AKJ: Almeida-1753 compatibilizada com a KJB-1611, com grafia e
gramática inspiradas na ACF-1995
LIVRO DE JÓ
Capítulos 11-20
Capítulo 11
1 Então
respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 Porventura
não se dará resposta à multidão de palavras? E
o homem falador será justificado?
3 Às tuas mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem
que ninguém te envergonhe?
4 Pois dizes:
A minha doutrina é pura, e limpo sou aos Teus olhos.
5 Mas na verdade,
quem dera que Deus falasse e abrisse os Seus lábios contra ti!
6 E te fizesse
saber os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é
multiforme! Sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.
7 Porventura
através de busca acharás Deus,
ou chegarás até à
perfeição do Todo-Poderoso?
8 Como as
alturas do céU é a Sua sabedoria; que poderás tu
fazer? E mais profunda é ela do que o inferno, que poderás tu saber?
9 Mais comprida
é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar.
10 Se Ele
passar, aprisionar, ou chamar a juízo, quem O impedirá?
11 Porque
Ele conhece aos homens vãos, e vê a iniqüidade; e não
o terá em consideração?
12 Mas o homem
vão será tornado entendido; sim, o homem nasce como a cria
do jumento montês.
13 Se tu preparares
o teu coração, e estenderes as tuas mãos para Ele
(Deus);
14 Se há
iniqüidade na tua mão, lança-a para longe de ti e não
deixes habitar a injustiça nas tuas tendas.
15 Porque
então levantarás o teu rosto sem mácula; e estarás
firme, e não temerás.
16 Porque
te esquecerás do cansaço, e lembrar-te-ás dele como
das águas que já passaram.
17 E a tua
idade mais clara se levantará do que o meio dia;
tu brilharás,
serás como a manhã.
18 E terás
confiança, porque haverá esperança; procurarás
em volta e repousarás seguro.
19 E deitar-te-ás,
e ninguém te fará tremer; muitos suplicarão o teu favor.
20 Porém
os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio;
e a sua esperança será o expirar da alma.
Capítulo 12
1 Então
Jó respondeu, dizendo:
2 Na verdade,
vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
3 Também
eu tenho entendimento como vós, e não vos sou inferior; e quem
não sabe tais coisas como essas?
4 Eu sou motivo
de riso para os seus amigos; eu, que invoco a Deus, e
Ele me responde;
o homem justo e perfeito serve de zombaria.
5 Tocha desprezível
é, na opinião do que está descansado, aquele que está
pronto a vacilar com os pés.
6 As tendas
dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão
seguros; nas suas mãos Deus lhes põe tudo.
7 Mas, pergunta
agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará;
e às aves do ar, e elas te declararão;
8 Ou fala
com a terra, e ela te ensinará; até os peixes do mar te contarão.
9 Quem não
entende, por todas estas coisas, que a mão do SENHOR fez isto?
10 Na Sua
mão está a alma de tudo quanto vive, e o fôlego de
toda a carne humana.
11 Porventura
o ouvido não provará as palavras, como o palato prova as comidas?
12 Com os
idosos está a sabedoria, e na longura de dias, o entendimento.
13 Com Ele
está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem.
14 Eis que
Ele derruba, e ninguém há que reedifique;
encerra um homem na
prisão,
e ninguém há que o solte.
15 Eis que
Ele retém as águas, e elas secam; e as envia, e elas transtornam
a terra.
16 Com Ele
está a força e a sabedoria; Seu é o que erra e o
que faz errar.
17 Aos conselheiros
leva despojados, e aos juízes faz desvairar.
18 Solta a
atadura dos reis, e ata o cinto aos seus lombos.
19 Aos príncipes
leva despojados, aos poderosos transtorna.
20 Aos acreditados
tira a fala, e tira o entendimento aos anciãos.
21 Derrama
desprezo sobre os príncipes, e afrouxa o cinto dos fortes.
22 Das trevas
descobre coisas profundas, e traz à luz a sombra da morte.
23 Magnifica
as nações e as faz perecer; dispersa as nações,
e de novo as reconduz.
24 Tira o
entendimento aos chefes dos povos da terra, e os faz vaguear pelos desertos,
sem caminho.
25 Nas trevas
andam às apalpadelas, sem terem luz, e os faz
vaguear como ébrios.
Capítulo 13
1 Eis que
tudo isto viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam.
2 Como vós
o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior.
3 Mas eu falarei
ao Todo-Poderoso, e quero defender-me perante Deus.
