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Orientações Dominantes em Enfermagem: TRATAR E CUIDAR

 

 As formas de intervenção relacionadas com a saúde e doença assumem duas orientações:

-         Uma expressiva ou de suporte emocional - que  se traduz em cuidar

-         Outra técnica, relacionada com o diagnostico e tratamento da doença – que se traduz em tratar.

Tradicionalmente, o cuidar tem sido domínio da Enfermagem, e o tratar domínio médico. Mas ambos, colaboram no diagnóstico e tratamento da doença e realizam atividades de suporte.

 Cuidar: Aspecto básico em todas as profissões de ajuda.

Ao longo dos anos, o condicionalismo histórico, social, econômico e tecnológico, levaram a uma contaminação da orientação das enfermeiras, tendo atuações mais características da atividade médica.

Assim podem encontrar orientações diferentes na pratica das enfermeiras:

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-         Uma em que predomina a preocupação com o bem-estar global do utente.

-         Outra, a preocupação dominante é a cura da doença.

 

Orientações para o Tratar: Um modelo Bio-Médico.

 O avanço cientifico e tecnológico, em fins do século XIX, tem influenciado a prestação de cuidados de saúde através da ação médica. Objetivo da medicina:

1.      Cura ou controle da doença;

2.      Recuperação;

3.      Alivio de sintomas e;

4.      Retardamento da morte.

Dentro dessa perspectiva, os seres humanos tem sido vistos como formados por um conjunto de sistemas e órgãos, cujo funcionamento equilibrado se traduz numa homeostase biológica – estado de saúde.

A tecnologia de precisão, tem facilitado a abordagem analítica que parcelariza (divide) as regiões do corpo e separa o doente da doença.

O modelo de tratar, em que predomina uma orientação instrumental, resultou em conhecimentos decorrentes do desenvolvimento das técnicas médicas, relacionadas com procedimentos de diagnóstico e terapêutica.

A profissionalização da enfermagem tem adaptado o modelo bio-médico, sendo os cuidados de enfermagem técnicos, orientados e determinados pela doença.

A atração das enfermeiras recém formadas por Unidades de Cuidados Intensivos (U.C.I), e Serviços de Urgência que usam tecnologias sofisticadas, pode estar relacionada com a desvalorização do cuidar. Algumas das razões apontadas para estas preferências são:

-         Fascínio da eletromedicina;

-         Complexidade de atuação;

-         Diferenciação de cuidados e;

-         Obtenção de resultados imediatos.

Nos serviços onde a tecnologia não é predominante, ocorre um ambiente de rotinas marcadas pelos cuidados físicos e tratamentos decorrentes das prescrições médicas, com vista a despachar as tarefas, numa clara identificação com o modelo bio-médico.

O crescimento dos hospitais, do conhecimento tecnológico, e das medicinas curativas, entre as duas guerras mundiais tem remetido várias disciplinas da área da saúde para disciplinas paramédicas, e tem arrastado o cuidar de enfermagem, para segundo plano. Simultaneamente, a formação das enfermeiras tem-se centrado no hospital e muitas das matérias tem sido ensinadas por médicos.

Cuidados de enfermagem, surgem com freqüência em função do ato médico, o qual se organiza em volta de tecnologias de investigação e reparação da doença.

A competição que rodeia o ambiente nos cuidados de saúde, resulta num número cada vez maior de especializações que assumem importâncias diferentes, de acordo com o referido critério de rentabilidade.

Na prática concreta das enfermeiras, o modelo bio-médico consiste numa atenção ao órgão doente e cumprimento das prescrições médicas. Pondo em prática a organização dos serviços (normas e rotinas) e exigências decorrentes da tecnologia.

A enfermeira está posta a trabalhar em condições de grandes exigências técnicas ou situações de grande complexidade, na qual se preocupa com a destreza e funcionamento de  material sofisticado e esquece de se preocupar com o ambiente de conforto e bem estar do utente.

O modelo bio-médico esta relacionando com o processo de tratar, pois quando o tratamento não ocorre isso é considerado fracasso, daí teve a urgência de aprofundar os estudos de um modelo próprio de enfermagem que valoriza uma intervenção orientada para o cuidar.

