Sons do Inferno

Alice Cooper e o seu Espetáculo de Horror

“O demônio pode citar as escrituras para justificar seus fins”- William Shakespeare

Até hoje ninguém chegou a uma conclusão final sobre quem introduziu o conceito de Rock Horror no Heavy Metal. Quem é o pai da criança? Alice Cooper ou Black Sabbath? Quando entrevistado, Alice Cooper (nascido em Vincent Furnier) sempre tentava deixar claro que foi ele:
- Eu comecei a fazer no final dos anos 60, antes que o Black Sabbath lançasse seu primeiro disco - , disse Cooper numa de suas entrevistas para o jornal O Globo. – Mas como o Sabbath ficou popular primeiro, eles ficaram com a fama -, conclui sem maiores rancores na voz. E, de fato, se o que vale é a data, Alice Cooper veio primeiro que o Sabbath.

Filho de um pastor protestante, talvez por isso mesmo, Cooper (que escolheu o feminino nome artístico apenas para chocar, nada tendo haver com o clássico romance de Lewis Carrol, Alice no país das maravilhas; sem contar que, embora não seja gay, aproveitou-se da moda andrógina do começo dos anos 70 para chamar a atenção) escolheu o caminho oposto ao do pai para fazer a sua pregação.

Antes que os anos 60 acabassem, Cooper já tinha banda formada em Detroit, sua cidade natal, e começava a esboçar o que se tornaria sua marca registrada e o transformaria num dos ícones mais conhecidos do rock em geral. E o nome da banda era o seu próprio nome artístico.

Os dois primeiros discos, no entanto, eram mais exercícios de bizarrias experimental do que propriamente horror metal. Gravado pelo selo independente do grande amigo Frank Zappa (que, quando Cooper ganhou sua fama de demoníaco, disse para não negar, pois isso lhe dava publicidade), o Straight, Pretties for you e Easy Action ainda não separava a banda de Alice Cooper das outras.

Mas, ao lançar seu primeiro disco por uma grande gravadora, que levava apenas o nome do astro, Cooper começou a cristalizar o que viria a ser a sua imagem: um misto de rebelde andrógino que falava do universo dos adolecentes americanos com toques de filmes de terror barato. Estas duas vertentes estavam bem delineadas em seus dois primeiros sucessos, “Eighteen” (sobre a adolescência) e “Black Juju” (seu primeiro toque de terror).

Começava ali o reinado de Alice Cooper, que logo se transformou numa das figuras mais exóticas do Rock n’ Roll (hoje com uma chupinhação mau feita de Marylin Manson), antes que surgissem os mascarados do Kiss, e responsável também pelas mais memoráveis performances do gênero. Um show de Alice Cooper era (e ainda é) como um filme de terror B ao vivo. Há decapitações, Vampiros e Sangue, muito sangue (tudo de mentirinha, claro). Sua performance exótica também incluía o uso de jibóia em cena.

Tudo isso somando não tardou a descartar o nome de Cooper, que ficou conhecido internacionalmente. Tanto que na primeira metade dos anos 70, precisamente 73, o astro e sua banda vieram ao Brasil (foi, provavelmente, o primeiro nome do rock pesado americano a pisar, com suas botas de couro em nosso país). Seus Shows arrastaram multidões no Rio e em São Paulo, deixando o artista marcado até hoje como “aquele maluco da cobra”. Não seria a última viagem ao país. Em meados de95 ele pisou no Rio e em São Paulo como uma das atrações do festival Moster of Rock II. Contudo, apesar de seu profissionalismo, seu teatrinho de horror já se mostra anacrônico e datado.

O Teatro de Cooper

Enquanto isso, Cooper seguia lançando discos que mixavam a rebeldia juvenil com toques de terror, como “Killer”, “Schools Out” (um dos clássicos do rock americano), “Muscle of love” e “Billion dollar babies”. Estes discos deixaram atrás de si hits como “school out” e “Under my Wheels” (apontado como uma das principais músicas a influenciar Guns n’ Roses no início, que a tocava em seus primeiros shows) e músicas de toque macabros como “I love the dead” e “Dead babies”.

Na medida em que sua fama aumentava, crescia também a produção teatral de dos shows de Cooper, como as citadas decapitações, monstros gigantes infláveis de borracha, enforcamento e todo o tipo de truque visual e efeitos especiais. Por tudo isso, logo Alice Cooper ganhou a antipatia dos grupos moralistas americanos e foi um dos primeiros nomes do metal a ser perseguido e ter seus discos queimados por esses fanáticos em praça pública.

