Capitulo 6 do Livro "Por que abandonei as TJ's"


Por Aldo Menezes
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Usado com permissão do autor

Despersonalizando o Espírito Santo

 Cremos que o espírito santo é a força ativa de Jeová; uma força impessoal que está em todos os lugares ao mesmo tempo, razão pela qual não pode ser uma pessoa. 

Já que a Bíblia diz que o Espírito Santo está em toda parte, ou seja, é onipresente, a organização TJ alega que ele não pode ser uma pessoa, mas uma “força ativa”, pois uma pessoa só pode estar num único lugar ao mesmo tempo. Assim, negam ao Espírito Santo sua pessoalidade (personalidade) e divindade. A relação entre Jeová e o Espírito Santo é ilustrada da seguinte forma: Jeová é uma usina elétrica, que está em determinado lugar, porém sua energia (o Espírito Santo) pode ser enviada para qualquer parte.1

A fim de demonstrar sua posição acerca do Espírito Santo como uma “coisa” e  não uma pessoa, a organização TJ grafa Espírito Santo com letras minúsculas: “espírito santo”.

Mas essa negação da personalidade e divindade do Espírito Santo por parte da seita TJ não é coisa nova; é uma ressurreição do macedonismo, nome dado a essa heresia em referência a Macedônio (século IV), bispo de Constantinopla, dirigente de um grupo que negava a divindade do Espírito Santo, afirmando que o termo Espírito designava os dons da graça derramados sobre os homens.2 Macedônio baseava-se parcialmente em dois ou três textos bíblicos, bem como na ausência  de referências à divindade do Espírito Santo por parte do Concílio de Nicéia, reunido no ano 325 d.c., no qual foram ressaltadas a divindade de Cristo e sua igualdade de essência com o Pai. Sobre o Espírito Santo, o credo original dizia apenas: “Cremos mo Espírito Santo”, sem mais explicações.3

Tornando-se acirrada a questão, o I Concílio do Constantinopla, reunido em 351, expressou-se da seguinte forma: “Cremos também no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, que procede do Pai; que com o Pai e com o Filho deve ser adorado e glorificado e que falou per meios dos profetas”.4 Essa é a cláusula que encontramos na atual re­dação do Credo niceno, também chamado Niceno-constantino­politano, em razão da inclusão dessas frases, que ensinam a consubstancialidade do Espírito Santo em relação ao Pai e ao Filho, na unidade da Trindade, em oposição ao pensamento dos pneumatômacos (lit., “combatentes contra o Espírito”, como também eram conhecidos os macedonianos).5

Embora tenha um conceito diferente do defendido pelos macedo­nianos acerca do Espírito Santo, a organização TJ também pode ser classificada de pneumatômaca, pois, a exemplo dos macedonianos, nega-lhe a divindade e a personalidade. 

Avaliação Bíblica

    Veremos, à  luz da Bíblia, que os atuais pneumatômacos erram quando se referem ao Espírito Santo como força ativa.

0 Espírito Santo é Deus

 A onipresença do Espírito Santo

     Como já dissemos, para a organização TJ o Espírito Santo é uma “força ativa”, pois as Escrituras a firmam que está em todos os  lugares (Sl 139.7,8). De modo que, se ele “pode ser sentido em toda parte, em todo o universo”,6  afirma a organização TJ, não pode ser uma pessoa. Mas, como vimos no capítulo 4, não é cabível o argumento segundo o qual Deus, sendo uma “pessoa”, não possa estar em mais de um lugar no mesmo tempo. Estamos falando de Deus, e para Deus tudo é possível (Lc 18.27; Gn 18.14; Jó 42.2). Assim, fica sem sentido afirmar que o Espírito Santo não é uma pessoa, pois, sendo Deus da mesma forma que o Pai e o Filho, tem todo o poder, podendo estar onde quiser, quando lhe aprouver. Estar em todos os lugares ao mesmo tempo não sub­trai sua personalidade. 

Sua personalidade e divindade 

A Bíblia tem muito que dizer sobre a personalidade e sobre a divindade do Espírito Santo. Se pusermos alguns versículos um ao lado do outro, teremos um quadro revelador a esse respeito. Comecemos por. . .

Atos 5.3,4
 

Versículo 3

Versículo 4

Então perguntou Pedro: “Ananias, como Satanás encheu seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade?
 

Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não  estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus.

A estrutura dos versículos é muito interessante. Em ambos, encontramos os seguintes elementos: 

    1. um delito – a mentira
        2. um delinqüente – Ananias
       
3. uma provável “vítima” – o Espírito Santo.

     No versículo 3, Pedro foi claro ao dizer que Ananias mentiu ao Espírito Santo. Já no versículo 4, ele chama esse Espírito Santo de Deus, ficando desse modo comprovada sua divindade. Também, fica confirmada definitivamente sua personalidade, visto que uma “força ativa”não poderia discernir entre verdade e mentira; isso é próprio de seres racionais. Por falar em racional, seria irracionalidade da parte de Ananias tentar enganar uma força semelhante à eletricidade. Quem o acusasse de mentiroso por isso deveria ser tão irracional quanto ele. 

