Villa- Lobos (1887 - 1959)
por Joaquim Vivas

Heitor Vila Lobos

Assistindo ao espetáculo "Floresta Amazônica" no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, encenado em comemoração aos 500 anos do Brasil, puder perceber a pujança criativa do compositor Heitor Villa-Lobos.

Este carioca de Laranjeiras, onde nasceu em 5 de março de 1887, é nosso mais respeitado compositor erudito no exterior. Personalidade marcante, pesquisador incansável do Brasil e sua diversidade cultural, tem em sua obra uma indiscutível brasilidade e modernidade.

Sua insaciável curiosidade levou-o a viajar por diversos Estados brasileiros e tornou-o alvo de contraditórias informações biográficas. Combativo e combatido, Villa-Lobos causava frisson com seu jeito de viver e suas composições arrojadas.

Manteve contato com compositores eruditos, da MPB e com representantes de folclores regionais. A paixão pela música e pelo Brasil eram seus ingredientes para compor, posicionar-se politicamente e o transformaram num nômade por longos períodos. Há algo de misterioso em sua fascinante vida que muitas vezes nos coloca diante de textos sobre sua vida, contato por seus inúmeros biógrafos, totalmente contraditórios. A concordância é sua incrível sensibilidade e inquestionável qualidade de sua obra que canta nossa terra e nossa gente.

Ainda menino começou a ter contato com a música de câmara nas reuniões que aconteciam aos sábados em sua casa. Lá reuniam-se nomes respeitados da época. Esse hábito durou vários anos influenciando de forma decisiva sua formação musical. Com seu pai aprendeu a tocar clarineta e violoncelo, este adaptado de uma velha viola, em função de sua pequena estatura.

Aos doze anos iniciou sua carreira profissional tocando em bailes, cafés e teatros. Aprendeu a tocar violão, que frustrando o sonho de sua mãe que o desejava médico, por influência de Sátrio Bilhar, Quincas Laranjeiras, Anacleto de Medeiros, Macário, Irineu de Almeida, Juca Kalut e José Cavaquinho seguiu a estrada da música.

Panqueca(1900), uma de suas primeiras composições, em homenagem a sua mãe, denota a influência da música popular em sua obra consolidada pelo relacionamento com Ernesto Nazaré e Catulo da Paixão de Cearense. Seu interesse pela cultura musical brasileira, o fez viajar pelo Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, região sul, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Belém do Pará e Ceará. Essas viagens proporcionaram-lhe uma visão global da expressão musical brasileira, principalmente a folclórica, que influenciam toda a sua obra.

Em 1912, fixa-se no Rio de Janeiro, após três anos de ausência. Aqui compõe obras camerísticas como Sonatas, Trios e os quatro primeiros Quartetos de Cordas, além dos Ballet Amazonas e Uirapuru.

Em 1913 casou-se com Lucília Guimarães, pianista laureada, que realizou com freqüência, primeiras audições de obras de seu marido.

Contrariando as tradições, e por isso, alvo de críticas de jornais, Heitor Villa Lobos objetivando divulgar suas composições, realizou concertos em Nova Friburgo e Rio de Janeiro.

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo de 11 a 18 de fevereiro de 1922 foi um marco na vida do maestro, pois contratado por Graça Aranha, levou para São Paulo uma comitiva com o melhor de seus intérpretes, segundo ele próprio declarava. Foram eles Orlando Frederico, Alfredo Gomes, Frutuoso Viana, Paulina D'Ambrósio, Lucila Guimarães Villa lobos, Antão Soares, Frederico Nascimento Filho e Pedro Vieira.

Em 1923 fez sua primeira viagem à Europa e em Paris declarou- "Não vim estudar com ninguém, vim mostrar o que fiz". Durante sua estada na Europa- 1923 a 1930, compôs proficuamente e conviveu com grandes compositores como Maurice Ravel, Paul Dukas, Florent Schmitt, Arthur Honegger, Igor Strawinsky, Sergey Prokofiev, Alfredo Casella, Edgar Vàrese e outros, seus colegas do Conservatório Internacional de Fontainebleau.

A revolução de 1930 no Brasil ,tornou insustentável sua vida em Paris, pois não pode mais receber ajuda financeira que amigos brasileiros como Carlos Guinle lhe enviavam, por isso teve penhorado e leiloados seus bens, incluindo várias partituras em manuscritos.

No Brasil, foi convocado por João Alberto, então interventor federal, para organizar o movimento artístico com cunho político para amenizar arestas de hostilidade política.

Villa Lobos é responsável pela introdução do canto orfeônico no currículo escolar, oportunidade a ele oferecida por Anísio Texeira, então Secretário de Educação do Distrito Federal, que criou a SEMA.

Na SEMA realizou apresentações orfeônicas com até 40.000 estudantes, cantando músicas a 2, 3, 4 vozes e, terminou por criar o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, para formação de candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias, estudar e criar diretrizes normativas para o ensino do canto orfeônico no Brasil, desenvolver trabalhos de musicologia brasileira, e realizar gravações de discos. Esta atividade foi apoiada pelo então presidente Getúlio Vargas com quem mantinha um relacionamento cordial.

A partir de 1944, Villa Lobos fez viagens anuais para os Estados Unidos e Europa como regente em tournées. Ao todo, regeu 83 orquestras em 24 países entre elas a Filarmônica de Viena, as Sinfônicas de Boston, Filadélfia, Nova Iorque, Cleveland, a antiga NBC e a Violoncelo Society of New York, a Orquestra Nacional de Radiodifusão francesa, Sinfônica da BBC de Londres, a Filarmônica de Israel, a Orquestra Della Scala de Milão entre outras.

Gravou em discos, uma grande parcela de sua produção musical, principalmente os Choros e as Bachianas Brasileiras. Sua discografia é uma das mais abundantes da música brasileira -Recentemente a Universal Music, reconhecendo a importância deste compositor e sua obra, lançou em CD, trechos das peças mais conhecidas de Villa Lobos como Trenzinho Caipira, trilha sonora integrante da biografia recém filmada.

Em 1948, viajou para Nova Iorque onde foi operado de um câncer no Memorial Hospital. Sobreviveu mais 11 anos durante os quais produziu obras imortais.

Um pouco sobre sua vida e obra pode ser encontrado no Museu Villa-Lobos, Botafogo - RJ, e na completa biografia escrita por Lisa Peppercorn, pela Ediouro, resultando em um retrato cultural do gênio da música erudita brasileira, que interpretou como poucos a alma do país conquistando reconhecimento internacional ao difundir os valores e as peculiaridades de nossa terra.

As contradições biográficas nada mais são do que o reflexo da personalidade contraditória desse compositor maior.

Retorne pág.anterior (Uirapuru, homenagem do Valeriano)

Outros Sites Sobre Villa-Lobos

Veja os passos para compreender Villa-Lobos

Músicas Digitalizadas de Villa-Lobos

Hosted by www.Geocities.ws

1