Polidactilia

Livro de Poesia On-Line





André Joffily Abath
Jonathan Batista Peixoto
José Alberto Grisi Dantas
Odilon Nelson Grisi Dantas
Pablo Lincoln Sherlock de Aquino





�NDICE

[PREFÁCIO] [UM] [DOIS] [VENTO] [NOCTURNNA] [SONETO PRAIEIRO] [APENAS [POESIA, POEMA] [EU, POEMA] [ABISSAL] [CULTO AO ZERO] [MATER MVNDI] [RE-VOLTA] [LÓGOS] [A MORTE] [PENUMBRA] [SOMENTE] [...QVÆ SERA TAMEN] [INOMINÁVEL] [I.M.L.] [IDÉIAS SANGRENTAS] [SONHO DESPERTO] [DECEPÇÃO] [VAZIO] [GRITO] [DESTRUIÇÃO] [O SENHOR DAS TREVAS] [PERDIÇÃO] [BOSQUE PROMÍSCUO] [ETERNAMENTE] [VÊS] [AVESSO] [UM PENSAMENTO] [DVRA SCRIPTA, SED SCRIPTA] [2000, UMA ODISSÉIA NA TERRA (ou: VIVER NO DOIS, ZERO, ZERO, ZERO)] [AVGVSTINVS] [ANNO UM] [A SETE PALMOS] [POLÍSSONO] [A ALGUÉM] [TENTATIVA] [CONVERSASSÓ] [CICLO ESTELAR] [LUDWIG] [NAGASHIMA E HIROSAKI] [PÂNICO] [ATO VOLITIVO] [PAPIRO] [DE-GRADAÇÃO] [MINHA PESSOA] [MONDO CARNE] [CORROSÃO] [FRUSTRAÇÃO] [DOLÊNCIA] [NADA MAIS]


PREFÁCIO

(por fazer...)

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UM

A insanidade paira e finalmente ataca A alma túrgida presa ao chão frio Que vai nas palavras que agora crio Claramente escuras, livremente aprisionadas.

Banalidades de crimes e sons, Da palavra carne, te entorpecendo Faminto e atento a toda prece Inesquecível acontecimento que se esquece.

Silêncio é medo Que nos levará ao túmulo Tendo consigo o acúmulo De imensuráveis quimeras.

Feias, fofas, famintas Mergulhadas em sal e álcool Co�a cútis parda de enfado Sabendo que continuará calado.

Mas solte-se! O tempo das lâminas já se foi A espada desce e nos poupa o pó A armadura d�ouro que protege a terra Esfacela-se sob a força primeva.

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DOIS

Esta noite é nossa, avulsa e sem pernas Sem as marcas do sangue empalidecido Plúvea e gélida, apenas o início Envolvendo vulvas vomitando vitelos vivazes.

Te perseguindo com suas pernas de rã Ultrapassando esquinas acesas Borrões luminosos rasgando as trevas Furando becos, inventando saídas.

Eternamente fechadas com tua chave espantada Que derrama uma lágrima que oscila Na irracional flutuação dos sentimentos. Fecha tua porta! Ganhamos a rua.

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VENTO

Já tenho minhas asas Vou levantar vôo, Ligando horizontes Com linhas tortas e rasas.

Desilusão afeta-me agora Não poderei continuar Na colisão de pensamentos Mais um morto desancora.

Eu sou a brisa, O tédio corrói, Constrói teias, Mas não me paralisa.

O vento não pára Penetra na menor fresta Avança sobre o maior obstáculo Modifica, enterra, draga.

Não tenho ritos Nem me acanho Resgato as angústias De seres aflitos.

Viro grito, Cresço sempre Em busca da fronteira Do infinito.

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NOCTURNNA

Luz de varanda Ilumina mentes, Dos miolos quentes A poesia emana.

Monstros são fluídos, Almas dissipadas, Cortes saturados Ao alcance da mão.

Óleos secos Lubrificam engrenagens Que não existem mais Mas rodam, e rodam...

Tornando pedra em vapor, Treva em luz, Lembrança em dor.

