AKJ: Almeida-1753 compatibilizada com a KJB-1611, com grafia e
gramática inspiradas na ACF-1995
LIVRO DE JÓ
Capítulos 21-31
Capítulo 21
1 Respondeu,
porém, Jó, dizendo:
2 Ouvi atentamente
as minhas palavras; e isto vos sirva de consolação.
3 Suportai-me,
e eu falarei; e havendo eu falado, zombai.
4 Porventura
eu me queixo a algum homem? Porém, ainda que assim fosse, por que
não se angustiaria o meu espírito?
5 Olhai para
mim, e pasmai; e ponde a vossa mão sobre a
vossa boca.
6 Porque,
quando me lembro disto me perturbo, e tremor se
apodera da minha carne.
7 Por que
razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se robustecem em
poder?
8 A sua semente se estabelece com eles perante a sua face; e os seus
descendentes perante os
seus olhos.
9 As suas
casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre
eles.
10 O seu touro
gera, e não falha; pare a sua vaca, e não aborta.
11 Fazem sair
as suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos
dão
pinotes de alegria. {* Note que " râqad" não pode ser dança sensual, pois é a mesma palavra usada para os pulos dos bodes barbudos, em Is 13:21! E os pinotes dos bodes são muito diferentes dos requebros dos John
Travolta's e Madona's que querem sutilmente se introduzir nas nossas igrejas.}
12 Levantam
a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegram-se ao som do órgão.
13 Na prosperidade
gastam os seus dias, e num momento descem à sepultura.
14 E, todavia,
dizem a Deus: Retira-Te de nós; porque não desejamos ter conhecimento
dos Teus caminhos.
15 Quem é
o Todo-Poderoso, para que nós O sirvamos? E que nos aproveitará que Lhe façamos orações?
16 Vede, porém,
que o bem deles não está nas
suas mãos; esteja longe
de mim o conselho dos ímpios!
17 Quantas
vezes sucede que se apaga a lâmpada dos ímpios, e
quantas vezes lhes sobrevém
a sua destruição? E Deus na Sua ira lhes reparte dores!
18 Porque
são como a palha diante do vento, e como a pragana {*} que o
redemoinho arrebata. {* "Pragana" = barba das espigas de cereais,
particularmente quando está solta como pó, depois deles serem trilhados}
19 Deus armazena
a violência do ímpio para seus filhos, e dá-lhe o pago, para que conheça
isto.
20 Seus olhos
verão a sua ruína, e ele beberá do furor do Todo-Poderoso.
21 Por que,
que prazer teria ele na sua casa
depois de si, quando o número
dos seus meses é cortado no meio?
22 Porventura
a Deus se ensinaria ciência, a Ele que julga os que estão
elevados?
23 Um morre
ainda estando na
inteireza- completude de sua força,
e estando inteiramente sossegado e tranqüilo.
24 Com seus
seios cheios de
gordura, e os seus ossos umedecidos de
tutano.
25 E outro,
ao contrário, morre na amargura da sua alma, não
havendo comido do bem.
26 Juntamente
jazem no pó, e os vermes os cobrem.
27 Eis que
conheço bem os vossos pensamentos; e os maus intentos com que injustamente
me fazeis violência.
28 Porque
direis: Onde está a casa do príncipe, e onde
está a tenda em que
moravam os ímpios?
29 Porventura
não perguntastes aos que passam pelo caminho, e não conheceis
os seus sinais,
30 Que o homem mau
é preservado para o dia da destruição? Eles são
trazidos à frente no dia do furor.
31 Quem acusará
diante do seu rosto o seu caminho, e quem lhe dará o pago do que faz?
32 Finalmente
é levado à sepultura, e sobre o seu túmulo uma
vigília é guardada.
33 Os torrões
do vale lhe são doces, e todos os homens seguirão
após ele, assim como não têm número os que existiram antes dele.
34 Como, pois,
me consolais em vão? Pois nas vossas respostas ainda resta
falsidade.
Capítulo 22
1 Então
respondeu Elifaz, o temanita, dizendo:
2 Porventura
será o homem de algum proveito a Deus? Antes o prudente
será proveitoso a si mesmo.
3 Ou tem o
Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou algum lucro em que tu faças
perfeitos os teus caminhos?
4 Ou te repreende,
pelo temor que tem de ti, ou entra contigo em juízo?
5 Porventura
não é grande a tua maldade, e sem limite as tuas iniqüidades?