4 Vós,
porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos
sois médicos
que não valem nada.
5 Quem dera
que vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.
6 Ouvi agora
a minha defesa, e atentai aos argumentos dos meus lábios.
7 Porventura em favor de Deus falareis perversidade, e
a Seu favor falareis mentiras?
8 Fareis aceitação
da Sua pessoa? Contendereis por Deus?
9 Ser-vos-ia
bom, se Ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dEle, como se zomba de algum
homem?
10 Certamente
vos repreenderá, se em oculto fizerdes acepção de pessoas.
11 Porventura
não vos amedrontará a Sua alteza, e não cairá sobre
vós o Seu terror?
12 As vossas
memórias são parábolas de cinza; os vossos
corpos como corpos de
barro.
13 Calai-vos
perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier.
14 Por que
razão tomarei eu a minha carne com os meus dentes, e porei a minha
vida na minha mão?
15 Ainda que
Ele me mate, nEle esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante
dEle.
16 Também
Ele será a minha salvação; porém o hipócrita
não virá perante Ele.
17 Ouvi com
atenção as minhas palavras, e com os vossos ouvidos a minha
declaração.
18 Eis que
já tenho disposto em ordenada linha de batalha a minha causa, e sei que serei achado justo.
19 Quem é
o que contenderá comigo? Se eu agora me calasse, renderia o espírito.
20 Duas coisas
somente não faças para comigo; então não me esconderei
do Teu rosto:
21 Desvia
a Tua mão para longe, de mim, e não me terrifique o Teu terror.
22 Chama,
pois, e eu responderei; ou eu falarei, e Tu me responderás.
23 Quantas
iniqüidades e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu
pecado.
24 Por que
escondes o Teu rosto, e me tens por Teu inimigo?
25 Porventura
acossarás uma folha arrebatada, pelo vento, de
uma para outra parte? E perseguirás
o restolho {*} seco? {* "Restolho" é cada tufo seco das folhas das plantas de trigo, que restou no campo depois das espigas serem cortados e colhidas, e da palha ser guardada em abrigo}
26 Por que
escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar as
iniqüidades da minha
mocidade?
27 Também
pões os meus pés no tronco, e estreitamente observas todos os meus caminhos,
e pões uma marca nas raízes dos meus pés.
28 E ele me
consome como a podridão, e como a roupa, à qual rói
a traça.
Capítulo 14
1 O homem,
nascido da mulher, é de poucos dias e farto de inquietação.
2 Sai como
a flor, e é cortado- abaixo; foge também como a sombra, e não permanece.
3 E sobre
este tal abres os Teus olhos, e a mim me fazes entrar no juízo conTigo.
4 Quem do
imundo tirará o puro? Ninguém.
5 Visto que
os seus dias estão determinados, conTigo está o número
dos seus meses; e Tu lhe puseste limites, e não passará além
deles.
6 Desvia-Te
dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha
contentamento no seu dia.
7 Porque há
esperança para a árvore que, se for cortada- abaixo, ainda se renovará,
e não cessarão os seus renovos.
8 Se envelhecer
na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó,
9 Ao cheiro
das águas brotará, e dará ramos como uma planta.
10 Porém,
morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito,
então onde está ele?
11 Como as
águas se retiram (evaporando) do mar, e o rio se esgota, e fica seco,
12 Assim o
homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais
céus, não acordará nem despertará de seu sono.
13 Quem dera
que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a Tua ira
se fosse; e me pusesses um limite (de tempo), e
Te lembrasses de mim!
14 Morrendo
o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate
esperaria, até que viesse a minha mudança.
15 Chamar-me-ias,
e eu Te responderia, e terias afeto à obra de Tuas mãos.
16 Mas agora
contas os meus passos; porventura não vigias sobre o meu pecado?
17 A minha
transgressão está selada num saco, e encobriste as minhas iniqüidades.
18 E, na verdade,
caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar.
19 As águas
gastam as pedras, as cheias levam- arrebatam o pó da terra; e
Tu fazes perecer
a esperança do homem;
20 Tu para
sempre prevaleces contra ele, e ele passa; mudas o seu rosto, e o despedes.
21 Os seus
filhos recebem honra, sem que ele o saiba {*}; são humilhados; sem que
ele o perceba {*}; {* Nota Ec 9:5}
22 Mas a sua
carne, nele, tem dores; e a sua alma, nele, chora-
lamentando.
