ESTRATÉGIAS QUE FALHARAM

1. Social Democracia. (ganhar o controle do aparato estatal através das eleições). Nós não podemos destruir o capitalismo via eleições. Assim foi no passado e assim será no futuro, mesmo com numerosos governos socialistas chegando ao poder na Europa, às vezes durante décadas. Não podemos destruir o capitalismo via eleições porque os governos não têm a última palavra, eles não controlam a sociedade. Os capitalistas têm a última palavra. O governo não controla os capitalistas; os capitalistas controlam o governo. O governo moderno (isto é, o sistema de nação-estado) é uma invenção capitalista. É uma ferramenta nas mãos deles e eles sabem usá-la com maestria, isto é, impedir que seja usada contra eles. Quando os trabalhadores construíram e controlaram partidos políticos, fizeram uso deste partido para ganhar eleições e chegar ao governo, e usaram esse governo para estabelecer o socialismo, tudo isso parecia uma estratégia bastante plausível quando foi pela primeira vez implementada na metade do século dezenove, já passou tempo suficiente para reconhecermos e admitirmos que tal estratégia simplesmente não funcionou. O capitalismo continua a todo vapor, não importa quem controla o governo.

2. Leninismo. (capturar o aparato estatal pela força das armas). Nós não podemos destruir o capitalismo tomando o governo por uma auto-proclamada revolução. Esta foi uma estratégia amplamente usada durante o último século nos países capitalistas periféricos (Movimentos de Liberação Nacionais), começando com a Revolução russa. Dúzias de "partidos revolucionários" alcançaram o poder em várias partes do mundo, mas em lugar algum tiveram sucesso em destruir o capitalismo. O máximo que conseguiram foi simplesmente fazer aquilo que os capitalistas sempre fizeram, acumular mais capital. Eles se tornam, inevitavelmente (e apesar das suas intenções), nada mais que outro governo, no sistema de nação-estado, infalivelmente embutido no capitalismo, sem possibilidade de fuga. Gerações de revolucionários dedicaram suas vidas a esta estratégia. Parecia a melhor coisa a fazer na ocasião, e talvez fosse. Mas agora, depois de quase um século de tentativas, está dolorosamente claro que a estratégia falhou, e cada vez mais os revolucionários estão chegando a esta conclusão. Os poucos remanescentes leninistas ‘duros na queda’ que ainda estão lutando para construir um partido de vanguarda para tomar o poder estatal definitivamente são, e somos gratos por isso, uma raça agonizante.

3. Guerrilha. Não podemos destruir o capitalismo com guerrilha. Esta estratégia foi adotada principalmente por uma parcela dos Movimentos de Liberação Nacionais em países coloniais para capturar os governos lá estabelecidos. É uma forma de leninismo. O leninismo em geral não funciona. Da mesma forma, a guerra de guerrilha, como uma tática particular dentro do leninismo, também não funciona. Os capitalistas aprenderam a derrota-la. A estratégia se baseia na suposta repugnância dos capitalistas em assassinar as populações civis para matar também as guerrilhas. A verdade é que os capitalistas nunca mostraram nenhuma relutância em matar civis. Eles estão dispostos a assassinar em massa, desarraigar e deslocar populações inteiras para derrotar os movimentos de guerrilha. E eles sempre acabam ganhando. (a guerra atual na Colômbia servirá talvez como o teste final dessa estratégia). Alguns revolucionários românticos pretenderam adotar tal estratégia nos países do primeiro mundo, com resultados desastrosos. Os capitalistas estão se deleitando com esse novo inimigo, que denominaram "terroristas" e "anarquistas", uma vez que os "comunistas" já se foram. Mas claro que eles difamarão qualquer movimento de oposição, mas não é por isso que a guerra de guerrilha não funciona. A guerra de guerrilha não funciona porque faz parte do leninismo (tomar o poder estatal) e o leninismo nunca funcionou. Nunca funcionou nem nunca funcionará por causa do poder de fogo opressivo acumulado por todo governo capitalista avançado. Não funcionará porque não contém dentro de si as sementes de uma civilização nova. Eu pensaria duas vezes antes de unir ao ativismo subterrâneo.

4. Sindicalismo. (federações de camponeses, conselhos de soldados e operários). Não podemos destruir o capitalismo tomando e ocupando fábricas e fazendas, pelo menos não da maneira como tem ocorrido até hoje. Não obstante, de todas as estratégias que falharam, o sindicalismo é a única que chegou perto de ter sucesso, e a única que até mesmo vislumbrou a criação de um mundo novo. Esteve intimamente ligado à grande revolução espanhola nos anos trinta. Infelizmente, aquela magnífica revolução foi derrotada. Na realidade, todas as revoluções sindicalistas falharam uma após a outra. Eu acredito haver falhas sérias inerentes à própria estratégia. Em primeiro lugar, a estratégia do sindicalismo ignora as Casas, como se as Casas não fizessem parte dos meios de produção. Assim exclui milhões de trabalhadores em construção da participação ativa na revolução. Eles são um importante apoio na revolução. Também exclui pessoas mais velhas, pessoas mais jovens, pessoas doentes, prisioneiros, estudantes, e milhões de trabalhadores desempregados. Pensar que uma revolução só pode ser feita apenas por aqueles que se mantêm empregados é a mais completa loucura. Talvez imediatamente após os sindicalistas "tomarem as fábricas" e fazerem a revolução esta exclusão pudesse ser superada com todo mundo formando conselhos nas casas ou escolas, mas isto não ajudaria muito durante a própria revolução. O quadro inteiro é desajustado, excêntrico. Além disso, os sindicalistas nunca especificaram com clareza suficiente como todos os vários conselhos funcionariam no processo de tomada de decisão e da implementação das políticas. Tornam-se defensivos, e propõem uma nova civilização. No calor revolucionário da Alemanha de 1918 os conselhos de operários e de soldados foram durante alguns meses o único poder organizado. Eles poderiam ter vencido. Mas estavam confusos sobre o que fazer. Eles não conseguiam ver nada além de seus próprios conselhos para o estabelecimento do poder global e da derrota do capitalismo. Na massiva greve geral da Polônia em 1980, surgiram conselhos em todo país, nas fábricas, escritórios, minas, e nas fazendas. Mas eles não souberam compor um arranjo social alternativo capaz de substituir a estrutura de poder existente. Além disso, eles se abstiveram erradamente de atacar o poder da classe dominante de forma a destruí-lo. Ao invés disso, eles buscaram uma coexistência sob o pano de fundo de uma intranqüila mas conciliadora estrutura dual (talvez porque temessem uma invasão soviética; mas uma estratégia que não leve em conta exércitos externos tende ao fracasso). Associações por local de trabalho precisam de assembléias permanentes, com décadas de experiência sob seu próprio controle, para poderem ter alguma chance de sucesso. Não se pode, repentinamente, vomitar soluções novas em meio a uma profunda crise, ou em plena greve geral, com um governo forte pronto para atacar, apoiado em forças militares completamente operacionais. Não é de forma alguma surpreendente que os levantes do estilo sindicalista acabaram em derrota. Finalmente, o sindicalismo não funciona fora do mundo das relações entre os conselhos, fora da comunidade como um todo, e assumir que os trabalhadores em uma fábrica têm a palavra final sobre a distribuição dos recursos produzidos (ou se a fábrica deveria até mesmo existir) em vez da comunidade como um todo, simplesmente não funciona. Nem mesmo se os sindicalistas trabalharam relações intercomunitárias. Em resumo, o sindicalismo é uma estratégia imatura que não foi capaz de destruir o capitalismo, embora assumisse a direção correta.

5. Greves Gerais. Greves gerais não podem destruir o capitalismo. Há um limite onde depois de cerca de seis semanas elas tendem a se esvaziar. Além disso, a sociedade começa a desintegrar. Os grevistas gerais não têm a mesma concepção sobre como reconstituir sociedade em arranjos sociais alternativos, em pouco tempo são compelidos a voltar para os seus empregos para poder sobreviver, para poder matar a fome. Tudo o que um governo tem que fazer é esperar eles voltarem, enquanto fazem algumas concessões talvez para aplacar a fúria das massas. Foi exatamente isso que De Gaulle fez na França em 1968. Uma greve geral pode não durar nem mesmo seis semanas se for realmente geral, se todo mundo parasse de trabalhar. Sob tais condições não haveria nenhuma água, eletricidade, calor, ou comida. O lixo se amontoaria. Não poderíamos ir a lugar algum porque os postos de gasolina seriam fechados. Não poderíamos receber tratamento médico. Assim, estaríamos principalmente ferindo a nós mesmos. E quais poderiam ser nossos possíveis objetivos? Parando o trabalho, não estaríamos obviamente objetivando ocupar e tomar posse do local de trabalho. Se isso fosse nosso alvo continuaríamos trabalhando, mas expulsaríamos os patrões. Assim, nosso principal alvo teria que ser derrubar um governo, e substitui-lo por outro. Esta poderia ser uma meta legítima se precisássemos nos libertar de um regime particularmente opressivo. Mas para nos libertar do capitalismo, a greve geral não nos levará a parte alguma. Não acho de devamos desperdiçar energia agitando uma Greve Geral.

6. Greves. Greve contra uma determinada corporação não pode destruir o capitalismo. Quem a pratica nem mesmo pensa nisso. O propósito dessas greves é reverter o grau de exploração a favor dos trabalhadores. Muito raramente eles se unem para exigir algum controle por parte dos operários (abolição do escravo assalariado? Nem pensar!); evidentemente ninguém pode superar as relações de propriedade capitalistas em uma única corporação. A greve não traz por si só a perspectiva de reconstituir as relações sociais da sociedade, nem tem essa intenção. Nos últimos anos as greves vem perdendo a maior parte de seus adeptos no sentido de conquistar benefícios a curto prazo para o proletariado. Freqüentemente os grevistas acabam derrotados: os líderes sindicais não raramente se vendem aos patrões; o proprietário ignora, ou simplesmente demite todo mundo e contrata todo um novo quadro de empregados; os proprietários transferem suas fábricas para outro lugar; o governo declara a greve ilegal e convoca a milícia estatal. O pipocar de greves torna-se uma florescente indústria de consultoria advocatícia. Décadas de propaganda anti-sindical através da mídia controlada e incorporada destruíram a cultura do proletariado pró-trabalho, ao mesmo tempo em que deram todo apoio aos administradores furadores de greves. Hoje em dia, para que os grevistas adquiram qualquer benefício, é necessário que Casas inteiras sejam mobilizadas, e que esses grevistas estejam acoplados a campanhas nacionais. Mesmo assim, tais greves não deixam de apontar apenas para salários mais altos, benefícios de saúde, e daí por diante. As greves não são anticapitalistas. Com raríssimas exceções, elas nem mesmo lutam por uma jornada de trabalho mais curta, nem sequer falam sobre controle operário. Eu não acredito que esta situação seja temporária ou possa ser revertida. Não há dúvida que as greves são importantes, ou pelo menos o foram no passado, na luta interminável contra a extração da riqueza criada pelos produtores diretos, contudo elas não podem destruir o capitalismo enquanto sistema.

7. Sindicatos. Os sindicatos não podem destruir o capitalismo. Embora criados pelos trabalhadores, principalmente para ajudá-los a se proteger da devastação da escravidão assalariada, eles há muito vem perdendo seu potencial emancipatório. Eles são facilmente cooptados pela classe dominante e usados contra os trabalhadores, como uma ferramenta disciplinar, na prevenção de greves, na prevenção de ações trabalhistas, para escoar o poder operário, para estabilizar a mão-de-obra e reduzir as faltas, para pacificar os trabalhadores, para reduzir as reivindicações, e assim sucessivamente. Na primeira metade do século dezenove (e com raríssimas exceções) os sindicatos eram "sindicatos empresariais", funcionando como um instrumento que o capitalista utilizava para administrar as "relações trabalhistas". Há uma falha inerente na estratégia. Está baseado em construir um lado institucional burocrático fora do local de trabalho, em vez de uma livre associação de trabalhadores dentro do local de trabalho. Em todo caso o auge dos sindicatos remonta de um já distante passado e qualquer esperança de retornar àqueles tempos é pura desilusão. Nos últimos anos houve um movimento para reconstruir os sindicatos, até mesmo nos Estados Unidos onde o nível de conscientização dos trabalhadores é notoriamente nulo, e onde a quantidade de associados do sindicato é oito por cento menor nos setores não governamentais. Também em outros países, especialmente os países pobres, existem poucos sindicatos fortes, tanto que muitas indústrias estão se transferindo para esses países, e os sweatshops se espalham como uma praga. Com raríssimas exceções, estes sindicatos não são anti-capitalistas. Naturalmente, é importante a luta por melhores condições de vida, por salários mais altos, por uma jornada de trabalho menor, benefícios de saúde. Mas tais lutas freqüentemente enfatizam os males do sistema de escravidão assalariada, e tem como alvo melhorar um pouco a qualidade de vida dos trabalhadores. Quem não fica entusiasmado com recente movimento anti-sweatshop que está mobilizando os estudantes nos campus universitários dos Estados Unidos? Mas o que é mais necessário hoje é que nos livremos do capitalismo. Mesmo que o ativismo operário atual tenha sucesso, e reconstrua os sindicatos e os tornem fortes como o foram no passado, nós podemos esperar estes sindicatos recentemente reconstruídos realizem mais do que o fizeram os poderosos sindicatos do passado em sua total plenitude e força? Um movimento que estava embutido por comunistas, socialistas, e culturas proletárias anarquistas, culturas que foram obliteradas, ou não são predominantes em nossos dias? É difícil acreditar que possam.