6 Porque sem
causa penhoraste a teus irmãos, e aos nus despojaste as vestes.
7 Não
deste ao cansado água a beber, e ao faminto retiveste o pão.
8 Mas para
o homem de poderoso braço era a terra, e
só o homem tido em respeito habitava nela.
9 As viúvas
despediste vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados.
10 Por isso
é que estás cercado de laços, e te perturba um pavor
repentino,
11 Ou trevas
em que nada vês, e a abundância de águas que te cobre.
12 Porventura
Deus não está na altura do céU? Olha para a altura
das estrelas; quão elevadas estão.
13 E dizes:
Que sabe Deus disto? Porventura julgará Ele através da escuridão?
14 As densas nuvens
são esconderijo para Ele, para que não veja; e passeia pelo circuito
do céU.
15 Porventura
queres guardar a vereda antiga, que pisaram os homens iníquos?
16 Eles foram
arrebatados antes do seu tempo; sobre o seu fundamento um dilúvio
se derramou.
17 Diziam a Deus: Retira-te de nós. E: Que pode o Todo-Poderoso
fazer por eles?
18 Contudo
Ele encheu de bens as suas casas; mas o conselho dos ímpios esteja
longe de mim.
19 Os justos vêem isto e se alegram, e o inocente escarnece deles.
20 Dizendo: Na
verdade,
o nosso adversário não foi destruído, mas o fogo consumiu
o que restou deles.
21 Apega-te,
pois, a Ele, e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.
22 Aceita,
peço-te, a lei da Sua boca, e empilha as Suas palavras no teu coração.
23 Se te voltares
ao Todo-Poderoso, serás edificado; afastarás a iniqüidade
da tua tenda,
24 Então empilharás ouro como se fosse pó, e o ouro de Ofir
como as pedras dos ribeiros,
25 Então
o Todo-Poderoso será a tua defesa, e
terás prata a montões.
26 Porque
então te deleitarás no Todo-Poderoso, e levantarás o
teu rosto para Deus.
27 Orarás
a Ele, e Ele te ouvirá, e pagarás os teus votos.
28 Determinarás
tu algum negócio, e ser-te-á firme, e a luz brilhará
em teus caminhos.
29 Quando os homens forem humilhados, então tu dirás: Haja
erguimento! E
Deus salvará ao de olhos humildes.
30 E livrará a ilha do inocente;
ela será libertada
pela pureza de tuas mãos.
Capítulo 23
1 Respondeu,
porém, Jó, dizendo:
2 Ainda hoje
a minha queixa está em amargura; a minha mão pesa
por causa do meu
gemido.
3 Ah, se eu
soubesse onde O poderia achar! Então me chegaria ao Seu tribunal.
4 Ante Ele disporia em ordenada linha de batalha
a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos.
5 Saberia
as palavras com que Ele me responderia, e entenderia o que me dissesse.
6 Porventura
segundo a grandeza de Seu poder contenderia contra
mim? Não: Ele antes
poria força em mim.
7 Ali o reto
pleitearia com Ele, e eu me livraria para sempre do meu Juiz.
8 Eis que
se vou para frente, ali não está; se
torno atrás, não
O percebo.
9 Se opera
à esquerda, não O vejo; se Se encobre à direita, não O diviso.
10 Porém
Ele sabe o meu caminho; provando-me Ele, sairei como o ouro.
11 Nas Suas
pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o Seu caminho, e não
me desviei disto.
12 Do preceito
de Seus lábios nunca me apartei, e as palavras da Sua boca guardei mais
do que a comida a mim designada.
13 Mas Ele está com uma mente (determinada),
e quem então O desviará? O que a Sua
alma quiser, isso fará.
14 Porque
cumprirá o que está ordenado a meu respeito, e muitas coisas
como estas ainda tem conSigo.
15 Por isso
me perturbo perante Ele, e quando isto considero, temo-O.
16 Porque
Deus tornou o meu coração
fraco, e o Todo-Poderoso me perturbou.
17 Porquanto
não fui desarraigado diante das trevas, e nem encobriu
a escuridão para longe do meu rosto.
Capítulo 24
1 Visto que
do Todo-Poderoso não se encobriram os tempos, por que, os que O conhecem,
não vêem os Seus dias?
2 Até
os marcos- limite removem;
com violência roubam os rebanhos, e os apascentam.
3 Do órfão
levam o jumento; tomam em penhor o boi da viúva.
4 Desviam
os necessitados para fora do caminho ; e os pobres da terra juntos se escondem
deles.
