AKJ: Almeida-1753 compatibilizada com a KJB-1611, com grafia e gramática inspiradas na ACF-1995  

LIVRO DE
Capítulos 11-20


Capítulo 11
1 Então respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 Porventura não se dará resposta à multidão de palavras? E o homem falador será justificado?
3 Às tuas mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
4 Pois dizes: A minha doutrina é pura, e limpo sou aos Teus olhos.
5 Mas na verdade, quem dera que Deus falasse e abrisse os Seus lábios contra ti!
6 E te fizesse saber os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é multiforme! Sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.
7 Porventura através de busca acharás Deus, ou chegarás até à perfeição do Todo-Poderoso?
8 Como as alturas do céU é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? E mais profunda é ela do que o inferno, que poderás tu saber?
9 Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar.
10 Se Ele passar, aprisionar, ou chamar a juízo, quem O impedirá?
11 Porque Ele conhece aos homens vãos, e vê a iniqüidade; e não o terá em consideração?
12 Mas o homem vão será tornado entendido; sim, o homem nasce como a cria do jumento montês.
13 Se tu preparares o teu coração, e estenderes as tuas mãos para Ele (Deus);
14 Se iniqüidade na tua mão, lança-a para longe de ti e não deixes habitar a injustiça nas tuas tendas.
15 Porque então levantarás o teu rosto sem mácula; e estarás firme, e não temerás.
16 Porque te esquecerás do cansaço, e lembrar-te-ás dele como das águas que já passaram.
17 E a tua idade mais clara se levantará do que o meio dia; tu brilharás, serás como a manhã.
18 E terás confiança, porque haverá esperança; procurarás em volta e repousarás seguro.
19 E deitar-te-ás, e ninguém te fará tremer; muitos suplicarão o teu favor.
20 Porém os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma.

Capítulo 12
1 Então Jó respondeu, dizendo:
2 Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
3 Também eu tenho entendimento como vós, e não vos sou inferior; e quem não sabe tais coisas como essas?
4 Eu sou motivo de riso para os seus amigos; eu, que invoco a Deus, e Ele me responde; o homem justo e perfeito serve de zombaria.
5 Tocha desprezível é, na opinião do que está descansado, aquele que está pronto a vacilar com os pés.
6 As tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão seguros; nas suas mãos Deus lhes põe tudo.
7 Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves do ar, e elas te declararão;
8 Ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes do mar te contarão.
9 Quem não entende, por todas estas coisas, que a mão do SENHOR fez isto?
10 Na Sua mão está a alma de tudo quanto vive, e o fôlego de toda a carne humana.
11 Porventura o ouvido não provará as palavras, como o palato prova as comidas?
12 Com os idosos está a sabedoria, e na longura de dias, o entendimento.
13 Com Ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem.
14 Eis que Ele derruba, e ninguém há que reedifique; encerra um homem na prisão, e ninguém há que o solte.
15 Eis que Ele retém as águas, e elas secam; e as envia, e elas transtornam a terra.
16 Com Ele está a força e a sabedoria; Seu é o que erra e o que faz errar.
17 Aos conselheiros leva despojados, e aos juízes faz desvairar.
18 Solta a atadura dos reis, e ata o cinto aos seus lombos.
19 Aos príncipes leva despojados, aos poderosos transtorna.
20 Aos acreditados tira a fala, e tira o entendimento aos anciãos.
21 Derrama desprezo sobre os príncipes, e afrouxa o cinto dos fortes.
22 Das trevas descobre coisas profundas, e traz à luz a sombra da morte.
23 Magnifica as nações e as faz perecer; dispersa as nações, e de novo as reconduz.
24 Tira o entendimento aos chefes dos povos da terra, e os faz vaguear pelos desertos, sem caminho.
25 Nas trevas andam às apalpadelas, sem terem luz, e os faz vaguear como ébrios.