A primeira e mais brilhante fase da carreira de Alice Cooper acabou em 1975, quando sua banda original se desfez em meio a brigas internas e a entrada de Cooper na lista dos junkies do rock. O artista havia se tornado a criatura de seu próprio teatro de horror e embalou fundo no mundo do álcool e das drogas, o que quase lhe custou a vida.

Mesmo assim, Cooper ainda iria lançar seus dois ambiciosos discos conceituais, “Welcome to my Nightmare” (que contou com mais produção do que todos os seus shows anteriores) e “Go to Hell”. Contudo, o declínio musical viria a seguir, com o mergulho ainda mais profundo de Cooper no álcool e as constantes mudanças musicais no estilo , ora um pouco mais para hard rock, outras vezes mais heavy metal e aoutras até mesmo pop, como quando lançou seu maior sucesso de rádio “How you gonna see me now?”, cuja letra fazia uma espécie de auto-reflexão de seu estado decadente.

A fase negra do artista foi composta de discos como “Flush the fashion”, “Special forces” e “Zipper catches skin”, que foram totalmente ignorados por público e crítica; Por conta desses fracassos, Cooper mudou de gravadora e durante os anos 80 lançou medíocres discos de hard rock pelo selo MCA.

Sua retomada aconteceria apartir de 1989, com o disco “Trash”, já em sua nova gravadora, a Epic Records, que levou Alice Cooper de volta à estrada, aos shows e o apresentou para uma nova geração que imediatamente vestiu a sua camiseta (como se pode ver atráves do filme “Waynes’s World”, no qual a dupla de jovens patetas, Wayne & Garth, tem verdadeira adoração por Cooper). Com tudo isso, o disco alcançou platina nos Estados Unidos.

Projeto com Neil Gaiman

Em seguida a “Trash” veio outro disco interessante, “Hey Stoopid” (91), que já pegava carona no visual da MTV e contou com um clipe bem produzido e com todas as esquisitices às quais Alice e seus fãs tinham direito (mulheres gostosas, diversão juvenil e terror). Embora mais pesado que “Trash” (e com hit pegajoso, “Feed my Frankestein”), “Hey Stoopid” não vendeu tanto quanto seu antecessor, mas serviu de plataforma para o artista voltar a trilhar o caminho que fez a sua fama nos anos 70: o rock conceitual.
O último trabalho de Cooper, “The last Temptation”, é seu maior e mais ambicioso projeto desde “Welcome to my Nightmare” , como ele mesmo confessou em uma entrevista. O disco é um projeto multimídia que envolve histórias em quadrinhos, teatro e música. Para começar, Cooper convidou Neil Gaiman, autor das maravilhosas histórias de um dos mais cultuados personagens de quadrinho da atualidade, “Sandaman”.

Juntos, Cooper e Gaiman reanimaram um velho personagem criado por Cooper, The Showman, um tipo estranho que percorre o interior dos Estados Unidos apresentando espetáculos bizarros para jovens. Todo o enredo do novo trabalho, lançado em julho de 94, além de descrito nas lendas do disco, também está contado uma mini série em quadrinhos da Marvel em três capítulos.

Hoje em dia o Mr. Alice Cooper continua dando voltas ao mundo apresentando seu espetáculo de música, arte e encenação. Apesar dos seus erros como ser humano, Cooper acertou e muito como artista. Ele abriu novas vertentes e temáticas que se proliferam até hoje em novas maneiras de contar histórias e lendas.

Vemos bandas como Symphony X contando as aventuras imaginadas por Homero, no álbum “The Odyssey” ( A odisséia), ou Rhapsody narrando em cada álbum as lutas travadas entre Guerreiros, demônios e dragões inspirados em jogos de RPG, sem deixar de mencionar o Running Wild que sempre nos trazendo lendas e histórias de piratas e tesouros perdidos.

Como nós podemos ver rebeldia não é somente falar de liberação da maconha, lutar a favor da liberdade juvenil ou gravar um cd repleto de malícia, duplo sentido e palavrões. Rebeldia e criar novas maneiras de arte e interpretação, sair do comum, expressar sentimentos e idéias. Se Cooper é um louco, que todos nós sejamos, pois recriar algo sempre foi considerado loucura.

Curiosidade: Verdade ou mera publicidade de Cooper?

O codinome do vocalista (e da banda) segundo ele próprio foi sugerido em uma mesa de ouija (algo semelhante ao "jogo do copo") por um espírito.

Sites recomendados

Fotos de Alice Cooper durante os anos: http://www.alicecooperpics.co.uk/alicecooper.htm

Fotos de Alice Cooper performace em palco: http://www.scottshotsphotos.com/AliceCooper.html

 

Texto: Márcio Domenes.
Fonte: Enciclópedia do Rock; Heavy Metal – Guitarras em Fúria/ Tom Leão

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