Isaías 6.8-10 e Atos 28.25-27

Isaías 6.8-10

Atos 28.25-27

Então ouvi a voz do Senhor [Jeová], conclamando: ‘Quem enviarei? Quem irá por nós? E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me! Ele disse [Jeová]: ‘Vá e diga a este povo: ‘Estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam; estejam sempre vendo, e jamais percebam. Torne insensível o coração deste povo; torne surdos os seus ouvidos e feche os seus olhos. Que eles não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, e não entendam com o coração, para que se convertam, e sejam curados”.
 

Discordaram entre si mesmos e começaram a ir embora, depois de Paulo ter feito esta declaração final: ‘Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio do profeta Isaías: ‘Vá a este povo e diga: Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converte-se, e eu os curaria’.
 

 Em ambos os textos encontramos os seguintes elementos:

  1.       alguém anunciando uma mensagem de advertência — Deus, o Senhor;
        2.    um povo advertido – o povo infiel de Israel;
        3.       um mensageiro que levaria a mensagem ao povo —  Isaías.

 Comparando-se as passagens bíblicas, vemos que Atos 28.25-27 é uma citação direta de Isaías 6.8-l0). O apóstolo Paulo estava falando para israelitas (o povo advertido), muitos dos quais permaneciam incrédulos diante da exposição de que Jesus é o Messias, predito pela lei de Moisés e pelos profetas (At 28.23, 24, 28). Paulo citou aos incrédulos a mesma mensagem  que Isaías recebera para transmitir aos incrédulos de sua época. E quem falou para Isaías aquelas palavras de advertência? A declaração paulina é mais do que clara: foi o Espírito Santo quem falou com Isaías, mas no original hebraico, Isaías disse ter ouvido a voz de הוהי (Jeová). Por conseguinte, encontramos um caso claríssimo em que um autor sagrado do Novo Testamento aplica ao Espírito Santo o tetragrama sagrado, reconhecendo desse modo sua divindade e igualdade com o Pai. Para um judeu piedoso como o apóstolo Paulo, isso é uma proclamação de fé, de que o Espírito Santo é Deus, o grande  הוהי. 

Salmos 78.17 E Isaías 63.0  

Salmo 78.17, 40

Isaías 63.10

E eles prosseguiram pecando ainda mais contra ele, rebelando-se contra o Altíssimo na região árida. Quantas vezes rebelavam-se contra ele no ermo, faziam-no sentir-se magoado no deserto
 

Mas eles mesmos se rebelaram e fizeram seu [E]spírito [S]anto sentir-se magoado. Transformou-se então em inimigo deles; ele mesmo guerreou contra eles.

Em ambos os textos, os elementos presentes são:

  1. um povo rebelde – os israelitas;
        2. aquele contra quem se rebelaram – o Altíssimo;
        3. a conseqüência da rebeldia – magoaram o Altíssimo

No Salmo 78, o salmista está relembrando em versos as grandes obras de Deus em benefício de seu povo. Sua intenção é que as novas gerações não se apartem de Deus, como acontecera com seus antepassados (v. 8). Apesar de todos os portentos a favor do povo, eles constantemente rebelavam-se contra o Altíssimo, magoando-o. Resultado: o Altíssimo começou a guerrear contra o povo infiel e rebelde (v. 59-62).

Em Isaías 63, o profeta também está fazendo uma retrospectiva da infidelidade do povo para com o Altíssimo. Há um encontro de idéias entre Isaías 63 e o Salmo 78. Mas, ao passo que o salmo 78 diz que o Altíssimo foi magoado, em Isaías 63:10 afirma que o povo magoou o “Espírito Santo”. A identificação do Espírito Santo com o Altíssimo é evidente. Ademais, se somente uma pessoa pode ser magoada, então o Espírito Santo é uma pessoa.

Deve-se lembrar também o seguinte: no discurso de Estêvão aos judeus incrédulos, ele também faz uma longa retrospectiva da infidelidade do povo de Israel para com o Altíssimo, dizendo-lhe em seguida: “Povo rebelde, obstinado de coração de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!” (At 7.51). Ora, o elo histórico é inconfundível. Aquele que foi magoado pelos antepassados dos israelitas era o Altíssimo.

Não há dúvida, portanto: o Espírito Santo é reconhecidamente Deus, o Altíssimo, assim como o Pai e o Filho, tal como se expressa o Credo atanasiano

Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.

   
    Da mesma forma, o Pai é Onipotente, o Filho é Onipotente, o Espírito Santo é Onipotente; contudo, não há três Onipotentes, mas um só Onipotente.

Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; e todavia não há três Deuses, porém um único Deus.

Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor.

     Resistir a uma das pessoas da Trindade bendita é resistir a todos, pois as três são o único e mesmo Deus.