Capítulo 13
1 Eis que tudo isto viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam.
2 Como vós o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior.
3 Mas eu falarei ao Todo-Poderoso, e quero defender-me perante Deus.
4 Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos sois médicos que não valem nada.
5 Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.
6 Ouvi agora a minha defesa, e atentai aos argumentos dos meus lábios.
7 Porventura em favor de Deus falareis perversidade, e a Seu favor falareis mentiras?
8 Fareis aceitação da Sua pessoa? Contendereis por Deus?
9 Ser-vos-ia bom, se Ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dEle, como se zomba de algum homem?
10 Certamente vos repreenderá, se em oculto fizerdes acepção de pessoas.
11 Porventura não vos amedrontará a Sua alteza, e não cairá sobre vós o Seu terror?
12 As vossas memórias são parábolas de cinza; os vossos corpos como corpos de barro.
13 Calai-vos perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier.
14 Por que razão tomarei eu a minha carne com os meus dentes, e porei a minha vida na minha mão?
15 Ainda que Ele me mate, nEle esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dEle.
16 Também Ele será a minha salvação; porém o hipócrita não virá perante Ele.
17 Ouvi com atenção as minhas palavras, e com os vossos ouvidos a minha declaração.
18 Eis que já tenho disposto em ordenada linha de batalha a minha causa, e sei que serei achado justo.
19 Quem é o que contenderá comigo? Se eu agora me calasse, renderia o espírito.
20 Duas coisas somente não faças para comigo; então não me esconderei do Teu rosto:
21 Desvia a Tua mão para longe, de mim, e não me terrifique o Teu terror.
22 Chama, pois, e eu responderei; ou eu falarei, e Tu me responderás.
23 Quantas iniqüidades e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.
24 Por que escondes o Teu rosto, e me tens por Teu inimigo?
25 Porventura acossarás uma folha arrebatada, pelo vento, de uma para outra parte? E perseguirás o restolho {*} seco? {* "Restolho" é cada tufo seco das folhas das plantas de trigo, que restou no campo depois das espigas serem cortados e colhidas, e da palha ser guardada em abrigo}
26 Por que escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar as iniqüidades da minha mocidade?
27 Também pões os meus pés no tronco, e estreitamente observas todos os meus caminhos, e pões uma marca nas raízes dos meus pés.
28 E ele me consome como a podridão, e como a roupa, à qual rói a traça.

Capítulo 14
1 O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e farto de inquietação.
2 Sai como a flor, e é cortado- abaixo; foge também como a sombra, e não permanece.
3 E sobre este tal abres os Teus olhos, e a mim me fazes entrar no juízo conTigo.
4 Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.
5 Visto que os seus dias estão determinados, conTigo está o número dos seus meses; e Tu lhe puseste limites, e não passará além deles.
6 Desvia-Te dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia.
7 Porque há esperança para a árvore que, se for cortada- abaixo, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos.
8 Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó,
9 Ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta.
10 Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele?
11 Como as águas se retiram (evaporando) do mar, e o rio se esgota, e fica seco,
12 Assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará nem despertará de seu sono.
13 Quem dera que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a Tua ira se fosse; e me pusesses um limite (de tempo), e Te lembrasses de mim!
14 Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança.
15 Chamar-me-ias, e eu Te responderia, e terias afeto à obra de Tuas mãos.
16 Mas agora contas os meus passos; porventura não vigias sobre o meu pecado?
17 A minha transgressão está selada num saco, e encobriste as minhas iniqüidades.
18 E, na verdade, caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar.
19 As águas gastam as pedras, as cheias levam- arrebatam o pó da terra; e Tu fazes perecer a esperança do homem;
20 Tu para sempre prevaleces contra ele, e ele passa; mudas o seu rosto, e o despedes.
21 Os seus filhos recebem honra, sem que ele o saiba {*}; são humilhados; sem que ele o perceba {*}; {* Nota Ec 9:5}
22 Mas a sua carne, nele, tem dores; e a sua alma, nele, chora- lamentando.

