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                  Um sonho, apenas...



       E dizer que te sonhei, te quis...
       Ofertei-te meus sonhos e alegrias
       e fiz tão minhas tuas pequenas coisas
       por abrir mil corações às tuas chegadas...
       E dizer que me ausentei, silenciei,
       morri aos teus olhos quando assim querias
       sofrendo a dor, tão maior, que me vencia
       ao te chorar em tristezas e receios
       quando não soube o que dizer dos teus silêncios
       e nem o que fazer com meus vazios...
       E dizer que me calei quando foi preciso
       porque me tiravas o pensamento e a voz
       com argumentos incontestáveis
       quando partias do alcance de meus braços
       que se prostravam,
       resignados pela saudade que deixavas
       enquanto, em outros braços, te encontravas...
       Mas quando, carente e só, voltavas,
       e me contavas tuas ansiedades, incertezas,
       eram meus os braços que te acolhiam
       felizes e imensos por te receber de volta...
       Mas assim que te sentias, quem sabe, confortado,
       pelas tantas coisas que te oferecia,
       saciada a sede, a fome, a fantasia,
       tiravas-me, pouco a pouco e sem cuidado,
       o muito pouco que eu ainda tinha...
       Estranhas, talvez, meu desencanto agora,
       em que desfaço tudo o que te representa...
       É só o meu cansaço, insana desistência,
       somada a essa ausência que te dou de mim.
       Mas só porque partiste... E quiseste assim...
       Talvez, no meu aceno, à despedida,
       ainda me vejas disfarçar um gesto
       que conte toda a dor que esse desfecho traz...
       Só não te abraço... Nem conseguiria...
       Porque desejaria te dizer: não vás!
 
       E dou-me agora, para meu conforto,
       um doce sublimar de sentimento em mim:
       Poder pensar sem dor, que te sonhei um dia,
       mas foste um sonho apenas...
       E então, assim,
       guardar-te nas lembranças que virão, mais tarde...
       Poder viver a vida, sem sentir saudade...
       Seguir, cabeça erguida,
       peito livre, enfim...

 

 

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Helena C. de Araujo

 

 

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