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O homem por sobre quem caiu a praga Da tristeza do mundo, o homem que é triste Para todos os séculos existe E nunca mais o seu pesar se apaga! Não crê em nada, pois, nada há que traga consolo à mágoa, a que só ele assiste. Quer resistir, e quanto mais resiste Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga. Sabe que sofre, mas o que não sabe É que essa mágoa infinda assim não cabe Na sua vida, é que essa mágoa infinda Transpõe a vida do seu corpo inerme; E quando esse homem se transforma em verme É essa mágoa que o acompanha ainda! Os namorados ternos suspiravam, Quando há de ser o venturoso dia?! Quando há de ser!? O noivo então dizia E a noiva e ambos d'amores s'embriagavam. E a mesma frase o noivo repetia; Fora no campo pássaros trinavam, Quando há de ser!? E os pássaros falavam; Há de chegar, a brisa respondia. Vinha rompendo a aurora majestosa, Dos rouxinós ao sonoro harpejo E a luz do sol vibrava esplendorosa. Chegara enfim o dia desejado, Ambos unidos soluçara um beijo, Era o supremo beijo de noivado! Pode o homem bruto, adstricto à ciência grave, Arrancar, num triunfo surpreendente, Das profundezas do Subconciente Milagre estupendo da aeronave! Rasgue os broncos basaltos negros, cave, Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente De perscrutar o íntimo do orbe, invente A limpida aflogística de Davy! Em vão! Contra o poder criador do Sonho O fim das coisas mostra-se medonho Como o desaguadouro atro de um rio... E quando, ao cabo do último milênio, A humanidade vai pesar seu gênio encontra o mundo, que ela encheu, vazio!
É triste como um cemitério, Cada rocha é uma eterna sepultura Banhada pela imácula brancura De ondas chorando num albor etéreo. Ah! Dessas no bramir funéreo Jamais vibrou a sinfonia pura Do amor; só descanta, dentre a escura Treva do oceano, a voz do meu saltério! Quando a cândida espuma dessas vagas, Banhando a fria solidão das fragas, Onde a quebrar-se tão fugaz se esfuma. Reflete a luz do sol que já não arde, Treme na treva a púrpura da tarde, Chora a saudade envolta nesta espuma!
Como um fanatasma que se refugia Na solidão da natureza morta, Por traz dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me à tua porta! Fazi frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta! Mas tu não vieste ver a minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele,- -Velho caixão a carregar destroços- Levando apenas nas tumbas carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos!
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