Capítulo 15
1 Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:
2 Porventura proferirá o sábio vã sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre,
3 Argüindo com palavras que de nada servem, e com falas que para nada aproveitam?
4 E tu tens feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.
5 Porque a tua boca declara a tua iniqüidade; e tu escolhes a língua dos astutos.
6 A tua própria boca te condena, e não eu, e os teus próprios lábios testificam contra ti.
7 És tu porventura o primeiro homem que nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros?
8 Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti limitaste a sabedoria?
9 Que sabes tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em nós?
10 Também entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
11 Porventura são pequenas demais, para ti, as consolações de Deus e a palavra gentil para contigo?
12 Por que te arrebata o teu coração, e por que piscam os teus olhos,
13 Para virares contra Deus o teu espírito, e deixares sair tais palavras da tua boca?
14 Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo?
15 Eis que Ele não confia nos Seus santos, e nem os céus são puros aos Seus olhos.
16 Quanto mais abominável e corrupto é o homem que bebe a iniqüidade como a água?
17 Escuta-me, mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei
18 (O que os sábios anunciaram, ouvindo-o de seus pais, e o não ocultaram;
19 Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estrangeiro passou por entre eles):
20 Todos os dias o ímpio é atormentado, e se reserva, para o terrificador, um curto número de anos.
21 O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador.
22 Não crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada.
23 Anda vagueando por pão, dizendo: Onde está? Bem sabe que já o dia das trevas lhe está preparado, à mão.
24 Assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como um rei preparado para a peleja;
25 Porque estendeu a sua mão contra Deus, e contra o Todo-Poderoso se embraveceu.
26 Arremete contra Ele com dura cerviz, atrás dos pontos grossos dos seus escudos.
27 Porquanto cobriu o seu rosto com a sua gordura, e criou dobras de banha nas ilhargas.
28 E habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam a ponto de fazer-se montões de ruínas.
29 Não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderão pela terra as possessões dela.
30 Não escapará das trevas; a chama do fogo secará os renovos dele, e ele desaparecerá ao sopro da boca dEle (de Deus).
31 Não confie, pois, na vanidade, enganando-se a si mesmo, porque a vanidade será a sua recompensa.
32 Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não se tornará verdejante.
33 Sacudirá as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor como a oliveira,
34 Porque a congregação dos hipócritas se fará estéril, e o fogo consumirá as tendas do suborno.
35 Concebem a maldade, e dão à luz a iniqüidade, e o seu ventre prepara enganos.

Capítulo 16
1 Então respondeu Jó, dizendo:
2 Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.
3 Porventura não terão fim essas palavras de vento? Ou o que te irrita, para assim responderes?
4 Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós, e menearia contra vós a minha cabeça?
5 Antes vos fortaleceria com a minha boca, e o mover dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
6 Se eu falar, a minha dor não é abrandada, e, abstendo-me, qual é o meu alívio?
7 Na verdade, agora Ele me tem feito fatigado. Tu (ó Deus) assolaste toda a minha companhia,
8 Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza se levanta contra mim, e no meu rosto testifica contra mim.
9 Na Sua ira me despedaçou, e Ele me odeia; rangeu os Seus dentes contra mim; o meu adversário aguça os seus olhos contra mim.
10 Escancaram a sua boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos, e contra mim se ajuntam todos.
11 Entrega-me Deus ao perverso, e nas mãos dos ímpios me faz cair.
12 Descansado estava eu, porém Ele me quebrantou; e pegou-me pela cerviz, e me despedaçou; também me pôs por Seu alvo.
13 Cercam-me os Seus flecheiros; atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama sobre a terra,
14 Quebra-me com brecha sobre brecha; arremete contra mim como um valente.
15 Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi o meu poder {*} no pó. {* Literalmente, "chifre"}
16 O meu rosto está todo avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte:
17 Apesar de não haver violência nas minhas mãos, e de ser pura a minha oração.
18 Ah! terra, não cubras o meu sangue e não haja lugar para ocultar o meu clamor!
19 Eis que também agora a minha testemunha está no céu, e nas alturas o meu testificador está.
20 Os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus.
21 Ah! se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo seu próximo!
22 Porque decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei.

