer deste dia a Expedição encontrava-se ainda
em Uauá (BA), quando chegam centenas de conselheiristas
entoando cânticos, tendo a frente a bandeira do
Divino e uma grande cruz de madeira.
"Não pareciam guerreiros
Símbolos da paz portavam,
A bandeira do Divino
E ao som de Kyries marchavam,
Levando uma grande cruz,
De longe se anunciavam."
(Zé Guilherme)
Vinham
como quem vinha para reza, ou para a guerra.
Foram recebidos a bala pelos sentinelas
semi-adormecidos e surpresos. Era a guerra.
Manoel Neto assim descreve: "Estabelecia-se,
sangrento, o 1º fogo previsto
pelo Conselheiro, e a pacata Uauá transformava-se
em violento território de combate. O próprio
Tenente Pires Ferreira descreve o ataque
destacando a "incrível ferocidade" dos
assaltantes e a forma pouco convencional
como organizavam suas manobras, isto é,
usando apitos. A celeridade e a rapidez
com que a luta se deu propiciou vantagem
inicial aos conselheiristas. Adentraram
ao arraial onde ocuparam algumas casas.
A lógica, entretanto, prevaleceu. Armados
e municiados com equipamentos mais modernos
e letais, os soldados do 9º
Batalhão de Infantaria impuseram pesadas
baixas as forças belomontenses. A crueza
do combate foi inegável, sendo que o uso
de armas como "facões de folha-larga,
chuços de vaqueiro, ferrões ou guiadas
de três metros de comprimentos, foices,
varapaus e forquilhas, sob o comando de
Quinquim Coiam" utilizados em lutas de
corpo a corpo produziam cenas dantescas.
Foram entre 4 e 5 horas de pânico, sangue,
horror e gestos de bravura e pânico. Contabilizadas
as baixas de ambas facções, os números
determinava a vitória militar das tropas
governamentais. No relatório oficial,
Pires Ferreira informa que pereceram na
batalha, dentre as hostes conselheiristas
"cento e cinqüenta, fora os feridos".
(Neto, Manoel. idem )
Passadas
várias horas de combate, os canudenses,
comandados por João Abade, resolveram
se retirar, deixando para trás um quadro
desolador. |
Apesar
da aparente vitória, a expedição estava
derrotada, pois não tinha mais forças
nem coragem para atacar Canudos. Naquela
mesma tarde, saqueou e incendiou Uauá
e retornou para Juazeiro, com o saldo
de 10 mortos (um oficial, sete soldados
e os dois guias) e 17 feridos.
"Em
Juazeiro ao chegarem
Houve grande confusão
O medo cresceu na mente
De toda a população
O êxodo reatado
Aumentou em proporção"
(Zé Guilherme)
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Atual
praça de Uauá, local do combate
Foto: Antonio Olavo
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Pedrão,
que durante o combate estava em outra
missão ao chegar em Canudos e saber que
seus companheiros mortos estavam insepultos,
criticou João Abade e autorizado por Conselheiro,
voltou a Uauá e enterrou 74 corpos.
Em
Canudos, correu o boato de que os soldados
tinham sido avisados por Antônio da Mota,
negociante, compadre e amigo de Conselheiro.
Mas estes créditos de nada lhe valeram,
pois foi morto junto com todos os homens
adustos da sua família numa chacina brutal
e desumana.
A
derrota surpreendeu o governo e repercutiu
negativamente na opinião púbica, mas no
sertão aumentou ainda mais o prestígio
de Antônio Conselheiro e cresceu muito
a quantidade de pessoas que iam para Canudos.
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29
de Dezembro - 1896
Reúne-se em Monte Santo (BA) o efetivo da II
Expedição Militar contra Canudos, composta
de forças federais e da polícia militar
baiana, sob o comando do Major Febrônio
de Brito. Depois de inúmeros contratempos
provocados por divergências entre o Governador
Luís Viana e o Comandante do 3° DM,
General Sólon Ribeiro, que é
afastado do posto por ordem do governo
federal, a Expedição finalmente estava
pronta para a investida. Muito mais poderosa
que a anterior, era composta de 609 soldados
do 9º BI (Salvador), 33º
BI (Alagoas) e do 26º BI (Sergipe),
10 oficiais, 1 médico, 1 farmacêutico,
1 enfermeiro, 2 canhões Krupp e 3 metralhadoras
Nordefelt. Um clima de euforia e festa
patrocinado pelas autoridades locais contagia
toda a tropa e a confiança numa rápida
e esmagadora vitória era tanta, que resolveram
deixar na cidade 2/3 da munição, por considerá-la
desnecessária.