5 Eis que,
como jumentos monteses no deserto, saem à sua obra, madrugando para
a presa; o campo aberto dá mantimento a eles e aos
seus filhos.
6 No campo
ceifam o seu pasto, e vindimam a vinha do ímpio.
7 Ao nu fazem
passar a noite sem roupa, não tendo ele coberta contra o frio.
8 Pelas chuvas
das montanhas são molhados e, não tendo refúgio, abraçam-se
com as rochas.
9 Ao orfãozinho
arrancam dos peitos, e tomam o penhor do pobre.
10 Fazem com
que os nus vão sem roupa e aos famintos tiram as espigas.
11 Dentro
das suas paredes espremem o azeite; pisam os lagares, e ainda têm
sede.
12 Desde as
cidades gemem os homens, e a alma dos feridos exclama, e contudo Deus
lhes
não imputa isto como loucura.
13 Eles estão
entre os que se opõem à luz; não conhecem os Seus caminhos,
e não permanecem nas Suas veredas.
14 De madrugada
se levanta o homicida, mata o pobre e necessitado, e de noite é
como o ladrão.
15 Assim como o olho do adúltero aguarda a pouquíssima
luz do crepúsculo, dizendo: Não
me verá olho nenhum; e oculta o rosto,
16 Nas trevas
minam as casas, que de dia marcaram para si
mesmos; não conhecem a luz.
17 Porque
a manhã para todos eles é como sombra de morte; pois, sendo
reconhecidos, sentem os pavores da sombra da morte.
18 É
ligeiro sobre a superfície das águas; maldita é a
sua porção sobre a terra; não
se volta para o caminho das vinhas.
19 A secura
e o calor desfazem as águas da neve; assim o
inferno {*}
desfará aos que pecaram. {* Ao morrerem, antes da ascensão de Cristo, os salvos iam imediatamente para a metade do inferno que ficava protegida das chamas (compare Dan 3:19-27; Luc 16:19-31). Para os perdidos, Sheol sempre tem que ser traduzido para INFERNO de sofrimento eterno e consciente, para onde eles sempre foram e vão}
20 A madre
se esquecerá dele, os vermes o comerão gostosamente; nunca
mais haverá lembrança dele; e a iniqüidade se quebrará
como uma árvore.
21 Aflige
à estéril que não dá à luz, e à
viúva não faz bem.
22 Até
aos poderosos arrasta com a Sua força; se
Ele se levanta, não
há vida segura.
23 Se Deus
lhes dá segurança, estribam-se nisso; Seus olhos porém estão
nos caminhos deles.
24 Por um
pouco se exaltam, e logo desaparecem; são abatidos,
são retirados para fora do caminho como
todos os demais; e cortados fora como as cabeças das espigas.
25 Se agora
não é assim, quem me porá como mentiroso e
transformará as
minhas palavras em nada?
Capítulo 25
1 Então
respondeu Bildade, o suíta, e disse:
2 Com Ele
estão domínio e temor; Ele faz paz nas Suas alturas.
3 Porventura
têm número as Suas tropas? E sobre quem não se levanta
a Sua luz?
4 Como, pois,
seria justificado o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de
mulher?
5 Eis que
até a lua não resplandece, e as estrelas não são
puras aos Seus olhos.
6 E quanto
menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é
um vermezinho!
Capítulo 26
1 Jó,
porém, respondeu, dizendo:
2 Como ajudaste
aquele que não tinha força, e preservaste o braço que
não tinha vigor?
3 Como aconselhaste
aquele que não tinha sabedoria, e plenamente lhe declaraste
as coisas,
assim como são?
4 A quem proferiste
palavras, e de quem é o espírito que saiu de ti?
5 As almas dos mortos
tremem debaixo das águas, com os seus habitantes.
6 O inferno
está nu perante Ele, e não há cobertura para a
destruição.
7 O norte
estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada.
8 Prende as
águas nas Suas densas nuvens, todavia a nuvem não se rasga debaixo
delas.
9 Encobre
a face do Seu trono, e sobre isto estende a
Sua nuvem.
10 Traçou um círculo limite
para a face das águas com
mandamentos, até
que o dia e a noite cheguem a um fim.
11 As colunas
do céu tremem, e se espantam da Sua ameaça.
12 Com a Sua
força fende o mar, e com o Seu entendimento abate o soberbo.
13 Pelo Seu
Espírito ornou os céus; a Sua mão formou a serpente enroscadiça.
