AKJ: Almeida-1753 compatibilizada com a KJB-1611, com grafia e gramática inspiradas na ACF-1995  

LIVRO DE
Capítulos 01-10


Capítulo 1
1 Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem perfeito, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal.
2 E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
3 E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os filhos do oriente.
4 E iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um dos homens no seu dia; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
5 Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, Jó enviava chamado a eles, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.
6 E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
7 Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: De correr de uma para outra parte, através da terra, e de passear para cima e para baixo, através dela.
8 E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a Meu servo Jó? Porque ninguém na terra semelhante a ele, homem perfeito e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
9 Então respondeu Satanás ao SENHOR, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde?
10 Porventura Tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem em cada lado? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra.
11 Mas estende a Tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra Ti na Tua face.
12 E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.
13 E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho {*}, na casa de seu irmão primogênito, {* <03196 yayin> pode ser qualquer líquido direta ou indiretamente derivado de uvas. O contexto de toda a Bíblia, e contexto local, e a santidade do verdadeiro autor das Escrituras, o Espírito Santo de Deus, aqui exige que o sentido seja o de suco puro recém espremido (como em Gn 40:11}, ou o de suco não fermentado e conservado por qualquer um de vários processos conhecidos ("pasteurização", fumos de enxofre, fervura e evaporação até se tornar grosso xarope, etc., com envasilhamento estéril e hermético), mas não o sentido de vinagre, nem o de vinho alcoólico. De qualquer modo, quer alcoólico ou não, o líquido proveniente da uva somente devia ser usado misturado em 3 a 20 partes de água. Ler o livro "Bible Wines: or, The Laws of Fermentation and Wine of the Ancients" - William Patton}
14 Que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles;
15 E caíram sobre eles os sabeus, e os levaram, e aos jovens- servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
16 Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus {*} caiu do céu, e queimou as ovelhas e os jovens- servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova. {* Inspiração garante que é verdade que as palavras de um não profeta de Deus foram ditas (e ditas como a Bíblia as cita), mas não garante que elas expressam verdade absoluta (como se tivessem sido ditas por Deus ou um Seu profeta inspirado). Portanto, aqui, o uso da expressão "fogo de Deus" pelo servo pode ter duas explicações: A) Significou "raio de um relâmpago", nada mais que isto, portanto não temos nenhum problema; B) Significou "fogo proveniente de Deus", o que é erro do servo (não da Bíblia, que apenas fielmente cita as palavras erradas), pois tal fogo proveio do diabo; ademais, talvez foi o diabo que pôs estas palavras nos lábios do servo, para tentar culpar a Deus e pôr amargura e revolta contra Ele no coração de Jó. }
17 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Formando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos jovens- servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
18 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho {*}, em casa de seu irmão primogênito, {** Ver nota 1:18}
19 Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens homens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
20 Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou.
21 E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR.
22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.

Capítulo 2
1 E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles, apresentar-se perante o SENHOR.
2 Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E respondeu Satanás ao SENHOR, e disse: De correr de uma para outra parte, através da terra, e de passear para cima e para baixo, através dela.
3 E disse o SENHOR a Satanás: Observaste o Meu servo Jó? Porque ninguém na terra semelhante a ele, homem perfeito e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda retém a sua integridade, havendo-Me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa.
4 Então Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
5 Porém estende a Tua mão, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra Ti na Tua face!
6 E disse o SENHOR a Satanás: Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida.
7 Então saiu Satanás da presença do SENHOR, e feriu a Jó de úlceras malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.
8 E tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza.
9 Então sua esposa lhe disse: Ainda reténs a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
10 Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
11 Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, veio cada homem do seu lugar: Elifaz o temanita, e Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram vir chorar juntamente com ele, e o consolar.
12 E, levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; e levantaram a sua voz e choraram, e rasgou cada homem o seu manto, e sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar.
13 E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.