Capítulo 15
1 Então
respondeu Elifaz o temanita, e disse:
2 Porventura
proferirá o sábio vã sabedoria? E encherá do
vento oriental o seu ventre,
3 Argüindo
com palavras que de nada servem, e com falas que para nada aproveitam?
4 E tu tens
feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.
5 Porque a
tua boca declara a tua iniqüidade; e tu escolhes a língua dos
astutos.
6 A tua própria boca
te condena, e não eu, e os teus próprios lábios testificam contra ti.
7 És
tu porventura o primeiro homem que nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros?
8 Ou ouviste
o secreto conselho de Deus e a ti só limitaste a sabedoria?
9 Que sabes
tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em
nós?
10 Também
há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que
teu pai.
11 Porventura são pequenas demais, para ti,
as consolações de Deus e a palavra
gentil para contigo?
12 Por que te arrebata o teu coração, e por que piscam os teus olhos,
13 Para virares
contra Deus o teu espírito, e deixares sair tais palavras da tua
boca?
14 Que é
o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo?
15 Eis que
Ele não confia nos Seus santos, e nem os céus são puros
aos Seus olhos.
16 Quanto
mais abominável e corrupto é o homem que bebe a iniqüidade
como a água?
17 Escuta-me,
mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei
18 (O que
os sábios anunciaram, ouvindo-o de seus pais, e o não ocultaram;
19 Aos quais
somente se dera a terra, e nenhum estrangeiro passou por entre eles):
20 Todos os
dias o ímpio é atormentado, e se reserva, para o
terrificador,
um curto número de anos.
21 O sonido
dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém
o assolador.
22 Não
crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada.
23 Anda vagueando
por pão, dizendo: Onde está? Bem sabe que já o dia das
trevas lhe está preparado, à mão.
24 Assombram-no
a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como
um rei preparado para a peleja;
25 Porque
estendeu a sua mão contra Deus, e contra o Todo-Poderoso se embraveceu.
26 Arremete
contra Ele com dura cerviz, atrás dos pontos grossos dos seus escudos.
27 Porquanto
cobriu o seu rosto com a sua gordura, e criou dobras de
banha nas ilhargas.
28 E habitou
em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam
a ponto de fazer-se montões de ruínas.
29 Não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderão pela
terra as possessões dela.
30 Não
escapará das trevas; a chama do fogo secará os renovos
dele,
e ele desaparecerá ao sopro da boca dEle (de Deus).
31 Não
confie, pois, na vanidade, enganando-se a si mesmo, porque a vanidade será
a sua recompensa.
32 Antes do
seu dia ela se consumará; e o seu ramo não se tornará
verdejante.
33 Sacudirá
as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor
como a oliveira,
34 Porque
a congregação dos hipócritas se fará estéril,
e o fogo consumirá as tendas do suborno.
35 Concebem
a maldade, e dão à luz a iniqüidade, e o seu ventre
prepara enganos.
Capítulo 16
1 Então
respondeu Jó, dizendo:
2 Tenho ouvido
muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.
3 Porventura
não terão fim essas palavras de vento? Ou o que te irrita, para
assim responderes?
4 Falaria
eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar
da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós, e menearia contra
vós a minha cabeça?
5 Antes vos fortaleceria com a minha boca, e o mover dos meus lábios
abrandaria a vossa dor.
6 Se eu falar,
a minha dor não é abrandada, e,
abstendo-me, qual é o meu alívio?
7 Na verdade,
agora Ele
me tem feito fatigado. Tu
(ó Deus) assolaste toda a minha companhia,
8 Testemunha
disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já
se levanta contra mim, e no meu rosto testifica contra mim.
9 Na Sua ira
me despedaçou, e Ele me odeia; rangeu os
Seus dentes contra
mim; o meu adversário aguça os seus olhos contra mim.
10 Escancaram a
sua boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos, e contra mim
se ajuntam todos.
11 Entrega-me
Deus ao perverso, e nas mãos dos ímpios me faz cair.
12 Descansado
estava eu, porém Ele me quebrantou; e pegou-me pela cerviz, e me
despedaçou; também me pôs por Seu alvo.
13 Cercam-me
os Seus flecheiros; atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu
fel derrama sobre a terra,
14 Quebra-me
com brecha sobre brecha; arremete contra mim como um valente.