Todas essas evidências, mais as alistadas abaixo, levam forçosamente a admitir que o Espírito Santo é uma pessoa e é Deus, pois 

a) guia, fala, declara e ouve (Jo 16.13);
        b) ama (Rm 15.30);
        c) clama (Gl 4.6);
        d) toma decisões, administra (1Co 12.11);
        e) sabe e atinge as profundezas de Deus (1Co 2.10, 11; cf. Mt. 11.27 e Lc 10.22, nos quais o mesmo se diz a respeito de Jesus Cristo);
         f) pode ser contristado (Ef 4.30; cp. com Isa. 63.10);
        g) implora e intercede (Rm 8.26, 27; cf. v. 34, no qual a mesma atribuição é dada a Jesus Cristo);
         h) ensina (Lc 12.12; cp. com 21.14, 15; v. Jo 14.26);
         i) fala (At 10.19); v. 13.2; 10.19, 20; 21.11; Ma. 10.18-20;
         j) é resistido (At 7.51 cp. com Is 63.10; Sl 78.17-19);
         k) proíbe, põe obstáculo (At 16.6, 7; cp. com o v. , com Rm 8.9 e com Fp 1.19);
         l) ordena, dirige e dá testemunho (At 8.29, 39 e 20.23);
         m) designa, comissiona (At 20.28; v. tb 1Cor. 12.7-11 cp. com 12.28 e Efésios 4.10, 11);
         n) é mencionado entre outras pessoas (At 15.28).

     Mas, apesar de tantas provas escriturísticas a favor da personalidade e divindade do Espírito Santo, a organização TJ sustenta o seguinte: 

É verdade que Jesus falou do espírito santo como “ajudador” e falou de tal ajudador como ‘ensinando’, ‘dando testemunho’, ‘dando evidência’, ‘guiando’, ‘falando’, ‘ouvindo’e ‘recebendo’. Ao fazer isso, o grego original mostra que Jesus, às vezes, aplicava o pronome pessoal masculino a este “ajudador” (paracleto). [. . .]  No entanto, não é incomum, nas Escrituras, que aquilo que realmente não é pessoa seja personalizado ou personificado. A sabedoria é personificada no livro de Provérbios (1:20-33; 1-36); e formas pronominais femininas são usadas para ela no original hebraico, como também em muitas traduções. A sabedoria é também personificada em Mateus 11:19 e em Lucas 7:35, onde é apresentada como tendo tanto “obras” como “filhos”. O apóstolo Paulo personalizou o pecado e a morte, e também a benignidade imerecida, como ‘reinando’ (Ro 5:14, 17, 21; 6.12). Fala do pecado como ‘recebendo induzimento’, ‘produzindo cobiça’, ‘seduzindo’ e ‘matando’ (Ro 7.8-11). Todavia, é óbvio que Paulo não queria dizer que o pecado era realmente uma pessoa.7 

    A organização TJ está certa ao afirmar que a Bíblia personifica a sabedoria, o pecado e a morte, já que--e disso todos sabemos--tais coisas não são pessoas. Mas erra ao afirmar a mesma coisa sobre o Espírito Santo, pois, como já observamos à luz da Bíblia, nas passagens anteriormente citadas ele é uma pessoa, e é Deus, sem ser, portanto, uma “força ativa” personificada. O que podemos dizer, à luz das Escrituras, é que, à semelhança do Pai e do Filho, o Espírito Santo é representado de diversos modos; são os chamados símbolos do Espírito Santo, assim como temos os símbolos do Pai e do Filho. Acompanhe:

Filho   Leão (Ap 5.5); Cordeiro (Jo 1,29); porta (10.9); videira (Jo 15.1)
Pai   fogo (Dt 4.24); sol (Sl 84.11)
Espírito Santo   pomba (Lc 3.22); línguas de fogo (At 2.3); selo (Ef 1.13); dedo [de Deus]
  (Lc 11.20)

     Ademais, nunca se disse a respeito da sabedoria, do pecado ou da morte que sejam Deus (At 5.3, 4). Nenhum escritor do Novo Testamento aplicou textos do Antigo que se dirigem ao Pai, o grande Deus, a uma dessas coisas abstratas. Jesus jamais diria sobre a sabedoria, o pecado e a morte o que disse acerca do Espírito Santo. É preciso, portanto, saber separar personificação de mero simbolismo. Tudo o que se diz a respeito do Espírito Santo aponta para um ser pessoal, para alguém que, assim como o Pai e o Filho, é Deus pelos séculos sem fim. Ele é, de acordo com o Credo niceno, procedente do Pai e do Filho, o qual, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos profetas.8 

Outra evidência a favor da divindade do Espírito Santo

    David Reed, que militou vários anos entre os testemunhas-de-jeová, apresentou em seu livro As Testemunhas de Jeová refutadas versículo por versículo um argumento muito interessante a favor da personalidade do Espírito Santo:  

Ao lado do templo do verdadeiro Deus na antiga Jerusalém, as Escrituras mencionam muitos outros templos--por exemplo: o templo de Dagom (1 Sam. 5:2), o templo de Júpiter (At. 14:13), o templo de Diana (At. 19: 35), e assim por diante. Cada um era o templo de alguém, ou do Deus verdadeiro ou de um deus falso. Mas a Bíblia também mostra que o corpo físico de cada cristão individualmente se torna um templo. Templo de quem? Um ‘templo do Espírito Santo’ (1 Cor. 6:19).9

     Outro ponto deve ser frisado. O apóstolo Paulo estabelece uma relação direta entre Deus e o Espírito Santo. Veja:
 

1Coríntios 3.16,17

1Coríntios 6.19

2Coríntios 6.16

Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado.
 

Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, o qual receberam de Deus, e que vocês não são de si mesmos?

 

Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: “Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.

    Os textos estão estruturados de tal modo que não admitem dúvidas: o Espírito Santo é Deus. Veja:

  1. Há um santuário -- os crente;
        2. Há alguém que habita nesse santuário -- Deus, Espírito Santo (“Disse Deus: ‘Habitarei com eles. . .’“). 

Evidência mais clara que essa de que o Espírito Santo é Deus, impossível! O próprio apóstolo Paulo escreve ora que somos templo de Deus, ora, na mesma acepção, que somos templo do Espírito Santo.10 

O Espírito Santo na
comunidade trinitária

     Já vimos no capítulo 4 a interação que há entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Vamos ampliar aqui um pouco essa interação. Queremos abordar, sobretudo, a similaridade dos papéis desempenhados pelo Filho e pelo Espírito Santo. Veremos também como essa relação entre as três pessoas divinas tem mais a nos revelar acerca da personalidade e da divindade do Espírito Santo. 

O Espírito Santo é de ambos: do Pai e do Filho

Em Romanos 8.9, ele é chamado “Espírito de Deus” e “Espírito de Cristo”. Em Mateus 10.20, é chamado Espírito do Pai. Eles se pertencem mutuamente. É uma comunidade perfeita. 

O Espírito glorifica a Cristo 

O Espírito Santo faz para o Filho o mesmo que o Filho faz para o Pai. Por exemplo, o Filho glorifica o Pai (Jo 17.1,5); por sua vez, o Espírito Santo glorifica o Filho (Jo 16.14). E o Pai, assim como o Espírito Santo, também glorifica o Filho (Jo 8.54; 17.4). 

O Espírito revela o senhorio de Cristo 

“Ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo” (1Co 12.3). 

O Espírito conhece o Pai, da mesma forma que o Filho o conhece 

Jesus afirma em Mateus 11.27 e em Lucas 10.22, que ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e que ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho. No entanto, em 1Coríntios 2.10, 11, afirma-se que o Espírito Santo conhece “até mesmo as coisas mais profundas de Deus”, e “ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus”. Só Deus conhece a si mesmo na vida íntima da Santíssima Trindade. 

O Espírito ama da mesma forma que o Pai e o Filho 

É o que afirma Romanos 15.30, ao falar do amor do Espírito, da mesma forma que fala do amor do Pai e do amor do Filho (2Co 13.13[v. 14 na NM]; Rm 8.35; 2Co 5.14; Ef 3.19). 

O Espírito, como Cristo, é nosso Ajudador 

Jesus afirmou que o Espírito Santo seria nosso “Ajudador” ou “Consolador” (Jo 14.16, 26; 16.7). A mesma expressão grega – παράκλητος (parácletos) também é aplicada a Jesus em 1João 2:1. 

O Espírito Santo, como Cristo, é nosso Intercessor 

Em Romanos 8.26, 27, afirma-se que o Espírito Santo “intercede por nós”. O mesmo se atribui a Jesus Cristo em Romanos 8.34 e em Hebreus 7.25. 

O Espírito Santo, como Cristo, é a Verdade 

Jesus afirmou ser a Verdade (Jo 14.16). O mesmo se diz do Espírito Santo, em 1João 5:6: “o Espírito é a verdade”. 

O Espírito Santo, assim como Cristo, designa homens para guiar da igreja de Deus 

Em Atos 20.28, Paulo afirma aos presbíteros de Éfeso que foi o Espírito Santo quem os designou para o presbitério, a fim de que cuidassem da igreja de Deus. O mesmo apóstolo também afirma que essa mesma função é exercida pelo próprio Jesus Cristo (Ef 4.7-11). 

O Espírito Santo participou, com o Pai, da encarnação de Cristo 

É o que afirmou Gabriel, o arcanjo, à jovem Maria (Mt 1.18, 20; Lc 1.30-35). 

Os textos acima, em conjunto, somados àqueles citados no capítulo 4, mostram a estreita relação mantida entre as três pessoas da Trindade santíssima. Como alguém afirmou acertadamente: 

Pai, Filho e Espírito Santo não emergem como separados ou justapostos, mas sempre mutuamente implicados e relacionados. Onde reside a unidade dos três? Reside na comunhão entre os divinos Três. Comunhão significa comu-união (communio). Somente entre Pessoas pode haver união, porque elas intrinsecamente se abrem umas às outras, existem com as outras e são umas pelas outras. Pai, Filho e Espírito Santo vivem em comunidade por causa da comunhão. A comunhão é expressão do amor e da vida. Vida e amor, por sua própria natureza, são dinâmicos e transbordantes. Sob o nome de Deus devemos entender, portanto, sempre a Tri-unidade, a Trindade como união do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em outras palavras: a união trinitária é a própria Trindade.11

 Textos mal-aplicados contra a
 personalidade do Espírito Santo

 É comum os testemunhas-de-Jeová citarem os textos abaixo, geralmente fora de contexto, para se aventurar a provar a impersonalidade do Espírito Santo. Acompanhe os argumentos da organização TJ, seguidos das respectivas refutações. 