14 Eis que
isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e quão pouco é
a palavra que temos ouvido dEle! Quem, pois, entenderia o trovão do
Seu poder?
Capítulo 27
1 E prosseguindo
Jó em seu discurso, disse:
2 Vive Deus,
que desviou o meu julgamento, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma.
3 Que, enquanto
em mim houver alento, e o sopro de Deus nas minhas narinas,
4 Não
falarão os meus lábios iniqüidade, nem a minha língua
pronunciará engano.
5 Longe de
mim que eu vos justifique; até que eu expire, nunca apartarei de
mim a minha integridade.
6 A minha
justiça me apegarei e não a largarei; não me reprovará
o meu coração em toda a minha vida.
7 Seja como
o ímpio o meu inimigo, e como o perverso o que se levantar contra
mim.
8 Porque qual
será a esperança do hipócrita, embora tenha
desonesta- violentamente ganhado,
quando Deus lhe arrancar a sua alma?
9 Porventura
Deus ouvirá o seu clamor, sobrevindo-lhe a tribulação?
10 Deleitar-se-á
ele no Todo-Poderoso, ou invocará a Deus em todo o tempo?
11 Ensinar-vos-ei
acerca da mão de Deus, e não vos encobrirei o que está
com o Todo-Poderoso.
12 Eis que
todos vós já vistes isto; por que, pois,
sois completamente vãos?
13 Esta, pois,
é a porção do homem ímpio da parte de Deus, e a herança que os
terrificadores receberão do Todo-Poderoso.
14 Se os seus
filhos se multiplicarem, será para a espada, e a sua prole não
se saciará de pão.
15 Os que
ficarem dele, na morte serão enterrados, e as suas viúvas não
o chorarão.
16 Se amontoar
prata como pó, e aparelhar roupas como argila
molhada,
17 Ele as
aparelhará, porém o justo as vestirá, e o inocente
repartirá a prata.
18 E edificará
a sua casa como a traça, e como a cabana que o guarda faz.
19 Rico se
deita, e não será recolhido; abre os seus olhos, e
ele não será.
20 Pavores
se apoderam dele como águas; de noite o arrebata a tempestade.
21 O vento
oriental leva-o, e ele se vai; e, como uma tempestade, varre-o com ímpeto do seu lugar.
22 E Deus
lançará isto sobre ele, e não o poupará;
diligentemente foge da sua mão.
23 Cada homem
baterá as suas palmas
(em
desagrado) contra ele e assobiará de escárnio, tirando-o
para fora do seu lugar.
Capítulo 28
1 Na verdade,
há veios de onde se extrai a prata, e lugar onde se refina o ouro.
2 O ferro
tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre.
3 Ele (o homem) põe
fim às trevas, e esquadrinha toda a perfeição: as pedras da
escuridão e a sombra da morte.
4 Parte a
enchente de junto do habitante, mesmo as águas esquecidas pelo pé
(por serem profundas). Elas são secadas, elas se foram
dos homens. {* "nah-ghal" deve ser traduzida como "enchente" (Sl
18:4, 74:15). "Poço de mina" é mera conjectura}
5 Da terra
procede o pão, mas por baixo é revolvida como por fogo.
6 As suas
pedras são o lugar da safira, e tem pó de ouro.
7 Essa vereda
a ave de rapina a ignora, e não a viram os olhos da gralha.
8 Nunca a
pisaram filhos de majestosos animais selvagens, nem o feroz leão passou por ela.
9 Ele (o homem) estende
a sua mão contra o rochedo (de pederneira), e revolve os montes desde as suas raízes.
10 Entre as rochas ele tem aberto caminhos para
rios, e o seu olho vê tudo o que há de precioso.
11 Os rios
ele tapa, e nem uma gota sai deles, e tira à luz o que estava escondido.
12 Porém
onde se achará a sabedoria, e onde está o lugar do
entendimento?
13 O homem
não conhece o valor dela, e nem ela se acha na terra dos viventes.
14 O abismo
diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está
comigo.
15 Não
se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em troca dela.
16 Nem se
a pode avaliar pelo ouro fino de Ofir,
nem pelo precioso ônix, nem
pela safira.
17 Com ela
não se pode comparar o ouro nem o cristal; nem se trocará por
jóia de ouro fino.
18 Não
se fará menção de coral nem de pérolas; porque
a aquisição da sabedoria é melhor que o dos rubis.
19 Não
se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode
avaliar por ouro puro.
20 Donde,
pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do
entendimento?