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12 de Janeiro - 1897
Neste dia, em que parte de Monte Santo em direção
a Canudos a Expedição Febrônio de Brito,
Antônio Conselheiro conclui em Bello
Monte suas prédicas em um volumoso livro
intitulado Tempestades que se Levantam
no Coração de Maria por Ocasião do Mistério
da Anunciação, obra manuscrita que
contém pensamentos e discursos sobre religião,
monarquia, república e escravidão. Auxiliava-o
escrevendo, Leão de Natuba, uma espécie
de secretário que também tinha boa caligrafia.
Este livro ficou inédito durante 77 anos
e teve sua publicação organizada por Ataliba
Nogueira (Nogueira, Ataliba. Antônio
Conselheiro e Canudos. Revisão Histórica.
São Paulo, Editora Nacional, 1974).
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18
de Janeiro - 1897
Logo
cedo, a Expedição Febrônio de Brito atravessava
a Serra do Cambaio quando foi surpreendida
por forte emboscada. Houve um grande corre-corre
em meio à fuzilaria. O pleno conhecimento
do terreno proporcionava aos sertanejos,
uma melhor posição de tiro, causando muitas
baixas entre os soldados. A luta durou
mais de 5 horas, quando finalmente a força
militar prevaleceu e avançou, deixando
muitas perdas entre os conselheiristas.
Ao fim da tarde, a expedição acampou à
beira da Lagoa do Cipó. Na manhã seguinte
houve um novo ataque, desta vez mais compacto
e direto. Sem o abrigo das serras e rochedos,
conselheiristas e militares muitas vezes
lutavam corpo-a-corpo, no terrível confronto
dos punhais.
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No
final do combate, inúmeros corpos restavam
estendidos no chão, a maioria de conselheiristas.
A lagoa tinha mudado de cor e de nome,
desde então passou a se chamar Lagoa
do Sangue.
A expedição não teve mais condições de
prosseguir no seu objetivo que era atacar
Canudos. Estava arrasada e foi obrigada
a um recuo lento e penoso, trazendo consigo
um saldo de 10 soldados mortos e 70 feridos.
Na volta, os soldados, maltrapilhos, com
fome e arrastando consigo os feridos e
os canhões, percorreram parte do caminho
fustigados pelas emboscadas ardilosas
organizadas por Pajeú. |
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31
de Janeiro - 1897
Machado
de Assis,
que tinha uma coluna no jornal Gazeta
de Notícias, neste dia escreve: "Protesto
contra a perseguição que se esta fazendo
a Antônio Conselheiro". Era uma das
poucas vozes contrárias à opinião pública
brasileira que exigia novas medidas repressivas
contra Canudos após a derrota de duas
expedições militares.
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07
de Fevereiro - 1897
Parte de Salvador com destino a Queimadas,
a III Expedição Militar contra Canudos,
a mais famosa de todas. Depois de dois
grandes fracassos militares das expedições
anteriores, ela tinha a responsabilidade
de "lavar a honra" do Exército, seguindo
equipada com seis canhões Krupp e mais
de 1.300 soldados conduzindo 15 milhões
de cartuchos. No comando estava o temível
Cel. Moreira César, apelidado
de "corta-cabeças" devido a sua atuação
na repressão ao movimento federalista
no sul do país (1893-95). Era grande a
confiança na vitória e logo ao chegar
em Queimadas, o Cel. Moreira César telegrafou
ao Gov. Luís Viana dizendo: "só
temo que o fanático Antônio Conselheiro
não nos espere". Dias depois em nova
mensagem reafirmava: "só receio a
fuga dos fanáticos". Nada atemorizava
Moreira César, nem mesmo os 2
ataques de epilepsia que sofreu logo nos
primeiros dias no Sertão.
De
Queimadas segue para Monte
Santo e em 22 de fevereiro, parte
para Canudos. Ao passar pelo Cumbe
(atual Euclides da Cunha) manda
prender e humilhar o Padre Vicente
Sabino por este manter relações amistosas
com Conselheiro.
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03
de março - 1897
A III Expedição Militar
avista Canudos. O Cel. Moreira César euforicamente
grita para os seus homens: "Vamos tomar
Canudos sem disparar mais um tiro ...