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SONETO PRAIEIRO

Lua nova, coberta com seu manto escuro, Deixa a noite negra como tua face, Precedendo um brilho imaturo, Que, dois dias depois, nasce.

Nasce na aurora das trevas Retocada com o brilho das sardas prata, Que sorriem com a lua tão pacata, Tão calada, como fosse mãe delas.

Revela sua luz enfadada Como almas que se encontram Em entrelinhas de palavras

Proferidas aleatoriamente Em cadeias desconexas De pensamentos ausentes.

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APENAS

Métara intúmina tranciste Ectoprofundidades, apenas. Dulcinérveas catalimórficas, Galicídio microcefalóideo, apenas. Casniropolíngeo estereoligárquico, Barbuliforme neuromorfossintaxe, apenas.

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POESIA, POEMA

Pó-é-sia. Mas não confundas Com a azia, Que é mal amargurável. Pó-é-sim a areia do mar. Magia do estar, Maresia, Mar-é. Poema, Poemar Pó-e-mar; Pó-ou-mar?

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EU, POEMA

Trevas que esclarecem Não a solução de meus problemas Porém pontos que reluzem A problemática dos poemas.

Tantas lembranças, tantas vontades Desfilando perante a interna visão Tantas estranhas inexplicáveis saudades De emoções que foram, são e serão

Cosmovisões preexistentes Contrastam tal qual água e água Água gelada, que sacia a sede, Água ardente, poema e mágoa.

Memórias, experiências e desejos Estimulam os sedentos impulsos Preciso matar a sede; escrevo...

E o mundo, ao toque do clarim Queima, arde E voltamos ao fim.

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ABISSAL

Dádiva das águas de cristal Fluidos úmidos da secura Dos olhos, da carne pátria O social, o enfermo sem a cura.

Frustrantes esperanças, emoções vãs Edificante ilusão; alegria, trauma Máscara momentânea da alma, Demolindo os mais ardentes afãs

E por mais que não seja Torna-se real, é: Busca em paralelos E mira, deseja, quer.

Nostalgia, anseios viris Desesperadas viagens inconscientes Obstáculos me derrubam Preciso acordar, urgente!

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CULTO AO ZERO

Paredes etéreas De fortalezas virtuais Cercam os animais Que habitam esta esfera;

Olhos atados Ao tédio das marés Espadas nos cercam Morte, quem és?

O fio produz Profundos talhos. Abstinência de tudo Fartura do nada.

Nada que se acaba No nada dum suspiro, O derradeiro dos escárnios Da hora em que expiro.

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MATER MVNDI

Da água É a nossa primeira Molécula lá está A nossa primeira Bioforma mãe

Os sinos da Matriz a Badalar e abalar Os sonhos surdos Da maternidade

O ferro e a bigorna Formando o início, Ferindo a vida, Ofertando o tempo.

Tempo e espaço; Tecido do Universo, Cerne do Existir.

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RE-VOLTA

Capto as multifacetadas influências Que ao meu redor orbitam agora; Uno as energias de tão sublime hora Nesta criação e recriação constantes

É neste espaço que morro Apago, sonho e acho Cada espaço abstrato Em poeiras da memória

A castrante ignorância Que transpassa os limites, Que excita e transmite Os devaneios da dúvida

É como luz que emana Brilhante, misteriosa, incandescente Ilumina os obscuros desta mente Como a cura obcecada que nos chama

Cerra teus olhos, sanidade A pena já fere o papel O que tu chamas de crime aconteceu A tinta escorre... e não é mais tinta.

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LÓGOS

Fique! Cale-se! Não Seja Ser.

Esqueça Hora Fora Morrer!

Seja Saber Senão Não ser

Lembre-se: Apenas, Viver.

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A MORTE

É texto plagiado Do existir tido. Ser ser de novo Como ver já visto.

É penumbra clara Da realidade. Maldição bendita Derradeira aventura.

É o clarão da vida Ao acender-se, Incandescente cegueira À ilusão das negras brumas.