Isso porque, por um lado, o cuidar é um imperativo imposto pela falência do tratar e, por outro, deve estar presente ao longo do tratamento.

 

Orientação para o cuidar: Um modelo holístico

 

Com a expansão da SIDA nos EUA, chamou-se a década de 80 de, “A década do cuidar”; A enfermagem visava colocar o paciente em melhores condições, para a natureza poder atuar. Em 1966 afirmava-se que a enfermeira consistia em atender o individuo doente com suas atividades, contribuindo o mais rápido possível para a sua saúde. Restabelecendo a independência ou para uma morte mais serena.

Estas afirmações são conceitos dados aos cuidados, dando continuidade e manutenção a vida, tais cuidados como:

-         Alimentação;

-         Hidratação;

-         Afeto

-         Conforto físico e psíquico;

-         Entre outros.

Os modelos de enfermagem  apóiam-se sobretudo em teorias oriundas das ciências sociais e humanas, consideradas com mais especificidade da enfermagem. Dentre elas a antropologia, a psicologia e a sociologia, com os cuidados numa perspectiva holística da ação da enfermeira.

Tem sido  feito varias classificações ou categorizações de modelos de enfermagem: Ex: Modelos de interação, de avaliação dos resultados, Modelos humanistas e do campos de energia, de intervenção, substituição, conservação, apoio e crescimento.

A proliferação de teorias e modelos de enfermagem são bem um sintoma de uma fase em que se evidencia a vontade de criar escolas de pensamento no âmbito da disciplina. Esse esforço tem sido importante, para a afirmação da enfermagem enquanto profissão com um corpo próprio de conhecimentos, para a incrementação de linhas de pesquisa sobre o domínio especifico da enfermagem.

A orientação dominante é sempre numa perspectiva holística, ou seja mais ou menos explicita, é comum aos vários modelos de valorização da relação interpessoal, do respeito pelos valores e cultura do utente e da promoção do auto-cuidado; promovendo o máximo potencial de bem estar.

Alguns pesquisadores (Colliere, Leininge, Griffin, Watson) definiram o cuidar como um conceito fundamental para a compreensão do ser humano, como um conjunto de atividades que mantém a vida e como um processo complexo de relação que envolve fatores cognitivos, morais e emocionais, e que o enfermeiro deve sempre agir guiado pelos princípios do cuidar. Que é a essência da enfermagem.

Enfermeiras são as que mais mantém contato com os doentes, estão juntos  vinte e quatro horas por dia. Esta relação constante aumenta a possibilidade de conhecimento do utente, sua historia, valores, favorecendo um cuidado mais eficaz.

Muitas pesquisas foram e são realizadas na área da enfermagem, algumas para criação de modelos pragmáticos de organização da ação de enfermagem, outras sobre filosofia de cuidar, sobre o que os doentes esperam da internação, e sobre que eles mais valorizam nesta intervenção, dentre outros. Muitos estudos tem procurado esclarecer o conceito de cuidar em enfermagem.

Leininger defende uma enfermagem transcultural e a valorização das crenças dos pacientes. Cuidar, para ela, é, essencialmente fornecer apoio, conforto, segurança e ajuda ao paciente.

Watson também dá grande importância aos valores e crenças dos pacientes com destaque especial aos aspectos emocionais e sentimentos. Esta autora defende um sistema de valores humanista – altruísta, sentimentos de fé (esperança, sensibilidade e relação de ajuda autêntica).

As perspectivas de Leininger e Watson tem sido referidas com freqüência como um importante contributo para a compreensão do cuidar.

 

Alguns aspectos caracterizadores de diferentes modelos teóricos de enfermagem

 

Modelo – Atividades de vida (Ropper, Logan, Tierney – 1980)

Pressupostos: Progressão ao longo da vida; continuum dependência – independência. Atividade de vida (que vão do respirar normalmente ao atuar em vista ao desenvolvimento normal e a saúde utilizando os recursos existentes).

Objetivos de enfermagem: Promover a máxima independência do individuo nas atividades de vida ou ajudar a enfrentar a dependência. Administrar terapêutica prescrita para combate a doença.

Forma de avaliação: Colher dados sobre cada uma das atividades de vida, de forma a conhecer o grau de dependência.