Capítulo 3
1 Depois disto abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia.
2 E Jó, falando, disse:
3 Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!
4 Transforme-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz.
5 Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; a escuridão do dia o terrifique!
6 Quanto àquela noite, dela se apodere a escuridão; e não se regozije ela entre os dias do ano; e não entre no número dos meses!
7 Ah! que solitária seja aquela noite, e nela não entre voz de cântico- retumbante- de- júbilo!
8 Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para suscitar o seu pranto.
9 Escureçam-se as estrelas da pouquíssima luz do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pálpebras do alvorecer;
10 Porque não fechou as portas do ventre da minha mãe; nem escondeu dos meus olhos o sofrimento.
11 Por que não morri eu desde a madre? E, em saindo do ventre, não expirei?
12 Por que me receberam os joelhos? E por que os peitos, para que eu mamasse?
13 Porque agora jazeria e repousaria; dormiria, e então haveria repouso para mim.
14 Com os reis e conselheiros da terra, que para si edificam lugares desolados,
15 Ou com os príncipes que possuem ouro, que enchem as suas casas de prata,
16 Ou como aborto oculto, não existiria; como os infantes que nunca viram a luz.
17 Ali os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados.
18 Ali os prisioneiros juntamente repousam, e não ouvem a voz do exator {*}. {* "Exator" é um opressor cobrador de impostos ou um tirano feitor}
19 Ali estão o pequeno e o grande, e o servo está livre de seu senhor.
20 Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados na alma?
21 Que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;
22 Que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?
23 Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou ao redor?
24 Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.
25 Porque o temor que eu temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu.
26 Nunca estive assegurado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.

Capítulo 4
1 Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:
2 Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras?
3 Eis que ensinaste a muitos, e tens fortalecido as mãos fracas.
4 As tuas palavras firmaram os que tropeçavam e os joelhos desfalecentes tens fortalecido.
5 Mas agora, que se trata de ti, te enfadas; e tocando-te a ti, te perturbas.
6 Porventura não é o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança a inteireza- completude dos teus caminhos?
7 Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?
8 Segundo eu tenho visto, os que lavram iniqüidade, e semeiam mal, colhem o mesmo.
9 Com o hálito de Deus perecem; e com o sopro da Sua ira se consomem.
10 O rugido do leão, e a voz do leão feroz, e os dentes dos leões jovens se quebram.
11 Perece o leão velho, porque não tem presa; e os filhos da leoa andam dispersos.
12 Uma coisa me foi trazida em segredo; e os meus ouvidos receberam um sussurro dela.
13 Entre pensamentos vindos de visões da noite, quando cai sobre os homens o sono profundo,
14 Sobrevieram-me o terror e o tremor, e todos os meus ossos estremeceram.
15 Então um espírito passou diante de minha face; fez-me arrepiar os cabelos da minha carne.
16 Parou ele, porém não reconheci a sua aparência; uma forma estava diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz que dizia:
17 Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?
18 Eis que Ele não confia nos Seus servos e aos Seus anjos atribui loucura;
19 Quanto menos àqueles que habitam em casas de barro, cujo fundamento está no pó, e são esmagados diante da traça!
20 Desde a manhã até ao anoitecer são despedaçados; perecem para sempre sem que disso se faça caso.
21 Porventura não passa com eles a sua excelência? Morrem, mas sem sabedoria.

Capítulo 5
1 Chama agora; há alguém que te responda? E para qual dos santos te virarás?
2 Porque a ira destrói o louco; e o zelo mata o tolo.
3 Bem vi eu o louco lançar raízes; porém logo amaldiçoei a sua habitação.
4 Seus filhos estão longe da salvação; e são despedaçados às portas, e não há quem os livre.
5 A sua messe {*}, o faminto a devora, e até dentre os espinhos a tira; e o salteador engole a sua fazenda. {* "Messe" é seara (campo de grãos) madura, em ponto de ser colhida}
6 Porque do pó não procede a aflição, nem da terra brota a tribulação.
7 Mas o homem nasce para a tribulação, como as faíscas das brasas se levantam para voar.
8 Porém eu buscaria a Deus; e a Deus entregaria a minha causa.
9 Ele faz coisas grandes e inescrutáveis, e maravilhas sem número.
10 Ele dá a chuva sobre a terra, e envia águas sobre os campos.
11 Para pôr aos abatidos num lugar alto; e para que os enlutados se exaltem na salvação.
12 Ele aniquila as imaginações dos astutos, para que as suas mãos não possam levar seus projetos a efeito.
13 Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho dos perversos se precipita.
14 Eles de dia encontram as trevas; e ao meio dia andam às apalpadelas como de noite.
15 Porém ao necessitado livra da espada, e da boca deles, e da mão do forte.
16 Assim há esperança para o pobre; e a iniqüidade tapa a sua própria boca.
17 Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus repreende; não desprezes, pois, o castigo- instrutivo do Todo-Poderoso.
18 Porque Ele faz a chaga, e Ele mesmo a liga; Ele fere, e as Suas mãos curam.
19 Em seis angústias te livrará; e na sétima o mal não te tocará.
20 Na fome te livrará da morte; e na guerra, do poder da espada.
21 Do açoite da língua estarás encoberto; e não temerás a assolação, quando vier.
22 Da assolação e da fome te rirás, e os animais da terra não temerás.
23 Porque até com as pedras do campo terás o teu acordo, e as feras do campo serão pacíficas contigo.
24 E saberás que a tua tenda está em paz; e visitarás (para trazer bem) a tua habitação, e não pecarás.
25 Também saberás que a tua semente será numerosa e a tua posteridade será como a erva da terra,
26 Em robusta velhice irás à sepultura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo.
27 Eis que isto já o havemos inquirido, e assim é; ouve-o, e entende isso para teu bem.