É a vitória do Tempo Sobre o colóide; Ser não existindo, Recomeço.

É... e não é O que se tentou ser Não é... e é O fim de tudo. Escuridão, frio... fim.

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PENUMBRA

A escuridão, salpicada de luzes Lâmpadas, algumas acesas--pontos. outras apagadas--nada. Os lobos, cães e coiotes concordam; As almas apenas seguem seus caminhos.

A aura regida pela brisa Some ao redor de construções

A surda, fervente terra fria Repousa entre paralelas

Estranhos seres afônicos Na vasta escuridão do dubitável São o que não mais são, mas foram Donos da tão cruel verdade

Vozes distantes conversam quilômetros Entre explosões das vagas As ruas desaparecem entre árvores Que somem no negro espaço Restando vultos enormes --Vagalhões de matéria esquecida

O mar--em sua clara nudez-- Responde aos anseios da noite, Estupra os desavisados, e Oculta-se em ameaças

Madrugada, virtual cegueira; Eterna prisioneira do breu insaciável, Vê o espirrar de lágrimas Frias no colchão de areia, Natural esteira do furioso mar.

Sombras e silhuetas bailam Povoando o pavimento deserto O crânio, enfadado, tomba Ante o exílio da luz eterna.

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SOMENTE

Espragnésia Scambaleia Carabanteia, Somente.

Tubicoliroscada Anelírmena Zarcasticósnea, Somente.

Costronome Vilo Logali Napila, Somente.

Instrássico Extrático Intracolaterálico Exodussuzelimente, Somente.

Marcascapatuabiládico Toi Oi I, Somente.

Pingagoelepaticamente Mucharingargúmena Rostolhoideaatém, Somente.

Schiphayshphawoyrâ Estramboticamente, Somente.

Bufudicicando Degáiporemporgái Iê! Somente...

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...QVÆ SERA TAMEN

Libertas, que serás também O que será também não liberto, ...ainda que tardio.

Libertinos do mundo Berlinda decadente Liberta-te, também.

Berço dos grilhões; Lácio. Determinada, fixa liberdade Unimórfica língua, Ledo lerdo histórico engano.

Liberdade e para-realidade No calor da brisa Abrindo a vida Em mar e pena.

Mente aberta com a Imensidão marinha Parindo liberta A condoreira vida.

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INOMINÁVEL

Paixão, tu que és amargura Explica a pureza dos sonhos Extirpa a magia das gueixas Acende as tais chamas do peito.

Tu que incendeias meus sentidos Ela que me fornece a lenha Eu que quero apagar o fogo Não adianta, está além

Não é querer em ter, É a linha derradeira. Fronteira de dois mundos Abrindo o primeiro ou último portão.

Grades que se escancaram Em imensa ausência de luz Queda infinita, esperança aflita De voltar um centímetro, ao menos.

Adrenalina afogando a alma Em turbilhões ardentes; Intensa queima num átimo...

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I.M.L.

Sobre os cadáveres embalsamados E o pó do silêncio, Ainda resta uma partícula.

Uma centelha ao menos, Lembrança amargurada; Patética tentativa De imitar a esvaída vida.

Foi-se a foice Espalha-se o pó Vai-se o silêncio Detona-se a paz

Sobre a mórbida palidez Que enruga a carne fria Umedecida hipotônica-mente; Letárgicos suspiros não respiram!!

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IDÉIAS SANGRENTAS

Substância amorfa da noite De-forma idéias atrozes, partos ferozes; Massas híbridas de sangue e mentes

Grandes olhos desapontados Chorosos, tristes e clementes A derramar o santo Fluido rubro de toda a vida

O sangue que escorre É apenas o fruto amargo, O vinho manipulador de Não ser total derrota.

A bruma alcoólica Que dele evapora Turva os sentidos, Aflora os fantasmas, lembranças aterradoras

Pulsando violentas, encarnadas Por entre as têmporas Que se enchem e estouram Em corrosiva agonia Da dor que causa a vida, Embriagado caos da morte.

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SONHO DESPERTO

Imensa teia negra Envolve martírios, Revolve os sonhos, Evolvem os delírios.

