Niccolò Paganini: O Morto-Vivo
"Aquilo que engana também
cria encantamento mágico" - Platão
(427-348dc)
Para os que permanecem, começamos com um exemplo
fora da música negra, o italiano Niccolò Paganini, nascido
em Gênova em 1782, há pouco mais de 200 anos, violinista
em uma época em que, na música, somente os cantores de
ópera eram realmente respeitados e bajulados. Ele no entanto
tinha mais carisma e chamava mais atenção do que os grandes
astros de seu tempo, os tenores. Foi atacado tão fortemente por
sarampo quando criança que quase o enterraram pensando que estivesse
morto. Por conta desta doença, seu corpo seria para sempre magricelo
e seu rosto esquelético. Seu pai, Antônio Paganini, sonhando
com fortuna às custas de seu menino prodígio, o criou
severamente, punindo-o cruelmente a cada erro que cometia em seus exercícios.
Aos oito anos, já dava recitais e compunha música de considerada
complexidade para sua idade. Aos treze foi reconhecido como criança
prodígio em Gênova. Aos quinze, excursionou seu país,
fazendo memoráveis apresentações em Milão,
Bolonha, Florença, Pisa e Leghorn. Em 1798, aos dezesseis anos,
tinha juntado dinheiro suficiente para fugir da tirania de seu pai.
Como
músico, ele inovou e contestou o medíocre, como um autêntico
rebelde. Inovou usando harmônicos, como também trazendo
de volta a esquecida arte de scordatura, ou seja, afinações
variadas, utilizadas no violino pela primeira vez. Você poderia
dizer que Paganini era o Jimi Hendrix do violino, duzentos anos antes,
tirando sons inimagináveis até então com aquele
instrumento. Quer saber mais? Ele usava calças apertadas e cabelos
bem compridos; deixava as mulheres desmaiando, loucas de tesão
e os homens loucos de inveja. Mas acima de tudo, Paganini tocava seu
instrumento com uma concepção anos-luz à frente
dos seus contemporâneos. No entanto seu sucesso foi marcado por
incessantes boatos sobre seu suposto pacto com o diabo. Seu rosto magro
e cadavérico dava força a tal suposição.
Sempre tocando para teatros com suas lotações esgotadas,
Paganini era o músico mais rico de sua época. Sua riqueza
e fama era tão grandiosa que qualquer camponês sabia como
sendo fato, que o homem tinha um pacto com o diabo. Que outra explicação
para ele poder ser tão melhor e tão mais bem sucedido
que os outros?
A imprensa da época o retratava como um homem
cruel, mórbido, egoísta, ganancioso e um jogador compulsivo.
De fato, ele perdeu seu violino pagando uma divida de jogo. Presenteado
por um amigo, outro violino quase foi perdido nas mesas de apostas,
antes dele se conscientizar e jurar nunca mais chegar perto de uma mesa
de jogo. Segundo a crença popular, ele juntara uma gangue e matou
diversos maridos das mulheres com quem teve casos. Pessoas juravam que
viram Satanás guiando sua mão, segurando o arco sob as
cordas do violino durante seus espetáculos. Outros diriam que
viram assistentes do demônio partindo do teatro de onde Paganini
acabara de se apresentar, seguindo de carroça, por uma estrada
que sequer existia. Mesmo os admiradores de sua música se benziam
caso Paganini os tocasse. Houve momentos em que ele fora obrigado a
publicar cartas de sua mãe para provar que havia nascido normalmente
como qualquer mortal.
Em 1836, abriu um cassino em Paris que acabou falindo.
O seu desgosto pela perda de sua fortuna, lhe fez um mal irreparável
à saúde. Ele se mudou para Marseilles e depois Nice, para
se recuperar. Passou a praticar o violão neste periodo. Ainda
reapareceu tocando o violino magestralmente bem, embora ainda doente.
Quando ele morreu em 27 de Maio de 1840 em Nice, a igreja católica
recusou-se a enterrá-lo e os camponeses tinham medo do seu corpo.
Ele só foi enterrado em 1843, quando o corpo foi trazido de volta
para a Itália, graças a seguidos pedidos de seu filho
para que Roma intercedesse no caso, a favor do mestre.
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