8. Insurreições. Insurreições não podem destruir o capitalismo. Chego mesmo a pensar que a classe dominante está andando e cagando para qualquer uma delas. Você pode até mesmo fazer um grande alvoroço pelas ruas se é isso tudo o que você quer fazer, pode queimar completamente seus bairros, e pode pilhar todas as lojas locais como manda o figurino. Eles sabem que você não chegará a lugar algum. Eles sabem que a raiva cega se extingue por si própria. Eles sabem que chegará a hora em que todos esses insurgentes queiram ou não, retornarão de cabeça baixa aos seus empregos. Nada mudou. Nada foi organizado. Nenhuma nova associação foi criada. Os capitalistas perderão uma noite de sono se eles perderem uma cidade inteira? Eles podem dispor isto. Tudo que eles têm a fazer é isolar a área de conflagração, esperar que o fogo queime tudo e depois se apague, entrar e prender milhares das pessoas ao acaso, e depois ir embora, ao mesmo tempo em que deixam "os amotinadores" se lascarem dentro de seus próprios bairros arruinados se virando como podem. Talvez nós deveríamos pensar em algo menor mais que danifique o capitalismo do que queimar completamente nossos próprios bairros.

9. Desobediência civil. Atos de desobediência civil não podem destruir o capitalismo. Mesmo enquanto vigorosa expressão de um preceito moral. Mas preceitos morais são inócuos contra gente imoral. Entram por um ouvido e saem pelo outro. Então, o ato de deliberadamente quebrar uma lei e deixar-se aprisionar por isso é de limitado valor no que diz respeito a minar o poder dos governantes. Os atos de desobediência civil podem ser usados como armas onde o campo de batalha é o coração e a mente das pessoas comuns, supondo que elas estejam dispostas a abrir seus corações e mentes para essas coisas. Mas a verdade é que tais ações são praticadas por pessoas impotentes. Pessoas impotentes usam qualquer coisa que estão ao seu dispor. E é aí que está o X da questão. Por que permanecer impotente, em vez de adotar uma estratégia diferente (construir associações estratégicas) pela qual poderíamos nos fortalecer sem desperdiçar energia em atos impotentes de desobediência civil contra leis que não fizemos e que consideramos injustas? Além disso, a desobediência civil é uma tática usada principalmente por radicais bem estruturados, apoiados por uma extensa rede de amigos e familiares que tem por eles tal estima, respeito e consideração, que lhes dão a certeza de que não ficarão por muito tempo aprisionados. Isto não se aplica, naturalmente, a religiosos fortemente motivados que às vezes passam longos anos na prisão em defesa de determinado padrão de moralidade. Mas você quase nunca vê pessoas pobres ou minorias deliberadamente se submetendo à prisão, pois elas sabem que uma vez presas é improvável que saiam em pouco tempo. A desobediência civil tem a desvantagem adicional de que o movimento tem que gastar muito tempo precioso e dinheiro para tirar essas pessoas da prisão. Ora, se há uma multidão de indivíduos que nesse momento, de todas as maneiras, estão sendo presos contra suas vontades, porque temos que lutar para libertar pessoas que voluntariamente se entregam nas mãos de seus carcereiros?

10. Campanhas Específicas. Não podemos destruir o capitalismo com campanhas específicas. Mesmo que os radicais gastem grandes energias nestas campanhas. Há dúzias delas: campanhas para preservar as florestas, controle dos aluguéis, parar com matança de baleias, parar com experiências em animais, defender o livre aborto, parar com contaminação tóxica, parar provas nucleares, parar de fumar, parar a pornografia, parar testes de drogas, parar com drogas, parar guerra das drogas, parar brutalidade policial, parar com a falência dos sindicatos, parar pena de morte, parar racismo, parar sexismo, parar com abuso infantil, parar o reemergente tráfico de escravos, parar o bombardeio contra os palestinos, parar de matar sequóias canadenses, parar propagação dos anúncios, parar patenteamento de genes, parar captura e matança de animais para comércio de peles, parar com irradiação na carne, parar com alimentos geneticamente modificados, parar clonagem humana, parar com esquadrões da morte na Colômbia, parar Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio, parar a exterminação das espécies, parar corporações de comprar políticos, parar com avaliação educacional, parar uso de hormônio de crescimento bovino nas vacas leiteiras, impedir fim das rádios FM, parar com o efeito estufa, parar militarização do espaço, parar matança dos oceanos, e sem parar absolutamente nada. Tudo que conseguimos é desperdiçar nossas vidas tentando consertar um sistema que produz males mais rápido do que nossas ações tentando erradicá-los. Embora algumas destas campanhas usem a ação direta (por exemplo, pregos nos troncos para impedir o corte das árvores ou os botes do Greenpeace para bloquear os arpões dos navios baleeiros), a maior parte dessas campanhas são dirigidas no sentido de alterar leis no Congresso para corrigir o problema. Infelizmente, muitas vezes tais reformas são implementadas apenas depois de uma década, e depois de uma infinita agitação, e quando menos se espera, depois que os manifestantes se desmobilizam, ou depois que uma nova administração chega ao poder, as leis voltam a ser como eram antes. Claro que todas estas lutas têm valor e são necessárias. Quem se oporia as campanhas contra o efeito estufa, pela libertação de Leonard Peltier, ou pela ajuda ao Timor Leste? As campanhas específicas nos mantém atentos àquilo que está errado, e às vezes até mesmo saem vitoriosas. Mas por elas mesmas, elas não podem destruir o capitalismo, elas sempre estarão na defensiva. É utópico acreditar que possamos reformar o capitalismo. A maioria destes males só pode ser erradicado para o bem de todos nós se destruirmos o capitalismo e criarmos uma nova civilização. Não podemos desejar nada menos do que destruir o capitalismo. É a nossa própria sobrevivência que está em jogo. Existe uma campanha específica que endosso de todo meu coração: a erradicação total e permanente de capitalismo. Entretanto, muitos milhões de nós estamos desarraigados, totalmente alienados do local e da comunidade onde vivemos. Somos parte da vasta massa de indivíduos automatizados e concebidos para estar a disposição do mercado de trabalho, no sistema de escravidão-assalariada. Nossas atividades políticas tendem a refletir isto. Tendemos a agir como manifestantes à deriva. Mas poderíamos começar a mudar esse panorama. Para começar poderíamos nos arraigar em nossas comunidades locais. Claro que isto será mais possível para alguns do que para outros. Evidentemente, não pode haver nenhuma regra rígida e rápida. Muitos de nós poderíamos começar estabelecendo uma livre-associação no trabalho, em casa, e até mesmo no bairro. A partir destes três locais estratégicos podemos iniciar uma luta para acabar com aquilo que não gostamos, adotando campanhas específicas, que poderiam ser combinadas com aquilo que queremos. Teremos muito mais poder para parar com aquilo que não gostamos. Nossas campanhas específicas teriam uma chance de alcançar sucesso. Falta-nos livre-associação, assembléias livres, em nível local. Se adicionássemos esses ingredientes na mistura, estaríamos dando os primeiros passos para chegar em algum lugar. Poderíamos atacar a classe dominante por todos os lados. Há milhões e milhões de nós, o suficiente para fazer tudo o que é necessário, mas de tudo que fizermos tem que haver envolvimento a nível local, especialmente nestes três locais estratégicos.

11. Manifestações. Não podemos destruir o capitalismo organizando manifestações. Esta mais popular de todas as estratégias radicais também é uma das mais questionáveis. Invariavelmente, as manifestações pouco envergonham aos capitalistas, não os amedronta, nem mesmo os prejudicam. Em geral, elas são apenas uma espécie de reivindicação. Elas solicitam à classe dominante que considere alguma queixa, essencialmente pedindo mudança nas políticas. Elas não são projetadas para retirar qualquer poder ou riqueza das mãos dos capitalistas. Elas só duram algumas horas ou um dia ou dois e depois, com raras exceções, tudo volta a ser como era antes. Se elas ganharem ocasionalmente uma concessão, é normalmente secundária e de curto prazo. Elas não constroem um mundo social alternativo. Elas funcionam principalmente como um alerta à classe dominante de que precisa de um retoque, ou que crie novas medidas para se opor a uma fonte emergente de oposição. Mas mesmo que as manifestações cresçam mais e mais, e se tornem um modo de apresentar nossas demandas e de fazer nossa oposição conhecida, mesmo assim não há como saber se nossas exigências serão atendidas. Nossa oposição é vazia. É banguela. Para que nossas manifestações adquiram a capacidade de morder, teríamos que nos reorganizar, reorientar, arraigar, ajuntar, a nível local. Então quando retornássemos às manifestações de protesto contra as iniciativas e Projetos da classe dominante haveria algum músculo por detrás dos protestos, em vez de apenas gritos de slogans, bandeiras desfraldadas, pirulitos, escaramuças nas ruas, e bonecos espertos. Estaríamos prontos para entrar em ação se nossas exigências não fossem atendidas. Então quando disséssemos: "De quem são as ruas? As ruas são nossas! ", nossas palavras poderiam representar mais que uma viagem mental. A manifestação não é sequer uma boa ferramenta de propaganda, porque a classe dominante, devido ao seu controle da mídia, pode dar a versão que bem entender ao evento, e invariavelmente a interpretação que adota vai no sentido de prejudicar o movimento de oposição, não são raras as vezes em que silenciam completamente, como se nada estivesse acontecendo, pouco antes dos eventos eles simplesmente os ignoram, nem mesmo o mencionam. E isso funciona muito bem. E nós, o que ganhamos com isso? Um assunto pode atrair a atenção do público, ou melhor, de uma pequena parcela do público, porque para a maioria, o protesto dos manifestantes é neutralizado pela mídia corporativa. Também, pode ser que mais pessoas se juntem ao movimento de oposição. Para esses participantes, uma manifestação pode ser uma experiência inspiradora. (Em muitos casos, entretanto, este entusiasmo acaba arrefecido pelo desânimo de ter que voltar para casa e ver que tudo continua como era antes). Manifestações podem até contribuir na construção de um movimento de oposição. Mas os ganhos são maiores que os prejuízos? Grandes manifestações nacionais escoam mais energia e recursos do que as lutas locais. Elas valem a pena? Mas até mesmo manifestações locais são caras, enquanto requerem tempo, energia, e dinheiro que sempre saem do bolso dos radicais. Tais manifestações compensam todo o esforço e despesas aplicados em sua organização? Seja qual for a resposta, no final das contas foi apenas uma expressão de protesto. Elas revelam as coisas que não concordamos. Pela sua própria natureza, as manifestações tem um valor limitado para articular aquilo que pretendemos alcançar. Nos posicionamos contra a guerra no Vietnã, e daí? Nos posicionamos contra a Organização Mundial do Comércio, e daí? Em vez de tomar as ruas e passar o tempo todo marchando, protestando contra isto ou aquilo (enquanto a polícia tira nossas fotos), seria melhor ficar em casa e construir nosso próprio local de trabalho, construir nosso bairro, e construir nossas associações da Casas até alcançarmos poder suficiente para golpear o coração do capitalismo. Não podemos construir um novo mundo e uma nova sociedade nas ruas.