15 Cosi sobre
a minha pele o cilício, e revolvi o meu poder
{*} no pó. {* Literalmente, "chifre"}
16 O meu rosto está todo avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras
está a sombra da morte:
17 Apesar
de não haver violência nas minhas mãos, e de ser pura a
minha oração.
18 Ah! terra,
não cubras o meu sangue e não haja lugar para ocultar o meu clamor!
19 Eis que
também agora a minha testemunha está no céu, e nas
alturas o meu testificador está.
20 Os meus
amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas
diante de Deus.
21 Ah! se
alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo
seu próximo!
22 Porque
decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei.
Capítulo 17
1 O meu espírito
se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho
perante mim as sepulturas.
2 Deveras
estou cercado de zombadores? E os meus olhos
permanecem contemplando
as suas provocações?
3 Promete
agora, e dá-me um fiador para conTigo; quem há que
bata
as mãos comigo?
4 Porque aos
seus corações encobriste o entendimento, por isso não
os exaltarás.
5 Aquele que denuncia seus amigos através de lisonja, também os olhos de seus
filhos serão consumidos.
6 Porém
a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que
me tornei alguém a ser cuspido no rosto.
7 Pelo que
já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos
os meus membros são como a sombra.
8 Os retos
pasmarão disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita.
9 E o justo
seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá
crescendo em força.
10 Mas, na
verdade, tornai todos vós e vinde; porque sábio nenhum acharei
entre vós.
11 Os meus
dias passaram, e malograram os meus propósitos, as aspirações
do meu coração.
12 Trocaram
a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas.
13 Se eu esperar,
a sepultura será a minha casa; nas trevas estenderei a minha cama.
14 À
corrupção clamo: Tu és meu pai; e aos vermes: Vós
sois minha mãe e minha irmã.
15 Onde, pois,
estaria agora a minha esperança? Sim, a minha esperança,
quem a poderá ver?
16 Às barras
da sepultura descerão quando juntamente no pó teremos descanso.
Capítulo 18
1 Então
respondeu Bildade, o suíta, e disse:
2 Até
quando poreis fim às palavras? Considerai bem, e então falaremos.
3 Por que
somos reputados como animais, e como imundos aos vossos olhos?
4 (Ele despedaça a sua alma na
sua ira.) Por tua causa será a terra
abandonada? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?
5 Na verdade,
a luz dos ímpios se apagará, e a chama do seu fogo não
resplandecerá.
6 A luz se
escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se
apagará.
7 Os seus
passos firmes se estreitarão, e o seu próprio conselho o derrubará.
8 Porque por
seus próprios pés é lançado na rede, e andará
sobre as redes de fios.
9 O laço
o apanhará pelo calcanhar, e o salteador
prevalecerá contra ele.
10 Está
escondida debaixo da terra uma corda, e uma armadilha na vereda.
11 Os assombros
o aterrorizarão de todos os lados, e o
farão correr (de uma parte para a outra) a cada passo.
12 Será
faminto o seu vigor, e a destruição está pronta ao seu
lado.
13 Será
devorada a força de sua pele; sim, o primogênito da morte devorará
a sua força.
14 A sua confiança
será arrancada da sua tenda, e isto o
fará caminhar para o rei dos terrores.
15 Nenhum dos seus morará na sua tenda; espalhar-se-á enxofre
sobre a sua habitação.
16 Por baixo
se secarão as suas raízes e por cima serão cortados
fora os
seus ramos.
17 A sua memória
perecerá da terra, e pelas praças não terá nome.
18 Da luz
o lançarão nas trevas, e afugentá-lo-ão do mundo.
19 Não
terá filho nem
sobrinho entre o seu povo, nem sobrevivente
algum ficará nas suas moradas.
20 Do seu
dia se espantarão os
que vêm após ele, assim como
foram tomados de horror
os que vieram
antes dele.
21 Tais são,
na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que não
conhece a Deus.
Capítulo 19
1 Respondeu,
porém, Jó, dizendo:
2 Até
quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras?
3 Já
dez vezes me vituperastes; não tendes vergonha de vos
fazerdes estrangeiros para comigo.
4 Embora haja
eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
5 Se deveras
vos quereis engrandecer contra mim, e argüir-me pelo meu opróbrio,
6 Sabei agora
que Deus é O que me transtornou, e com a sua rede
(de prender) me cercou.
7 Eis que
clamo: Violência! Porém não sou ouvido. Grito por socorro,
porém não há justiça.
8 O meu caminho
Ele fechou com um muro, e já não posso passar, e nas minhas veredas
pôs trevas.
