Karl Marx


A infância

       Karl Heinrich Marx nasceu em Trèves, ao sul da Prússia, a 5 de maio de 1818. Foi o segundo de oito filhos do advogado Hirschel Marx e de sua esposa, a holandesa Henriette Pressburg. Seu avô paterno era um rabino judeu, porém, Hirschel, por temer as conseqüências das leis anti-semitas promulgadas pelo rei da Prússia, converteu-se ao protestantismo quando Karl ainda era criança. A mãe de Marx também descendia de rabinos judeus, mas em momento algum de sua vida interessou-se em exercer influência doutrinária sobre o filho. Os pais de Karl constituiam uma casal harmonioso, o que parece ter contribuído de forma substancial para a formação de sua personalidade. Como indicam várias avaliações de seus professores, Marx foi excelente aluno. Completou o segundo grau aprovado com êxito no exame de maturidade. De sua dissertação final pode-se tirar duas frases significativas que já demonstram seu excepcional intelecto:
       "NEM SEMPRE PODEMOS ABRAÇAR A PROFISSÃO PARA A QUAL ACREDITAMOS ESTAR PREPARADOS; NOSSA POSIÇÃO NA SOCIEDADE ESTÁ EM CERTA MEDIDA DEFINIDA ANTES QUE TENHAMOS CONDIÇÕES DE DETERMINÁ-LA".
       "A NATUREZA DO HOMEM É DE TAL MANEIRA QUE ELE NÃO PODE ATINGIR A PRÓPRIA PERFEIÇÃO SENÃO AGINDO PARA O BEM E A PERFEIÇÃO DA HUMANIDADE".
       Desse modo começou a manifestar um agudo sentido de justiça e uma ampla visão acerca da humanidade. Em 1835 e 1836 faz cursos de direito, mitologia clássica e história da arte na Universidade de Bonn. De volta a Trèves, nas férias, conhece uma amiga de sua irmã Sofia. Era sua futura esposa, Jenny von Westphalen. Uma jovem quatro anos mais velha que ele, muito inteligente, de grande energia e filha do conselheiro de Estado privado prussiano, um alto cargo. Este logo se torna admirador da excepcional inteligência do já noivo de sua filha. Porém, o pai de Marx temia que seu filho levasse a moça a uma vida aventureira e cheia de perigos. Conseqüentemente, manda o filho à longínqüa Universidade de Berlim, onde começa a fazer o curso de direito. Porém, o que lhe desperta maior interesse são as lições de filosofia e história. De lá envia inúmeras cartas apaixonadas à Jenny.
       Nessa época, Karl freqüentou um círculo de poetas, porém, reconheceu que sua poesia não tinha valor artístico. A partir desse momento começa a ter contato com a obra de Hegel, antigo professor da universidade, Spinoza, Kant, Aristóteles e Epicuro. Marx logo se opõe ao sistema de Hegel, que justifica a ordem social e política existente, como resultado necessário da marcha do espírito absoluto através da história. Ao contrário do que alguns dizem, a relação de Marx e Hegel não foi uma revolta do discípulo contra o mestre. Marx jamais foi discípulo de Hegel. Antes disso, foi seu crítico, seu adversário político, buscando apropria-se de alguns aspectos do hegelianismo, principalmente da dialética, para voltá-los contra o sistema.

