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NÃO PARECE COM NADA!


Por Marcos Tardin

Como qualquer outro grupo candango, o Finis Africæ é um fruto imprevisto de uma cidade planejada. A inquietude e a solidão compuseram um rock planaltino rico em expressão com um mínimo de recursos, pelo menos no início. Considerados a terceira geração de músicos de Brasília, o Fínis passou a infância ouvindo 0 Aborto Elétrico - gênesis da musicalidade brasiliense -, a adolescência tocando no asfalto das avenidas, e agora começa a sentir o sabor do sucesso na brisa fresca à beira-mar.

O nome retoma uma língua quase morta, sugere mistério e desperta a curiosidade; além de fazer uma clara alusão ao continente famoso por ser a raiz rítmica de quase toda a percurssão moderna. E as referências não param aí, pois Finis Africæ também era o nome dado ao local mais secreto do acervo da biblioteca da abadia beneditina onde se desenvolve a trama de O Nome da Rosa, best-seller de Umberto Eco.

Como em qualquer outra banda do cerrado, amusicalidade do Finis é basicamente intuitiva - Nenhum dos quatro integrantes estudou harmonia, composição... - , cheia de urgência. Afinal, foram naquelas terras áridas, naquele clima seco, que a semente punk londrina vicejou mais forte. A batida forte, as letras políticas e o olhar nervoso canalizaram a energia aprisionada em muito concreto, dinheiro e tédio.

Ronaldo (batera experimentalista), José Flores (guitarrista zen), Neto (baixista versátil) e Eduardo de Moraes (vocal etílico) só definiram esta formação em meados de 85. Um ano antes, sem o Eduardo, já haviam se destacado entre os grupos mais novos e gravado o míni-LP Rumores. No início de 86 produziram seu prímeiro míni-LP solo, em 45 rpm, que também tornou-se a primeira produção independente de um grupo de rock brasileiro a integrar as play-lists das FMs de grande audiência do Rio e São Paulo. Sucesso caminhando a passos largos, vieram para o Rio e se instalaram na casa de parentes e amigos, pois "aqui é mais fácil, estão as maiores gravadoras". explica Eduardo. O investimento deu retorno rápido.

A EMI-Odeon contratou e eles gravaram um LP que leva o nome do grupo e o selo da qualidade. O Finis Africæ projetou-se nacionalmente. Ao vivo, o som intuitivo e intenso fica ainda mais explícito. O público variado que vai aos shows da banda raramente deixa de se empolgar com a força interpretativa dos músicos. "Tem muito coroa que se amarra em Armadilha", diz Neto.

Eles não acreditam em política. Igreja ou padre - ouvi Deus Ateu, primeira música do lado A. Já Ronaldo acredita em "Nelson Rodrigues e na força do dinheiro". Um pouco menos cético o letrista Eduardo escreve nos ensaios, "depois vou mudando de acordo com o andamento".

Cheio de referências e particularidades, o Finis Africæ vai dando o seu recado musical. E qualquer semelhança terá sido mera coincidência. Sem metáforas.



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Ilustração da capa do CD
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