Mateus 3.11 

Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. 

Neste texto, João Batista é citado dizendo que Jesus batizaria com o Espírito Santo, assim como ele batizava em água. Portanto, raciocina a organização TJ, assim como a água não é pessoa, tampouco seria o Espírito Santo, pois ninguém poderia ser batizado com uma pessoa.
    Esse paralelismo entre água/Espírito não afeta em nada a personalidade do Espírito Santo, pois em Romanos 6.3 encontramos o paralelismo batizados em Cristo/batizados em sua morte, e em Gálatas 3.27 fala-se no batismo em Cristo e em ser revestido de Cristo. Nem por isso Jesus perdeu sua identidade pessoal. Trata-se tão-somente de um caso de analogia, ou seja, estabelece-se relações entre seres de naturezas distintas. O mesmo encontramos a respeito de Moisés, em 1Coríntios 10.2. Fala-se ali de ser batizado em Moisés, mostrando assim que é possível alguém ser batizado numa pessoa, sem que ela perca sua identidade pessoal.
 

2Coríntios 6.6 

. . . em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e no amor sincero. . .

     O fato de o Espírito Santo estar mencionado entre várias qualidades, como no texto acima, levou a organização TJ a entender que ele não é uma pessoa, pois para eles tal inclusão seria um claro sinal disso. Além de 2Coríntios 6.6, entre outros textos apresentados estão Efésios 5.18, Atos 6.3, 11.24 e 13.52.
    Ora, se isso fosse verdade, então Jesus Cristo também perderia sua personalidade, pois em Gálatas 3.27, insiste-se com as pessoas para que se revistam de Cristo, da mesma maneira que se instam outros, em Colossenses 3.13, a se revestir de qualidades como humildade, compaixão, bondade, mansidão e paciência. Se nada disso faz de Cristo uma “força ativa”, o mesmo se dá com o Espírito Santo. Ser mencionado entre coisas impessoais, não faz dele algo impessoal.
    Ademais, se ser associado a coisas impessoais faz do Espírito Santo algo impessoal, como afirma erroneamente a organização TJ, então, na mesma linha de raciocínio, elas teriam de admitir obrigatoriamente que, ao ser citado em associação com outras pessoas, isso faria do Espírito Santo uma pessoa. Veja:
 

1.   Em Mateus 28.19, Jesus ordena: “Vão e façam discípulos de todas as na;ções, batizando-as em nome do Pai [uma pessoa] e do Filho [outra pessoa] e do Espírito Santo [também uma pessoa]”. (V. tb. o capítulo 4, no tópico “A Trindade no Novo Testamento”).

2.   “Na igreja de Antioquia”, afirma Atos 13.1,2, “havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo [todos seres pessoais]. Enquanto adoravam ao Senhor [o Ser pessoal adorado] e jejuavam, disse o Espírito Santo [outra pessoa]: “Separem-me Barnabé e Saulo [pessoas] para a obra a que os tenho chamado [falando na primeira pessoa do singular]”.

3.  A disputa acerca da imposição da circuncisão para os cristãos, os apóstolos e presbíteros de Jerusalém enviaram a seguinte carta para os irmãos de Antioquia, Síria e Cilícia: “Soubemos que alguns saíram de nosso meio, sem nossa autorização, e os perturbaram transtornando suas mentes com o que disseram. Assim, concordamos todos em escolher alguns homens e enviá-los a vocês com nossos amados irmãos Paulo e Barnabé [pessoas], homens que têm arriscado a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo [Ser pessoal]. Portanto, estamos enviando Judas e Silas [pessoas] para confirmarem verbalmente o que estamos escrevendo. Pareceu bem ao Espírito Santo [Ser pessoal] e a nós [seres pessoais] não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias: Abster-se de comida sacrificada a ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Vocês farão bem em evitar essas coisas. Que tudo lhes vá bem”. 

Não é preciso saber muito para afirmar que a pureza, o conhecimento, a paciência, a bondade e o amor sincero não poderiam substituir o Espírito Santo nos textos mencionados acima. Ele aparece entre pessoas por ser um ser pessoal, pois age como uma pessoa, mas também pode ser mencionado entre coisas, sem deixar de ser pessoa.  

Atos 2.4 

Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. 

Este é sem dúvida o texto mais utilizado pela organização TJ. Argumentam que no Pentecostes 120 discípulos ficaram cheios de uma “força ativa”, não de uma pessoa, pois uma pessoa não pode habitar 120 outras pessoas simultaneamente. O erro da organização TJ já começa quando toma o termo “pessoa”, levando em conta próprias limitações do ser mortal. Ora, Deus é aquele que “preenche todas as coisas”, de acordo com Efésios 1.23. Ele tudo pode. Nada há que ele não possa fazer. E, se naquele acontecimento de Pentecostes lhes aprouver encher 120 pessoas, quem somos nós para pôr em dúvida sua ação soberana? Nos dizeres do Credo atanasiano “Imenso é o Pai, Imenso o Filho, Imenso o Espírito Santo”.
    Em Romanos 8.11 se diz do Espírito Santo que ele mora ou reside em nós, assim como Efésios 3.17 diz que Cristo reside em nossos corações, e da mesma forma que João 14.23 também fala da habitação em nós tanto do Pai, quanto do Filho. Nada disso faz com que o Pai e o Filho deixem de ser pessoas. 