21 Pois está
encoberta aos olhos de todo o vivente, e oculta às aves
do ar.
22 A destruição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
23 Deus entende
o caminho dela, e Ele sabe o seu lugar.
24 Porque
Ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há
debaixo do céU.
25 Quando
deu peso ao vento, e tomou a medida das águas;
26 Quando
prescreveu leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões;
27 Então
a viu e a manifestou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou.
28 E disse
ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se
do mal é o entendimento.
Capítulo 29
1 E prosseguiu
Jó no seu discurso, dizendo:
2 Ah! Quem
me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me
preservava!
3 Quando fazia
resplandecer a Sua lâmpada sobre a minha cabeça e quando
eu pela Sua luz caminhava pelas trevas.
4 Como fui
nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha
tenda;
5 Quando o
Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim.
6 Quando lavava
os meus passos na manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite;
7 Quando eu
saía para a porta, através da cidade, e na rua fazia preparar a minha cadeira,
8 Os moços
me viam, e se escondiam, e até os idosos se levantavam e se punham
em pé;
9 Os príncipes
continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca;
10 A voz dos
nobres se calava, e a sua língua apegava-se ao seu palato.
11 Ouvindo-me
algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho
de mim;
12 Porque
eu livrava o pobre, que clamava, como também o órfão,
e aquele que não tinha quem o socorresse.
13 A bênção
do que estava prestes a perecer vinha sobre mim, e eu fazia que
cantasse- retumbando- de- júbilo o coração
da viúva.
14 Vestia-me
da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema
era a minha justiça.
15 Eu me fazia
de olhos para o cego, e de pés para o coxo.
16 Dos necessitados
era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com
diligência.
17 E quebrava
os queixos do perverso, e dos seus dentes tirava a presa.
18 E dizia:
No meu ninho expirarei, e multiplicarei os meus dias como a areia.
19 A minha
raiz se estendia junto às águas, e o orvalho repousava
toda a noite sobre
os meus ramos;
20 A minha
honra se renovava em mim, e o meu arco se reforçava na minha mão.
21 Ouviam-me
e esperavam, e em silêncio atendiam ao meu conselho.
22 Depois da minhas palavras, não replicavam, e minhas razões
gotejavam (como orvalho) sobre eles;
23 Porque
me esperavam, como à chuva; e escancaravam a sua boca, como à chuva
tardia.
24 Eu sorria para eles quando ainda não tinham
confiança, e a luz do meu rosto não faziam abater;
25 Eu escolhia
o caminho para eles, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas
tropas; como aquele que consola os que choram- lamentando-
em -luto.
Capítulo 30
1 Agora, porém,
se riem de mim os de menos idade do que eu, cujos pais eu teria desdenhado
de pôr com os cães do meu rebanho.
2 De que também
me serviria a força das mãos daqueles, cujo vigor se tinha
esgotado?
3 De míngua
e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos,
desde muito
assolados e desertos.
4 Apanhavam
malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram as raízes dos
zimbros.
5 Do meio
dos homens eram expulsos, e gritavam contra eles, como contra o ladrão;
6 Para habitarem
nos barrancos dos vales, e nas cavernas da terra e das rochas.
7 Bramavam
entre os arbustos, e ajuntavam-se debaixo das urtigas.
8 Eram filhos
de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra foram expulsos.
9 Agora, porém,
sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio.
10 Abominam-me,
e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir.
11 Porque
Deus desatou a minha corda, e me
afligiu, por isso sacudiram de si o freio
perante o meu rosto.
12 À
direita se levantam os moços; empurram os meus pés, e
erguem
contra mim os caminhos de sua destruição.
13 Desbaratam-me
o caminho; promovem a minha calamidade;
mesmo sem ninguém os ajudar.
14 Vêm
contra mim como um grande rompimento de águas, e revolvem-se entre a assolação.
15 Sobrevieram-me
pavores; como vento perseguem a minha honra, e como nuvem passou a minha
felicidade.
16 E agora
derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram
de mim.
17 De noite
se me traspassam os meus ossos, e os meus tendões não
têm descanso.
18 Pela grande força
do meu mal está desfigurada a minha veste, que, como a gola da minha
túnica, me cinge.
19 Ele (Deus) me lançou
na lama, e tornei-me semelhante ao pó e à cinza.
20 Clamo a
Ti, porém, Tu não me atendes; estou em pé, porém,
para mim não atentas.
21 Tornaste-Te
cruel contra mim; com a força da Tua mão Te opões a mim.
