PRIMEIRO DE MAIO

Antes de passar ao Calendário como data consagrada aos trabalhadores, foi um dia de reivindicações e de greves.

Está ligado diretamente aos "Mártires de Chicago", faz parte desta tragédia criminosa levada às últimas conseqüências pelo governo Norte-Americano no ano de 1886-1887, é parte integrante da luta pelas 8 horas de trabalho diárias.

A primeira pessoa de que se tem notícias que dividiu o dia em três partes, (três oito), foi o monarca inglês Alfredo, em 898. Segundo ele precisava de 8 horas para exercícios de piedade, 8 horas para dormir e 8 para recreação e estudo. Como não tinha relógio, regulava-se por uma tocha que ardia em cada período. Ainda na Inglaterra, nos séculos quatorze e quinze, alguns artífices recusavam-se a trabalhar mais de 8 horas quando a lei estabelecia 14 horas. O escritor inglês Adam Smith também defendeu as 8 horas em suas obras, e os mineiros de New Castle, recusaram-se a trabalhar mais de 7 horas em equipes. Na Espanha, Felipe II decretou no dia 10 de Fevereiro de 1579: "Queremos e ordenamos que os mineiros trabalhem 8 horas por dia, em dois turnos de 4 cada um". O pedagogo Cominius (1592-1671), membro da seita "Irmãos Moravos" também proclamou as 8 horas. Todavia, considera-se o pai das 8 horas, Denis Veiras, nascido entre 1635/1638, em Alés. Viveu parte de sua vida na Inglaterra, França e Holanda, e é autor da "História dos Sévarambes", publicada em 1677. Com objetivos sociais, Claude Gilbert (1652-1720) escreveu a "História da Ilha de Calejava", publicada em 1700 fixando a jornada de trabalho do povo dos Avaítas em 5 horas. Roberto Owen, no ano de 1817, também estabelecia as 8 horas de trabalho, para um sistema comunitário de sua autoria.

Os primeiros grevistas pelas 8 horas parecem ter sido os fiandeiros de algodão de Nóttingham, no ano de 1825, seguidos dos operários filiados às Trades-Uniões de Manchester, que exigiu as 8 horas em 20 de agosto de 1833, e fixam o dia 1° de Março de 1834, para entrar em vigor as 48 horas semanais para os menores de 9 a 16 anos de idade. Aderiram a este movimento na Inglaterra, "As Mulheres Jardineiras". Em Lyon, Gabriel Charavay, da facção blanquista pronuncia-se pela jornada de 8 horas para todos os trabalhadores, em março de 1849. De 3 a 8 de setembro de 1866, a Primeira Internacional dos Trabalhadores, em congresso na cidade de Genebra, declara: 1° - O Congresso considera a redução das horas de trabalho, o primeiro passo para a emancipação operária". Esta posição é confirmada nos 2° e 3° Congressos, (2 a 8 de Set. de 1867 e 6 a 13 de Set. de 1868). Nos Estados Unidos as greves pelas 8 horas começaram com os carpinteiros de Filadélfia em 1927.

Por pressão operária, o presidente Van Buren, "proibia que os meninos de Massachussets e Connecticut trabalhassem mais de 10 horas por dia, em 1942". Em 1845, explodem novas lutas pelas 8 horas em Nova lorque, e em 1848, operários de uma firma de colonização neozelandesa conquistam as 8 horas. Em 1866, alguns congressistas americanos apresentam lei reduzindo a jornada de trabalho. No ano seguinte, um congresso de trabalhadores em Chicago, força o governo a declarar (1868) as 8 horas para os estabelecimentos da República Americana. No mês de outubro de 1884, a "Federação de Agrupamentos do Comércio e Uniões de Trabalhadores dos Estados Unidos" decidem, em seu Quarto Congresso, realizado em Chicago, levar acabo a greve geral, para a conquista das 8 horas de trabalho, elegendo o dia 1° de Maio de 1886, para seu início.

Esta data correspondia, para a "América do Norte, na prática, um dia de transações econômicas". A greve explodiu no dia eleito pelos congressistas operários e no dia 4 de maio teve um desfecho regado a sangue, com muitos mortos e feridos. A tragédia resultou na prisão de 8 anarquistas e sua condenação à morte, mediante um julgamento-farsa, com 4 executados na forca (Luiz Lingg suicidou-se na véspera), em Novembro de 1887. O crime do Juiz Gary, do promotor Grinnel e seus auxiliares, apoiado pelo governador do Estado e o presidente da República, repercutiu no mundo com tanta intensidade, que o dia 1° de Maio converteu-se pela persuasão do seu eco, em feriado a nível universal.