E por mais acalentada Que a fria pena se comporte, Está a mão e seus tentáculos Na úmida mãe do norte.

O medo é o calafrio Da tinta suspensa, Mas resta o esforço Da letra dura e lenta.

Calma, alma terna da brisa Chegaremos ao movimento, Tenro conforto, Conseqüência do momento.

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DECEPÇÃO

Ele procurou sentido Na escuridão E só encontrou vazio E sua própria sombra

Ele procurou a vida No âmago de sua morte E só sentiu o frio De sua própria alma

Ele procurou a si próprio Em seu corpo oco E nada encontrou: Era só carne.

Ele procurou, E procurou, E se perdeu; Passou sua existência Buscando o inexistente.

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VAZIO

Sinos céticos sonolentos Soam sozinhos

Da vida, Recuperam o acre.

Dos sonhos, Constróem cimento.

Acabam com as esperanças, Ferem as almas amarguradas;

Começam os desesperos, Morte aos espíritos sem alma!

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GRITO

Ah, paciência infértil Mesmice inútil Queimemos a bandeira branca Já baleei a pomba imbecil

Insignificantes símbolos De uma falsa, utópica paz; Encaremos a realidade:

Projéteis de sangue Perfuram os corpos de aço Cabeças rolando Voando no espaço

Estilhaços misturados Ao plasma infernal Das explosões Bombas e gritos Confundem ouvidos

Choros infantis Dos velhos veteranos Que no inferno penaram Com os olhos esbugalhados De terror e pseudo-glória

O pó da vitória, Decepcionante; insossa O sangue escorre, acinzentado Coagulado, de ambos os lados

O fogo mostra suas cinzas O rubro, o seu negro Enquanto seres reerguem-se Para morrer em segredo

A contagem dos falecidos E o balanço do dinheiro Gasto com metralhadoras E balas de morteiro

Quero fetos, afetos Que supurem o vácuo E criem o brilho.

Não, não desperte o cão! Jamais estoure a ira Acorde o sono tão somente Ao transportar-me do abandono!

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DESTRUIÇÃO

Lâmina rubra rasga o ar Gela o tempo, ferve a carne Coagula palavras, sons, Mata o tédio.

A poeira recicla-se, Perde-se no ar. O silêncio está imposto, O corpo presente...

Na analogia A matéria morre A alma túrgida escorre Nos capilares do medo de estar

Passando o passado, já; Retornando do nada A coisa alguma.

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O SENHOR DAS TREVAS

Queridos monstros da agonia Curvem-se ao Mestre Sarcasmo Pois os podres poderes dos mitos Não vieram da mente de Erasmo.

Mas talvez da mente maquiavélica Do maldito príncipe empalador Podendo ter sido o inspirador Da obra maior da antiética.

Circundando o vulto estático Almas entrepassadas por tristes mistérios Corpos tremem ante o demo polidácteo Respiramos aliviados, ainda estamos etéreos

Seremos atingidos, é certo, Mas o final nos resgatará Através de um ser eterno Que não é senão amar.

Reluzente criatura da noite Cega-nos, encarando-nos ao luar O solo a tomar o corpo Resta-nos apenas levantar.

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PERDIÇÃO

Caros caretas capengam à noite Estuprando a extirpada coitada Esbagaçando as feridas do açoite Descoagulando pancada a pancada

Entre sombras, o brilho será o nada, Em busca da noção de mal Que move, afasta cada Ser de seu sonho primal.

O espírito e a mente tombam Ante o tilintar da moeda A matéria surge como "ad æternam" Nascendo da ignorância da Nova Era

Era nova, surge já superada Esmagada sob seu próprio peso E o sonho, outrora aceso, Estraga-se no meio da estrada

Escalpos acesos ao vento Mãos seguras ao aro Destino, velocidade ao relento Esperança, amparo...

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BOSQUE PROMÍSCUO

Enquanto eles arrotam notas de cem Outros regurgitam a própria sorte Sorte sem vida, esperam a morte E os primeiros mastigam e agradecem: Amém.