Modelo -  Auto-cuidado (D.Orem – 1980)

Pressupostos: Todas as pessoas têm necessidade de auto cuidado e direito a exerce-lo, exceto quando não podem. Corresponde ao direito e responsabilidade de cuidar de si próprio com a finalidade de se manter a saúde, a vida e o bem estar.

Objetivos de enfermagem: Diminuir o déficit de auto cuidado. Ajudar o utente e dar resposta às necessidades de auto cuidado.

Forma de avaliação: Colher dados para identificar a existência, ou não, de déficit de auto cuidado, em relação ao seu padrão de saúde, ou possíveis desvios.

Modelo – Adaptação: (Callista Roy – 1970)

Pressupostos: A pessoa é um todo integrado e, para manter o equilíbrio necessitam adaptar-se as mudanças, satisfazendo as necessidades: fisiológicas, de auto-conceito, de execução de papeis, e interdependência.

Objetivos de enfermagem: Ajudar as pessoas a adaptarem-se.

Formas de Avaliação: É feita a dois níveis: primeiro colher dados para decidir se o comportamento do doente é ou não adaptado; segundo: identificação da causa do comportamento e dos estímulos que o determinam.

Modelo: Sistemas de cuidados de saúde (B. Neuman – 1972)

Pressupostos: A pessoa é um sistema aberto em interação com o ambiente, possui um núcleo básico de energia e uma linha de resistência estável e outra flexível que mantém a harmonia entre o exterior e o interior. Estas linhas reagem aos agentes de estresse protegendo a fonte de energia central.

Objetivos de enfermagem: Manter a estabilidade do sistema-pessoa através de: Prevenção primaria (reduzindo a possibilidade de encontro com um estressor); Prevenção secundaria (ajudar o utente a voltar ao estado de saúde após o agente estressor ter passado a linha de defesa); prevenção terciária (ajudar a estabilizar o estado de saúde evitando recorrências de agressão de estressores.

Forma de Apreciação: Colher dados biográficos e saber que aspectos o utente e a enfermeira vêem como causadores das principais dificuldades; e ainda saber que fatores (intra, extra pessoais) afetam o individuo e as suas relações pessoais e a sua reação aos estressores, (fatores fisiológicos, psicológicos, sócio-culturais e de desenvolvimento).

Modelo: Interação (King – 1971)

Pressupostos: As pessoas funcionam dentro de sistemas sociais, através de relações interpessoais; os sistemas sociais são estruturas de vida; as relações inter-pessoais são processos determinados pelas percepções e pela saúde; a adaptação surge da interação nas relações sociais.

Objetivos de enfermagem: Ajudar a manter e restabelecer a saúde ou, quando não é possível a uma morte digna; resposta às necessidades de: cuidados preventivos; cuidados na doença.

Forma de apreciação: Colher dados, atendendo aos sistemas sociais do utente; colher dados sobre a percepção do utente sobre relações inter-pessoais e situação de saúde. (tudo isso com base nas atividades de vida diária).

Modelo: Desenvolvimento (H. Peplau – 1952)

Pressupostos: Utente e enfermeira desenvolvem-se num processo de relação inter-pessoal. A resposta do utente aos estressores depende do seu estado de desenvolvimento. as necessidades  não satisfeitas comprometem o desenvolvimento.  

Objetivos de enfermagem: Ajudar os utentes a utilizarem as situações de estress. Como experiências de aprendizagem.

Forma de apreciação: Colher dados para identificar os problemas; tomar conhecimento das dificuldades do utente e desenvolver confiança mútua.

 

O Cuidar Como Essência da Enfermagem

 

Linn (1974) confrontou estudantes de medicina e enfermagem com um conjunto de dez afirmações sobre cuidar e tratar onde ocorreu uma maior valorização do cuidar por parte das estudantes de enfermagem. Bullough e Sparks realizaram um estudo idêntico só com estudantes de enfermagem. Em ambos os estudos cuidar referiam-se a atividades de bem-estar, conforto informação, apoio, substituição; como de tratar, referenciam-se, entre outras, atividades e tarefas mais técnicas, como pensos, injeções e tratamentos vários relacionados com a doença e utilização de aparelhos.