Capítulo 6
1 Então Jó respondeu, dizendo:
2 Oh! se a minha mágoa completamente se pesasse, e a minha calamidade juntamente se pusesse numa balança!
3 Porque, na verdade, mais pesada seria, do que a areia dos mares; por isso é que as minhas palavras têm sido engolidas.
4 Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim, cujo ardente veneno suga o meu espírito; os terrores de Deus depõem-se em ordenada linha de batalha contra mim.
5 Porventura zurrará o jumento montês junto à verde da tenra grama? Ou mugirá o boi junto à sua forragem?
6 Ou comer-se-á sem sal o que é insípido? Ou haverá sabor na clara do ovo?
7 As coisas que a minha alma antes recusava tocar, agora são minha comida de dores.
8 Quem dera que se cumprisse o meu desejo, e que Deus me desse o que anelo!
9 E que Deus quisesse esmagar-me, e soltasse a Sua mão, e acabasse comigo!
10 Isto ainda seria a minha consolação, e saltaria de contente na minha dor, não me poupando Ele; porque não ocultei as palavras do Santo.
11 Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim, para que eu prolongue a minha vida?
12 É porventura a minha força a força da pedra? Ou é de bronze a minha carne?
13 Está em mim a minha ajuda? Ou desamparou-me a verdadeira sabedoria?
14 Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, mas ele (o amigo) há abandonado o temor do Todo-Poderoso.
15 Meus irmãos aleivosamente {*} me trataram, como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam, {* Enganadora e traiçoeiramente}
16 Que estão escurecidos por causa do gelo, e neles se esconde a neve,
17 No tempo em que se derretem com o calor, se desfazem, e em se aquentando, desaparecem do seu lugar.
18 Desviam-se as veredas dos seus caminhos; sobem ao vácuo, e perecem.
19 Os caminhantes de Temá os vêem; os passageiros de Sabá anelam por eles.
20 Ficam envergonhados, por terem confiado e, em chegando ali, se confundem.
21 Agora, certamente sois como eles, nada; vistes a minha terrificante queda, e temestes.
22 Porventura disse eu "Dai-me"? Ou disse eu "Oferecei-me subornos de vossos bens"?
23 Ou  disse eu "Livrai-me das mãos do inimigo"? Ou disse eu "Redimi-me das mãos dos terrificadores"?
24 Ensinai-me, e eu me calarei; e fazei-me entender em que errei.
25 Oh! quão fortemente pressionantes são as palavras retas! Mas que é o que repreende a vossa argüição?
26 Porventura imaginareis palavras para me repreenderdes, visto que as palavras do desesperado são como vento?
27 Mas antes lançais sortes sobre o órfão; e cavais uma cova para o vosso amigo.
28 Agora, pois, se vos agrada, olhai para mim; e vede se minto ante a vossa face.
29 Voltai, rogo-vos, não seja isto iniqüidade; voltai, que minha justiça aparecerá nisso.
30 Há porventura iniqüidade na minha língua? Ou não poderia o meu palato distinguir coisas iníquas?