à baioneta". Ao contrário do anunciado,
o ataque começa com a artilharia entrando
em cena, num fogo cerrado de canhões,
seguida de forte investida dos soldados
que conseguem ocupar algumas áreas periféricas
do Arraial. A reação veio como uma
tempestade de tiros partindo dos defensores
alojados em casas, becos e nas torres
das igrejas. A cavalaria entrou em cena,
mas no terreno acidentado, foi ineficaz
e tornou-se alvo fácil. Com o passar das
horas, mesmo com o apoio da cavalaria,
o entusiasmo inicial das tropas arrefece
e o confronto se reverte francamente favorável
aos conselheiristas. No final da tarde,
as baixas militares eram grandes e o inesperado
acontece: o Cel. Moreira César
é atingido por dois tiros e fica fora
de combate. Não havia mais chances para
a força expedicionária. Às 19h é anunciado
o toque de retirada.
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04
de Março - 1897
Durante a madrugada, morre o Cel. Moreira César
e assume o comando o Cel. Tamarindo.
Logo pela manhã bem cedo, a expedição
inicia o caminho de volta. Tudo era como
se fosse um pesadelo que ainda não havia
terminado, pois Pajeú, um dos
principais chefes guerrilheiros de Canudos,
liderava seus companheiros em emboscadas
que causavam pânico em toda a tropa, transformando
a retirada numa debandada geral. O Cel.
Tamarindo é atingido mortalmente
e o Major Cunha Matos, que assumiu
o comando, afirmou em seu relatório oficial:
"logo notei certa cobardia por parte
das praças em geral (...) a guarda avançada
e outras muitas praças abandonavam seus
postos, e corriam pela estrada fugindo".
Era o trágico fim de uma expedição vingadora
que teve um saldo de 116 mortos, inclusive
13 oficiais, e 120 feridos.
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05
de Abril - 1897
É publicada a Ordem do Dia, criando a IV Expedição Militar
contra Canudos. Após a surpreendente derrota
da III Expedição, a opinião publica estava
histérica e exigia medidas drásticas do
governo para uma rápida solução do conflito.
Organizou-se então, a maior de todas as
expedições, formada por tropas de 17 Estados
(BA-SE-PE-PB-AL-RN-PI-MA-PA-ES-MG-SP-RJ-RS-AM-CE-PR),
equipadas com os mais modernos armamentos
da época. O efetivo militar era composto
de seis Brigadas, divididas em duas colunas
que investiriam sobre Canudos por direções
opostas, sendo o comandante central o
General Artur Oscar.
A
1ª Coluna, sob o comando do Gal. Silva
Barbosa sai de Queimadas
e passa por Monte Santo, composta
de 3.415 homens, 180 mulheres, 12 canhões
Krupp e 1 canhão Withworth 32. Na retaguarda,
protegendo 750 mil quilos de mantimentos
e munições, seguia o 5° Corpo de Polícia
da Bahia, destacamento formado por 388
jagunços contratados no interior do Estado.
A 2ª Coluna sob o comando do Gal.
Cláudio Savaget, parte de Sergipe
em tropas isoladas, se agrupando em Jeremoabo
(BA), de onde segue para Canudos,
composta de 2.340 homens, 512 mulheres
e 74 crianças, inclusive duas nascidas
durante a marcha.
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09
de Abril - 1897
Aporta em Salvador a 1ª Divisão Naval de apoio as operações
militares de Canudos. Composta de 5 navios
de guerra, os cruzadores 15 de Novembro,
Trajano, Andrada, Timbira
e Paraíba e o patacho Caravelas.
Era a Marinha, também participando da
guerra de Canudos.
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28 de Junho -
1897
Depois de várias semanas de marcha, travando combates,
a 2ª Coluna da IV Expedição encontra-se em posição
privilegiada de ataque a Canudos, já tendo iniciado
o bombardeio, quando o Gal. Cláudio Savaget
recebe ordens do General Comandante Artur Oscar
para socorrer a 1ª Coluna que estava em situação desesperadora,
com munição esgotada e envolvida pelas emboscadas
organizadas por Pajeú, que magistralmente liderava
seus "guerreiros invisíveis" encurralando toda a Coluna
no Alto da Favela. Savaget altera seus planos
e imediatamente segue ao encontro da 1ª Coluna, salvando-a
de uma derrota fragorosa.