Atos 13.2 

Enquanto adoram o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” 

A organização TJ, mesmo diante da evidência de que o Espírito Santo fala e se comunica, usa esse texto para protestar contra a personalidade do Espírito Santo, afirmando que o fato  de a Bíblia dizer que o Espírito Santo fala não provaria sua personalidade, pois outros textos mostram que isso era feito por meio de seres humanos ou de anjos, sem que ele tivesse voz própria (At 2.4; 28.25).

O argumento da organização TJ perde sua razão pelos seguintes motivos: 

1. Se a organização insistir nesse argumento, terá de admitir que o Pai tampouco é uma pessoa, pois também lemos que falou por meio de outros. Veja a comparação abaixo: 

Atos 3.21

Atos 1.16 e 28.25

. . . a quem o céu, deveras, tem de reter até os tempos do restabelecimento de todas as coisas, das quais Deus falou por intermédio da boca dos seus santos profetas e dos tempos antigos (NM; v. Hb 1.1,2)
 

. . . irmãos, era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse por boca de Davi. . .

. . . Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio do profeta Isaías . . . (NM)

Compare também  Mateus 10.19,20 com Lucas 21.14,15 3 Jeremias 1.7-9. 

2. Não importa Se o Espírito Santo falou diretamente ou por meio de alguém, de anjos ou de homens.  O que está claro é que foi ele, o próprio Espírito Santo, quem falou. O profeta por meio de quem ele falou era apenas um canal, um instrumento, mas as palavras eram dele, do Espírito Santo.

Atos 7.55,56 

Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à  direita de Deus, e disse:  “Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus”. 

Se Deus fosse uma Trindade, argumenta a organização TJ, Estêvão ao fitar os olhos ao céu deveria ter visto o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Contudo, afirmou ter visto apenas o Pai e o Filho; nada disse sobre o Espírito Santo.

Respondemos que Estêvão não podia ter visto o Espírito Santo pelo fato este estar na Terra, cumprindo a sua missão, pois fora enviado pelo Filho, que por sua vez fora enviado pelo Pai. Jesus disse que , a menos que ele próprio fosse embora, o Espírito Santo não viria. Portanto, quando Jesus voltou ao céu, enviou o Espírito Santo, razão pela qual  Estêvão não poderia tê-lo visto, em caráter especial, por meio de visão, ao lado do Pai e do Filho (v. Jo 16.7,3). 

A falta de identificação pessoal 

     Outra objeção apresentada pela organização TJ a fim de, inutilmente comprovar a impersonalidade do Espírito Santo não ter identificação pessoal. Esse argumento é apresentado na obra Estudo perspicaz das Escrituras, que diz: 

Visto que o próprio Deus é Espírito e é santo, e visto que todos os seus fiéis filhos angélicos são espíritos e são santos, é evidente que, se o “espírito santo” fosse pessoa, as Escrituras deveriam razoavelmente fornecer alguns meios para diferenciar e identificar tal pessoa espiritual dentre todos esses outros ‘espíritos santos’. Seria de esperar que, pelo menos se usasse o artigo definido para ele em todos os casos onde não é chamado de “espírito santo de Deus”, ou não é modificado por alguma expressão similar. Isto pelo menos o distinguiria com O Espírito Santo. Mas, ao contrário, em grande número de casos, a expressão “espírito santo” aparece no grego original sem o artigo, indicando ausência de personalidade.12      

Ora, se a organização TJ o tem dificuldade em diferenciar o Espírito Santo de Deus, do próprio Pai ou dos anjos, é sinal de que existe alguma coisa errada em sua teologia de modo geral. Seu argumento não revela erudição, mas deficiência e ignorância.

Ao designar a terceira pessoa da Trindade por “Espírito Santo”, as Escrituras já o diferenciam dos demais espíritos que são santos, como no caso dos anjos, embora nenhum dos anjos nunca seja designado diretamente pela expressão “espírito santo”. Quando lemos “o Espírito Santo disse” (At 13.2), ou “mentiram ao Espírito Santo” (At 5.3), ou ainda “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm. 89.14), não nos vem à mente o Pai, o Filho ou os anjos, mas a pessoa divina que conhecemos pelo nome “Espírito Santo”.

Embora as expressões “espírito” e “santo” sejam atributos comuns às pessoas da Trindade, bem como aos anjos, cabe afirmar que, em relação à terceira pessoa da Trindade, os termos aparecem juntos, designando “a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos espírito e santo”.13

Assim, quando empregados juntamente, os termos “espírito” e “santo” formam o nome daquele que, como o Pai e o Filho, é adorado e glorificado, o Espírito Santo. A ordem bíblica de batizar “em nome do Espírito Santo” (Muito 28.19) já torna isso plausível.

