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Deixa-me chorar

 

 

Já não há mais sonho.

Perdi, eu sei.

Trouxe-te a mim,

um dia,

guardei-te nas mãos,

no coração, na alma.

Aprendi teus passos,

encantei-me em teus caminhos,

envolvi-te e acariciei-te

com meus sentimentos mais puros,

ofertei-te vida e sonhos,

guardei-te no melhor de mim.

Mas, capricho teu,

desfizeste fria e descuidadamente

o encanto.

Tiraste-me o chão,

a certeza, a vida.

E o que me resta de tudo

é silêncio, vazio e espanto,

colados em mim,

queimando-me

pele e essência.

Agora,

deixa-me chorar.

Deixa que pranto e grito

rasguem-me as vísceras,

assombrem-me o futuro,

roubem-me a esperança

e a consumam, vorazes.

Ah, limitado corpo que me contém!

Minhas mãos, meus beijos

e meus carinhos estão pálidos,

inúteis e mudos.

Prometeste-me tanto...

E tudo o que me deste

foram as sobras desse coração

que um dia te ofertei

com mãos trêmulas

e olhos molhados,

brilhados e comovidos de paixão.

Rasgada e ferida

devolveste-me a alma,

que já não encontra

mais lugar nem alívio.

Não, não te movas!

Qualquer gesto em minha direção

destruir-me-ia os restos.

Deixa-me.

Quero chorar.

Quero gritar a dor,

salgá-la,

alimentá-la infinitamente!

Quero guardá-la no peito,

nos poros,

no mais profundo do meu ser.

E a quero viva,

pulsante,

insuportavelmente imensa!

Porque essa dor,

agora,

é tudo o que ainda tenho de ti...

 

 

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Helena C. de Araujo

 

 

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