E o sistema que se caracteriza digestivo Dilacera os componentes da sociedade Esta de estrutura secular, é verdade Mantida pelas enzimas de efeito sedativo

Monstruosidade leviatânica vomitada, Ergue-se sob bases enfraquecidas. Máquina bestial, alienadora de vidas Reduz suas almas a menos que nada.

E a esfera há tanto esquecida Pelos medos do outro multiplicara-se. Virá, então, a volta de quem no cárcere Recuperou a visão da mata frígida.

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ETERNAMENTE

O sopro do vento do tempo Enrugando-me o rosto Cicatrizes fervem-me a memória A embaçar-me a visão do mundo

A tocha do que é apenas O todo no intervalo Entre ser vida E não mais respirar.

O brilho do osso partido Refletido na gota cadente No chão já é poça Morte molhada, fratura exposta

E, se em desesperado esforço Tento retornar ao "já não mais", Frustro-me ao ver que não sou capaz; Resta-me apenas a implosão derradeira...

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VÊS

Voando por entre as veias Vazadas nas vozes tuas, Verei o vazio de mim Velado em sombras intrusas.

Vou, no vórtice vitral Vivendo o vulto que eu sou, Volátil vívere, como vês? Afinal, de que ventre eu vim?

Vivazes raízes, memória Violentos ventos a me abalar Vozes veludadas vêm Vomitam ao meu ouvido, realidade

Vácuo vívido vela o vindouro Vivo qual Vlad, o vil vilão Venço o vitorioso verme, Volto a vê-lo sair do vácuo.

Como vês, a vez do vê vive Vitoriosa como a vasta vacina Vigorosa como Vera Virgem (Vetando o "como", só como vendo a vaca).

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AVESSO

Ondas impulsionam-me a socar O eterno infinito, o nada Alimento-me do vibrar do sólido A estimular-me a alma já excitada

E neste deserto tento alcançar O resto de realidade confinada E o cérebro, gigante bólido, Treme ante a matéria expurgada

Cansado estou de tanto estar, Em busca de toda essência raptada No centro do ser sórdido, Dentro d'alma de cada palavra.

Desloco-me de lugar a lugar, Sempre buscando o não-nada. Impotente sinto-me qual pólipo Em oceano de água evaporada

É na indecisão por onde vagar Que os cortes que fazem espadas São dores a fugir do mórbido Das flores que brotam caladas.

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UM PENSAMENTO

Inexplicavelmente tranqüilo estou, Nos resquícios da última onda Cristas destinam-me à sombra A espuma misturada ao sangue de quem matou...

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DVRA SCRIPTA, SED SCRIPTA

Buscando as musas,... Talvez na mente inclusas; Inspiração? -Transpiro. Energia dispersa, perdendo O derradeiro estilo.

Já afogado em suor, Cerco sinais no infinito; Mas o infortúnio deixou-me cego E o mundo não mais cede abrigo.

Imerso na apatia do antipatismo, No surdo impensar do fluido, Não sinto, não quero, mas escrevo Procuro a chance para atingir o Tudo

Espremo o inconsciente até sangrar Cega-me a vista da exasperação Esbarro na escuridão da ignorância, Meu rosto exprime a frustração

Da fadiga nascem teias Que mumificam nossas dívidas Às poesias das cadeias De mentes mal-queridas.

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2000, UMA ODISSÉIA NA TERRA
(ou: VIVER NO DOIS, ZERO, ZERO, ZERO)

No passear por sobre ruínas O tempo já não mais é, Foi-se com os vultos Do que jamais será.

No seu fluxo inexorável Dita fim e começo; Lembranças são fantasmas Assombrando-nos a memória.

Vida prisioneira da glória Glória acomunada às armas. Sonho macabro ao verso Duma era imutável.

Esganiçada sede a matar Obsessão por sermos cultos Fissura pelo Tempo, até Grande legado de idéias divinas.