12. Novos Movimentos Sociais. Os chamados Novos Movimentos Sociais, baseados em gênero, identidades raciais, sexuais, ou étnicas, não podem destruir o capitalismo. Nem mesmo tentam fazer isso. Exceto um ou outro indivíduo radical dentro dos movimentos, as pessoas que compõem os movimentos tentam ser incluídos no sistema, não subverte-lo. Isto é verdade para mulher, negro, homossexual, e identidades étnicas (inclusive 'nativas'), como também para todas as outras identidades - idosos, deficientes, mães, e assim sucessivamente. Nada desviou tão completamente a luta anticapitalista durante o último quarto de século do que estes movimentos. Às vezes parece que identidade política é tudo aquilo que está à esquerda da esquerda. A identidade política simplesmente sufoca a política de classe. As versões populares destes movimentos (onde se luta para entrar no sistema em vez de subvertê-lo) proporcionou aos capitalistas uma chance de se mascararem como 'mais humanos', eliminando tensões aqui e lá, assumindo a inclusão simbólica dos representantes dos grupos excluídos. Muitas das reivindicações destes movimentos podem ser facilmente encaminhadas. Os capitalistas podem conviver com conselhos de administração por etnia, gênero, e diversidade racial, contanto que todos os sócios representantes sejam pró-capitalistas. Os capitalistas podem facilmente aceitar um gabinete arco-íris contanto que tal gabinete toque para a frente a agenda corporativa capitalista. A popularidade das políticas de identidade não constituem nenhuma ameaça ao capitalismo. São movimentos liberais, que apenas buscam reformar o sistema, não aboli-lo. Não obstante, as alas radicais desses novos movimentos sociais são bem mais subversivas. Estes militantes perceberam a necessidade de atacar a ordem social como um todo para desarraigar o racismo e o sexismo -- problemas que jamais serão superados sob o capitalismo, uma vez que tais problemas são parte integrante do capitalismo. É inegável que males como o racismo, o sexismo, e o nacionalismo compõe bases estruturais a serviço do controle da classe dominante. Estes militantes fizeram tudo que puderam para realçar, analisar, e minimizar estes males. Infelizmente, a maior parte de seus clamores se perdem no vazio no momento em que o sistema absorve a maior parte do movimento. Claro que houve um avanço. O movimento das mulheres mudou a consciência do mundo sobre gênero. O serviço doméstico não pago foi reconhecido como um ingrediente fundamental no sistema de escravidão-assalariada. A reprodução, como também a produção, foi incluída em nossa análise do sistema. As políticas de identidade em geral descortinaram a quantidade de pessoas excluídas, expondo as falhas das estratégicas revolucionárias anteriormente delineadas. Também, as reivindicações por igualdade racial e de gênero são por elas mesmas inerentemente revolucionárias. Todavia, os capitalistas jamais cederão a tal exigência, pois a discriminação racial e de gênero constituem dois dos mecanismos estruturais, dois fundamentos essenciais para a manutenção dos salários baixos, possibilitando os lucros. Não obstante, estou convencido de que continuaremos tropeçando em nossas próprias pernas, a menos que retomemos a política de classe como prioridade absoluta, integrando as lutas de gênero, racial, sexual, e igualdade etária, à luta de classe.

13. Boicotes. Boicotes não podem destruir o capitalismo. Eles sempre foram um modo extremamente ineficaz de atacar o sistema, e quase impossível desenvolver qualquer lampejo de organização através dessa tática. Eles quase invariavelmente falham em seus objetivos. Nos raros casos em que são bem sucedidos, os ganhos são secundários. Uma corporação é forçada a remendar suas políticas de trabalho aqui e ali, parar de fabricar determinado produto, ou mudar de lugar. É tudo o que pode acontecer. Nos últimos anos boicotar tornou-se um modo de vida para milhares de ambientalistas. Eles publicam volumosos livros relatando quais produtos devemos comprar e quais devemos boicotar, abrangendo literalmente tudo, desde papel higiênico até desodorantes, alimentos e brinquedos. Tudo que eles conseguem fazer é criar toda uma nova indústria capitalista de produtos politicamente corretos. Eles compraram o mito de que a "economia" nos dará qualquer coisa que queiramos, basta exigi-la, e que são nossos desejos que estão errados, não o próprio sistema. É verdade que é melhor não comer alimento poluído com inseticidas, que é melhor não usar roupas feitas com mão-de-obra infantil, que é melhor não usar maquiagem cujos testes cegam os coelhos. Mas o capitalismo não pode ser destruído fazendo tais escolhas. Se tivermos que boicotar algo, poderíamos tentar boicotar a escravidão assalariada.

14. Isolamento. Não podemos destruir o capitalismo isolando-nos, enquanto indivíduo, pequeno grupo, ou comunidade. Continuamente vemos gente fazendo isso e não passa muito tempo vem a notícia de que fracassaram, e sempre fracassam. Não há como fugir do capitalismo. Não existe nenhum lugar para onde ir, em parte alguma. A única maneira de se livrar do capitalismo é destruí-lo. Então poderíamos ser livres. Na realidade, os capitalistas adoram quando caímos fora. Eles não precisam de nós. Eles já têm uma quantidade suficiente de pescoços cheios de sangue para chupar. De que lhes importa se vivemos debaixo de pontes, famintos, e morremos jovens? Eu nunca vi a classe dominante ansiosa por ajudar sem-teto. Não há nada mais ilusório do que pensar que o isolamento de um indivíduo levará uma comunidade inteira a se retirar do sistema para poder construir seu próprio pequeno mundo novo em outro lugar. Isto foi tentado repetidas vezes por Casas utópicas ao longo do século dezenove. A estratégia renasceu nos anos sessenta com milhares de radicais da nova esquerda se instalando em seus agrupamentos rurais remotos para viver em Casas (e dopar-se). A estratégia está aparecendo mais uma vez no movimento New Age com dezenas de Casas new age sendo formadas por todo lado nos Estados Unidos. Estes movimentos todos caíram no erro de que não tem que atacar o capitalismo e destruí-lo, mas simplesmente retirar-se, viver suas próprias vidas separadamente e independentemente. É uma terrível ilusão. Os capitalistas governam o mundo. Enquanto não forem derrotados ninguém será livre.

15. Ludismo. Quão maravilhosos foram os luditas, enquanto um dos mais ferozes opositores do capitalismo. Mas destruir maquinas, por si só, não pode destruir o capitalismo, da mesma forma que insurreições e greves também não o podem, pois suas ações não são projetadas para substituir o capitalismo com novos arranjos para a tomada de decisão. Tais coisas nem mesmo atingem o coração do capitalismo - a escravidão assalariada - mas apenas o aspecto físico da fábrica, os meios materiais de produção. Mesmo que a sabotagem, em larga escala, se estiver ligada a um movimento para destruir o capitalismo e substitui-lo por qualquer outra coisa, possa debilitar o mundo corporativo e provocar uma tensão na acumulação de capital, seria bem melhor para nós tomar posse das máquinas em vez de destruí-las. (Não que queiramos a maquinaria existente da forma como ela se apresenta; naturalmente ela terá que ser redesenhada; mas tomá-la para nós mesmos como forma de adquirir controle em cima dos meios de produção). Além disso, os luditas já estavam escravizados pelos capitalistas dentro de suas indústrias caseiras, antes mesmo que pudessem golpear. Eles se irritaram porque a maquinaria nova estava eliminando o trabalho habitual que eles faziam (uma velha forma de levar a vida, relativamente ligada a uma forte tradição). Nas condições atuais, seria como se os operadores em linotipo destruíssem os computadores por eliminar suas funções. O ponto crucial não está no ato de destruir equipamento novo. O problema não está na maquinaria mas na escravidão-assalariada. Se não fosse pela escravidão-assalariada daríamos boas-vindas aos dispositivos que diminuem o esforço humano, desde que não fossem destrutivos de outras maneiras, para nos livrar da labuta desnecessária. Podemos nos inspirar nos luditas, como um bom exemplo de trabalhadores que resistiram agressivamente diante da eminente degradação de suas vidas, mas não deveríamos imita-los, pelo menos não como uma estratégia geral.

16. Publicações. Nós não podemos destruir o capitalismo com publicações. Duvido se alguém acredite que isso é possível. Eu só menciono isto aqui porque muitos de nós adotamos essa prática. Vivemos publicando coisas. Nosso argumento é que livros radicais, revistas, e jornais são armas na luta contra a hegemonia cultural burguesa. E isso é verdade. Mas nos permitem publicar porque a classe dominante não está nem um pouco preocupada com nossas rápidas anotações da "imprensa subterrânea." Suas armas — televisão, rádio, filmes, escolas — são infinitamente mais poderosas. Contudo, é perfeitamente concebível destruir o capitalismo sem publicação alguma. A estratégia de nos agruparmos nos locais de trabalho, bairros, e associações de moradores poderia ter êxito e poderia esparramar essa idéia boca-a-boca, de comunidade para comunidade. Destruir o capitalismo tem mais a ver com rearranjo social (reconstruir nossas relações sociais) do que propagar uma gama particular de idéias. Assim em vez de começar nosso próprio zine, por que não chamamos os colegas de trabalho ou nossos vizinhos para formar uma associação?

17. Educação. Não podemos destruir o capitalismo pela educação. Já não são muitos os radicais que recomendam esta estratégia, embora você ainda ocasionalmente ouça isso aqui e ali. As novas esquerdas radicais estabeleceram escolas livres e até mesmo uma ou duas universidades livres, houve até um forte e vasto movimento da escola moderna entre os anarquistas. Mas já faz muito tempo. Porém, a noção que a educação é o caminho para mudar e para consertar o mundo é muito comum entre as pessoas. É como chamar um cão preso pelo rabo. Não temos nem mesmo controle sobre as escolas, ou sobre o que lá é ensinado. Escolas e educação são artefatos, o menor deles, em poder da classe dominante, e são mais um reflexo de seu poder em cima de sociedade. Um poder que deve ser quebrado. E isso não será feito por escolas. Até mesmo porque a própria noção de educação, como uma atividade separada da vida, precisa ser superada. O aprendizado entre pessoas livres será notavelmente diferente. Quando conquistamos autonomia, e estarmos diretamente engajados na luta para derrotar nossos opressores, aí sim, será o momento de nos preocuparmos como devemos administrar nossa aprendizagem.