29
de Junho - 1897
Explode o canhão Withworth, o célebre 32, trazido pela
IV Expedição puxado por 13 juntas de bois
e apelidado de "matadeira", devido ao
imenso estrago que provocava no meio conselheirista.
Este acidente provoca a morte de dois
oficiais e o ferimento de quatro praças.
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01
de Julho - 1897
Um grupo de 11 guerrilheiros conselheiristas, liderados
por Joaquim Macambira Filho, investe contra
a artilharia do Exército na tentativa
frustrada de destruir os canhões que bombardeavam
Canudos. Esses ataques, heróicos e suicidas,
cada dia tornavam-se mais freqüentes.
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14
de Julho - 1897
Com uma salva de 21 tiros de artilharia, o comando da
IV Expedição Militar comemora em pleno
sertão nordestino, e em meio a um autêntico
massacre contra os conselheiristas, o
aniversário da Revolução Francesa: Igualdade,
Liberdade e Fraternidade.
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18
de Julho - 1897
Os militares promovem contra a resistência canudense
o grande assalto de 18 de Julho. Todas
as forças foram acionadas e 3.400 homens
iniciam a ofensiva. Durante várias horas
o combate foi sem tréguas e a muito custo
os soldados conseguem transpor o rio e
dominar um pequeno trecho de casas da
periferia, porém, devido ao fogo cerrado,
tornava-se impossível avançar mais. Ao
final do dia, as perdas eram assustadoras
e o Exército acusava 947 baixas e uma
cruel constatação: o grande assalto fracassara.
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23
de Julho - 1897
O General Artur Oscar, comandante em
chefe da IV Expedição, faz um relato dramático
da situação das forças militares e pede
ao governo federal um reforço de 5.000
soldados. O desânimo predominava em toda
a tropa e as baixas chegavam a casa de
2.000 homens. O transporte de víveres
e de munição era muito perigoso, pois
os conselheiristas promoviam emboscadas
pelas estradas, dificultando assim o abastecimento
e a comunicação da Expedição com a base
das operações em Monte Santo (BA). Os
oficiais que tinham participado da Guerra
do Paraguai (1865 - 1870), afirmam: "jamais
vimos combates como os de Canudos".
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24
de Julho - 1897
O Governador Luís Viana declara ao jornalista
Fávila Nunes correspondente especial
de guerra da Gazeta de Noticias (RJ):
"Se for pegado Antônio Conselheiro,
tudo estará terminado; se porém ele fugir,
será preciso persegui-lo onde quer que
esteja, para não formar mais grupos".
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05
de Agosto - 1897
De Salvador (BA), partem para Canudos 24 estudantes
de medicina com o objetivo de servir nos
hospitais de sangue do Exército.
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07
de Agosto - 1897
Euclides da Cunha desembarca do vapor Espírito Santo
em Salvador (BA), como correspondente
de guerra do jornal O Estado de São Paulo,
periódico no qual já havia escrito dois
artigos intitulados "A Nossa Vendéia",
publicados em 14 de Março e 17 de Julho
de 1897. Euclides demonstrava vivo interesse
no tema, e nas semanas seguintes recolhe
material de pesquisa e entrevista soldados
feridos e prisioneiros conselheiristas
recém chegados da zona de combate. No
final do mês, vai para o palco da guerra,
passando por Queimadas e Monte
Santo, chegando em Canudos a 10 de
setembro e ficando ate 3 de outubro, dois
dias antes do final da guerra.
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08
de Agosto - 1897
Parte de Monte Santo a famosa Brigada Girard.
Formada originalmente por 1.090 homens,
com 850 mil cartuchos Mauser,
ao longo do caminho foi se reduzindo drasticamente,
pois a proximidade do cenário da guerra
provocava uma crescente onda de deserções
de praças e pedidos de baixas de oficiais
que envolveu até mesmo o seu comandante,
o General Girard. A famosa e
intrépida Brigada se apresenta dia 15
no Alto da Favela, com um Major comandando
800 homens amedrontados e o apelido nada
lisonjeiro de "mimosa".