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AVGVSTINVS

Padre Aurelius, tu que és Também Santo Augustinus, Confesso-te à análise A impureza dos meninos

À noite, no claustro do quarto Faz-se a máscara e seu prazer. Se não possuem um buraco negro São, ao menos, sombras do não-ser.

Libertinagens carnais da humanidade, Busca por um momento de explosão. De corpos fazem usucapião Em cáusticos atritos da promiscuidade

Impõem-lhes os castigos consciência Corredores de um labirinto sem ar; A natureza mostra-lhes caminhos Que tu insistes em condenar

Conforma os presos por teu pensamento Tu sabes o que dizes, santo vigário Corrige as almas dos inconscientes porque Quem está acordado ungiu-se de pecado.

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ANNO UM

Marco de um anno abstracto Envelhece-se o sonho definitivo Sólida está a letra Corroída no tempo consumido. Avante, vulgar vício de querer cultura Segue as trilhas que te fazem vivo Viaja por caminhos que te fazem feliz Irrigando a existência de.

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A SETE PALMOS

No momento de escuridão Onde os olhos não mais brilham Nossas mágoas não mais habitam Nos corpos a palmos do chão.

Estamos à beira do matrimônio Com a companheira restante: A terra, mãe e homicida Da carne que já só sonho.

Obstinados procuramos a superfície Quilômetros nos separam do céu A depressão que nos corrompe Afunda-nos até a invencionice

Mas não adianta! Deixemos Que os saprófagos limpem as carcaças, Findando assim o que nos ameaça: Medo atormentado de tormentos extremos!

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POLÍSSONO

Cifra cálida Acorde-mãe Simples fermata À clave oposta: Produzam música, Pré-poesia ardente.

Na partitura em branco Manchas negras solfejam Não o ritmo Demarcado, mas sim Fônicas anárquicas Do sonho.

Som impregnado, Animal liberto. Música como silêncio, Sentimento. Infinito.

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A ALGUÉM

Eu estou em alguém; Como um círculo criado Dentro de si mesmo À espera de parir.

Síndrome cabal do existir. Domina-me em clausura Própria imensidão do ser Aprisiona o sonho de fugir

Exploração de um novo mundo Falta-me conhecimento, razão Tenho medo de perder, sofrer Na eterna busca de viver

Não quero ver ninguém Sonora dor estala sozinha Procurando um motivo para ser Alguém, por favor, me deixe morrer.

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TENTATIVA

Biorritmo alucinante Escravizador dos sentidos, O Desejo irrefreável Insaciável; possuir - impossuível.

Inocente e jovem tara Bondosa e linda malícia Estrondosa, espalhafatosa viagem Violenta, decepante realidade

Corte da primeira visão No derradeiro momento. Congelamento da espera, Desespero.

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CONVERSASSÓ

O insuportável murmúrio Queimando meu cérebro; Neurônios aos pulos... QUERO SILÊNCIO!!!

Desliguem as sinfonias E a louvação às estrelas. Quero escutar a sombra da sombra E o cheiro das cores.

Quero ouvir o verde-musgo Das esculturas de Rodin; Ouvir o campo e as brumas As confidências da terra e do ar

POR FAVOR! Meu fôlego onde está? Afogando-me no concreto Tão seco quanto o mar.

Não enforquem as palavras; Condição de ser existência. Pois tenho algo a dizer: -PAZ!!!!!!!

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CICLO ESTELAR

Se a vida é um relógio Sua hora final está marcada. Será no último crepúsculo Solar do ser que se apaga.

Túmulo da estrela, Berço do buraco negro; Aspirador cósmico Ceifador do medo

Energia infinita Explode em orgasmo de luz Supernovíssima vida, Estrela carrega sua cruz

Satúrnica macabra Dança negra celeste Marcada de Mercúrio Por Órion, cinturão-mestre.

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LUDWIG

Em acordes de partituras mergulho Levado pelas sincrônicas sinfônicas, Revolvendo as luzes da sonoridade

Marcadas pelas torturas do mito Atordoado na imensidão do silêncio Que expirou no enfado das loucuras Embaladas aos delírios de seu grito:

Nota que escapa e perde-se, Agora alimento de nuvem. Escorrerá em sangue, Apenas água. -Surjo.

