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A TABERNA
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Na taberna e, de um modo geral, nos espaços e nos hábitos ligados ao consumo de vinho, o vidro marcou presença desde muito cedo e tornou-se indissociável desses contextos. Na realidade, a taberna, sendo um espaço de circulação de bens, pessoas e ideias, muito contribuiu para a popularização do vidro, que progressivamente foi substituindo nos utensílios tradicionais a madeira, a folha de Flandres e o barro. Este último, no entanto, continuou a ser usado em contextos específicos. Deste modo, o vidro, pelas suas próprias qualidades enquanto material, entrou na etnografia do vinho. As expressões populares demonstram esta relação do vidro com o vinho: Em Valadares chamam Lampião a um copo de vinho de 3 decilitros; no Barreiro, chamam-lhe Terceira. No Alandroal um Ocho significa um copo de vidro para aguardente ou vinho. No Carregal do Sal uma garrafa transparente cheia de vinho dizia-se Viúva, enquanto em Lisboa carregar a pistola queria dizer encher a garrafa de vinho. Em Monchique chamam cabide à cana golpeada em cujas cavas colocam os copos de vidro para o vinho. Quadras populares também aludem ao tema:
Tenho dentro do meu peito Um copinho de aguardente Quem me quiser beber Há-de ser meu para sempre in J. Leite de Vasconcelos , Etnografia Portuguesa
Mas a taberna é um espaço que acumula múltiplas funções. Na aldeia, por exemplo, é muitas vezes também mercearia. Além do vinho, tem para uso e fornece um sem número de outros objectos de utilidade: candeeiros, chaminés (e velas, petróleo), produtos enfrascados, mosqueiros, etc. Além da taberna-mercearia, antigamente, de quando em vez aparecia na aldeia o almocreve, que trazia os artigos fabricados noutras paragens. Alguns desses vendedores ambulantes só vendiam vidro, ou só mesmo vidraça.
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