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"Escapa,
escapa, soldado
Quem quiser ficar que fique
Quem quiser morrer que morra
Ha de nascer duas vezes
Quem sair desta gangorra"
(João Melchiades, poeta paraibano,
ex-soldado na guerra de Canudos,citado
por
Paulo Monteiro Varjão, 96 anos,
morador de Canudos). |
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30 de Agosto - 1897
Chega a Queimadas,
o Marechal Carlos Machado Bittencourt,
Ministro da Guerra. O governo estava alarmado
com a possibilidade de mais uma fragorosa
derrota, pois dia-a-dia a situação se
agravava no acampamento. No plano militar,
não havia novas conquistas e a sobrevivência
tornava-se insuportável. Um oficial escreveu
em seu diário: "a fome tortura, o calor
queima, a sede abrasa, a poeira sufoca
e os olhos esbugalhados fitam o vácuo".
O
Marechal Bittencourt trouxe consigo
um reforço de 3.000 soldados, estabelecendo
seu Q.G. em Monte Santo e efetivamente
toma providencias enérgicas, conseguindo
regularizar o abastecimento das tropas
em combate.
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05
de Setembro - 1897
Atingido durante um tiroteio, morre em Canudos, Norberto
das Baixas, antigo dono de fazenda
em Bom Conselho (atual Cícero
Dantas - BA) que foi morar em Bello
Monte, transformando-se numa das
mais respeitadas lideranças conselheiristas.
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06
de Setembro - 1897
As torres da Igreja Nova, importantes pontos de defesa
da resistência canudense, são derrubadas
pela artilharia do Exército. Junto com
a torre, veio abaixo o sino e Timotinho,
que mesmo durante o conturbado período
de guerra, todos os dias, as 6h da tarde,
subia à torre da Igreja e tocava a hora
da ave-maria. Em um cenário desolado,
era um belo e grandioso espetáculo, que
ressoava em toda a redondeza.
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07
de Setembro - 1897
Vencendo uma forte resistência dos conselheiristas, o
Exército ocupa a Fazenda Velha, tido como
o melhor ponto estratégico para o bombardeio
a Canudos.
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09 de Setembro
- 1897
No acampamento militar, as condições de higiene e saúde
são péssimas. Escreve Fávila Nunes,
correspondente de A Gazeta de Noticias
(RJ): "A varíola aqui esta grassando
de modo assustador. Temos já cinco hospitais
de isolamento, repleto de variolosos.
Só ontem deram-se 24 casos novos".
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22
de Setembro - 1897
Morre
Antônio Conselheiro. Para uns, a
causa foi um ferimento provocado por estilhaços
de uma granada; para outros, foi "caminheira"
(disenteria), e ainda há os que acreditam
que ele não morreu em Canudos. Estas são
as últimas palavras escritas por Antônio
Conselheiro em Bello Monte:
"E
chegado o momento para me despedir de
vos; que pena, que sentimento tão vivo
ocasiona esta despedida em minha alma,
à vista do modo benévolo, generoso e caridoso
com que me tendes tratado, penhorando-me
assim bastantemente. São estes os testemunhos
que me fazem compreender quanto domina
em vossos corações tão belo sentimento!
Adeus povo, adeus aves, adeus arvores,
adeus campos, aceitai a minha despedida,
que bem demonstra as gratas recordações
que levo de vós, que jamais se apagarão
da lembrança deste peregrino". (Nogueira,
1974:181)
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23
de Setembro - 1897
A estrada de Várzea da Ema, último canal de reabastecimento
e contato externo de Canudos é tomada
pelo Exército. Finalmente, o cerco das
forças militares estava completo. A partir
de agora ninguém mais poderia sair ou
entrar no Arraial.
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01
de Outubro - 1897
A guerra de Canudos já durava quase um ano. Oito dos
principais jornais do pais enviaram correspondentes
ao palco da luta e as notícias não conseguiam
explicar tanta dificuldade e demora de
um Exército bem equipado em destruir um
reduto sertanejo. As perdas militares
eram extraordinárias e a impaciência e
o cansaço tomava conta de todos. Os Generais
Artur Oscar, Silva Barbosa e Carlos Eugênio,
decidem não esperar mais, e mobilizam
5.871 homens num choque a toda carga sobre
o núcleo central de casas, o último reduto
da resistência canudense. Revelando mais
uma surpreendente tática de guerrilha,
os conselheiristas utilizam fossas subterrâneas
que interligam as casas, permitindo ampla
mobilidade de ação e com isso provocando
muitas baixas na tropa.
Depois
de várias horas de fogo cerrado, os soldados
conquistam os escombros da Igreja Nova,
a mais importante trincheira de defesa
do Arraial. Este feito foi comemorado
de forma entusiasmada, com o hasteamento
da bandeira e execução do hino nacional.