As perseguições

        Defendendo idéias igualitárias, Karl passou a sofrer perseguições do regime de Frederico Guilherme IV. No início de 1842 encontra-se como professor desempregado em Bonn, sem meios de se casar. Não podendo expressar suas idéias na universidade, resolve apresentá-las nos jornais. Seu primeiro artigo, sobre a censura à imprensa, foi.... censurado!!! Então passou a enviar seus textos para o jornal liberal A Gazeta Renana. Obteve grande sucesso e assumiu a direção do jornal em Colônia.
       Porém, após violento texto contra o regime czarista de Nicolau I na Rússia, o mesmo pressiona com sucesso o governo prussiano a fechar o jornal. Então, em 1844, Marx combina a criação de uma nova revista com o amigo Arnold Ruge. Publica um único número - Anais-Franco-Alemães. Muito perseguido na Prússia muda-se para Paris logo após sua lua-de-mel. Lá envolve-se no movimento dos operários franceses e reencontra seu futuro maior amigo Friedrich Engels, depois de conhcê-lo não muito profundamente em Colônia. Na capital francesa, passa necessidades, escassamente supridas pela retribuição recebida pelo trabalho na revista Vorwäts!, em português: Avante! Porém, por seus artigos sobre a situação política na Alemanha, é expulso da França por pressão de Guilherme IV.
       De lá parte para Bruxelas, onde pôde entrar mediante a assinatura de um documento comprometendo-se a não redigir artigos sobre a atualidade política nacional ou internacional. Lá associa-se à Liga Socialista pela Justiça, posteriormente denominada Liga Comunista. Logicamente não cumpriu a determinação de não escrever artigos políticos, e acabou sendo expulso da Bélgica, voltando para Paris. Em 1848, aproveitando a morte de Guilherme IV, pôde voltar com Engels e sua mulher para Colônia, onde iniciam a publicação da Nova Gazeta Renana, fechada no ano seguinte. Engels acabou sendo exilado em Londres devido a um mandato de prisão expedido contra ele. O mesmo aconteceu com Marx mais tarde. Exilou-se em Londres, onde permaneceu até o fim de sua vida.

Filosofando

       O período de fins de 1843 a princípios de 1845 que passou em Paris, constituiu verdadeira reviravolta no curso da vida de Marx e de suas atividades. Lá, percorreu os lugares históricos da Revolução Francesa. Sua impressão foi tão forte e intensa , que passou a ler historiadores franceses.
       Descobriu assim, a luta de classes que a burguesia realizou contra a nobreza. Vê que a filosofia das luzes não ocasionara, por si só, a revolução, e que, antes, acompanhara e estimulara o movimento objetivo da luta entre as classes. Concluiu que a alta burguesia que estava no poder não tinha mais nada de revolucionária, sendo incapaz de cumprir as tarefas democráticas, e que, agora, o impulso da libertação viria de uma nova classe, a dos trabalhadores e assalariados.
       A classe do proletariado. A capacidade de libertar a sociedade das mais variadas formas de opressão estava agora nas mãos dessa classe, desde que ela tome consciência de seus interesses de classe e atue de forma organizada. Marx parte para uma profunda crítica contra o capitalismo, que considera a maior causa da alienação da humanidade. Descreve a economia como sendo de importância central para os demais aspectos da existência humana. Passa a se dedicar inteiramente a atividades que procuravam melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Criticou, assim, os comunistas essencialmente teóricos, e defendeu a ação, o comunismo concreto. Paul Lafargue, seu genro e secretário, relata que Marx descansava andando de um lado para outro da sala, chegando a formar uma trilha no assoalho.
       O trabalho era tanto, que freqüentemente Karl se esquecia de comer. Era extremamente meticuloso, rigoroso e caprichoso com seus trabalhos. Foi assim com O Capital, publicado em 1867 e que se transformou na referência central na área das ciências sociais e, como no Manifesto Comunista, fixou os princípios de uma doutrina fundamentada na análise histórica das sociedades humanas. Com o objetivo de coordenar a ação do proletariado contra a exploração capitalista, em 1864 criou-se a Associação Internacional dos Trabalhadores, em Londres. Com aprovação unânime do Comitê Geral, Marx obtém consentimento para a publicação dos textos que redigiu, contendo os estatutos indicando o objetivo da Associação e torna-se dirigente principal da mesma.