DESTRIPANDO O CAPITALISMO

1. Forme uma associação de bairro. Reuna alguns vizinhos e forme uma associação de bairro. Celebre reuniões regulares. Estas reuniões formarão a base, mais tarde, das assembléias dos bairros. Ela, juntamente com as associações de empregados e as associações de Casas são as três coisas mais importantes a fazer. Pode parecer insensato no princípio, uma vez que tais associações não terão nenhum poder ou dinheiro. Mas elas começarão a atrair energia e se tornarão pontos focais na recuperação do poder e riqueza que o capitalismo usurpou da comunidade.
2. Forme uma associação de empregados. Reuna alguns colegas de trabalho no local de trabalho e forme a associação de empregados. Evite sindicatos. Você sempre acaba colidindo com eles nos momentos cruciais. Celebre reuniões regulares. Estas reuniões formarão a base, mais tarde, das oficinas de autogestão (5) (parte da estrutura que permitirá escapar da escravidão assalariada). Uma oficina pode conter vários grupos. Apenas através de associações (frente-a-frente) como estas é que a cultura da oposição autônoma pode ressurgir. Mesmo que você comece apenas com meia dúzia de pessoas, ficará patente ao redor que há gente que se reúne para discutir problemas relativos ao trabalho. Tais encontros se tornarão um foco de resistência cotidiana à cultura corporativa. Sem esta contra-consciência não há qualquer possibilidade de uma oposição efetiva. (veja também: "o que podem fazer as associações de empregados?" em Discussão Adicional.)
3. Forme uma Associação Cooperativa Habitacional. Isto pode ser feito agora mesmo. Várias famílias podem juntar recursos e comprar um edifício ou espaço para formar uma Casa. Grupos de pessoas, solteiros ou casados, já alugam, moram juntos e vivem cooperativamente. Onde comprar é uma pergunta que pode ser respondida apenas pela Associação de Inquilinos de seu edifício ou vila. Tente começar a compartilhar recursos e viver cooperativamente. Estas associações cooperativas entre vizinhos formarão a base, mais tarde, das Casas, como em nosso esboço inicial. (veja também "o que as associações da Casas podem fazer?" em Discussão Adicional).
4. Construa um Local de Assembléia. Reuna recursos com os vizinhos e construa um local de reunião. O primeiro bairro que fizer isso passará à história como fundador de uma nova civilização. A maioria dos bairros, não importa quão pobres sejam, sempre acham um jeito de providenciar dinheiro para construir igrejas. Se quisessem eles poderiam construir um local de reunião. Obviamente, antes de mais nada, devem sentir a necessidade desse espaço, de se associar e de começar a exercer controle sobre suas próprias vidas em cooperação com seus os vizinhos. Devem ver as reuniões como uma encubadora de um modo novo de vida.
5. Organize atividades produtivas próprias. Atividades produtivas próprias, por si só, não podem destruir o capitalismo. Enquanto atuem dentro do mercado capitalista irão falir a menos que dêem lucro. Realmente, elas substituirão o negócio capitalista tradicional, de forma a unir a pequena burguesia. O que a nova esquerda disseminou no começo dos anos setenta? Criamos uma grande quantidade de pequenos negócios que imaginávamos ser "instituições alternativas" (na verdade estávamos tentando montar um negócio para nós mesmos). Havia lanchonetes, livrarias, creches, clínicas, editoras, oficinas de conserto de auto, jornais comunitários, sapatarias, lojas psicodélicas (com roupas, bens de couro, música), e assim sucessivamente. Mas os capitalistas não foram em nada atingidos. Pelo contrário, se beneficiaram grandemente. Assumiram em massa todas nossas novas criações e simplesmente as comercializaram, lucrando bilhões com isso. Não obstante, há duas diferenças muito importantes pelo menos entre o negócio capitalista tradicional e a atividade produtiva própria. O modo alternativo pode abolir hierarquias internas e pode autogerir a loja, oficina ou fábrica de um modo democrático, e com maior flexibilidade para o uso de qualquer riqueza extra criada. Em vez de pagar dividendos a acionistas eles podem usar a renda para apoiar movimentos de oposição, ou simplesmente elevar seus próprios salários, podem encurtar as horas de trabalho, ou abaixar seus preços. (De fato, na vida real a maioria dos alternativos acabam trabalhando mais e recebendo menos do que os donos de uma empresa tradicional -- essa diferença é provocada pela extração da mais valia dos empregados. Eles também tendem a começar agindo de uma forma democrática mas acabam virando administradores, devido em grande parte eu penso às pressões e tentações do mercado capitalista ao redor, fora as falhas inerentes à natureza humana). Se houvesse dúzias de atividades produtivas próprias em uma Casa, provendo serviços necessários e produtos úteis, além de apoiar lutas anticapitalistas, elas poderiam acumular uma rica experiência e se tornar o núcleo inicial, mais tarde, para os Projetos autogeridos nos bairros autônomos democráticos. Poderiam se tornar a base de um trabalho socialmente consciente, cooperativo, democraticamente discutido, ao invés de simples compradores e vendedores. As atividades produtivas próprias estão crescendo nos Estados Unidos (cerca de 1500, acho). Algumas delas no mesmo ramo de produção estão formando redes de apoio mútuo e compartilhando informações. Contudo elas só se tornarão revolucionárias se participarem de um movimento para destruir o capitalismo e construir qualquer outra coisa, como o esboçado neste folheto, por exemplo.
6. Tente converter empresários familiares locais à forma de vida autônoma e democrática. Quer dizer, tente convence-los trocar sua propriedade privada por Projetos alternativos controlados pela Assembléia de Casas. Isto pode não ser tão difícil quanto imaginamos no princípio. A pequena burguesia (isto é, a pequena empresa familiar) é uma das classes mais desesperadas e miseráveis do capitalismo. Eles trabalham horas incrivelmente longas. Pouquíssimos deles enriquecem. Pelo contrário, estão perdendo tudo que possuem, aos milhares. Todo seu dinheiro e todos seus longos anos de trabalho estão escoando pelo ralo. Aqueles que ainda sobrevivem estão à beira da falência. Eles constantemente vão sendo, um a um, engolidos pelas de lojas de rede. Duvido que a pequena empresa seja aquela coisa maravilhosa. Estas pessoas estão no limite do mundo incorporado. Estão em franca decadência a mais de um século. Talvez alguns deles estejam a ponto de desistir. Nem todos tinham a ilusão de enriquecer, queriam apenas "ser o próprio chefe". Quer dizer, eles se esforçaram por escapar da escravidão-assalariada abrindo seu próprio negócio. Mas há outro modo de escapar da escravidão assalariada e ser seu próprio chefe — participando de um Projeto alternativo. Se pudéssemos convencer pelo menos 10 por cento desses proprietários a converter suas propriedades em cooperativas e encubadoras de Projetos, teríamos base financeira para iniciar um processo de autonomia barrial. Se pudéssemos convencer 20, 30, ou 40 por cento, teríamos uma base material muito significativa para transformar nossos bairros.
7. Na medida do possível transferir nossas atividades para dentro dos Projetos autogeridos. Deveríamos trocar nosso emprego do gigantesco mundo corporativo pelos emergentes Projetos alternativos de nosso bairro. A riqueza que produzimos anteriormente foi sugada para dentro dos cofres do capitalismo global. A riqueza que produzirmos posteriormente ficará retida no bairro. Entretanto, há um enorme perigo aqui, ou seja, o conformismo. Não podemos arrefecer nosso ataque global contra o capitalismo. Não devemos aceitar morar em favelas, viver com dificuldade em bairros pobres, mesmo que sejam autônomos, enquanto o capitalismo prospera.
8. Adotar moeda corrente local. A maioria das pessoas nem mesmo sabe que não temos que usar o dinheiro da classe dominante (moeda oficial do governo) ou que podemos emitir nosso próprio dinheiro. O dinheiro local, há muitos tipos, nos ajudará a libertar-nos do mercado mundial, fortalecer mercados locais, e assim construir auto-suficiência e autonomia. O dinheiro local nos permite interromper a circulação do dinheiro de nossos opressores, e assim escapar, parcialmente, do sistema de controle baseado naquele dinheiro. Moedas correntes locais também provêem um modo de estancar a riqueza que se escoa para fora da comunidade. Embora moedas correntes locais sejam possíveis agora (e muitas experiências estão a caminho) elas provavelmente serão proscritas se a moda pegar.
9. Organize uma sociedade comunitária para o uso da terra. Uma associação não-lucrativa que adquire e cuida da terra em interesse público. Trata-se de um instrumento legal em vigor nos Estados Unidos que os autonomistas deveriam usar mais. Elas constituem uma forma de enfrentar a indústria de bens imóveis, e de resistir à contínua concentração da propriedade da terra. Da mesma forma que as Corporações de Desenvolvimento Comunitário, elas podem facilmente se tornar retrógradas, mas funcionando corretamente, elas poderiam se tornar, mais tarde, uma base para que todas as terras ocupadas pelo bairro sejam controladas por aqueles que vivem e trabalham nesse bairro. Assumir o controle da terra é sempre o primeiro passo que os capitalistas tomam quando começam a atacar a autonomia das pessoas. Conosco, no caroço países capitalistas, a terra tem sido muito tempo. Mas em muitas partes do mundo a escrituração (expropriação da terra pelos senhores) está ocorrendo agora mesmo, e em escala massiva. Em toda parte do mundo, os camponeses e pessoas nativas estão sendo forçados a registrar suas propriedades, tradicionalmente definidas como comunais, de propriedade coletiva, assim, transformam a terra em uma mercadoria, algo que pode ser comprado e vendido, sob a tutela do estado e pelas regras do mercado. Organizar uma sociedade comunitária para o uso da terra não supera o problema da terra que é tratada claramente como uma mercadoria, pois a terra ainda tem um título registrado pelo estado. Elas se constituem apenas em uma válvula de escape, mas, de qualquer forma, é algo que pode ser usado imediatamente para iniciar o processo de reapropriação da terra.
10. Comece a usar a energia do sol/vento. Isto é mais fácil para as pessoas que moram em cidades pequenas e aldeias. O sol e o vento podem prover todas as necessidades elétricas de uma comunidade pequena. Será mais difícil para as pessoas que moram em densos bairros urbanos ou suburbanos. A energia fornecida pelo sol e pelo vento é de longe a mais barata. Está em ponto de bala, como quem diz, mas sob o controle corporativo – vastas instalações captadoras da energia do sol e do vento já proporcionam eletricidade para as grandes corporações. O que as Casas, até mesmo individualmente, precisam fazer é usar essa nova tecnologia para se libertar das contas de luz, alcançando mais um pouco de auto-suficiência e autonomia. Pode chegar um momento quando isto pode significar um caso de vida ou morte. Por agora é um passo essencial para a tomada do poder, em ambos os sentidos, das mãos do capitalistas e devolvê-lo às comunidades democráticas, seus verdadeiros donos.
11. Começar a produzir nosso próprio alimento. Isto só fará sentido no contexto das lutas para o fortalecimento das comunidades locais e para a destruição do capitalismo. O objetivo é recuperar gradualmente a auto-suficiência e a autonomia para poder abandonar e conseqüentemente destruir o sistema de lucros. Caso contrário, nunca sairemos das garras capitalistas. Os capitalistas já não precisam de milhões e milhões de pessoas. Eles não se importam com nossas pequenas hortas vegetarianas, nossos seminários nas garagens e salas, nossa luta por resolver as cruas necessidades da vida. Desde que eles controlem as principais tecnologias, os governos, mercados, de uma forma suficiente para a acumulação continua de capital. Se podem controlar o mundo, eles estão contentes. Eles ficariam contentes se milhões de nós simplesmente desaparecêssemos. Na realidade eles já falam sobre isto, todo o tempo, e esperam por isto. Assim, a tática de 'começar a cultivar uma parcela de nosso próprio alimento' não se origina de qualquer ilusão romântica sobre a mãe natureza ou trabalhar com as próprias mãos, mas de nossa terrível necessidade de estabelecer a independência para sobreviver. As populações urbanas de hoje são inimaginavelmente vulneráveis à interrupção do fornecimento de alimento. E não pense nem por um minuto que os governos e corporações não chegariam a ponto de bloquear remessas de comida, se puderem, para proteger a si mesmos e ao sistema ao qual se devotaram. Na realidade, estruturalmente, eles induziram uma tal escassez que já atingiu níveis epidêmicos no mundo contemporâneo. Assim, o ato de 'cultivar uma parcela de nosso próprio alimento' não se aplica apenas às populações do primeiro mundo, mas também, e especialmente, aos países mais pobres que são forçados a importar alimentos básicos, enquanto suas próprias terras ficam a mercê de exportações lucrativas como (por exemplo, café, açúcar, bananas, carne bovina). Não precisamos de fazendas para começar a produzir alimentos. Podemos fazer isto no quintal, ou em jardins em cima da laje. Podemos construir estufas em nossas casas, e tentar cultivar aqua e hidropônicos (cultivo de plantas fora do solo, em águas contendo substâncias químicas). Há muitas maneiras para começar a nos livrar da agroindústria.
