A TERRA EM QUE O HOMEM VIVIA

Muitas vezes pensei em Tolstoi. É inegável que esse senhor foi um dos maiores expoentes russos do século XIX e (por que não?) de todo o mundo. O fato de ele ter pertencido ao “anarquismo religioso” (a última coisa de que precisamos é rotular os acontecimentos), que muito influenciou os seus contos e novelas, não deve ser visto com maus olhos pelos ateus anarquistas.

Moralista ao extremo (principalmente na sua fase final de escrita), esse homem tem o poder de “mudar” a pessoa que o lê. Meu primeiro contato com o russo foi feito por meio de sua maior obra: Guerra e Paz. Depois deste, vieram os contos. Dentre eles, o que considero “mais anarquista” é “A terra de que precisa um homem”. Para quem já o leu, sabe do que estou a falar. Tolstoi nos brinda com a ganância n“A terra...”. Um sujeito que participava de uma comuna, sendo explorado por tributos como os demais, vê-se numa oportunidade de conseguir terras maiores e próprias; encontra-as, mas, apesar de as ter, sempre sonha com mais e mais; por fim, o Diabo pune esse homem: ele morre durante a delimitação de suas terras, oferecidas por um povo que habitava outras localidades. Excluindo-se o fator religião do texto, ainda nota-se o essencial anarquista nele. O autor pinta uma Rússia czarista. Esses “quadros” podem ser notados em quase toda a obra do russo.

A exploração, a tributação, a pobreza, a ajuda mútua, enfim, há uma unidade comum nos escritos. Por essas razões é prazeroso ler Tolstoi: há desgraças, mas, também, frutos nascidos delas. Deixando o russo em Iasnaia, parto para uma viagem um pouco mais longa (e mais desconhecida): chego ao Brasil. O papel do anarquismo brasileiro ainda é escasso na mente da maioria populacional. Não nego a importância de 1917 e sua Greve Geral, mas, acho que isso não resume a tudo ou ao todo, e, partindo desta premissa, arrisco-me a dizer que o anarquismo do Brasil passou a “existir apenas para os anarquistas brasileiros” no pós-1917. Tornou-se (por mais estranho que possa parecer a palavra) quase uma maçonaria: todos sabem que existe, mas poucos sabem realmente do que se trata ou quem são seus componentes. Triste sina. Seria hora de repensar o Anarquismo?

Confesso que me é tentador responder “sim, é hora!”. E vou mais além: creio que, por mais difícil que seja a tarefa sugerida (ou dolorosa para muitos), a necessidade de “refazer” os tópicos anarquistas ideológicos e práticos é urgente. Se, por mais de dois séculos (oficialmente, é claro), nós, anarquistas, falhamos no fato de que nos “maçonarizamos” quando deveríamos mostrar-nos e fazermos ser entendidos por todos, hoje, penso numa “divulgação anarquista” precisa. Divulgar sim, mas não os “velhos ideais” que, infelizmente já não cabem na nossa era; devemos divulgar um novo anarquismo.

Não pretendo dizer que tudo deve ser mudado (principalmente a forma de atuação dos anarquistas) mas quero deixar claro uma coisa: é necessário nos reunirmos, sentarmos, estudarmos e convergirmos na questão Anarquismo Século 21. Com a união de todos é possível chegar num senso comum sobre essa problemática.É chegada a hora de pularmos dos papéis tolstoianos para o século atual. E, com a ajuda mútua, também colhermos os frutos novos, nascidos das desgraças reais, para, aí sim, podermos escrever um novo livro. Um livro de ficção intitulado: “A terra em que o homem vivia”.

Informativo Ácrata - Resgatar, Esclarecer e Divulgar a Expressão Anarquista

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