Capítulo 17
1 O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim as sepulturas.
2 Deveras estou cercado de zombadores? E os meus olhos permanecem contemplando as suas provocações?
3 Promete agora, e dá-me um fiador para conTigo; quem há que bata as mãos comigo?
4 Porque aos seus corações encobriste o entendimento, por isso não os exaltarás.
5 Aquele que denuncia seus amigos através de lisonja,  também os olhos de seus filhos serão consumidos.
6 Porém a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que me tornei alguém a ser cuspido no rosto.
7 Pelo que se escureceram de mágoa os meus olhos, e todos os meus membros são como a sombra.
8 Os retos pasmarão disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita.
9 E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em força.
10 Mas, na verdade, tornai todos vós e vinde; porque sábio nenhum acharei entre vós.
11 Os meus dias passaram, e malograram os meus propósitos, as aspirações do meu coração.
12 Trocaram a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas.
13 Se eu esperar, a sepultura será a minha casa; nas trevas estenderei a minha cama.
14 À corrupção clamo: Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã.
15 Onde, pois, estaria agora a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?
16 Às barras da sepultura descerão quando juntamente no pó teremos descanso.

Capítulo 18
1 Então respondeu Bildade, o suíta, e disse:
2 Até quando poreis fim às palavras? Considerai bem, e então falaremos.
3 Por que somos reputados como animais, e como imundos aos vossos olhos?
4 (Ele despedaça a sua alma na sua ira.) Por tua causa será a terra abandonada? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?
5 Na verdade, a luz dos ímpios se apagará, e a chama do seu fogo não resplandecerá.
6 A luz se escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará.
7 Os seus passos firmes se estreitarão, e o seu próprio conselho o derrubará.
8 Porque por seus próprios pés é lançado na rede, e andará sobre as redes de fios.
9 O laço o apanhará pelo calcanhar, e o salteador prevalecerá contra ele.
10 Está escondida debaixo da terra uma corda, e uma armadilha na vereda.
11 Os assombros o aterrorizarão de todos os lados, e o farão correr (de uma parte para a outra) a cada passo.
12 Será faminto o seu vigor, e a destruição está pronta ao seu lado.
13 Será devorada a força de sua pele; sim, o primogênito da morte devorará a sua força.
14 A sua confiança será arrancada da sua tenda, e isto o fará caminhar para o rei dos terrores.
15 Nenhum dos seus morará na sua tenda; espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação.
16 Por baixo se secarão as suas raízes e por cima serão cortados fora os seus ramos.
17 A sua memória perecerá da terra, e pelas praças não terá nome.
18 Da luz o lançarão nas trevas, e afugentá-lo-ão do mundo.
19 Não terá filho nem sobrinho entre o seu povo, nem sobrevivente algum ficará nas suas moradas.
20 Do seu dia se espantarão os que vêm após ele, assim como foram tomados de horror os que vieram antes dele.
21 Tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que não conhece a Deus.