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NAGASHIMA E HIROSAKI

Eu sei, garoto. Foram os ianques. "Little Boy" matou mamãe. Vá para casa, menino! Vovó está com os cabelos em brasa.

Eu sei que você não sabe; Mas saberá. Não por minha boca Ou nenhuma outra As cinzas serão seu informante.

O sangue seu amante Inseparável; O grande azul é O licor embriagado Que vê as brancas Estrelas da destruição

Expandindo seus núcleos de Hélio. Catástrofe mitológica, Criação ilógica, Monstro de fogo e Plutônio

O avião virou herói Encostado imponente na exposição Esquecido foi o vulto nipônico, Aquela mancha escura no chão.

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PÂNICO

...E nos olhos da noite esbugalhada, Nas cores misturadas, filhas do alucínio Vem o Pânico, senhor de sete caras Deformadas, embargando o raciocínio.

A insustentável rispidez do irreal Sentidos escancarados, arreganhados Falta-lhe o chão, o teto Falta-lhe a paz.

A agonia é o animal restante: O prisioneiro fugitivo Corroendo não o corpo, Mas o além-alma.

Monstro mito-ilógico; inconsciente horror Abjeto objeto não-concreto; abismo Ação e re encadeadas explodem Em devastador, terrificante torpor.

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ATO VOLITIVO

Quero ir, voltar, estar Quero ser, continuar, re-ser Transformar o que é em não-nada, Revoltar, revolver, re-evoluir... Destedificar.

Se viver é perigoso, Quero ser o próprio risco. A palavra não pronunciada; O medo e seu sentido.

Quero amar, gozar, nascer... Viajar em meu mundo e pensamento Trafegar na estrada das minhas veias Ser peregrino do mundo vivo dos caninos.

Mas é cada vez mais difícil, Difícil empunhar a arma, Arma de tão insuportável peso Só quero dormir... nada mais.

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PAPIRO

Páginas pútridas, amareladas Alimento de vorazes traças Que dançam, mergulham na celulose.

O papel agoniza abandonado, Debate-se solitário. Será como é: Vítima.

Não mais é o espelho d'alma Abrigador dos sentimentos, Seja mágoa outrora dor Jamais a vida aculturada.

Ah, simples fatia branca Para que divagar se útil ou não Enquanto posso escrever, Perfurar sua superfície?

A lágrima inunda o papel, O instrumento umedecido Não mais me serve; Rasgo-o.

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DE-GRADAÇÃO

O alimento derradeiro O desespero me afoga Decepção tende ao infinito; Sinto fome!

O sonho último, O pesadelo me cerca: Medo-mental-maníaco-subjetivo; Sinto medo, muito medo!

O fluido polar atmosférico Envolve meu ser, Absorve minha térmica energia; Sinto muito, muito frio!

A decadência me espera O labirinto é o firmamento Sou alma, apenas alma. Sinto-me leve, muito leve.

O dia apresenta sua lâmina, Calma eternidade, Estou a caminho. E já não sinto!

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MINHA PESSOA

Eis a urbana ainda verde Pouco concreto por enquanto Vai rompendo o virgem lacre. Placenta esmeralda entre Dez mil e tantos bolsões de miséria.

Terra vermelha: Parida em sangue Mas criada na mata. Com a dor na carteira de identidade E um sopro de brisa na alma.

Querem degradar-te os escolhidos Traidores acolhidos por teu carinho; Somos todos culpados Apesar de te amarmos demais

Que à eternidade dure, Verde amiga verdadeira, Essa paixão que nos embala Que, da pena, a tinta fecunda.

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MONDO CARNE

Mentes podres sonham flores Dores, fedores - um ano de saprofagia Somos poetas, quem diria?

Abutres de ossos à procura Das vastas, putrefatas carnes Marcam a pilha de estrume Que se espalha no fim da tarde.