12. Monte um armazém no bairro para facilitar a ajuda mútua. Para começar, pode ser simplesmente um depósito onde as pessoas doam as coisas que não precisam e retiram as coisas que precisam. Isto poderia incluir, por exemplo, comida, na medida em que as pessoas no bairro comecem a produzir cada vez mais seu próprio alimento. Uma pessoa ou família que cultive mais comida do que necessitem doarão o excedente ao armazém onde as pessoas e famílias que precisem do alimento possam retirar. Será um modo de ajuda mútua e compartilhamento. Também poderia incluir roupa, especialmente roupas infantis. As roupas que não servem mais nas crianças podem ser doadas (ou devolvidas) ao armazém para estar a disposição de outras crianças que precisem deles. O mesmo pode ocorrer com brinquedos, e muitos outros artigos, como livros, pratos, mobília, eletrodomésticos, sobras de estoque, madeira, e ferramentas. Quanto mais o bairro se liberta do mercado, mais coisas de necessidade vital (e até mesmo supérfluos) irão para o armazém. Eventualmente, toda a produção - industrial, agrícola, etc. - será estocada no armazém. Depois que foram satisfeitas as necessidades do bairro, o excedente produzido será trocado com outros bairros. Poderia haver armazéns inter-bairros, inter-regionais, ou armazéns para alguns artigos específicos. Por arranjos como estes poderemos eventualmente abolir o dinheiro. Montar armazéns como esse é algo que poderia ser feito agora mesmo, em todo bairro. Em algumas Casas, já existe uma organização semelhante, na forma de lojas de frugalidades dos mais variados tipos (Exército de Salvação, Goodwill, Veterans). Nestes lojas, embora os bens normalmente sejam doados, os artigos são, contudo, vendidos a dinheiro. Mas em um armazém voluntariamente organizado e fluente, o dinheiro poderia ser eliminado.
13. Apoie a medicina ortomolecular e o movimento de cuidado médico preventivo. A medicina da forma como é exercida é uma instituição dominante que busca controlar-nos da mesma forma que as escolas, as corporações e o próprio governo fazem. Ela também quer nos vender drogas, nos vicia (para que possam vender mais), e nos mantém voltando vez após vez. Temos que começar a romper com tudo isso, começar a reduzir sua influência sobre nossas vidas, começar a destripar esse poder. O melhor modo para fazer isto é não adoecer. Temos que aprender a cuidar de nossa própria saúde. Temos que aprender a cuidar de nós mesmos. Um passo nesta direção é tornar-se defensor e partidário da medicina ortomolecular – uma nova filosofia de saúde e doença fundada nos anos setenta por Linus Pauling e seus colegas, que representaram de fato mais uma cristalização de uma saúde alternativa existente que há muito se pratica, embora certamente desse a ela uma característica nova e uma base científica mais profunda. Só deveríamos buscar doutores e hospitais em último caso, e quando formos temos que questionar tudo o que eles fazem. Nunca deixe que eles tratem você como pedaços de carne. Nunca deixe que eles façam qualquer coisa a você sem força-los a explicar isto, e fazê-lo esperar até que decidamos se queremos ou não o tratamento. Alguns de nós também deveríamos tentar começar estabelecer clínicas de saúde no bairro. Isto será difícil porque a medicina é firmemente controlada pelo estado, juntamente com a indústria farmacêutica, companhias de seguros, e pelos doutores através de suas organizações profissionais. Não obstante, algum progresso seguramente pode ser feito em clínicas de bairros controlados. Mesmo que seja para atividades meramente educacional no sentido de esparramar um movimento de cuidado médico preventivo. Estas clínicas se tornarão, mais tarde, os meios através dos quais recuperaremos o controle dos cuidado médico pelos nossos bairros autônomos democráticos. Naturalmente, as pessoas que já trabalham em hospitais deveriam formar associações de empregados, na expectativa de eventualmente assumirem os hospitais. Mas a tomada dos hospitais se dará, provavelmente, simultaneamente ao da tomada de fábricas, fazendas, escritórios, e lojas. Enquanto isso, deveríamos, na medida do possível, nos libertar da medicina oficial praticando cuidados médicos preventivos e estabelecendo clínicas de bairro independentes.
14. Não se mate de trabalhar. Em termos gerais, não há nada mais óbvio que uma operação tartaruga (claro que greves tartarugas são válidas). Quando iniciamos um novo trabalho deveríamos trabalhar um nível abaixo de nossa verdadeira habilidade. Nunca deixe-os saber que podemos fazer mais. Faça o mínimo que puder desde que não seja demitido. Isto pode configurar um nível realmente alto de produção em um mercado de trabalho muito competitivo onde há milhões de empregados puxa-sacos que tentam impressionar seus patrões e ganhar mais (isto é, ser promovido) ou no mínimo manter seus empregos. Mas quanto mais trabalhadores adotarem a atitude de produzir o mínimo possível mais difícil será os patrões descobrirem aquilo de que realmente os trabalhadores são capazes de fazer. A secular luta entre capitalistas e trabalhadores situa-se precisamente na necessidade que os capitalistas tem de extrair mais valia dos produtores diretos que aquilo que eles pagam em salários e benefícios. Esta batalha foi, e está sendo, travada em cima da jornada de trabalho, salários, velocidade de produção, acidentes de trabalho, tempo de férias, intensidade de trabalho, licença médica, período de almoço, horas extras, idade de aposentadoria, saúde e pensão beneficia, e assim por diante. Qualquer coisa que exija um maior pagamento por parte dos capitalistas e uma diminuição dos seus lucros debilita o mundo deles e fortalece o nosso. Mas "fazer corpo mole no trabalho" vai um pouco além destes outros tipos de luta. Nenhum negócio poderia durar um ano não fosse pelo entusiasmo, energia, e dedicação dos trabalhadores em sua labuta. Isto acontece em toda parte, em todo canteiro de obras, em toda fábrica, e em todo escritório. Sempre há aqueles poucos que mantém o andamento empresarial, ou até mesmo o mantém operando suavemente. O capitalismo desmoronaria sem esta energia criativa, sem esses resolvedores-de-problemas, sem esta inteligência livre aplicada a situações novas. Basta observar o que acontece quando alguns trabalhadores tentam "trabalhar para valer" – as coisas começam a se desvendar rapidamente. Os capitalistas ainda continuam pregando que os trabalhadores fazem apenas o que eles mandam e que não pensam sobre o que fazem ("apenas faça") ou ("just do it"). Ao mesmo tempo em que normalmente culpam os trabalhadores quando coisas dão errado, por não terem visto o problema e tomado a iniciativa para corrigi-lo. O princípio de ‘fazer corpo mole’ significa não assumir qualquer responsabilidade pelo sucesso do negócio, não trazer nenhum entusiasmo a nosso trabalho, não fazer nada quando as coisas derem errado, não resolver nenhum problema da produção para os patrões, não prestar nenhuma informação, não criar nada novo, não melhorar nenhum procedimento - em suma: faça o mínimo possível. Aí está uma fórmula de impedir que os capitalistas extraiam riqueza de nosso trabalho. Isto também constitui um importante azeitamento na engrenagem do processo de acumulação sem o qual o sistema entraria em colapso.
Sempre houve pessoas lentas no trabalho. Isto freqüentemente cria tensões porque os outros trabalhadores normalmente têm que fazer o trabalho que os ‘preguiçosos’ não estão fazendo. Mas o que aconteceria se todos nós, ou a maioria de nós, nos tornássemos ‘preguiçosos’? A estratégia do ‘fazer corpo mole’ sugere precisamente isto - que todos nós possamos inventar uma doença para não ir trabalhar. Isto vai porém contra o caráter, pelo menos de muitos de nós. É natural querer fazer as coisas direito, desenvolver habilidades, ter orgulho de nosso trabalho. Entretanto, temos que perceber que nossos exploradores contam com nossas boas motivações e as usam contra nós. Nossos instintos naturais em superar as dificuldades estão sendo usados para destruir nós mesmos, nossas Casas, e efetivamente a própria terra. Finalmente, até que ponto qualquer indivíduo pode se tornar um ‘corpo mole’ variará, depende da situação da pessoa e de sua personalidade. Pessoas que possuem famílias grandes, muitos amigos, e em meio a muitos colegas de trabalho, são mais fáceis de serem demitidas. Ao contrário de pessoas muito isoladas. Também, há aquelas que tem mais medo que as outras, sendo mais vulneráveis às pressões, e às ameaças dos patrões. Apenas pessoas destemidas e seguras podem desprezar a arrogância dos patrões e dos chefes. Se pudéssemos conseguir que nossos bairros, locais de trabalho, e associações da Casas estivessem de nosso lado, teríamos coragem suficiente para fazer ‘corpo mole’ no trabalho. Outra coisa de vital importância estratégica, é nos dedicarmos a tarefas não exploradas pelos capitalistas, assim, enquanto construímos nosso mundo, arruinamos o deles. O princípio estratégico do ‘fazer corpo mole’, poderia se tornar o componente central dentro de uma cultura de oposição ao capitalismo, e é algo que pode ser iniciado hoje mesmo por toda pessoa empregada. "Just don’t do it". Apenas não faça. Não esquente a cabeça. Não crie nada. Naturalmente, há precauções de segurança que devem ser observadas. Operadores de guindaste, pilotos, motoristas de ônibus, cirurgiões (e dúzias mais de trabalhadores em funções críticas) devem ser suficientemente hábeis para assegurar que ninguém se machuque. Entretanto mesmo dentro destes limites há ainda bastante coisa a fazer. A maioria das funções não são em nada críticas. Também, o ‘fazer corpo mole’ no trabalho deve ser acompanhado por um esforço determinado por construir algo de qualidade em outro lugar. Caso contrário, o "corpo mole" pode se tornar um modo de vida, nada mais que um atoleiro de preguiça e apatia.
15. Organize localmente para interromper as ofensivas da classe dominante na comunidade. Já há numerosos exemplos de coisas assim. Uma cidade inteirinha se mobilizou para impedir que a instalação de um Wal-Mart destruísse todas as pequenas empresas locais. Casas tem se mobilizado para forçar a retirada de restos de lixo tóxico. Bairros se organizaram para impedir a construção de vias expressas no meio de suas casas. Algumas expansões suburbanas (prejudiciais às populações) foram bloqueadas. Projetos de construção de represas foram interrompidos. Florestas, pântanos, praias foram salvas. E assim sucessivamente. É aí onde os capitalistas tem que ser bloqueados - localmente, em nossas Casas. Por que? Porque é lá que está a nossa força. Mesmo que cem mil militantes convergissem periodicamente pelas cidades e capitais ao redor do mundo protestando contra as reuniões de cúpula das classes governantes, não seria nada comparado às dezenas de milhões, centenas de milhões de pessoas em todo mundo, que poderiam estar se ocupando de lutas a nível local. A maioria das pessoas não pode ir para manifestações regionais, nacionais, ou continentais. Eles têm que trabalhar e não podem deixar o trabalho deles. Viajar sai caro e acima das possibilidades de muitas pessoas. Além do mais muitos têm responsabilidades familiares. O ato de protestar em reuniões de cúpula é necessariamente limitado principalmente àqueles estudantes mais abastados e outras celebridades do movimento que podem dar-se ao luxo de operar a nível nacional ou global. Naturalmente, um certo número de pessoas conseguem se deslocar para estes eventos, gastando seu tempo de férias, muitas vezes gastando seus parcos recursos, ou coisa parecida. Mas elas não são a maioria. Além disso, para poder derrotar os capitalistas a nível global, teríamos realmente que tomar o controle de governos nacionais, e isso simplesmente não está em pauta. Por mais efetivos que sejam os protestos nacionais e globais em realçar assuntos, articular demandas, e pressionar nossos governantes, é a nível local que as reais batalhas tem que ser travadas.
16. Aplique o código penal aos capitalistas e funcionários do governo. Isto já começou a acontecer. É surpreendente que coisas assim não estejam acontecendo há muito tempo atrás. Nesses dias um par de executivos corporativos foram condenados por assassinato, porque conscientemente permitiram que um empregado morresse por envenenamento no local de trabalho. Foi o primeiro caso deste tipo na história dos Estados Unidos. O Pinochet esteve preso e está sendo julgado no Chile. Kissinger poderia perfeitamente ser levado aos tribunais como criminoso de guerra. Cavallo está preso na Argentina por tráfico de armamentos. Essas coisas são ótimas, é bom que estejam acontecendo. Se apenas pudéssemos aplicar o código penal na cabeça dos próprios capitalistas, funcionários do primeiro e segundo escalões, seria por sí só mais que suficiente para destruir o capitalismo, porque o capitalismo não funciona (quer dizer, os capitalistas, enquanto classe mundial, não podem obter lucros) sem violência, brutalidade, opressão, roubo, mentiras, e assassinato. O capitalismo requer a prática de todas estas coisas horríveis para continuar funcionando, falando em termos gerais. Se pudéssemos aplicar nas cabeças deles as mesmas leis que todos nós temos que obedecer, suas fraudes viriam à tona, e o sistema desmoronaria.
17. Democratize todas as associações voluntárias. Quando digo democratize, refiro-me, é claro, à democracia direta, por meio da qual uma associação é operada cooperativamente, por assembléias frente-a-frente. Infelizmente, a prática da democracia direta quase desapareceu de nossa cultura. Ao invés dela, a primeira coisa que fazemos quando conseguimos estabelecer uma associação, é eleger diretores e investir autoridade sobre eles, isso esvazia nossos encontros, e mina nosso poder de governo autônomo. Quer dizer, estabelecemos uma hierarquia, embora isto seja visto como democrático (periodicamente escolher líderes por eleições). Mas esta prática poderia ser abandonada e poderíamos retomar à prática da democracia direta. Ninguém nos impede de fazer isto agora mesmo, em todas das muitas e mais variadas associações estabelecidas por nós, sejam elas sociedades educacionais, um clube de xadrez, um time de beisebol, associações de pais e mestres, organizações profissionais, orquestras, clínicas de saúde, clube de jovens, lanchonetes, ou seja lá o que for. Isto poderia ser feito em todas as organizações que nós estabelecemos e que não estão registradas no Estado. Quanto às corporações denominadas não-lucrativas que são registradas no Estado (quer dizer, incorporadas pelo Estado), normalmente é requerido, através de lei, a presença obrigatória de um conselho de administração e uma diretoria. Não obstante, em muitos casos, é possível fazer a papelada para satisfazer para as exigências oficiais (que exige o estabelecimento de uma hierarquia, quer dizer, uma estrutura autoritária para o empreendimento), mas adotar o Projeto internamente, não-oficialmente, pela democracia direta. No momento, a triste realidade é que as corporações não-lucrativas, as chamadas, organizações não-governamentais (ONGs) são quase que invariavelmente autoritárias. Mas isto é algo que podemos mudar. Na medida em que a moda pega, e tudo começa a se democratizar, tais corporações adotarão esse caminho. A experiência angariada pela democracia direta em nossas associações voluntárias, não-lucrativas, e ONGs nos ajudariam posteriormente em nosso local de trabalho, bairro, e assembléias de Casas.
