Combatido antes de possuir um vigoroso organismo coordenador e/ou federativo de grupos com os quais formaria suas bases locais, regionais e nacionais, mesmo assim o Movimento Anarquista do Brasil publicou cerca de uma centena de jornais e revistas, fundou e sustentou editoras, serviços de livraria, fez funcionar Centros de Cultura Libertária (dando ali cursos e conferências semanalmente), grupos de teatro social (realizou centenas de espetáculos), criou escolas racionalistas alfabetizadoras e profissionalizantes que muito produziram com os míseros recursos dos trabalhadores da época, formou excelentes oradores, conferencistas, professores, jornalistas, escritores, introduziu a questão social no romance com Ideólogos e Emancipados de Fábio Luz, e Regeneração de Manuel Curvelo de Mendonça, nos anos de 1902/4.
Foi a partir desta data que alguns literatos mudaram de comportamento. Os anarquistas influíram na ortografia, na poesia, contestaram a falta de higiene nos bares (no tempo os açucareiros eram abertos e ficavam expostos às moscas), nas padarias, nas oficinas e nas fábricas (estas não tinham mictórios nem banheiros adequados ao número de operários), nos açougues; foram dos primeiros a manifestar-se contra o serviço militar obrigatório, marcando o início dos objetores de consciência no Brasil.
Bateram-se também contra a guerra, contra o uso do chapéu por ser anti-higiênico, lutaram pelo seguro de acidentes no trabalho (este só foi implantado depois dos protestos), começaram a propagar a alimentação vegetariana, a “procriação consciente”, os “Direitos Humanos”, o descanso semanal (aos domingos trabalhava-se até ao meio dia), reivindicaram a redução das horas de trabalho de 14 e 16 para 8 horas, o pagamento de salários em dias certos, conquistaram pela greve as “Feiras Livres” (hoje totalmente desvirtuadas da idéia inicial), nos anos de 1916/17, para vender alimentos de primeira necessidade diretamente (sem impostos) do produtor ao consumidor, e outras melhorias que os governantes acabaram transformando em leis.
Tudo isto foram conquistas libertárias.
Fonte: Os Libertários: Idéias e Experiências Anárquicas / Edgar Rodrigues / Editora Vozes.