Mas, inesperadamente uma tempestade de
balas desce sobre a praça. Vinham das
ruínas, da fumaça, de tudo o que já fora
destruído. Era como se viesse do nada,
mas vinham, e causavam muitos estragos.
Em resposta, o Exército lança 90 bombas
de dinamite e muitas latas de querosene.
Depois de três meses de intenso bombardeio,
agora o fogo tomava conta do Arraial.
02 de Outubro
- 1897
Em meio a guerra, surge por entre as ruínas um homem
com uma bandeira branca. Era Antônio
Beatinho, que queria falar com o
general comandante e disse que lá dentro
ninguém agüentava mais, a fome e a sede
estavam acabando com todos. Pede pra que
pudessem sair em paz. Artur Oscar
lhe disse que voltasse lá e trouxesse
os homens para se entregarem que ele lhes
garantia a vida. Beatinho volta ao Arraial
e pouco depois reaparece com um grupo
de 300 pessoas: eram mulheres, crianças,
e inválidos de guerra, maltrapilhos e
doentes. Afirma que todos os homens restantes
haviam rechaçado sua proposta de rendição
e iriam lutar ate o fim.
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03
de Outubro - 1897
Antônio Beatinho
é degolado junto
com seus companheiros que se entregaram
confiando na palavra do General Artur
Oscar em lhes garantir a vida. A
degola dos prisioneiros era a consumação
final do massacre. Mas esta prática não
era nova na campanha. Desde Agosto que
os jornalistas relatavam casos praticados
de forma discreta na calada da noite.
Agora, nos últimos dias da guerra, a "gravata
vermelha" como também era chamada a degola,
foi larga e amplamente utilizada sem cerimônias,
em plena luz do dia.
O
acadêmico de medicina Alvim Horcades escreveu:
"eu vi e assisti a sacrificar-se todos
aqueles miseráveis (...) e com sinceridade
o digo: em Canudos foram degolados quase
todos os prisioneiros (...) levar-se homens
de braços atados para trás como criminosos
de lesa-majestade, indefesos e perto mesmo
de seus companheiros, para maior escárnio,
levantar-se pelo nariz a cabeça, como
se fora o de uma ave, e cortar com o assassino
ferro o pescoço, deixando a cabeça cair
sobre o solo - é o cumulo do banditismo
praticado a sangue-frio (...) Assassinar-se
uma mulher pelo simples fato de ser o
seu companheiro conivente com o que se
dava - é o auge da miséria! Arrancar-se
a vida a uma criancinha (...) é o maior
dos barbarismos e dos crimes que o homem
pode praticar". (Horcades, 1899.)
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05
de Outubro - 1897
Termina
a resistência sertaneja, Canudos estava
destruída. Num cenário de fim de mundo,
por entre becos e ruelas, uma legião de
corpos carbonizados se misturam com as
ruínas e as cinzas das 5.200 casas. A
elite política, acadêmica e militar do
pais estava em êxtase. Os deputados federais
da Bahia congratulam-se com o governo
pela "completa destruição de Canudos,
baluarte de bandidos e fanáticos" e o
próprio Presidente da República, Prudente
de Moraes, declara: "em Canudos não ficará
pedra sobre pedra". Enfim os generais
cumpriram o prometido, pois queriam que
ali se plantasse a solidão e a morte.
Estima-se
que mais de 25 mil conselheiristas morreram
no conflito que mobilizou um contingente
superior a 12 mil soldados do Exército
(mais da metade de todo o efetivo nacional),
na maior guerra de guerrilhas que o Brasil
já viveu.
Numa preciosidade do pensamento
dominante, O Barão de Studart escreve:
"Para esse fim houve recurso aos meio
mais desumanos, que não convêm registrar
a bem dos nossos foros de nação civilizada
e cristã". |
06
de Outubro - 1897
O General Comandante Artur Oscar publica a Ordem do Dia
nº 145:
"Viva a Republica dos Estados Unidos do
Brasil! Está terminada a Campanha de Canudos.
Desde ontem que os batalhões das forças
expedicionárias passeiam suas bandeiras
sobre as ruínas da cidadela, com a consciência
de bem haverem cumprido o seu dever!".
O
corpo de Antônio Conselheiro é localizado
no santuário da Igreja Nova.
