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Consciência

Como acontecem a consciência e a razão? A ciência ainda está longe de explicar detalhadamente este processo, mas já tem um caminho percorrido que já vai muito mais longe do que a maioria das pessoas imagina. Para entender a consciência, que é o produto final de um processo, é preciso começar a análise pelo início dele.

O processo consiste de uma mente que capta informações sobre o mundo que a cerca, processa essas informações, identifica elementos conhecidos, memoriza e organiza novos elementos, relaciona dados e estabelece valores, relaciona valores e informações e toma decisões de ação. Finalmente, analisa suas próprias ações e valores e reconhece sua individualidade.

Sensações

As informações sensoriais chegam às áreas primárias do cérebro como sensações. Sensações são cores, sons, sensações táteis, aromas e sabores básicos como doce e salgado. Sensações não são interpretadas pelo cérebro, são apenas sensações. Neste ponto, as informações luminosas, por exemplo, são como pontos coloridos espalhados aleatoriamente numa tela, sem que se reconheça nenhuma imagem. O homem nasce apenas com as áreas básicas do cérebro ativadas (além do cerebelo e medula, responsáveis por seus reflexos básicos como a sucção para mamar, por exemplo).

Percepções

Na medida em que o cérebro vai recebendo mais informações ele as vai integrando, num processo automático que pode ser (e é) imitado por circuitos eletrônicos ou computadores dentro de uma técnica conhecida como "Redes Neuronais". Essas sensações, quando integradas, formam percepções. É quando o bebê passa a reconhecer um conjunto de pontos luminosos como sendo uma imagem (um rosto, por exemplo) ou um certo timbre de som como sendo uma voz. Essa integração acontece nas áreas imediatamente circunvizinhas às áreas primárias do cérebro. A integração acontece através de um processo de reforço das impressões que se repetem e se associam a outras e de relegar a um segundo plano as impressões que não se repetem. Dessa forma, o bebê consegue distinguir a imagem de um rosto que sempre se repete e que se associa a um som e a um toque agradável, contra uma imagem de fundo que não se repete nem se associa à voz nem ao toque.

Conceitos

O passo seguinte é a integração das percepções em conceitos concretos. Isso acontece quando o cérebro percebe que existe uma correlação entre um aroma e um sabor, ou uma textura, uma imagem ou um som. Essas percepções estão todas associadas a um objeto real: uma maçã, por exemplo. Surge, então, o conceito de "maçã". Uma maçã só é uma maçã se tiver gosto de maçã, cheiro de maçã, textura de maçã, peso de maçã, forma de maçã, som de maçã (reconhece-se facilmente uma maçã de plástico, ou cera, simplesmente batendo-se com as unhas nela e ouvindo-se o som produzido).

A capacidade humana de falar é fundamental para o desenvolvimento da racionalidade. Ao associar cada conceito a uma palavra, o homem forma um estoque de conceitos que jamais se formaria sem a faculdade da fala. "Maçã", por exemplo, além de ser uma simples palavra (que é uma seqüência de sons), é chave para o cérebro buscar na memória um conceito completo que, de outra forma provavelmente estaria guardado na forma de percepções desconexas.

Isto confere à fala uma importância muito maior do que simplesmente a função de permitir aos homens a comunicação. A fala permite aos homens a razão. Não é por outro motivo que o homem é o único animal que fala e o único racional. (Não se considera aqui a "fala" dos papagaios, que consiste simplesmente na reprodução de sons, sem qualquer conexão com conceitos ou percepções.)

Nesse sentido, é interessante notar que, se uma palavra evoca um conceito, eventualmente muito complexo, pode-se inverter o ditado popular e dizer que, em determinadas situações, uma palavra vale mais do que mil imagens.

A integração de percepções em conceitos acontece em regiões do cérebro que recebem informações oriundas de diversos sentidos. É a região que fica entre as áreas primárias, ainda na parte posterior do cérebro.