Estrias expostas ao choque, Secreções escorrem; Câncer que corrói os órgãos Droga da qual dependemos

Da existência a essência O corpo faz o homem; A carne sustentando a vida E delineando o espírito.

A massa escarlate Pulsa em explosões vitais Gerando estranhas criaturas: Mais que homens, menos que animais.

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CORROSÃO

Ígneos seres crepitam No interminável fluxo Sangüíneo dos rios Ácidos, ácidos.

Cortes sangram fechados E nunca cicatrizam. Os rios secam, E esqueço.

Ardência, coceira Espremo os olhos Altos decibéis que vibram Os tímpanos degradam-se, pútridos

A unha do dedo da mão Encrava até o pé - A humilhação também enfinca A alma à coluna cervical: Escorre a linfa E sofro, choro, morro.

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FRUSTRAÇÃO

É estar e não ser, Tornar o potencialmente possível Em niilismo absoluto; Término do não-começado.

É conhecer o chão Por dele ser vítima; Ter a poeira como mãe E o suor como visita.

É a falta de luz Antes do fim da leitura. O banho de lama; O borrão no bom verso.

Vejo a luz no fim do túnel Um piscar de olhos, não a vejo mais Para onde seguir, escuridão Ajoelho-me, choro.

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DOLÊNCIA

A cura da dor interna É o corte da alma no tempo. A fonte fluindo o farto Dormir-se em sofrer lento.

Transcender limites em si Bemol ou ré, num momento. Tentar esperar sem enfado A hora de realizar o intento.

Cada ferida é um soco na alma; Que limites são esses que contemplo Se todo passo do espírito Arrasta a carne e os ossos ao vento?

Pútrida química do despertar supremo Irrita-lhe as narinas, pobre moço Tensos músculos deformam-lhe o rosto Ao ingerir do destinado veneno.

[�ndice]


NADA MAIS

Shckabaraka bandoia Margicabilica dummá Yocabilitadeca zboya Hicamandiqua shpirrá -Nada mais.

Duomni sticstetu Strakás, mihilea Kwistchânz Maháyi, Máhã iê, Mãháyia iê, -Nada mais.

Abdu disse, Abdu lá: Abababúúbabá-baba Aê-Aê-Aê-Êêê Cadêcu? Cadêcu? Cumigu-guguguei -Nada mais.

Cacaburundurara bada Achetucabuli dudá Eaicubila dulu Etabulilulá minaminú -Nada mais.

Afresgá putá ladá Fumá tentá contá Tentáino no paladá Brado invistiladá. Visticoladaficánonituracarpapr -Nada mais.

Quenukaba numviromorto Bacanestu cabareña lia Esmagumuco damangabarina. Nuncritiravil seulcabadapeiga. -Nada mais.

Âpah, Êpeh; Ipih: Ôpõh? Upuh! Straneakvracovaumultmiá... -Nada mais.

Bimba, bimba, bimbôlo Peidatáriotogamestra Togapeida... peida, tário Otário peida-dá... dá! Mfede, Mfede, Mfede (Sengoku, sengoku, bateuégôu) -Nada mais.

Tiramaodaita damá Dapramimdata pramitatu Otudaonuqromaista da ca Étaqn i tabom tambempratu -Nada mais.

Ôôô de Hááá Cotiplo amô deso Iê iê iê Sopratetê -Nada mais.

Ahaeié-iê, só-tcháku Mahá, mahá, mahá, máaah! Uáhllaaahrr... -Nada mais.

Kitucanticudizamenoia Metotahip-hip... bebobebun Pilombetada da ficumdéla Scomaria lambrodaria Da pratalaria bundía! -Nada mais.

Caracala-cala... calacara Caracalacaga, cagacara Cagacala, cagacalacaga Shhhbllurrrgh... Glaugloug-gloug-gloug (Glurugluruglu) -Nada mais.

Etchagotaserena shao Avediabocõnumda dá Surubabubabo tirá Numdadedadenum chuao -Nada mais.

Deandráctilo Deodiláctilo Depitompáctilo Depabláctilo Dezeáctilo Deiêpraocê! -Nada mais!!!

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