18. Rejeite as divisões do conhecimento social. Aproximadamente cem anos atrás, em grande parte respondendo a um poderoso movimento de trabalhadores e a uma vigorosa cultura radical, os conservadores na Europa começaram a dividir o conhecimento social em campos ou disciplinas, que rapidamente foram institucionalizadas como departamentos em universidades, e depois como ocupações no mercado de trabalho. As principais divisões foram economia, ciência política, e sociologia. A história ficou totalmente separada como uma disciplina especializada e mais limitada, como a filosofia. A psicologia já havia sido colocada à parte anteriormente. A antropologia foi incluída. Não há a menor justificação para nada disso que foi feito. Não há nada que justifique uma divisão como economia, por exemplo. Mas isso soa como uma pergunta idiota às mentes contemporâneas. O que os conservadores fizeram com sucesso foi adotar uma forma completamente diferente de encarar a vida humana, esta é a crítica radical de civilização capitalista. Estas falsas divisões são agora um das maiores barreiras para entender o mundo onde vivemos dentro.
19. Não assista televisão nem ouça rádio. Claro que me refiro às mídias corporativas. Para a maioria das pessoas talvez seja melhor nem mesmo possuir televisão ou rádio. Qualquer hora que passamos assistindo a programação corporativa é uma hora a menos disponível para nossa associação frente-a-frente com amigos e vizinhos, uma hora menos disponível para construir vidas independentes, para criar uma cultura autônoma, para elaborar os arranjos sociais que substituirão o capitalismo. A televisão e o rádio corporativos são males indescritíveis, com suas infindáveis horas de anúncios, seus noticiários tendenciosos, sua destruição do diálogo, seu silêncio sobre tudo o que é importante, sua trivialidade deles/delas de conhecimento, sua distorção das notícias, seu endosso à ganância, sua vulgaridade, e sua brutalidade. A televisão cria um falso mundo de notícias, um mundo cultural que foi filtrado pelo prisma dos valores capitalistas. Somos levados a agir e a falar como se as únicas coisas que se a única coisa que temos em comum é aquilo que vemos nos filmes, na televisão ou ouvimos nos noticiários. Assim, o acoplamento mediático passa a ser o assunto de nossas conversas. Já não temos mais acoplamentos culturais diretos que emergem para fora de nós mesmos pela interação frente-a-frente, mas apenas aqueles temas repetitivos, gastos, de segunda-mão, artificiais, torcidos. Conheci apenas algumas poucas pessoas que poderiam assistir televisão sem ser prejudicadas. São pessoas que já estão profundamente maceradas em uma cultura alternativa. Ou melhor, eles não assistem televisão, eles a estudam, da mesma forma que analisariam uma espécie de inseto nunca vista anteriormente. Eles examinam a televisão, com um olho crítico, com uma determinada finalidade, pois desenvolveram conhecimentos e valores autônomos suficientes para emitir um julgamento. Eles a vêem como uma fonte de coleta de dados, a serem analisados, para descobrir o que a classe dominante está tramando, e que direção tomarão os atuais eventos. Eles se concentram nas entrelinhas para decifrar o que está acontecendo no mundo. Esta é uma coisa muito importante a fazer, mas não é para todo mundo. Isto representa um problema. Todos nós precisamos estar atentos ao que está acontecendo no mundo. Nós podemos ler jornais, mas os jornais populares devem ser ‘lidos pelas entrelinhas’ com o mesmo olho crítico que usamos para a televisão e o rádio. No momento o melhor recurso é a mídia independente que pode ser consultada para nos manter regularmente informados. Esperamos que uma crescente cultura de oposição continue inventando formas de evitar a mídia corporativa. Há uma reportagem sobre a chegada do primeiro rádio transistor em uma aldeia remota no norte da Índia. Em pouco tempo os aldeões pararam de dançar em volta de suas fogueiras cantando melodias. Em vez disso sentam e escutam música produzida em Nova Deli.
20. Apoie as Mídias Independentes. O que começou nos anos sessenta como jornais subterrâneos, e continuou florescendo nos anos setenta como a imprensa alternativa, chegou aos anos noventa como mídias independentes. Um nome bem mais adequado. Por que nossas publicações deveriam ser consideradas alternativas em vez de populares, porque não o contrário? Afinal de contas, é a mídia corporativa que nunca foi autêntica. Na medida em que funciona como uma máquina de propaganda, está fora de discussão, é desonesta, marginal, é baseada em interesses especiais (lucro), é hostil à vida humana, é subterrânea, e imoral. Assim, por que esta joça deveria ser considerada popular? Ela só é popular para os capitalismo, nesse sentido a palavra popular é uma palavra suja para nós. Nossas mídias independentes consistem agora em centenas de jornais, revistas, diários, e zines, como também rádio e televisão independentes. O desenvolvimento mais extraordinário nesta área foi, apenas dois anos depois da Batalha de Seattle em novembro de 1999, a rápida criação em escala mundial de centros de mídia independente, usando a Internet. Estes centros coletam textos, áudio, e visuais reportando eventos atuais e tornando-os disponíveis a qualquer pessoa que tenha acesso à Internet. Trata-se de uma iniciativa estratégica extremamente importante. A nova geração de ativistas parece ter uma grande compreensão da importância da mídia, superando velhas barreiras aparentemente intransponíveis no passado. Eles perceberam para que serve a media, e o quão crucial é lutar nesse campo.
21. Não compre nada da indústria cultural ou do mercado do entretenimento. Na congestionada cultura consumista dos principais países capitalistas é difícil dar um passo sem fazer uma transação comercial. Nem dá para viver. Nem mesmo podemos morrer em paz. Não obstante, existem opções para as horas em que não estamos sob o domínio da escravidão-assalariada (o núcleo da transação comercial). Eu acredito que nos momentos de não-trabalho podemos conscientemente evitar atividades de intercambio. Atividade comercial é todo negócio organizado para render lucros aos empresários. É claro que isso não é uma regra absoluta, caso contrário não poderíamos fazer coisas como ir a um restaurante, ver um show, viajar, escutar música, ler um livro, etc. Mas o que podemos fazer é começar a mudar a ênfase, começar a preferir atividades não-de intercambio a atividades de intercambio, e ser mais seletivo em nossas atividades de intercambio (há algumas piores do que outras). A maioria de nós é fortemente dependente de em entretenimento comercial, filmes, televisão, CDs, clubes de rock and roll, vídeos, assistir um jogo de futebol. Cada momento de nosso tempo de folga que é gasto com entretenimento comercial fortalece o capitalismo e reduz nosso tempo disponível para a criação de uma cultura autônoma. O pior entretenimento comercial é aquele que nos reduz a meros espectadores, que nos conduz à passividade; cinemas, televisão, e jogos esportivos de intercambio são os piores. (Há uma versão intelectual de entretenimento de espectador - jogo, concerto, e balé). Cada entretenimento ativo requer um equipamento - barcos, bicicletas, tacos de golfe, raquetes de tênis, binóculos, material de pesca – que nos amarra à indústria do lazer. Mas este lazer é de longe bem melhor que o entretenimento de espectador. Tem gente que gasta toda hora livre disponível jogando golfe por ter sido fisgado pela indústria cultural? Claro que sim. Tem gente que gasta todo dólar disponível na manutenção de um barco a motor por ter sido fisgado pela indústria cultural? Claro que sim. Acrescente a isso todas as pessoas que gastam até o último centavo apostando em corridas de cavalos, comprando os últimos lançamentos de CDs, lendo os últimos romances, indo para os últimos concertos de rock, comendo fora, indo às últimas excursões, freqüentando bares, vendo os últimos lançamentos de filmes no cinema, assistindo jogos de futebol, indo para pistas de patinação, freqüentando boates, assistindo corridas de automóveis, visitando parques de diversão, assim, você vê uma população escravizada pela indústria do lazer, do entretenimento e de atividades consumistas. Todas estas atividades destroem a comunidade e nos isolam uns dos outros. A coisa mais maluca é que tudo isso é voluntário. Ninguém nos força a fazer coisa alguma. Os capitalistas capturaram nossas horas de trabalho pela força transformando-nos em escravos. Mas eles capturaram nossas chamadas horas vagas e pela sedução nos tornando espectadores e consumidores. Vai ser difícil nos livrarmos da indústria cultural. O problema é que a maioria destas coisas são divertidas. Contudo, temos que perceber que elas estão nos destruindo. Nós podemos e devemos nos livrar dessas coisas. Este é certamente um modo de começar imediatamente a destripar o capitalismo. Podemos aprender tocar instrumentos novamente e fazer nossa própria música. Podemos aprender cantar juntos novamente, uma habilidade que perdemos (as pessoas que esqueceram como cantar nunca podem fazer uma revolução; vai aqui uma idéia; podemos destruir o capitalismo começando a cantar novamente). Podemos nos reunir com os vizinhos e praticar algum esporte. Podemos passear juntos de bicicleta, ir a piqueniques, ir a livres conferências, formar grupos de discussão e trocar idéias e informações, brincar em nossas próprias casas, ir acampar (mas sem um furgão carregado de equipamentos), ler (livros bons em vez de lixo), organizar danças da comunidade com talentos musicais locais tocando ao vivo, brincar de jogos de fase, sentar e conversar, visitar amigos e parentes, dormir, ou mesmo sossegar e não fazer nada. A indústria cultural capitalista desmoronaria amanhã sem nossas infinitas compras.
22. Não Vote. Há uma lista inteira de coisas para não fazer, especialmente não desperdiçar tempo com estratégias que falharam. Entretanto, votar merece uma menção especial, por causa da horrível ambivalência que ainda cerca este assunto. A ambivalência surge em larga escala a partir do óbvio fato de que o voto pode representar uma considerável diferença em nossas vidas se o governo ser controlado por fanáticos da extrema direita ou por liberais bonzinhos. Afinal de contas, se os governos ficam nas mãos das pessoas certas, e se a dinâmica interna do capitalismo permitir (isto é, se a taxa de lucro for suficientemente saudável) muitas coisas boas podem acontecer para o trabalhador comum. O que os governos não podem fazer é destruir o capitalismo, porque eles são uma parte integrante do capitalismo. Temos que enfrentar até mesmo argumentos como este. Qualquer tempo ou energia gastos no processo eleitoral sempre fará falta para o alcance de nossos verdadeiros objetivos. Não podemos nos dar ao luxo desse desperdício. Não temos tempo a perder. Ou paramos de lutar por aquilo que queremos ou começamos a lutar por aquilo que queremos. Nós temos que reservar nossas energias para aquelas estratégias que destruirão o capitalismo e criarão um novo mundo. Alguns radicais argumentam que temos que fazer ambas as coisas, eleger socialistas ou pelo menos liberais progressistas para o executivo ou parlamento, ao mesmo tempo em que construímos instituições alternativas e atacamos o sistema de outros modos. Eles não estão sendo realísticos. Você pode gastar décadas de sua vida tentando construir um trabalho novo ou partido progressiva, mas o que você consegue mesmo se for bem sucedido? Não o que você realmente queria! Além do mais há toda uma gama de objeções ao voto, ele perpetua a ilusão de que vivendo em uma democracia ou pelo menos em uma proto-democracia, que legitima o sistema, aquela disputa eleitoral é apenas uma opção para o muito rico, e assim por diante. Você pode recordar a sátira anarquista de que se o voto pudesse mudar alguma coisa ele seria ilegal. Há um adesivo de pára-choque que onde se lê: "Não Vote! Isso apenas os incentiva". Se possível abstenha-se até mesmo de votar, mesmo que sofra alguns contratempos, é um ato de resistência. É uma rejeição consciente ao capitalismo, uma recusa em vender o cérebro, e como tal é um passo para construir um movimento de oposição. Embora voto universal represente uma grande conquista por parte do proletariado, do feminismo, da agitação pelos direitos civis, foi ao longo do tempo transformado em um mecanismo de controle pela classe dominante, para ser usado contra nós. Deveríamos dispensar definitivamente esta prática e começar a praticar a ação direta para destruir o sistema que nos está matando aos milhões.