Engels e família

        É impossível falar de Marx sem lembrar Engels. Suas atividades políticas, intelectuais e militantes estiveram estreitamente ligadas. Engels era filho de um industrial muito religioso e conservador e fora criado num ambiente dominado pelo pietismo, a tendência mais rigorosa do protestantismo alemão. Aos 19 anos começou a publicar artigos com conteúdo democrático na revista da cidade. Com 24, Engels visitou a redação da Gazeta Renana. Foi recebido friamente por Marx, por ter prevensão contra a falta de seriedade dos Liberados, grupo extremista do qual Engels fazia parte e que promovia atividades ruidosas. Mesmo assim, Marx publicou dois de seus artigos. Os dois encontraram-se novamente em Paris, em 1844. Engels estava terminando um estudo sobre o sistema capitalista inglês, trabalho que muito interessava a Marx. Começava aí uma forte e duradoura amizade. Engels foi um dedicado consultor do trabalho de Marx, debatia muito com seu amigo e em diversos momentos socorria financeiramente a família de Marx. Em 1848, juntos abalariam e transformariam o mundo escrevendo o glorioso Manifesto do Partido Comunista. Após a morte de Marx, Engels pôs-se a completar e divulgar o trabalho do amigo pelo mundo. Em 1895 Engels morreu de câncer no esôfago. A amizade entre ele fica clara nessas declarações:
       "QUERIDO FRED:
       ACABO DE CORRIGIR A ÚLTIMA FOLHA DO ÚLTIMO CADERNO DE O CAPITAL; O PREFÁCIO, REMETI-O CORRIGIDO ONTEM. ESTA PARTE ESTÁ CONCLUÍDA, ENTÃO. SOMENTE GRAÇAS A TI FOI POSSÍVEL. SEM TEUS SACRIFÍCIOS NÃO ME SERIA POSSÍVEL LEVAR A CABO O ENORME TRABALHO QUE OS TRÊS VOLUMES EXIGEM.
       UM ABRAÇO. E MUITO, MUITO OBRIGADO.
       KARL"
       Sete anos após a morte de Marx, Engels escreveu:
       "MEU DESTINO É ESSE: COLHER A GLÓRIA E AS HONRAS DAS SEMENTES QUE FORAM PLANTADAS POR ALGUÉM
        MAIOR QUE EU: KARL MARX. POR ISSO, SÓ POSSO PROMETER DEDICAR O RESTO DA MINHA VIDA AO SERVIÇO ATIVO DO PROLETARIADO PARA, SE POSSÍVEL, UM DIA TORNAR-ME DIGNO DESSA HONRA."
       Relata-se que Marx era um pai meigo e amoroso. Gostava muito de caminhar com a família e dizia que os filhos devem educar os pais. Ele e sua família sofreram vários infortunos materiais, porém sua família sempre o apoiou. Dizia que a relação homem-mulher é uma troca de valores. Mas quando um dos parceiros deixa-se alienar pelo dinheiro, os valores são opostos: o amor se transforma em ódio, a fidelidade se dilui. "O amor é o meio de o homem se realizar como pessoa", dizia.

Divergências

        Marx nunca teve qualquer inimigo pessoal. Porém, tinha por hábito debater suas teses com os outros filósofos, o que rendeu muitas polêmicas. Uma delas foi com o filósofo Proudhon, o homem mais popular do movimento operário francês. Marx escreveu a ele convidando-o para participar dos Comitês de Correspondências Comunistas, que promoveria o intercâmbio de comunistas de vários países. Proudhon respondeu recusando participar do movimento por contestar o internacionalismo de Marx e suas concepções econômicas. O ideal de cooperativas de Proudhon estava muito distante do empenho de Marx e Engels em organizar a luta da classe do proletariado contra a burguesia. Essas opiniões do filósofo francês foram relatadas em seu livro Filosofia da miséria, escrito contra Marx. Nesse livro defendia ideais anarquistas, com uma sociedade baseada na pequena propriedade. A resposta de Marx veio com o livro Miséria da filosofia onde diz que, de Hegel, Proudhon só havia adquirido o vocabulário, além de criticar seu reformismo e chamar suas idéias de pequeno-burguesas e descomprometidas com a classe trabalhadora.
       Também polemizou com Bakunin, o "pai do anarquismo". Este era um revolucionário de formação hegeliana e defendia a greve geral, contestada por Marx, que dizia que a mesma era um mito que poderia prejudicar a organização da classe trabalhadora, que deve amadurecer com paciência. Bakunin admirava o conhecimento de Marx, porém o considerava prepotente e defendia a auto-organização do trabalhador. Disse Marx sobre o programa de Bakunin: "é uma salada de lugares-comuns, de palavrório sem sentido, uma grinalda de conceitos e improvisação insípida".

