projecto museu do vidro

 A OFICINA DOMÉSTICA

 

  Olhos de vidro feitos pelo Mestre Soares

 

Em algumas destas pequenas oficinas desenvolvia-se uma alta tecnologia do vidro, sobretudo, da química das cores e da combinação entre qualidades de vidro de diferentes composições. As contas, pedras e, sobretudo os olhos de vidro tornaram-se produções especializadas distantes da produção fabril. Muitas vezes, os vidreiros mantinham estas oficinas em paralelo com a laboração na fábrica. Frequentemente, era como que um "crochet" masculino, um lugar para a criatividade individual no espaço privado e longe das determinações produtivas da fábrica. Era também, em muitos casos, uma forma de compensar a economia familiar.

Certos tipos de vidro, como o de laboratório, mantinham e ainda mantêm uma relação muito estreita com a arte do maçariqueiro, que transforma os tubos de vidro em artigos úteis para a indústria farmacêutica, como as ampolas, e para as actividades científicas de laboratório, como os tubos de ensaio.

 

 

Vidros para laboratório

 

A produção de tubos de vidro por estiragem ganhou uma grande expressão nos inícios do século XIX, em consequência do número crescente de laboratórios e de aplicações em instrumentos de física, onde são usados continuamente. Termómetros, barómetros, manómetros, são alguns desses instrumentos, entre outros.

A transformação dos tubos é feita a maçarico, onde o maçariqueiro os manipula, dando-lhes as formas desejadas. Outrora, em vez do maçarico usava-se lâmpadas de chama alimentadas a álcool. A chama recebia uma corrente de ar proveniente dum fole que trabalhava com o pé.

 

 

 

Olhos de vidro

 

Trata-se de uma especialidade que poucos praticaram. De facto, esta curiosa área de aplicação da vidraria exigia grande habilidade e o desenvolvimento de conhecimentos aprofundados dos vidros utilizados para obter um produto estável e duradoiro, sobretudo dos olhos para próteses, dado que, dependendo das composições, os vidros resultantes apresentam diferentes comportamentos físicos, diferentes coeficientes de dilatação. Requer também bons conhecimentos para a preparação dos esmaltes que determinam as cores dos olhos, sobretudo na obtenção das inúmeras nuances que podem ter os olhos humanos e dos animais. Além disso, é preciso fazer sempre pares de olhos perfeitamente iguais.

 

Os olhos de vidro fabricados eram muito diferentes consoante se destinavam, uns a próteses - até à descoberta dos transplantes, eram um recurso frequente para pessoas que haviam perdido esse orgão -, outros à taxidermia - embalsamamento de animais -, outros a manequins, a bonecas, peluches...

 

O processo consiste, muito resumidamente, em «[...] uma bola de vidro pelo sistema adoptado para as pérolas, isto é, soprando um tubo de vidro amolecido à lâmpada num dos extremos; como o vidro é incolor, aplica-se sobre este um esmalte previamente preparado, cuja cor varia desde o branco mais claro até ao branco um pouco azulado, visto que nos indivíduos também o branco do olho apresenta esta variação de tons. Depois faz-se na bola de vidro ainda mole um orifício onde tem de se aplicar mais tarde o globo do olho contendo a íris [...]. A íris é feita com esmaltes, e no seu centro coloca-se um pequeno disco de esmalte negro que serve para representar a pupila (menina-do-olho).

O globo do olho, com a sua íris e pupila, é então colocado no orifício que se fez na bola esmaltada onde se cola por meio de soldadura à lâmpada». [Campos de Melo, Indústria do vidro]

 

Na Marinha Grande, distinguiu-se um mestre desta arte: José Soares, de quem expomos uma amostra do seu trabalho ao longo de cinco décadas.

 

 

Contas, pérolas, vidrilhos...

 

A elaboração deste tipo de vidros remonta à antiguidade, quando se percebeu que com este material se podiam imitar as pedras naturais (preciosas e semi-preciosas), tendo sido um dos temas predominantes da indústria antiga. Nas suas formas mais elaboradas, o tema foi desenvolvido pela arte do vidro romano-imperial que tentou realizar vidros que imitassem ágatas e calcedónias, ou seja, todas as pedras duras com veios policromos mais ou menos concêntricos. Na Veneza do século XVI, depois de um longo período na Idade Média em que quase desaparecera, desenvolveram-se tipos de vidro para esta finalidade: vidro calcedónico, vidro ágata, alabastrino, jaspeado, etc. Mais tarde, em Inglaterra aplicou-se o strass, um cristal plúmbeo muito brilhante, na imitação de pedras preciosas transparentes.

 

Sendo a fabricação de contas e pérolas um processo complexo, resumidamente consiste em cortar as varetas de vidro em pequenas secções que depois se submetem a diferentes processos de acabamento e polimento. Estes vidros destinam-se a colares, pulseiras, adorno de indumentárias, berloques, brincos (joujoux), etc.

 

 

Bibelots

 

Uma outra aplicação da técnicas do maçarico são os objectos figurados, normalmente animais, em vidro colorido. Tal como para as anteriores aplicações, também aqui se impõe elevada destreza, não só para dimensionar de forma proporcionada as partes do corpo dos animais, como para manipular os fios de vidro finíssimos com que se fazem vários dos elementos do animal: pernas, chifres, asas, olhos, etc.

Muitos destes objectos evidenciam um certo tom jocoso, em grande medida associado à liberdade de criação na oficina doméstica, diferentemente do trabalho à boca-do-forno.

Na exposição apresenta-se uma colecção da autoria do mestre José Soares.

 

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