ANARQUIA NO JAPÃO

Neste país o anarquismo teve sua fase heróica de 1903 a 1937 e a sua fase decrescente, desde então até os anos oitenta. Como em muitos países, o Japão teve suas Comunidades - diz-se - influenciadas pelo “Sistema do Campo de Pozo”, implantado na China durante a dinastia Chou, (1122 a 225) antes da nossa era. Este nome vem da divisão de terras coletivas em grupos de nove parcelas cujos limites adquiriam a forma de signo ideográfico que designava a voz (povo) na velha ideologia chinesa, consistindo em duas linhas horizontais e paralelas cruzadas por outras duas verticais, igualmente paralelas. Estas nove parcelas ficavam aos cuidados de oito famílias ou oito grupos - os quais deviam cultivar, em rotação ordenada, a nona parcela cujo fruto era destinado ao senhor, aos sacerdotes, às viúvas e inválidos.


Além da influência chinesa, inclusive de Lao Tsé e Confúcio, a reforma política de 1868 no Japão incluiu o envio ao exterior de uma elite para aprender tudo concernente à indústria e comércio. Entre os “espiões comerciais nipônicos” estava Tsomin Nakae que, após o seu regresso, passou a ser conhecido como o Jean Jacques Rousseau japonês, tornando-se na verdade o mestre dos revolucionários nipônicos, inclusive do primeiro anarquista, Denjiro Kotoku.


Outro elemento importante no Japão foi o médico Ando Shoeki que se tornou um grande escritor anarquista, embora só viesse a ser comentado como tal a partir de 1908. Quem o “descobriu” foi o jornal anarquista Nihon Heimen Shimbun, ao referir-se a Shoeki como “um anarquista de há 150 anos”.


Em 1897, socialistas e anarquistas em colaboração criaram a “União dos Trabalhadores do Aço” e publicam O Mundo do Trabalho. Outros jornais surgiram logo na primeira década do século XX, tais como: Yaradeu Chochu (Ação Direta), Tatsu Kwa (Ferro e Fogo), Hikari (Relâmpago), Chokugen (Avante) e Heimin Shimbun. Toda esta imprensa contou com a colaboração de D. Kotoku, que também traduzia a Conquista do Pão de P. Kropotkin e muitas outras obras de anarquistas europeus.


Mas, em 1914, quando o movimento japonês se agigantava, caiu sobre os anarquistas violenta repressão. Sete mil condenações à prisão perpétua e muitos anarquistas condenados à morte. Os crimes do governo sucediam-se e mais anarquistas morreram: K. Kondo, H. Hisaita e K. Kakamura. Outros, por não suportar as torturas, suicidaram-se no cárcere, entre eles Kentaro Goto, Danjiro Huruta, Tetsu Kakahama, Humi Kaneko e Gengiro Muraki.


Sakai Osugi, sua companheira Noe Itoo, seu sobrinho Soochi de sete anos são executados friamente. As ordens eram dadas pelo sanguinário General Fukuda. Assim mesmo os que escaparam à caçada lutam e A. Miura publica Giyu Gin (O Libertário) em esperanto. Kenji Kondo, autor da História do Movimento Anarquista no Japão; Shakimoto, o decano dos libertários; T. Soejima; J. Sugito; K. Konda; E. Oshima; Y. Hashimoto, Yamaguchi e Tasaka, na clandestinidade, divulgam o anarquismo como podem.


Vale lembrar que Yamaga – como anarquista – em 1927 foi professor na Universidade do Trabalho em Shangai, onde deixou muitos seguidores, e direta ou indiretamente influiu e colaborou em Rodo Shimbun (Diário do Trabalho), Rodo Undo (Movimento Obrero), Kosakumin Shimbun (Diário do Camponês), Kuro Te (A Mão Negra), Kokushoru Shimbun (Diário do Oriente Social), Kaiho Bunka (Emancipação e Cultura), Kuro Seinen (Juventude Negra), Huro Hata (Bandeira Negra) e Giyu Gin (O Libertário).


Quando no cinqüentenário da morte de Bakunin, em 1926, o Movimento Anarquista Japonês organizou um comício em Tóquio. Falariam seis, mas os seis foram presos.

Com o fim da guerra, o Japão ficou limitado a 369.881 km2, uma população de 75 milhões de habitantes, 4.200 condenados, 700 executados, foram demitidos 200 mil e o país ganhou uma Constituição mais condizente com a nossa era. Os que escaparam: Sanshiro Ishikawa, Kenji Kondo, Toshihiko Sakai, Yamaga, Ogawa, Jo Kubo, Shakimoto, A. Miura, Scejima e mais algumas dezenas de anarquistas recomeçaram tudo de novo.

Tocaram a reunir, contaram os que sobraram, realizaram congressos anarquistas, fundaram a “Federação Anarquista” em 12 de maio de 1946 e proclamaram como na época heróica: “Confirmamos que o único caminho a seguir é o do Anarquismo, combatendo por uma sociedade baseada na liberdade, na igualdade e na ajuda mútua. Concebemos a necessidade de estabelecer uma federação de povos livres e autônomos, baseada na independência de nosso povo e de todos os povos do mundo. Convocamos o povo japonês e todos os povos do mundo para lutar contra os governos, contra o capitalismo e contra a reação”.

Fonte: Os Libertários: Idéias e Experiências Anárquicas / Edgar Rodrigues / Editora Vozes.

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