23. Recuperar nosso próprio idioma. Já não falamos mais nosso próprio idioma livremente criado. Falamos o idioma de nossos governantes e de seus sensores. Não é por acaso, considerando o bombardeio das escolas e dos meios de comunicação de massa sobre nossas cabeças. Também, realmente nem mesmo falamos mais uns com os outros, que é naturalmente a única maneira de se criar um idioma. Ao invés disso, nós escutamos o que os meios de comunicação de massa dizem. Andamos para cima e para baixo com fones de ouvido em nossas cabeças. Escutamos professores, às vezes durante vinte anos. Escutamos notícias, programas de entrevistas, previsão de tempo, milhares de anúncios, até mesmo relatórios de mercado de valores, embora poucos de nós tenhamos ações (e aqueles que possuem tem poucas). Escutamos o Presidente. Escutamos os patrões, ministros, doutores, e psiquiatras. Algumas pessoas não podem nem mesmo pegar no sono a menos que o rádio ou a tv esteja ligada. Há rádios em todos os carros, em todo local de trabalho, em toda cozinha. Milhões de pessoas acordam todas as manhãs com o som de um rádio relógio. Há rádios na praia e nos acampamentos. Escutamos alto-falantes cada vez que entramos em uma estação de metrô e de trem, dizendo-nos para não pisarmos em cima da linha amarela, não fumar, não sujar com lixo, para dedurar vândalos (222-1212), para termos um bom dia. Tudo isso sem qualquer sinal de protesto de um único passageiro. Constantemente estamos escutando, um palavreado que não fomos nós que inventamos. Igualmente lhes permitimos o direito de inculcar o palavreado que inventaram nos cérebros de nossas crianças até mesmo antes que elas possam falar. Um palavreado cheio de eufemismos, duplo-sentido, psicótico-ininteligível, e confuso. Um idioma feio. Comparado agora com o que se falava a cem anos atrás nosso idioma está empobrecido, poluído, e degradado, com poderes expressivos grandemente debilitados. Não podemos pensar usando este idioma diretamente. Embora soe estranho dizer isso, palavras são coisas muito concretas, e podemos prestar atenção a elas. Não temos que dizer "sociedade industrial" em vez de "capitalismo", só para dar um exemplo. Livros inteiros estão sendo escritos agora em duplo-sentido através de oposicionistas. Deveríamos estuda-los. Também deveríamos estudar os oradores, sempre que pudermos, eles foram as primeiras vítimas do capitalismo, nos séculos XVI, XVII e XVIII. Eles tinham uma clara percepção de que estavam sendo derrotados. Até mesmo no século XIX, a linguagem da oposição ainda era muito rica e poderosa. Estuda as falas de William Morris ou de de Voltairine Cleyre, por exemplo, se você quiser ver quão lamentável nosso idioma está comparado ao deles.
24. Recupere sua capacidade de autodefesa. Nunca antes em toda a história pessoas estiveram tão indefesas contra seus opressores como os proletários do mundo capitalista, classe que agora compõe a esmagadora maioria das pessoas. Não possuímos nenhuma terra e não podemos cultivar o alimento que precisamos. Não possuímos nenhuma ferramenta e não podemos suprir o que necessitamos para viver, nem mesmo roupa e abrigo. Não possuímos nenhuma arma e não podemos nos defender contra ataques. Nossas comunidades e famílias estão sendo destruídas. Não podemos controlar o que nossas crianças aprendem. Já não podemos compor nossa própria música. Até mesmo o idioma que falamos não nos pertence mais. Cada semana temos que entregar nosso dinheiro à custódia da classe dominante. Estamos completamente à mercê de nossos governantes (e ainda pensamos que somos livres!). Até mesmo nosso caráter foi mudado e debilitado. Já vai longe o tempo em que os camponeses e nativos de todo mundo (incluindo europeus) resistiram ferozmente na luta pela independência quando foram pela primeira vez assaltados pelos capitalistas. Nos convertemos em uma classe domesticada de pessoas, tão domesticadas que nem mesmo sabemos que fomos domesticados. Somos uma classe conquistada, tosquiada, pacificada, controlada, contida, administrada, pacificada, e manipulada. Porém, não fomos inteiramente domesticados e esta é nossa força e única esperança (é desesperador imaginar um povo completamente domesticado). O fato de falharam, mesmo com todos seus governos, escolas, poder de fogo, e meios de comunicação de massa, em nos domesticar completamente, é um sinal de que eles nunca conseguirão nos domesticar completamente (só falta nos alterarem geneticamente, e estou seguro que eles já estão trabalhando nisso, é só uma questão de tempo). O fato deles não conseguirem nos domesticar completamente significa que podemos ganhar, que somos mais fortes. É óbvio que recuperar a capacidade de autodefesa não é tão simples como armazenar Uzis. Na realidade não é uma questão simples em nenhum aspecto. É semelhante a recuperar a capacidade de viver autonomamente. Não obstante, há muitas coisas que podemos fazer enquanto isso. Por exemplo, podemos estabelecer observatórios. Sempre que um incidente acontecer, e envolver a polícia, deveríamos nos juntar ao redor e observar. Isto por si só funcionará como um freio à brutalidade policial e proverá testemunhas oculares a qualquer coisa que venha a acontecer. Infelizmente, tudo está caminhando exatamente na direção oposta. Muitos bairros estão montando redes de alcagüetes, sob a supervisão direta de sua polícia local. Com efeito, eles estão se transformando em policiais, em espiões das vilas, em nome da luta contra o crime. Se esta tendência continuar, logo estaremos na mesma situação da Rússia, com pessoas entregando pessoas de sua própria família para a polícia secreta do estado. Eles não vêem os crimes perpetrados pelo governo, corporações, e pela própria polícia, mas só assassinos de rua que ameaçam seus bairros. As feministas eram perseguidas pela direita até o dia em que resolveram freqüentar classes de caratê no início dos anos sessenta. Elas disseram que estavam cansadas de se sentir vulneráveis e desamparadas. Assim começaram aprender caratê e outros métodos de autodefesa. Deveríamos não apenas reavivar este interesse pela autodefesa mas também difundi-lo. Tal interesse deve ser elevado ao nível comunitário, e não apenas como uma prática individual. Uma vez que nunca teremos tanques, helicópteros, carros de patrulha, granadas de gás, e todos espécie de armamentos (nem deveríamos igualmente querer), temos que inventar armas sociais com as quais possamos resistir e nos defender. Eu admito que esta é uma tarefa formidável e assustadora. Qualquer um que sobreviveu em um gueto por longo tempo sabe o que significa viver em um território ocupado. Meia dúzia de carros de patrulha podem chegar a qualquer incidente em poucos minutos, vindos de diferentes lugares, enquanto helicópteros vasculham por cima. Como é possível superar tal potência de fogo? Para ser bastante honesto sobre isto, não vejo como escapar disso, os bairros autônomos poderiam ser defendidos contra o poder militar da burguesia. Entretanto, não é possível defender-se contra forças nacionais. Veja por exemplo o ataque contra a Iugoslávia. Veja o que eles podem fazer com toda uma nação se quiserem. Os bombardeios são tão destrutivos que tem a capacidade de retornar uma Casa ao nível pré-industrial. Jogando contínuas bombas durante setenta e oito dias de bombardeios, invadindo fábricas produtivas, eles reduziram a pó as realizações de todo um povo durante meio século. Assim, dificilmente haverá uma defesa para nossos bairros, mesmo adotando uma estratégia estatista, ou construindo forças armadas para peitar o militarismo da classe dominante dentro de seu próprio terreno -- afinal de contas, a Iugoslávia estava bem armada -- porque seríamos mais eficazes do que eles? A resposta para o dilema está, eu suspeito, precisamente em nossa pequenez, em nossa onipresença, na ação direta, na determinação, e nas táticas de não-cooperação e resistência à opressão violenta. Afinal de contas, não estamos começando agora. Aprendemos muito desde a longa tradição de resistência não-violenta até a força física. Também temos que estudar táticas e estratégias de guerra, porém, porque cedo ou tarde acabaremos envolvidos com coisas assim. Acredito que podemos ganhar. Mas talvez esteja sonhando. Nunca devemos esquecer que eles estão dispostos a assassinar populações inteiras para proteger sua habilidade de acumular capital, já fizeram isso no passado e o farão novamente quantas vezes for necessário.
25. Assuma o controle sobre os fundos de pensão dos sindicatos. No momento, bilhões e bilhões de dólares que os trabalhadores economizaram são controlados por banqueiros incorporados que usam o dinheiro para estourar sindicatos, isolar comunidades pobres, e financiar empreendimentos corporativos, entre outras coisas. Se você é sindicalizado ou conhece alguém que é, comece a agitar para adquirir estes fundos removendo-os e transferindo-os para o trabalho -- e bancos cooperativos a serviço das comunidades. De qualquer maneira tire o dinheiro do controle corporativo.
26. Não coopere com a polícia. Fora dos guetos urbanos, a polícia nos estados capitalistas avançados trabalha em um ambiente social muito amigável. Isto é uma vergonha. Reflete algumas atitudes muito ruins de nossa parte e falta de consciência política. Ainda existem muitas pessoas que acreditam que a polícia existe para nos proteger do crime, na realidade, é ela que nos torna indefesos, a polícia é uma das principais causas do crime. A polícia dedica uma porção minúscula do seu tempo, indiferentemente, aos problemas das pessoas comuns (quando foi a última vez que a polícia pegou alguém que te roubou, ou recuperou os bens roubados?). A grande missão do trabalho deles é proteger a propriedade corporativa, reprimir manifestações e destruir movimentos indesejáveis ao sistema. Constantemente nos vigiam (rondas), como se fôssemos um rebanho (por exemplo, a onipresença dos carros patrulha), e nos desarmam (você precisa de licença até mesmo para transportar um porrete). A polícia é a linha de frente das tropas mercenárias dos capitalistas. Diante deles o que devemos fazer? O mínimo possível. Nunca peça a um policial que lhe ensine um caminho. Na realidade, nem mesmo dirija a palavra a policiais a menos que seja absolutamente necessário. Nunca convide um policial a entrar em nossas casas ou aconselhar-nos sobre medidas de segurança (eles têm um programa). não coopere com qualquer programa elaborado pela polícia para organizar-nos e fazer com que nossos vizinhos cooperem na luta contra o crime. Se soubermos de policiais indo a escolas públicas para dar palestras sobre segurança aos alunos, não deixe seus filhos ir à escola naquele dia. Sempre que vermos policiais abordando pessoas, devemos nos aproximar para observar; nossa simples presença é um impedimento. Organize grupos de pessoas para observarem de perto a ação da polícia. Nunca responda qualquer pergunta além das legalmente requeridas; em vez disso exercite nosso direito de permanecer calado (assim teremos que saber nossos direitos). Isto pode nos trazer problemas. Nada enfurece mais um policial do que alguém se recusar a responder suas perguntas. Mas é um ato essencial de resistência, e se praticado amplamente, conduzirá rapidamente a uma consciência clara de que os policiais não dão a mínima para nós.
27. Não sirva ao exército. Não se torne um policial. A maioria do lacaios da classe dominante (por exemplo, gerentes, juizes, políticos, jornalistas, advogados) se situam entre os extratos de rendas médias mais elevadas (alguns deles são da própria classe dominante) ou então são pessoas da classe trabalhadora que foram suficientemente moldadas (isto é, absorvidas pelo sistema de instrução). Os policiais e soldados originários da classe trabalhadora são introduzidos diretamente nas tropas de choque e utilizados para defender a ordem capitalista. O problema é que pessoas ignorantes olham para os militares como indivíduos de boa índole, e o trabalho da polícia como algo valoroso. O movimento de oposição, por sua vez, deve tentar, na medida do possível, banir essa idéia do meio da Casa. É impossível impedir que os capitalistas recrutem tropas, o que podemos fazer é deixar claro que não estamos dispostos a arcar com esse ônus, ridiculariza-los, deprecia-los, repudiá-los, e se alguém da Casa demonstrar alguma simpatia pela polícia, deve ser esclarecido de que polícia não presta, e que aqueles que apoiam policiais são traidores da Casa, e devem ser considerados inimigos.
28. Não se torne um patrão. Algo profundamente inculcado na mente das pessoas é a ambição por ‘subir na vida’, e ‘ser alguém’, o que significa adquirir algum status no mundo corporativo. Isso é muito danoso para a igualdade e liberdade da comunidade; mas bem útil ao capitalismo, principalmente nos últimos anos com a queda na renda média da maior parte das pessoas e com o crescente nível de desemprego. Ser promovido a um status superior foi uma forma que algumas pessoas encontraram de impor-se sobre outras (em termos gerais, e em termos absolutos para um grande número de pessoas). O custo é porém alto. Em troca de ter uma vida um pouco mais confortável no sentido material (uma qualidade de vida bastante questionável) estas pessoas vendem suas almas aos capitalistas, desenvolvem interesses escusos defendendo o sistema, adotam pontos de vista de governantes, impõem regras corporativas, e acabam tornando-se verdadeiros policiais da acumulação de capital. Se nenhum trabalhador aspirar promoção, recusando ser promovido a gerente, chefe e encarregado quando convidado, tal atitude debilitaria uma ligação estratégica no sistema e arruinaria seriamente a habilidade de um empreendimento de operar lucrativamente. Na medida em que mais e mais trabalhadores adotam esta atitude, surge um conjunto de valores oposto ao dos patrões. Claro que recusar um cargo hierárquico implica em perda de renda. Mas o custo de aceita-lo seria insuportável. Em vez de aceitar cargos administrativos, por que não redirecionar nosso tempo e energia para a criação e fortalecimento de associações autônomas que no futuro representarão a ruína do sistema de escravidão-assalariada?
29. Ridicularize os homens de negócios – sempre que puder. Inclusive: banqueiros, policiais, advogados, padres, professores, doutores, cientistas, políticos, patrões, e previsores de tempo. Não se submeta à autoridade de ninguém. Profissionalismo não significa outra coisa senão mais uma forma de destruir a independência, competência, e autonomia das pessoas em geral. Dificilmente fazemos algo para nós mesmos sem primeiro consultar um perito, temos que parar de agir assim.
30. Rejeite as Regras de Robert. As regras de Robert, foram escritas por um general aposentado em 1876, tais regras foram profundamente assimiladas pela cultura popular dos Estados Unidos, de tal modo que são automaticamente adotadas como uma bíblia. Ela regulamenta a maneira como um grupo de pessoas deve se comportar em uma reunião. Tais regras funcionam como uma lei externa, imposta de cima para baixo. As pessoas esquecem que elas podem criar e adotar a regra que quiserem para suas reuniões, até mesmo não ter regra alguma. As Regras de Robert dão muito poder à mesa. Encorajam a manobra parlamentar. São opressivas e rígidas. Podem ser facilmente usadas para derrotar a vontade coletiva. Precisamos inventar procedimentos mais flexíveis e democráticos, menos centralizados, para organizar nossas assembléias coletivas, adotando procedimentos que permitam muito mais caos, espontaneidade, interrupções, conversas paralelas, voto rápido, argumentos, opções, formas e processos diversos de discutir assuntos. Definitivamente, chegou a hora de jogar no lixo as regras do Roberto.