A organização TJ objeta, afirmando que a palavra grega onoma (ónoma), traduzida por nome, pode significar algo diferente de um nome pessoal, como quando se diz em nome da lei ou em nome do bom senso. “Nome”, nesses casos, indicaria o que tais coisas representam. Para corroborar sua linha do argumentação, a organização TJ cita o obra Word pictures in the New Testament [Quadros verbais do Novo Testamento], de uma grande autoridade no idioma grego, o Dr. Archibald Thomas Robertson: “O uso do nome (ónoma) que se faz aqui [em Mateus 28.19] é comum na LXX [Septuaginta] e nos papiros para simbolizar poder ou autoridade”. Desse modo, argumenta a organização TJ: “Portanto, o batismo ‘em nome do espírito santo’ subentende o reconhecimento deste espírito como tendo por fonte a Deus e como exercendo sua função segundo a vontade divina”.14

A conclusão extraída das palavras do dr. Robertson não vale pela seguinte razão: Robertson cria na doutrina bíblica da Trindade, e não estará ensinando o contrário disso em sua obra supracitada. De fato, comentando o versículo 19 de Mateus 28, ele afirma que o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é o batismo “em nome da Trindade”.15  E quando afirmou que “o uso do nome (ónoma) que se faz aqui é comum na LXX [Septuaginta] e nos papiros para simbolizar poder ou autoridade”, estava, na realidade, argumentando contra a espécie de batismo efetuado pela Igreja Ortodoxa Grega. que pratica a tripla imersão: o batismo em nome do Pai, em seguida em nome do Filho e depois em nome do Espírito Santo. A disputa gira em torno da preposição (eis), que para a Igreja Ortodoxa Grega significa “para dentro”; enquanto Robertson explica que aqui, em Mateus 28.19, significa simplesmente “em nome”, e não “para dentro”. Daí, então, sua conclusão (extraída indevidamente do contexto da literatura da organização TJ):  “O uso do nome (ónoma) que se faz aqui é comum na LXX [Septuaginta] e nos papiros para simbolizar poder ou autoridade”.16 A sua conclusão é óbvia: não está em questão o tríplice batismo, mas batizar em nome ou no poder/autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Assim, ao contrário de concordar com a conclusão da organização TJ— como ela indevidamente que faz parecer—, Robertson associa poder ou autoridade à Trindade: ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, em cujo nome os cristãos são batizados. Dessa forma, o Pai, o Filho e o Espírito Santo tem o mesmo poder ou autoridade, pois são, em suma, O mesmo Deus. “Força ativa” não tem “poder” e “autoridade”, assim como o Pai e o Filho, nem mesmo figuradamente, pois em nenhum lugar das Escrituras tal coisa e ensinada.

Quanto ao uso do artigo definido, a organização TJ afirma que a expressão Espírito Santo, “em grande número de casos[...] aparece no grego original sem o artigo, indicando ausência de personalidade”.

Respondemos, em primeiro lugar, que a organização TI tomou o cuidado de dizer em grande número de casos, pois, se dissesse em todos os casos, seria rapidamente desmascarada, pois o termo “Espírito Santo” também é acompanhado de artigo definido em muitos outros lugares. Nesse caso, o argumento da organização TJ se desfaz pelo seu contrário, pois, se “Espírito Santo”, sem artigo, indica ausência de personalidade, então, o uso do artigo definido indicaria a personalidade do Espírito Santo.

Contudo, recorrer a ausência ou ao uso do artigo definido para provar ou deixar de provar a personalidade de alguém não é correto a luz das particularidades do idioma grego. O grego do Novo Testamento conta com três gêneros: masculino, feminino e neutro (em português só há os dois primeiros). A palavra grega traduzida por “espírito”, πνεΰμα (pneuma), é palavra neutra, que exige o artigo neutro, quando o autor julgar necessário. O artigo pode ser usado ou não, sem que isso detraia a personalidade do Espírito Santo. As Escrituras designam a terceira pessoa da Trindade de diversas formas:        

      a)   Espírito (sem artigo: Jo 3.5 etc.) ou o Espírito (com artigo: Mc 1.10, 12; At 2.4 etc.).

b)      Espírito Santo (sem artigo: Lc 4.1; 11.13 etc.) ou o Espírito Santo (com artigo: Mt 28.19; 2Co 13.13 [versículo 14 na NM] etc.).

c)      O Espírito, o Santo (ambos com o artigo: At 1.16; 5.3; 28.25 etc.).         

     Vê-se que não há uniformidade nas Escrituras em relação ao uso do artigo neutro toda vez que se fala do Espírito Santo. Há casos em que o artigo é usado, como há casos em que não é. Isso não deve constituir nenhum obstáculo para a personalidade do Espírito Santo. Sobre essa questão, convém citar o comentário de William Carey Taylor acerca do uso do artigo na língua grega: 

        Quando se emprega o artigo, o substantivo é definido; quando não se emprega, o substantivo pode ser definido ou indefinido:

[. . .] É essencial esforçarmo-nos para alcançar o ponto de vista grego. Nunca devemos falar de “omissão do artigo”. O grego não omitiu o que é diferente no nosso idioma, mas escreveu segundo a sua própria índole. Se não há artigo, é porque não lhe era natural usá-lo.17  

     Assim, a ausência do artigo não indica necessariamente falta de personalidade. O argumento da organização TJ, portanto, carece de base sólida, e não sobrevive ao recorrermos ao grego do Novo Testamento.     