Abstrações

Os conceitos concretos são integrados em conceitos abstratos. O conceito de "mobília", por exemplo, é um conceito que vem da integração (que é a percepção das semelhanças) entre conceitos concretos como "cadeira", "mesa", "banco", etc.

Conceitos abstratos e concretos vão sendo integrados em conceitos cada vez mais abstratos. Chega-se à abstração da abstração da abstração da abstração... "Liberdade" ou "cidadania" são bons exemplos de conceitos altamente abstratos. Esse processo de abstração ocorre já na parte frontal do cérebro (córtex frontal), que é a última parte a se ativar e que é a parte que o Homo sapiens tem mais desenvolvida em relação aos outros animais.

Até um certo ponto, todos os animais possuem esse mecanismo, que é o que lhes dá consciência do mundo em que estão inseridos, lhes permitindo agir de forma compatível com a preservação de suas existências.

Consciência

Entretanto, em algum ponto desse processo de abstrações (ponto este que só é alcançado pelo cérebro avantajado do ser humano), essa espetacular rede de neurônios começa a pensar sobre si mesma. É onde nasce a consciência humana, que não apenas sabe, mas "sabe que sabe"; que não apenas age compativelmente com o meio que a cerca, mas planeja suas ações futuras e desenvolve linguagens e raciocínios complexos.

Emoções

As emoções são reações automáticas do cérebro quando reconhece, numa situação atual, semelhança com outras vividas anteriormente e cujo resultado provocou resultados bons ou maus. Essas emoções podem ser geradas a partir de identificações ocorridas em várias das etapas de integração e abstração do cérebro.

Dessa forma, até moscas podem ser treinadas a "gostar" de um cheiro e "temer" outro. Cachorros amam seus donos e odeiam o veterinário (a quem associam a dor de injeções, por exemplo). Seres humanos se apaixonam por ideologias políticas e temem a diminuição da camada de ozônio da atmosfera.

Esses medos e amores são a mesma emoção em diversos níveis de abstração, alguns dos quais acessíveis unicamente aos seres humanos.

A filosofia de Ayn Rand e a ciência moderna

Interessante notar que Ayn Rand, há mais de trinta anos, escreveu "Introduction to the Objectivist Epistemology" onde ela lança a idéia de que o processo de formação do conhecimento fosse como esse, descrito acima. A descrição dela apenas não incluía a nomeação das partes do cérebro que estavam envolvidas em cada parte do processo.

Ocorre que na época em que foi escrito esse livro, não havia qualquer meio de confirmar a existência real desse processo, muito menos detalhar em que áreas do cérebro ele ocorreria. Ayn Rand deduziu-o com base no conhecimento científico existente à sua época e com base em inferências lógicas.

Hoje em dia, a descrição desse processo, com todos os detalhes, pode ser encontrada em livros sobre Neuropsicologia (uma ciência médica), Redes Neuronais (uma ciência computacional) e outras atividades correlatas.

A pesquisa moderna indica que todo o nosso conhecimento está no cérebro e este aparentemente não esquece de nada. O que acontece é que, devido a fatores físicos, como a acumulação de certas substâncias, por exemplo, temos ora mais, ora menos facilidade de acessar as informações lá armazenadas.

A pesquisa também indica que tudo que está no cérebro é fruto de experiência vivida. Não há nada no cérebro que sequer indique a possibilidade de que ele contenha alguma informação ou conhecimento cuja origem primária não seja estritamente sensorial.

O próximo passo

Dado, então, que o homem possui uma consciência que lhe provê a capacidade de agir conforme sua avaliação da realidade (inclusive das possibilidades futuras), como acontece o processo de avaliação? Ora, para poder fazer avaliações, o homem tem que associar a cada conceito um valor. Esse valor associado lhe permite saber se algo é amável ou temível, gostoso ou venenoso, bom ou mau.

Chega-se então à província da Ética, que é o terceiro ramo da filosofia objetivista e depende dos dois primeiros (Metafísica e Epistemologia).

 

 

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