A morte e o legado

        Os dez últimos anos da vida de Marx foram marcados pela deterioração de seu estado de saúde. Sofria distúrbios hepáticos há mais de 20 anos e era vítima de violentas e insistentes dores de cabeça que o levavam à insônia. Contrariando ordens médicas continuava trabalhando até tarde da noite, devorando uma quantidade de livros ainda maior que antes. Já em 1881 é um doente condenado pela medicina da época. Não consegue se dedicar muito na redação dos livros II e III d'O capital. Passa a apenas ler, tomar gigantescas notas para Engels e a se encontrar em casa com militantes revolucionários comunistas de todo o mundo. O golpe definitivo vem com a morte de Jenny no fim do mesmo ano e com a de sua filha mais querida, que levava o nome da mãe, em 1883. Dois meses depois desse acontecimento, a 14 de março, Karl Marx falecia na mesa de seu escritório tuberculoso e morando num casebre. Foi sepultado no cemitério de Highgate, em Londres, no setor reservado às pessoas banidas e rejeitadas pela igreja anglicana. À beira da sepultura, Engels proferiu emocionada oração fúnebre:
        "MARX ERA, ANTES DE TUDO, UM REVOLUCIONÁRIO. SUA VERDADEIRA MISSÃO NA VIDA ERA CONTRIBUIR, DE UM MODO OU DE OUTRO, PARA A DERRUBADA DA SOCIEDADE CAPITALISTA E DAS INSTITUIÇÕES ESTATAIS POR ESTAS SUSCITADAS, CONTRIBUIR PARA A LIBERTAÇÃO DO PROLETARIADO MODERNO, QUE ELE FOI O PRIMEIRO A TORNAR CONSCIENTE DE SUA POSIÇÃO E DE SUAS NECESSIDADES, CONSCIENTE DAS CONDIÇÕES DE SUA EMANCIPAÇÃO. A LUTA ERA SEU ELEMENTO. E ELE LUTOU COM UMA TENACIDADE E UM SUCESSO COM QUEM POUCOS PUDERAM RIVALIZAR.
        MARX FOI O HOMEM MAIS ODIADO E MAIS CALUNIADO DE SEU TEMPO. GOVERNOS, TANTO ABSOLUTOS COMO REPUBLICANOS, DEPORTARAM-NO DE SEUS TERRITÓRIOS. BURGUESES, QUER CONSERVADORES OU ULTRADEMOCRÁTICOS, PORFIAVAM ENTRE SI AO LANÇAR DIFAMAÇÕES CONTRA ELE. TUDO ISSO ELE PUNHA DE LADO, COMO SE FOSSEM TEIAS DE ARANHA, NÃO TOMANDO CONHECIMENTO, SÓ RESPONDENDO QUANDO NECESSIDADE EXTREMA O COMPELIA A TAL. E MORREU AMADO, REVERENCIADO E PRANTEADO POR MILHÕES DE COLEGAS TRABALHADORES REVOLUCIONÁRIOS - DAS MINAS DA SIBÉRIA ATÉ A CALIFÓRNIA, DE TODAS AS PARTES DA EUROPA E DA AMÉRICA - E ATREVO-ME A DIZER QUE, EMBORA, MUITO EMBORA POSSA TER TIDO MUITOS ADVERSÁRIOS, NÃO TEVE NENHUM INIMIGO PESSOAL".

Lápide de Karl Marx       Marx morreu, porém seu legado é imortal. Inspirou grandes revoluções que tornaram o proletariado uma classe mais digna. Essa idéia ainda é subjulgada pelo capitalismo, vive nas sombras, porém não podemos negar os avanços obtidos durante anos de luta contra uma burguesia exploradora. Cooperativas, e mais tarde sindicatos, foram criados para defenderem os direitos dos operários. Manifestações e revoltas reivindicaram respeito para com essa classe. E tudo começou com Marx. Ainda é escassa de cultura e dignidade a vida dos trabalhadores, mas são mais dos que tínhamos há duzentos anos. E tomando como exemplo lutadores do povo como foi Karl Marx, um dos mais célebres pensadores já produzidos pela humanidade, é que conseguiremos edificar uma sociedade mais justa.





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