Conclusão

     A organização TJ corre o sério risco de, ao defender com unhas e dentes enunciados doutrinais desprovidos de piedade e de base bíblica, pecar contra o Espírito Santo. E contra esse pecado Jesus foi categórico: “Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na era que há de vir” (Mat. 12.32). Que Deus Se apiede dos tais, abrindo-lhes as mentes, antes que seja tarde demais.
    A fé no Espírito Santo como Ser pessoal e Deus verdadeiro, assim como o Pai e o Filho, é uma convicção que ultrapassa um simples enunciado doutrinal. “Trata-se”, como afirmou Luigi Padovese, “de uma profissão de esperança e de confiança no Deus trinitário”.18
     Essa profissão de fé e esperança foi colocada nos belos versos do hino latino Veni Creator Spiritus [Vem Espírito criador], do século IX:                

Oh! Vem, Divino Criador
Espírito, entre nós morar;
A nós concede o teu amor.
Vem nossas almas confortar. 

Supremo dom que vem dos céus,
Da vida, a fonte divinal,
Unção de amor, aos filhos teus
Dispensa força contra o mal. 

0s sete dons da graça tens,
És dedo na divina mão;
Promessa eterna, ao mundo vens,
Guiar os homens na oração.

Acende em nós a tua luz,
Infunde amor nos corações,
Virtude santa que produz
Vigor e paz nas tentações. 

Do mundo as hostes vem vencer,
E os corações tranqüilizar;
Ninguém nos poderá deter:
Pois nossos passos vens guiar.

Do Pai, por ti, sabemos nós
Do Filho que desceu dos céus;
Tudo deles vem, e a uma voz
Louvamos sempre o Trino Deus.19 

     Para finalizar, queremos voltar à  introdução deste capítulo, na qual vimos uma das razões pelas quais Macedônio, bispo do Constantinopla,  negava a divindade e a personalidade do Espírito Santo: a ausência de quaisquer referências à divindade do Espírito Santo no Concílio de Nicéia (325 d.c.), no qual foi ressaltada a divindade do Cristo e sua  igualdade de essência com o Pai. A fé trinitária parecia, para o bispo apóstata, muito tardia (o mesmo argumento é empregado pela organização TJ. Sobre o Espírito Santo, o Credo niceno originalmente dizia: “Cremos no Espírito Santo”, sem explicações adicionais.

     Mas é na pena de Gregório de Nazianzo (330-390), cognominado “O Teólogo” que encontramos o porquê de o Espírito Santo ser o último na revelação das pessoas da Santíssima Trindade. Trata-se da pedagogia progressiva da condescendência divina: 

O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão clara de si mesmo. Com efeito, não era prudente, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Filho ainda não era admitida, acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar, para usarmos uma expressão um tanto ousada. . . . É através de avanços e de progressões “de glória em glória”, que a luz da Trindade resplandecerá em claridades mais brilhantes”.20

 _______ 
  1 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p.37.
  2
João Calvino, As institutas: ou tratado da religião cristã, v. 1, cap. xiii, xvi.
  3
Henry Chadwick, A igreja primitiva, trad. Maria Helena Albarran de Carvalho, Lisboa, Portugal, Editora Ulisseia, 1969, p.157
  4
Ap. Luigi Padovese, Introdução à teologia patrística, trad. Orlando Soares Moreira, São Paulo, Lyola, 1999., p. 75.
  5
Chadwick, op. Cit., p. 157.
  6
Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p.37, par.9
  7
Estudo Perspicaz das Escrituras, p.33, v.2.
  8
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Livro de oração comum, Porto Alegre, IEAB, 1990, p. 72.
  9
3a. edi., p. 89, 90.
10
João Calvino, op. Cit., p. 155.
11
Leonardo Boff, A Trindade, a sociedade e a libertação, p. 15.
12
P. 33, v. 2.
13
Catecismo da Igreja Católica, várias editoras, 1993, p. 172 (par. 691).
14
Estudo perspicaz das Escrituras, p. 155, v. 2.
15
Imágenes verbales en el Nuevo testamento, adap. ao castelhano e anotações Santiago Escuain, Terrassa, Barcelona, Clie, 1988, p. 254, tomo 1: “Mateo y Marcos”.
16
Ibid.
17
Introdução ao estudo do Novo Testamento grego, 8. ed., Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p. 594 (par. 539).
18
Op. Cit., p. 84.
19
Hinário da Igreja Anglicana, de 1962, nº 93.
20
Apud Catecismo da Igreja Católica, 1993, p. 170, par. 684.

 

 Reprodução—autorizada pelo autor e editora—do capítulo 6 do livro Por que abandonei as Testemunhas de Jeová, Aldo dos Santos Menezes, (São Paulo: Editora Vida, 2001), pág. 201-223. 


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