Capítulo 7
1 Porventura não tem o homem guerra sobre a terra? E não são os seus dias como os dias do jornaleiro?
2 Como o servo que suspira pela sombra, e como o jornaleiro que espera pela sua paga,
3 Assim me deram por herança meses de vanidade; e noites de trabalho me prepararam.
4 Deitando-me a dormir, então digo: "Quando me levantarei?" Mas comprida é a noite, e farto-me de me revolver de uma para outra parte, na cama, até ao alvorecer.
5 A minha carne se tem vestido de vermes e de torrões de pó; a minha pele está gretada, e se fez abominável.
6 Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão, e acabam-se, sem esperança.
7 Lembra-te de que a minha vida é como o vento; os meus olhos não tornarão a ver o bem.
8 Os olhos dos que agora me vêem não me verão mais; os Teus olhos estarão sobre mim, porém não serei mais.
9 Assim como a nuvem se desfaz e passa, assim aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir.
10 Nunca mais tornará à sua casa, nem o seu lugar jamais o conhecerá.
11 Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito; queixar-me-ei na amargura da minha alma.
12 Sou eu porventura o mar, ou a baleia, para que me ponhas uma guarda?
13 Dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama; meu leito aliviará a minha ânsia;
14 Então me atemorizas com sonhos, e com visões me assombras;
15 Assim a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a minha vida.
16 A minha vida abomino, pois não viveria para sempre; retira-Te de mim; pois vanidade são os meus dias.
17 Que é o homem, para que tanto o engrandeças, e ponhas sobre ele o Teu coração,
18 E cada manhã o visites (para trazer bem), e cada momento o proves?
19 Até quando não Te apartarás de mim, nem me largarás, até que eu engula a minha saliva?
20 Eu pequei, que farei para Ti, ó Guardião dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para Ti, para que a mim mesmo me seja pesado?
21 E por que não perdoas a minha transgressão, e não fazes passar a minha iniqüidade? Porque agora me deitarei no pó, e de madrugada me buscarás, e não existirei mais.

Capítulo 8
1 Então respondendo Bildade o suíta, disse:
2 Até quando falarás tais coisas, e as palavras da tua boca serão como um vento impetuoso?
3 Porventura perverteria Deus o direito? E perverteria o Todo-Poderoso a justiça?
4 Se teus filhos pecaram contra Ele, também Ele os lançou no poder da mão da transgressão deles.
5 Mas, se tu de madrugada buscares a Deus, e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia;
6 Se fores puro e reto, certamente logo despertará por ti, e restaurará a morada da tua justiça.
7 O teu princípio, na verdade, terá sido pequeno, porém o teu último estado crescerá em extremo.
8 Pois, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais.
9 Porque nós somos de ontem, e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra.
10 Porventura não te ensinarão eles, e não te falarão, e do seu coração não tirarão palavras?
11 Porventura cresce o junco sem lama? Ou cresce a espadana sem água?
12 Estando ainda no seu verdor, ainda que não cortada- abaixo, todavia antes de qualquer outra erva se seca.
13 Assim são as veredas de todos quantos se esquecem de Deus; e a esperança do hipócrita perecerá.
14 Cuja esperança fica frustrada; e a sua confiança será como a teia de aranha.
15 Encostar-se-á à sua casa, mas ela não subsistirá; apegar-se-á a ela, mas não ficará em pé.
16 Ele é viçoso perante o sol, e os seus renovos saem sobre o seu jardim;
17 As suas raízes se entrelaçam ao redor do montão de pedras; contempla (para penetrar) a casa de pedras.
18 Se Ele (Deus) {*} o engolir do seu lugar, então ele (o lugar) {**} negará a ele (o ímpio) {***}, dizendo: Nunca vi a ti (o ímpio) {****}! {* ou o sol de v. 16} {** ou o ímpio de v. 13, ou Deus} {*** ou Deus} {**** ou Deus}
19 Eis que isto é a alegria do seu caminho, e outros brotarão do pó da terra.
20 Eis que Deus não rejeitará ao homem perfeito; nem toma pela mão aos malfeitores;
21 Até que de riso te encha a boca, e os teus lábios de júbilo.
22 Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.