Para Valentine (1989), pode-se cuidar sem tratar mas não se deve tratar sem cuidar. Para explicar as diferentes dimensões do cuidar e a sua importância e complexidade foi elaborado a partir de dados recolhidos sobre percepção de .enfermeiras e utentes acerca das suas experiências de cuidar e ser cuidado.

 

Conclui-se que o cuidar comporta ações muito diversificadas e complexas, tanto do ponto de vista dos utentes como do ponto de vista das enfermeiras.Tem uma importância que é atribuída a elementos afetivos (ser compassivo, afável), éticos (inspirar confiança, manter confidencialidade) e sociais (acompanhar de forma contínua, providenciar um ambiente seguro) . Isto para além de elementos técnicos e físicos que são referidos em muito menor número.

Para Swason (1991), a história e prática das enfermeiras tem demonstrado que o cuidar é central em enfermagem. Identificou cinco categorias ou processos de cuidar que propõe, para cada uma das cinco categorias ou processos de cuidar, subdimensões que se referem à operacionalização de cada categoria, como o conhecimento centrado na  pessoa a cuidar, o pedido de sugestões, a partilha de sentimentos, o proporcionar conforto, a antecipação das necessidades, o dar informação e o reduzir a distância entre enfermeira e utente.

Outro estudo, inspirado em Leininger e Watson, relata expressões como:

•... (para cuidar) .... é necessário individualizar, perceber que cada ser humano é único ;

...cuidar realmente é perceber o que se passa com as pessoas... compreender o que se passa com as pessoas no seu contexto;

... Cuidar é ajudar as pessoa a mobilizar recursos que lhes permitam lidar com os problema da vida ... de forma adaptativa e também no seu crescimento e desenvolvimento.

Komorita e colaboradores (1991) e Larson (1984); chamam a atenção para a emergência de duas categorias de cuidar em enfermagem, uma relacionada com competências afetivas e outra com competências técnicas, e afirmam ser plausível que as competências afetivas só sejam valorizadas se a atuação técnica for competente. Isto poderá ainda significar que as intervenções das enfermeiras, dirigidas à satisfação das necessidades dos utentes e à solução dos seus problemas, sejam por estes percebidas como cuidar.

Ao lado de estudos realizados com enfermeiras, tem havido algumas pesquisas com utentes. Em 1982 foram entrevistados um grupo de 14 doentes sobre suas expectativas em relação as enfermeiras, e que se dividiam entre atividades relacionadas com o cuidar, ex: “companhia nos momentos de sofrimento, tolerância, ajuda moral e aspectos técnicos”. Todos esperavam das enfermeiras uma atitude de indiferença perante os valores e sentimentos não esperando que ocorresse uma perspectiva afetiva.

Num outro estudo sobre o grau de satisfação com utentes que tinham sido sujeitos a transplante renal, as asserções para justificar a satisfação eram muito mais da área expressiva do que relacionadas com competências técnicas.

As expressões que traduzem o cuidar são abundantes nas expectativas  dos utentes sobre o papel das enfermeiras e na concepção que elas próprias tem da enfermagem.

Quando o utente necessita de tratamento, este tende a valorizar o competência técnica, incluindo-a no conceito de cuidar.

As enfermeiras traduzem uma preocupação com as competências da área afetiva, claramente identificadas com o cuidar.

A adesão a formas de atuação mais próximas do cuidar ou do tratar por parte das enfermeiras, tem sido relacionada com a evolução histórica da profissão, a partir de Nightingale.

A evolução tem ocorrido no contexto das mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas, que tem refletido na educação da enfermagem e também nos valores, e no desenvolvimento pessoal.

Dado a complexidade e exigência que envolvem as atividades de cuidar, julga-se pertinente considerar a influencia que podem assumir as questões morais e éticas na prática das enfermeiras, devendo merecer uma atenção especial na sua formação.

Na educação em enfermagem parece útil olhar para um passado pleno de orientações morais para a formação da consciência e para alternativas mais pragmáticas da formação moral das enfermeiras.

 

Exemplos de características do cuidar e tratar

 

Modelo de enfermagem – considera o utente como um todo, (centra-se na saúde).

Modelo bio-médico – considera essencialmente o órgão afetado, (centra-se na doença).

              

 

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