9 Da minha
honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça.
10 Quebrou-me
de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como
a uma árvore.
11 E fez inflamar
contra mim a Sua ira, e me reputou para conSigo, como a
um de Seus inimigos.
12 Juntas
vieram as Suas tropas, e prepararam contra mim o caminho
delas, e se acamparam
ao redor da minha tenda.
13 Ele pôs
longe de mim a meus irmãos, e os meus conhecidos se
tornaram como estrangeiros em relação a mim.
14 Os meus
parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
15 Aqueles que moravam em minha casa e as minhas servas me reputaram como um estrangeiro, e vim
a ser um estrangeiro aos seus olhos.
16 Chamei
a meu criado, e ele não me respondeu; cheguei a suplicar-lhe com a
minha própria boca.
17 O meu hálito
se fez estranho à minha esposa;
e supliquei aos filhos do
ventre da minha mãe.
18 Até
os menininhos me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim.
19 Todos os
homens da minha confidência me abominam, e até os que eu amava
se tornaram contra mim.
20 Os meus
ossos se achegaram- e- aderiram à minha pele e à minha carne, e escapei
só com a pele dos meus dentes.
21 Compadecei-vos
de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me
tocou.
22 Por que
me perseguis como Deus, e da minha carne não vos fartais?
23 Quem me
dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem
gravadas num livro!
24 E que,
com uma pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha.
25 Porque
eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre
a terra.
26 E depois
de a minha pele ter sido consumida ao redor por vermes, contudo ainda em minha carne verei a Deus,
27 Vê-Lo-ei,
por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros O contemplarão;
e por isso os meus rins se consomem no meu interior.
28 Na verdade,
que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusação
se acha em mim.
29 Temei vós
mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes
que há um juízo.
Capítulo 20
1 Então
respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 Visto que
os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.
3 Eu ouvi
a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento
responderá por mim.
4 Porventura
não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto
sobre a terra,
5 O cântico- retumbante- de- júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas é momentânea?
6 Ainda que
a sua altivez suba até aoS céuS, e a sua cabeça chegue
até às nuvens.
7 Contudo,
como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que
o viam dirão: Onde está ele?
8 Como um
sonho voará, e não será achado, e será afugentado
como uma visão da noite.
9 O olho,
que já o viu, jamais o verá, nem o seu lugar o verá
mais.
10 Os seus
filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restituirão
os seus bens.
11 Os seus
ossos estão cheios do pecado do vigor da sua mocidade, mas este se deitará
com ele no pó.
12 Ainda que
o mal lhe seja doce na sua boca, e ele o esconda debaixo da sua língua,
13 E o poupe,
e não o deixe, antes o retenha no meio do seu palato,
14 Contudo
a sua comida se transformará dentro das suas entranhas; fel de áspides
será interiormente.
15 Engoliu
riquezas, porém vomitá-las-á; do seu ventre Deus as
lançará para fora.
16 Veneno
de áspides sorverá; língua de víbora o matará.
17 Não
verá os rios, os
transbordamentos e os ribeiros de mel e manteiga.
18 Será feito restituir o fruto do seu labor, e não o engolirá;
conforme ao
seu poder terá que ser a sua restituição, e não regozijará
nisto.
19 Porquanto
oprimiu e desamparou os pobres, e violentamente despojou a casa que não edificou.
20 Porquanto
não sentiu sossego no seu ventre; nada salvará das coisas por
ele desejadas.
21 Nada lhe
sobejará do que coma; por isso as suas riquezas não durarão.
22 Na plenitude da sua abastança, estará angustiado; toda a
mão do perverso virá sobre ele.
23 Mesmo estando
ele a encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele o ardor da Sua
ira, e a fará chover sobre ele quando for comer.
24 Ainda que
fuja das armas de ferro, o arco de aço o atravessará.
25 A flecha
é arrancada e sai do seu corpo; sim, a luzente espada sai do seu fel;
terrores estão sobre ele.
26 Toda a
escuridão se ocultará nos seus esconderijos; um fogo não
assoprado o consumirá, irá mal com aquele que
restar na sua tenda.
27 O céU manifestará a sua iniqüidade; e a terra se levantará
contra ele.
28 As riquezas
de sua casa serão removidas; no dia da Sua ira todas se derramarão.
29 Esta, da
parte de Deus, é a porção do homem ímpio; esta
é a herança que Deus lhe decretou.