Capítulo 9
1 Então Jó respondeu, dizendo:
2 Na verdade sei que assim é; porque, como se justificaria o homem para com Deus?
3 Se quiser contender com Ele, nem a uma de mil coisas Lhe poderá responder.
4 Ele é sábio de coração, e forte em poder; quem se endureceu contra Ele, e teve paz?
5 Ele é o que remove os montes, sem que o saibam, e o que os transtorna no Seu furor.
6 O que sacode a terra do seu lugar, e as suas colunas estremecem.
7 O que fala ao sol, e ele não nasce, e sela as estrelas.
8 O que sozinho estende os céus, e anda sobre as altas ondas do mar.
9 O que fez a Ursa Maior, o Orion, e o Sete-estrelo, e as recâmaras do sul.
10 O que faz coisas grandes e que não se podem esquadrinhar; e maravilhas sem número.
11 Eis que Ele passa por diante de mim, e não O vejo; e torna a passar perante mim, e não O percebo.
12 Eis Ele que arrebata a presa; quem O fará restituí-la? Quem Lhe dirá: Que é o que fazes?
13 Deus não revogará a Sua ira; debaixo dEle se encurvam os auxiliadores soberbos.
14 Quanto menos Lhe responderia eu, ou escolheria as minhas palavras para argumentar com Ele!
15 Porque, ainda que eu fosse justo, não Lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.
16 Ainda que chamasse, e Ele me respondesse, nem por isso creria que desse ouvidos à minha voz.
17 Porque me quebranta com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa.
18 Não me permite restaurar meu fôlego, antes me farta de amarguras.
19 Quanto às forças, eis que Ele é o forte; e, quanto ao juízo, quem me atribuirá um tempo de pleitear com Ele?
20 Se eu me justificar, a minha boca me condenará; se eu disser "Eu sou perfeito", então ela me declarará perverso.
21 Se eu fosse perfeito, ainda assim não estimaria a minha alma; desprezaria a minha vida.
22 É tudo uma só coisa; por isso eu digo que Ele consome ao perfeito e ao ímpio.
23 Quando o açoite mata de repente, então Ele zomba do teste dos inocentes.
24 A terra é entregue nas mãos do ímpio; Ele cobre o rosto dos juízes; se não é Ele (Quem permite isso), onde está e quem é Ele?
25 E os meus dias são mais velozes do que um correio; fugiram, e não viram o bem.
26 Passam como velozes navios veleiros; como águia que se lança à comida.
27 Se eu disser: Eu me esquecerei da minha queixa, e mudarei o meu aspecto e confortar-me-ei,
28 Receio todas as minhas dores, porque bem sei que não me terás por inocente.
29 E, se eu me tornei condenado, por que trabalharei em vão?
30 Ainda que me lave com água de neve, e purifique as minhas mãos com sabão,
31 Ainda assim Tu me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão.
32 Porque Ele não é homem, como eu, a quem eu responda, vindo nós juntamente a juízo.
33 Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos.
34 Tire Ele a Sua vara de cima de mim, e não me amedronte o Seu terror.
35 Então falarei, e não O temerei; mas retidão não está em mim mesmo.

Capítulo 10
1 A minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma.
2 Direi a Deus: Não me condenes; declara-me por que contendes comigo.
3 Parece-Te bem que me oprimas, que rejeites o trabalho das Tuas mãos e resplandeças sobre o conselho dos ímpios?
4 Tens Tu porventura olhos de carne? Vês Tu como vê o homem?
5 São os Teus dias como os dias do homem? Ou são os Teus anos como os dias de um homem,
6 Para Te informares da minha iniqüidade, e averiguares o meu pecado?
7 Bem sabes Tu que eu não sou iníquo; todavia ninguém que me livre da Tua mão.
8 As Tuas mãos me fizeram e completamente me formaram ao redor; contudo me devoras.
9 Peço-Te que Te lembres de que como barro me formaste e me farás voltar ao pó.
10 Porventura não me derramaste como leite, e como queijo não me coalhaste?
11 De pele e carne me vestiste, e de ossos e nervos me entreteceste.
12 Vida e misericórdia me concedeste; e o Teu cuidado preservou o meu espírito.
13 Porém estas coisas as ocultaste no Teu coração; bem sei eu que isto esteve conTigo.
14 Se eu pecar, Tu me observas; e da minha iniqüidade não me absolverás.
15 Se for ímpio, ai de mim! E se for justo, não levantarei a minha cabeça; farto estou da minha ignomínia; e vê qual é a minha aflição,
16 Porque esta vai crescendo; Tu me caças como a um leão feroz; tornas a Te mostrar maravilhoso para comigo.
17 Tu renovas contra mim as Tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a Tua ira; revezes e combate estão comigo.
18 Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se então eu tivera expirado, e olho nenhum me visse!
19 Então eu teria sido como se nunca fora; e desde o ventre seria levado à sepultura!
20 Porventura não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu me conforte.
21 Antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, à terra da escuridão e da sombra da morte;
22 Terra escuríssima, como a própria escuridão, terra da sombra da morte e sem ordem alguma, e onde a luz é como a escuridão.

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