"Aos seis dias do mês de outubro de 1897,
os abaixo assinados examinaram, por ordem
superior, os escombros da casa denominada
Santuário, residência de Antônio Vicente
Mendes Maciel, o Conselheiro, onde se
presumia existirem seus despojos mortais,
dando como resultado o exame, que se limitou
à situação e hábito externo, o seguinte:
Na encosta da parede interna, numa das
três seções em que se divide a referida
parede, encontrou-se uma sepultura guardando
um cadáver com os seguintes caracteres:
braços cruzados no peito, deitado sobre
uma esteira de carnaúba e envolto num
lençol branco. Vestia longa túnica de
pano azul costurado na fímbria; a cintura
abotoada daí até a gola, tendo por baixo
dessa túnica uma camisa e ceroula de algodão
nacional. Calçava alpercatas de sola.
O cadáver media um metro e sessenta de
comprido, era de cor morena e idade presumível
de sessenta ou cinquenta e cinco anos.
Estava em começo de putrefação e apresentava
cabelos negros, longos e bastos, fronte
estreita, rosto largo e magro de maçãs
salientes, guarnecido de barbas longas,
nariz destruído na porção musculosa, a
maxila inferior, como a superior, desprovida
de dentes; mãos descarnadas e pés
pequenos. Concluído o exame, que não pôde
ser levado adiante por deficiêcnai de
meios, reconhecemos pelos sinais descritos
e pelo testemunho de muitos prisioneiros
e várias pessoas presentes, entre as quais
o membro presente da comissão acadêmica,
João Pondé, ser o corpo de Antônio Vicente
Mendes Maciel, conhecido por Antônio Conselheiro,
que aí residia como chefe de um núcleo
de fanáticos e aventureiros da povoação
de Canudos; no sertão da Bahia." Dr. José
Curió (Major-Médico), Dr. Mourão, Dr.
Gouveira Freire (Capitães-Médicos), Dr.
Jacob Gayoso (Tenente-Médico), João Ponde'
(6° anista de Medicina) (Apud Gustavo
Barroso, O Cruzeiro, 28.04.1956).
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Depois
de exumado, o corpo de
Antônio Conselheiro foi fotografado
por Flávio de Barros, fotógrafo baiano
que acompanhou a IV Expedição, e sua cabeça
foi cortada e levada para Salvador (BA)
para exame do Dr. Nina Rodrigues.
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03
de Novembro - 1897
É lançado em Salvador um manifesto de 41 estudantes baianos
protestando contra o "cruel massacre ...
exercido sobre prisioneiros indefesos
e manietados em Canudos e até em Queimadas".
Pouco depois, também Rui Barbosa
declara um elogio aos estudantes que "
protestam contra a vitória que degola
os vencidos".
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05
de Novembro - 1897
É assassinado no Rio de Janeiro (RJ), o Marechal Carlos
Machado Bittencourt, Ministro da Guerra,
que em setembro se deslocara para o sertão
baiano, assumindo pessoalmente o comando
das operações militares da Guerra. O atentado,
que era destinado ao Presidente da República,
Prudente de Moraes, ocorreu no momento
em que a cidade em festa recebia os primeiros
soldados combatentes de Canudos.
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02
de Dezembro - 1902
É lançado
no Rio de Janeiro o livro "Os Sertões",
um clássico sobre a epopéia de Canudos,
escrito por Euclides da Cunha, que em
1897 havia sido contratado pelo jornal
O Estado de São Paulo para in
loco produzir uma série de artigos
sobre a guerra de Canudos e "além disso,
tomara notas e fará estudos para escrever
um trabalho de fôlego sobre Canudos e
Antônio Conselheiro. Este trabalho será
por nos publicado", conforme rezava o
contrato entre ele e o "Estado". Alguns
anos depois, pela Editora Laemmert, o
livro foi lançado no mercado editorial
brasileiro, transformando-se numa das
principais obras da literatura mundial,
já tendo sido traduzido para mais de 10
idiomas, com um número superior a 50 edições
brasileiras e sendo objeto de mais de
10 mil trabalhos escritos.
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03
de Março - 1905
Um incêndio na antiga Faculdade de Medicina do Terreiro
de Jesus, em Salvador (BA), destrói a
cabeça de Antônio Conselheiro
que se encontrava em exposição pública
desde o final da guerra de Canudos, em
outubro de 1897.
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12
de Março - 1969
Inicio
da chuva que em poucos dias transbordou
o Rio Vaza-Barris e encheu o Açude de
Cocorobó, cobrindo a velha Canudos.
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