Desde então o 1° de Maio transformou-se num dia de protesto do proletariado internacional.

MÁRTIRES DE CHICAGO

O nome expressa um dos maiores crimes do governo norte-americano. Teve início com uma reivindicação justa dos trabalhadores e acabou em tragédia que a história registrou com sangue humano. Em setembro de 1866, o Congresso da Internacional dos Trabalhadores, votou a jornada de 8 horas de trabalho diárias. A decisão chegou aos Estados Unidos às vésperas de uma crise financeira. Em 1873, entram em cena os trabalhadores negros e o movimento, fica estacionário temporariamente. Todavia, em 1874 os "Cavaleiros do Trabalho" reagem. No ano seguinte, o movimento ganha novo alento, e em 1877 os ferroviários vão à greve. Forma-se a "Federação Americana do Trabalho" , em 1881, e realiza-se o 2° Congresso de Cleveland, em 21-9-1882. Em Novembro de 1884, tem lugar o 4° Congresso da A.F.L., abrindo o caminho ao Proletariado rumo à tragédia de "Chicago". E finalmente chega o 1° de Maio de 1886. Os trabalhadores americanos declaram:

"A partir de hoje, nenhum operário deve trabalhar mais que 8 horas por dia!"

"Oito horas de trabalho!"

"Oito horas de repouso!"

"Oito horas de educação!"

Mais de 340 mil trabalhadores começam a luta de classes. São declaradas cerca de 5 mil greves. Alguns patrões aceitaram as reivindicações imediatamente, concedendo as 8 horas. Outros reagiram convidando a Polícia a defender seus interesses. "O Chicago Times" pedia em nome dos patrões: "A prisão e os trabalhos forçados, são a única solução adequada para a questão social. Esperamos que seu uso se generalize". No dia 3 e 4 de Maio de 1886, no final da tarde, 7 mil grevistas foram às fábricas falar aos "Amarelos" para abandonarem o trabalho e a polícia dispara suas armas, matando e ferindo alguns deles. Dispostos a levar o movimento até o fim, os anarquistas convocaram comício para a praça Haymarket às 19:30 hs.

A Polícia Montada apareceu, quando falavam em cima de um carro, Spies, Albert Parsons e Fielden a 15 mil pessoas. E quando o comandante dos pretorianos se dispunha a interromper, mãos misteriosas joga uma bomba ferindo policiais e operários. Na praça assistiam mulheres e crianças, inclusive os filhos de Parsons. Mais de 100 pessoas foram mortas à pancada, a tiros e esmagadas pelos cavalos. Por fim, a polícia invadiu casa por casa, e a 20 de Agosto de 1886, Spies, Fielden, Neebe, Fischer, Schwab, Lingg, Engel e Parsons eram condenados a morrer na forca. o promotor Grinnell e o Juiz Gary prepararam testemunhas pagas a peso de dólares, principalmente o capitão Johon Bonfield, e os civis Setinger, Jansen e Shea.

O capitão Blak, advogado de defesa, desfez uma a uma as acusações, provando que os réus respondiam por ser anarquistas . Um total de 979 jurados foram apresentados e só dez pertenciam ao 14° Distrito, já que este distrito tinha 130 mil habitantes na época. Inconformado com a condenação, o advogado de defesa interpôs recurso e conseguiu para Schwab e Fielden que tivessem a pena de morte transformada em prisão perpétua, e a 15 anos de cadeia para Neebe. O enforcamento ocorreu às 11:50 hs do dia 11-11-1887. Luiz Lingg, matou-se na véspera para não dar prazer ao carrasco.

Seis anos mais tarde, à 25 de Junho de 1893, o governador do Estado de Illionois, Joahn P. Atgeld, anulou a condenação, por julgá-Ia em base legal, afirmando em seu despacho: "Julgo o Tribunal ilegal, ilegalmente constituído, e a despeito das maquinações do Juiz, não pode mostrar a culpa dos condenados". "Ordeno que sejam libertados incondicionalmente: Oscar W. Neebe, Samuel Fielden e Miguel Schwab".

É de salientar dois episódios da mais alta dignidade humana, nesta tragédia: Albert Parsons, conseguiu fugir para Wisconsin, mas quando soube que seus companheiros estavam sendo condenados, foi juntar-se voluntariamente a eles dizendo: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou". Diante da forca - Spies, em tom profético afirmou: "Saúdo-te ó tempo em que nosso silêncio será mais eloqüente do que as nossas vozes que ides estrangular".

Fonte: Pequeno Dicionário de Idéias Libertárias / Edgar Rodrigues / CC&P Editores.

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