Capítulo 19
1 Respondeu, porém, Jó, dizendo:
2 Até quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras?
3 Já dez vezes me vituperastes; não tendes vergonha de vos fazerdes estrangeiros para comigo.
4 Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
5 Se deveras vos quereis engrandecer contra mim, e argüir-me pelo meu opróbrio,
6 Sabei agora que Deus é O que me transtornou, e com a sua rede (de prender) me cercou.
7 Eis que clamo: Violência! Porém não sou ouvido. Grito por socorro, porém não justiça.
8 O meu caminho Ele fechou com um muro, e já não posso passar, e nas minhas veredas pôs trevas.
9 Da minha honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça.
10 Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore.
11 E fez inflamar contra mim a Sua ira, e me reputou para conSigo, como a um de Seus inimigos.
12 Juntas vieram as Suas tropas, e prepararam contra mim o caminho delas, e se acamparam ao redor da minha tenda.
13 Ele pôs longe de mim a meus irmãos, e os meus conhecidos se tornaram como estrangeiros em relação a mim.
14 Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
15 Aqueles que moravam em minha casa e as minhas servas me reputaram como um estrangeiro, e vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.
16 Chamei a meu criado, e ele não me respondeu; cheguei a suplicar-lhe com a minha própria boca.
17 O meu hálito se fez estranho à minha esposa; e supliquei aos filhos do ventre da minha mãe.
18 Até os menininhos me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim.
19 Todos os homens da minha confidência me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim.
20 Os meus ossos se achegaram- e- aderiram à minha pele e à minha carne, e escapei com a pele dos meus dentes.
21 Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou.
22 Por que me perseguis como Deus, e da minha carne não vos fartais?
23 Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro!
24 E que, com uma pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha.
25 Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.
26 E depois de a minha pele ter sido consumida ao redor por vermes, contudo ainda em minha carne verei a Deus,
27 Vê-Lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros O contemplarão; e por isso os meus rins se consomem no meu interior.
28 Na verdade, que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusação se acha em mim.
29 Temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes que um juízo.

Capítulo 20
1 Então respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 Visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.
3 Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim.
4 Porventura não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra,
5 O cântico- retumbante- de- júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas é momentânea?
6 Ainda que a sua altivez suba até aoS céuS, e a sua cabeça chegue até às nuvens.
7 Contudo, como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está ele?
8 Como um sonho voará, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite.
9 O olho, que já o viu, jamais o verá, nem o seu lugar o verá mais.
10 Os seus filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restituirão os seus bens.
11 Os seus ossos estão cheios do pecado do vigor da sua mocidade, mas este se deitará com ele no pó.
12 Ainda que o mal lhe seja doce na sua boca, e ele o esconda debaixo da sua língua,
13 E o poupe, e não o deixe, antes o retenha no meio do seu palato,
14 Contudo a sua comida se transformará dentro das suas entranhas; fel de áspides será interiormente.
15 Engoliu riquezas, porém vomitá-las-á; do seu ventre Deus as lançará para fora.
16 Veneno de áspides sorverá; língua de víbora o matará.
17 Não verá os rios, os transbordamentos e os ribeiros de mel e manteiga.
18 Será feito restituir o fruto do seu labor, e não o engolirá; conforme ao seu poder terá que ser a sua restituição, e não regozijará nisto.
19 Porquanto oprimiu e desamparou os pobres, e violentamente despojou a casa que não edificou.
20 Porquanto não sentiu sossego no seu ventre; nada salvará das coisas por ele desejadas.
21 Nada lhe sobejará do que coma; por isso as suas riquezas não durarão.
22 Na plenitude da sua abastança, estará angustiado; toda a mão do perverso virá sobre ele.
23 Mesmo estando ele a encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele o ardor da Sua ira, e a fará chover sobre ele quando for comer.
24 Ainda que fuja das armas de ferro, o arco de aço o atravessará.
25 A flecha é arrancada e sai do seu corpo; sim, a luzente espada sai do seu fel; terrores estão sobre ele.
26 Toda a escuridão se ocultará nos seus esconderijos; um fogo não assoprado o consumirá, irá mal com aquele que restar na sua tenda.
27 O céU manifestará a sua iniqüidade; e a terra se levantará contra ele.
28 As riquezas de sua casa serão removidas; no dia da Sua ira todas se derramarão.
29 Esta, da parte de Deus, é a porção do homem ímpio; esta é a herança que Deus lhe decretou.

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