31. Não deposite seu dinheiro em bancos corporativos. Ao invés disso, procure um banco cooperativo. Se não tiver opção melhor. Não há nenhum impedimento legal em fazer isso. (É muito provável que as cooperativas bancárias seriam impedidas de funcionar se essa prática se disseminasse). Os bancos corporativos usam nossos depósitos para fortalecer o mundo incorporado e debilitar o mundo das comunidades autônomas. É simplesmente loucura entregarmos nossos salários mensais voluntariamente para que seja usado contra nós (ou mesmo pagá-los para fazer isso).
32. Tente não entrar em dívida (a menos que seja uma questão de vida ou morte). A dívida pessoal é uma invenção capitalista para nos subjugar ao mundo deles. E funciona perfeitamente bem. Os capitalistas arrecadam muito dinheiro com a agiotagem que praticam. Se as pessoas parassem de pedir empréstimos os capitalistas sairiam bastante prejudicados. Se você estiver devendo, fique esperto, em alguns casos dever é pior do que perder o emprego, reduz nossa flexibilidade, e nos deixa apavorados. É uma coisa maluca a gente se submeter voluntariamente às regras capitalistas.
33. Se você tem pesadas dívidas, considere abrir falência pessoal. Trata-se de um ato judicial requerido por indivíduo ou empresa em estado de insolvência, ou por seus credores. A finalidade é proporcionar a estes parte do que têm direito, pela venda da massa falida. É a melhor coisa que você pode fazer se não possuir nada. Se tiver algumas coisas então descubra até onde vai tua disposição de viver sem elas. Se milhões de pessoas começarem a tirar proveito dessa lei, logo será abolida. Aproveite enquanto ela ainda está em vigor usando-a para livrar-se de dívidas e sair do buraco do cartão de crédito.
34. Abandone a escola o mais cedo possível. Na maioria dos estados a educação compulsória termina aos dezesseis anos. É quando deveríamos deixar a escola. Por mais de um século e um meio o proletariado comprou a idéia de que educação é um modo de melhorar nossas vidas, se não a nossa própria, pelo menos das nossas crianças. Isto funcionou durante algum tempo em alguns dos principais países. Mas até mesmo em seu auge sempre foi avaliado em excesso, porque a mobilidade nos altos escalões enfrenta limitações estruturais severas (isto é, há muito poucas vagas). Na realidade, já faz muito tempo que a educação perdeu seu valor emancipatório. Ao invés disso, tornou-se uma instituição fundamentalmente pacificadora e doutrinadora do proletariado. Ensina obediência, pontualidade, e passividade. É uma ferramenta disciplinar. Destrói a autonomia, a curiosidade, a espontaneidade, a iniciativa, e a criatividade. Perpetua valores e pontos de vista da classe dominante. Põe tapa olhos na população. Impõe hierarquia e graduações. É loucura entrar neste sistema voluntariamente. Sair da escola não significa deixamos de aprender. Significa que assumiremos ativamente a responsabilidade como autodidatas. Os próximos cinco pontos também referem-se à educação.
35. Ignore graduações. Não atribua nenhuma importância a esses títulos. Faça o mínimo de esforço possível para cumprir os anos compulsórios designados pelo estado. As graduações no sistema escolar são semelhantes a salários no sistema fabril, é dessa forma que induzem a competição em lugar da solidariedade mútua, e inculcam em nossa mente coisas como ‘esforçar-se para obter a aprovação das autoridades’. É uma atitude que mais tarde servirá bem aos capitalistas no local de trabalho.
36. Rejeite diplomas e certificados. Certa vez, vi um amigo chorar de alegria quando finalmente alcançou o grau de doutorado. Isso revela quão profundamente os valores capitalistas penetraram em nossa personalidade. Também é verdade que tais coisas representam um triunfo pessoal de proporções consideráveis. Não obstante mostra que compramos a convicção de que somos pessoas melhores, mais realizadas se recebermos o selo de aprovação do Estado. A idéia de colar graus é completamente reacionária. Buscar credenciais, certificados, pelo governo, é completamente reacionário. Eles uniram este sistema de certificados à estrutura profissional. As escolas são campos de treinamento e centros de triagem (disfarçados) a serviço do mundo corporativo. Se você pode agüentar 12, 16, ou até mesmo 20 anos de escola talvez você não ache tão ruim viver o resto de sua vida como professor, executivo, banqueiro, advogado, ou um padre. As escolas são centros de triagem até mesmo para determinar as pessoas da classe proletária que exercerão cargos de chefia. Se você não se submete à disciplina do regime, da escola, você não se adequará às exigências do cargo. Se você não aceita ser classificado, repreendido, organizado, castigado, ou insultado na escola, você não gostará destas coisas no local de trabalho. Mas se tivermos absolutamente que adquirir credenciais para sobreviver no mercado de trabalho, então deveríamos nos orgulhar de ter uma, a de nunca termos ‘sido promovidos’. As promoções deveriam ser consideradas como impostos, ordem, imposição, ou prova de droga: regras opressivas forçadas pelo governo, algo a ser evitado na medida do possível, ou pelo menos minimizado. Talvez já seja tarde demais para dizer essas coisas. Os capitalistas estão abandonando as escolas e a chamada educação pública, porque eles já não precisam mais de tantos trabalhadores ‘educados’. Eles estarão perfeitamente satisfeitos deixando milhões, bilhões de pessoas chafurdando na ignorância. Pessoas ignorantes são pessoas fracas. Assim nossa absoluta rejeição às escolas deve ser acompanhada por uma determinação férrea em nos tornar pessoas preparadas, qualificadas, altamente educadas. Mas nós não podemos conseguiremos isto indo à escola. Conseguiremos isso por nós mesmos, com a ajuda de nossos vizinhos, amigos, e camaradas.
37. Não faça faculdade. Por todas as razões discutidas acima, entrar em uma faculdade é uma idéia absurda. Ninguém pode te obrigar a frequentá-la. Portanto, não faça isso. Os anos podem ser usados em outros lugares mais vantajosos. Não faz absolutamente nenhum sentido entregar-lhes voluntariamente outros 2, 4, 5, ou 8 anos de esforços. Não seja seduzido pela idéia de que você estará ajudando a si mesmo cada vez que adquire alguma graduação, ou que você está conquistando algo e está prosperando. Sucesso não tem nada a ver com certificados do estado. Essa pode ser a definição deles de sucesso mas não é a nossa.
38. Seja um autodidata. Procure as pessoas educadas nos movimentos de oposição e pergunte sobre leituras, seminários, conferências. Forme grupos de estudos. Leia e estude constantemente. Leia a imprensa alternativa. Assista vídeos e escute fitas produzidas por radicais. Estas coisas podem ser feitas com o tempo e a energia economizada deixando de ir à escola. Obviamente, há muita coisa que você poderá fazer como autodidata. Se você quiser se tornar biólogo marinho ou um cirurgião do cérebro, provavelmente você terá mesmo que freqüentar uma escola. Mas mesmo nesse campo é possível encontrar várias formas de desvencilhar-se parcialmente do sistema escolar. Há muitas maneiras de provar competência independente de certificação escolar, através de testes ou por uma real experiência de trabalho. Há algumas habilidades, como carpintaria, que você pode adquirir em uma escola técnica (que requer menos tempo) ou tornar-se aprendiz. O ponto chave é parar de ver a escola regular como um lugar onde podemos aprender. A grande quantidade de matérias que exigem que estudemos prejudicam tanto nossa saúde como nosso bem-estar. Até mesmo assuntos técnicos são tratados de forma enigmática devido aos valores e preconceitos da classe dominante. Rejeitando as escolas nos livramos desta ilusão, nos libertamos para adquirir o tipo adequado de informação e de conhecimento necessário para destruir o capitalismo, salvar a nós mesmos, salvar o planeta, e conquistar "liberdade e justiça para todos".
39. Apoie o Movimento pela Educação em Casa. O ideal seria alcançar o objetivo radical de reintegrar a aprendizagem com a vida, mas enquanto esse momento não chega o Movimento pela Educação em Casa é a melhor opção. Embora a maioria das pessoas envolvidas neste movimento seja fundamentalista da ala direitista, há um pequeno contingente da ala esquerda. A Educação em Casa é legal em muitos estados dos Estados Unidos. Precisamos conhecer bem alguns critérios, pois o estado anda sondando o movimento. Não obstante, é um modo de nos livrarmos da educação controlada pelo estado. É uma tarefa difícil para uma família fazer sozinha, e funciona melhor quando várias famílias se unem, e melhor ainda todo um bairro. É um modo de assumirmos nossa própria educação. Você pode estar perguntando por que deveríamos dispensar todos os recursos das "escolas públicas"—bibliotecas, ginásios, piscinas, salas de aula, computadores, suplementos de arte, seminários, quadras esportivas — enquanto que não há praticamente nada em nossas salas. Há um motivo. As escolas públicas não são públicas coisa nenhuma, nunca foram. São escolas do sistema, escolas controladas pela classe dominante. Os capitalistas controlaram o sistema escolar desde o início. Até mesmo os conselhos das escolas de nível médio locais são quase invariavelmente conservadores, é composto pelos sócios mais ricos de uma comunidade que apoiam o status quo. Recentemente, até mesmo estão sendo permitidos às corporações e ao exército invadir as escolas por um longo tempo. O controle público no sistema escolar existente é semelhante ao controle público das fábricas, escritórios, hospitais, ou do próprio governo — as estratégias para modificar isso nunca tiveram sucesso. De qualquer forma, as pessoas que trabalham em escolas e faculdades definitivamente deveriam criar associações de empregados, no intuito de assumir estas instituições. Se pudéssemos tomá-las sob nosso controle seria bem melhor do que começar do nada em outro lugar. Mas tomar as escolas, faculdades, e universidades, bem, eu acredito e provo ser uma tarefa da mesma magnitude que tomar corporações, e provavelmente tais coisas ocorrerão ao mesmo tempo. Eu duvido que as escolas possam ser democratizadas separadamente de tudo o mais, tanto quanto os hospitais. Enquanto isso, é melhor juntar os recursos de forma a ser livres para ensinar nossos próprios valores, adquirir os conhecimento que precisamos, atualizar nossos conhecimentos, até mesmo nossos conhecimentos técnicos, para nossos próprios propósitos, gerar uma cultura autônoma.
40. Não recicle. Não desperdice sua vida tentando consertar a bagunça que o capitalismo está fazendo no planeta. Dedique sua vida destruindo o capitalismo. Reciclar sempre foi coisa de vagabundo. Gastamos horas e horas de nosso tempo livre separando o lixo, botando papéis aqui, latas ali, garrafas acolá, enquanto as fábricas diariamente produzem milhões de toneladas de lixo novo, possivelmente mais do que podemos limpar. Por que não impedi-los de produzir lixo? Reciclar agora se tornou um grande negócio. Naturalmente não seria lucrativo se os empresários da reciclagem tivessem que pagar para os trabalhadores saírem catando lixo. Assim, muito habilmente, eles recrutaram exércitos de ecologistas ingênuos para catar o lixo para eles de graça, trazendo-o voluntariamente para os portões de fábrica. Os empresários, por sua vez, transformam esta matéria-prima em lucro (com uma pequena ajuda dos escravos-assalariados, claro). Não há dúvida de que reciclar normalmente fará parte da vida cotidiana de pessoas livres. Mas não agora, não enquanto está sendo usado para nos desviar de nossa verdadeira tarefa de substituir uma economia mortal orientada para o lucro, por atividades vitais sustentadas por pessoas livres. Assim, caia fora desse carrossel da reciclagem.
41. Não use terno. Durante muito tempo foi costume das famílias do proletariado se vestirem a rigor para ocasiões especiais, a chamada ‘roupa de domingo'. Vestir-se bem significava vestir-se como a classe dominante — terno e gravata para os homens e vestidos fantasiados para mulheres (agora há ternos também para mulheres). Se você olhar para as fotos dos trabalhadores de cem anos atrás verá, por exemplo, centenas de homens reunidos no Union Square na cidade de New York para ouvir Emma Goldman falar, todos estavam usando ternos. Há muitos destes retratos. Mas especialmente com o declínio da freqüência nas igrejas, durante o último século, os trabalhadores vêm abandonando os ternos. Deveríamos explicitamente acabar com esse costume e rejeitar ternos. Ternos são os uniformes dos homens de negócios, políticos, e burocratas, o mundo lá de cima. Não há nenhum ponto de convergência entre eles e nós. É possível que esta tática torne-se antiquada, entretanto. Parece que há uma tendência por parte de algumas corporações de exigir que os trabalhadores venham trabalhar de terno, enquanto que seus executivos tendem a usá-los casualmente. Nos anos sessenta quando cultivamos barbas como sinal de protesto, descobrimos algum tempo depois que os executivos também estavam deixando as barbas crescer; foi assimque as barbas perderam seu valor simbólico. Eu também não estou nem um pouco preocupado se a classe dominante muda ou deixa de mudar seu vestuário. Você pode imaginar um Estado da União dirigido por pessoas sem ternos? De qualquer forma, não usa terno. Fará bem para sua alma.
42. Não jogue na loteria. Cada centavo que gastamos em loteria funciona como um presente à classe dominante. É como declarar: "Toma, leve meu dinheiro e use-o para me escravizar". A loteria é uma instituição completamente maléfica. O fato de milhões de nós gastarmos dinheiro suado com bilhetes de loteria é uma prova de que transformaram nossos cérebros em mingau. Estamos sendo tosquiados. Pior que o roubo financeiro é o roubo psicológico — uma bela ilusão que nos diz que podemos ganhar e escapar da miséria. A loteria é apenas mais uma pequena arma que eles inventaram para nos neutralizar, nos desarmar, e nos impedir de praticar uma real, direta, e efetiva ação para interromper nossa exploração, satisfazer nossas necessidades, e criar por nós mesmos vidas e Casas felizes.

Jared James

 
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