22 Levantas-me
sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser.
23 Porque
eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento
determinada a todos os viventes.
24 Porém
não estenderá a mão para o túmulo, ainda que eles
clamem na sua destruição.
25 Porventura
não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou
a minha alma pelo necessitado?
26 Todavia
aguardando eu o bem, então me veio o mal, e
esperando eu a luz, veio
a escuridão.
27 As minhas
entranhas fervem e não estão quietas; dias da aflição
chegam antes- e- diante de mim.
28 Ando lamentando sombriamente, sem a luz do sol; levantando-me na congregação,
clamo por socorro.
29 Irmão
me fiz dos dragões, e companheiro dos avestruzes.
30 Enegreceu-se
a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor.
31 A minha
harpa se tornou em choro- lamentação- de- luto, e o meu órgão em voz dos que choram.
Capítulo 31
1 Fiz aliança
com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?
2 Que porção
teria eu do Deus lá de cima, ou que herança do Todo-Poderoso
desde as alturas?
3 Porventura
não é a perdição para o perverso, e
a punição de desterro para
os que praticam iniqüidade?
4 Ou não
vê Ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos?
5 Se andei
com falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano
6 (Pese-me
em balanças fiéis, e saberá Deus a minha integridade),
7 Se os meus
passos se desviaram do caminho, e se o meu coração anda
após os
meus olhos, e se às minhas mãos se achegou- e- aderiu qualquer
mancha,
8 Então
semeie eu e outro coma, e seja a minha semente arrancada até
à raiz.
9 Se o meu
coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu armei traições
à porta do meu próximo,
10 Então
moa minha esposa para outro, e outros se encurvem sobre ela,
11 Porque isto
é um crime hediondo, e é delito
a ser punido pelos juízes.
12 Porque
é fogo que consome até à destruição, e desarraigaria
toda a minha renda.
13 Se desprezei
o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo;
14 Então
que faria eu quando Deus Se levantasse? E, inquirindo
Ele a causa, que Lhe
responderia?
15 Aquele
que me formou no ventre não o fez também a ele? Ou não
nos formou do mesmo modo na madre?
16 Se retive
o que os pobres desejavam, ou fiz desfalecer os olhos da viúva,
17 Ou se,
sozinho comi o meu bocado, e o órfão não comeu dele
18 (Porque
desde a minha mocidade cresceu comigo como com seu pai, e fui o guia da
viúva desde o ventre de minha mãe),
19 Se alguém
vi perecer por falta de roupa, e ao necessitado por não ter coberta,
20 Se os seus
lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com
a lã dos meus cordeiros,
21 Se eu levantei
a minha mão contra o órfão, porquanto na porta via a minha
ajuda,
22 Então
caia do ombro a minha espádua, e seja quebrado o meu braço
desde o
osso.
23 Porque
o castigo de Deus era para mim um terror, e eu não podia suportar
a Sua majestade.
24 Se no ouro
pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha
confiança;
25 Se me alegrei
porque era muita a minha riqueza, e de
porque a minha mão tinha alcançado
muito;
26 Se olhei
para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando
resplandecente,
27 E o meu
coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou
a minha mão,
28 Também
isto seria delito a ser punido pelos juízes; pois assim
negaria a Deus que está lá em cima.
29 Se me alegrei
da desgraça do que me tem ódio, e se exultei quando o mal
o atingiu
30 (Também
não deixei pecar a minha boca, desejando uma maldição
sobre a sua alma);
31 Se a gente
da minha tenda não disse: Ah! quem nos dará da sua carne? Nunca
nos fartaríamos dela.
32 O estrangeiro
não pernoitava na rua, mas
as minhas portas eu abria ao viandante.
33 Se, como
Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando a minha
iniqüidade
no meu seio;
34 Porventura era eu
terrificado pela grande multidão, e o desprezo das famílias me
apavorava, de modo que eu me
calasse, e não saísse da porta?
35 Ah! quem
me dera um que me ouvisse! Eis que o meu desejo é que o Todo-Poderoso
me responda, e que o meu adversário escreva um livro.
36 Por certo
que o levaria sobre o meu ombro, sobre mim o ataria por coroa.
37 O número
dos meus passos Lhe declararia; como príncipe me chegaria a
Ele.
38 Se a minha
terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem,
39 Se comi
os seus frutos sem dinheiro, e causei aos seus donos
perderem suas vidas,
40 Por trigo
me produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó.